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3.6.2018
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Equipe Afya Educação Médica
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Formar-se médico ou médica é realmente uma enorme conquista. Acontece que, mesmo com o diploma em mãos, uma série de novos desafios tem início. Um exemplo disso é seguir a carreira de medicina no interior.
Sabemos que os grandes centros, normalmente, possuem mais recursos e, consequentemente, boas oportunidades de emprego. Mas não é por isso que a profissão não pode ser promissora para quem está longe das grandes cidades.
Já pensou sobre isso? Confira o post a seguir para ficar por dentro desse assunto tão importante e conheça algumas alternativas para ser um médico de sucesso morando no interior.
Como é o campo da medicina no interior é uma dúvida pertinente e comum a muitos médicos que têm interesse na área, mas não querem se mudar da sua região ou até mesmo desejam fugir da correria das cidades maiores em busca de um pouco de tranquilidade.
A realidade é que existe uma escassez desse tipo de profissional nos municípios do interior do Brasil. As capitais e regiões metropolitanas é que concentram a grande maioria dos médicos formados, ressaltando essa desigualdade de médicos por número de habitantes.
De acordo com o estudo Demografia Médica no Brasil (volume 04, de 2018), realizado pela Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo), a conclusão dessa concentração é de que 55,1% dos profissionais estão à disposição de 23,8% da população — que vive nas maiores cidades brasileiras.
Nesse cenário, as 27 capitais nacionais apresentam 55,1% dos registros de médicos, sendo que apenas 23,80% das pessoas vivem nelas. Esses números indicam que realmente o interior é carente desse tipo de profissionais, já que mais da metade dos médicos está onde vivem menos de um quarto da população do país.
Por um lado, é uma boa perspectiva para quem pretende procurar trabalho nessas regiões — especialmente nos estados do Norte e Nordeste, onde há baixa concorrência. Por outro, mostra a grande competitividade existente nas grandes cidades.
Tal fato acaba gerando uma série de possíveis consequências. Uma delas é que, para enfrentar essa escassez, as ofertas podem ser bastante atrativas.
No estado de Alagoas, por exemplo, já houve um período em que foram noticiados, como atrativos, folgas e redução de carga horária para os médicos de algumas cidades do interior. Outro resultado são os grandes salários para tentar manter o profissional em determinado município.
Mas existem, também, os pontos negativos que contrabalanceiam tudo isso. Muitas vezes, o problema está na falta de estrutura da cidade, que não oferece muitas opções de lazer ou gastronomia.
Ou, então, a dificuldade é justamente a rotina médica em hospitais sem tantos recursos e funcionários, o que traz muita responsabilidade para o médico. Sem profissionais especialistas em determinada área, às vezes é preciso fazer de tudo um pouco — o que é cansativo, mas não deixa de ser uma oportunidade de aprendizado.
Enfim, ainda que seja um caminho desafiador, pode-se concluir que o interior brasileiro é carente de profissionais formados na área da saúde, o que torna o campo muito promissor nessas localidades.
Contudo, para se dar bem, vale a pena preparar-se antes de tomar essa decisão. Veja, a seguir, algumas dicas que podem ser úteis para isso.
Um dos primeiros passos do médico recém-formado é buscar uma área de interesse para dar continuidade à sua carreira. Muitas vezes, é difícil fazer essa escolha, mas o ideal é que, durante a faculdade, cada um fique atento aos temas que pareçam mais atraentes.
Embora sejam muitos os campos de conhecimento — atualmente são mais de 50 possibilidades de carreiras da medicina — podemos destacar alguns dos mais conhecidos, como:
Com tantas opções, fica difícil escolher apenas uma especialidade. Entretanto, essa é uma etapa importante para ter uma carreira médica de sucesso, já que o mercado é muito competitivo e a especialização ajuda a adquirir um diferencial — e, consequentemente, melhores oportunidades de trabalho.
Pensando nisso, separamos algumas dicas para tentar facilitar esse momento repleto de dúvidas e incertezas.
1. Uma boa indicação é fazer um teste vocacional específico para médicos. Ao responder uma série de perguntas, você conseguirá ter um perfil traçado e que pode ajudá-lo a optar por uma área ou outra.
Basta pesquisar na internet para encontrar testes online gratuitos. Ao final do questionário, eles vão apresentar os percentuais de afinidade que você possui com cada especialidade médica.
No entanto, se preferir um acompanhamento mais personalizado, uma outra opção é procurar um profissional que trabalhe com isso — como um coach de carreira.
2. Fazer pesquisas e ler sobre o assunto é outra maneira de se informar sobre todas as suas possibilidades, refletindo os prós e contras de cada ramo. Há diversos sites, blogs e livros que servem de referência para isso.
3. Considere o mercado de trabalho e como anda a remuneração de cada especialidade. Sua decisão não precisa ser baseada apenas nessa questão, mas isso também tem um peso considerável para sua segurança financeira e realização de sonhos pessoais.
4. Não fique preso às opiniões de outras pessoas. Apesar dos familiares e amigos quererem o seu bem, nem sempre os conselhos coincidem com as suas preferências e expectativas. Procure ouvir, por exemplo, o ponto de vista de pessoas que já atuam na sua área de interesse.
5. Pense no seu público, pois pode ser que os procedimentos lhe agradem, mas que você não tenha tanto jeito ou intenção de lidar com determinado perfil de paciente. Por exemplo, se não se sente tão confortável com o cuidado de idosos, é melhor não optar pela Geriatria. Da mesma forma, se você não tem aptidão para lidar com as crianças, a Pediatria não é o mais recomendado.
6. Analise o seu orçamento e faça uma pesquisa de valores. Alguns campos exigem maiores investimentos, tanto para formação quanto para os equipamentos e tecnologias que precisam ser adquiridos. Logo, é melhor estar ciente dos gastos aproximados com certa antecedência.
7. Enquanto não se decidir, saiba que a prática clínica, como generalista, é capaz de trazer boas contribuições para esse processo. Não tenha pressa e não tome decisões precipitadas — o mais importante é que a escolha final seja cuidadosa e consciente.
Outra decisão de peso, que provavelmente o estudante formado em medicina terá que tomar, é fazer um curso de pós-graduação em medicina ou partir para a residência médica. Muitas pessoas acham que elas são a mesma coisa, mas é importante saber diferenciá-las.
Embora sejam experiências diferentes, os dois caminhos contribuem para capacitar melhor um médico que deseja se especializar. No caso da pós-graduação, trata-se de um curso que ajuda a aprimorar o conhecimento técnico do aluno.
Geralmente, professores com alto grau de especialização oferecem um aprofundamento da área escolhida, como Psiquiatria, Endocrinologia ou Gastroenterologia.
Ao final do curso de pós-graduação, o estudante não tem automaticamente o seu título de especialista, porém, tem o conhecimento teórico e prático para adquiri-lo. Para conquistar uma certificação reconhecida pela Associação Médica Brasileira é preciso fazer a prova de título de especialista.
Algumas instituições exigem a realização de um TCC (Trabalho de Conclusão de Curso), que é mais uma chance da pessoa se aprofundar no tema. De forma geral, fazer uma pós-graduação é uma boa pedida para quem quer se qualificar, tem como meta atuar como professor ou pesquisador ou não fez a prova de residência.
No caso de quem tem o desejo de trabalhar no interior, essa também é alternativa interessante. Como já vimos que a disponibilidade de profissionais nessas regiões é menor, o ideal é fazer uma boa pesquisa de quais são as áreas de trabalho mais requisitadas em cada local.
A grande vantagem é que esse tipo de curso normalmente ocorre aos finais de semana, o que permite que o médico consiga conciliar a vida profissional e acadêmica.
Então, durante o exercício da sua profissão, você poderá identificar (talvez com a ajuda de seus colegas) quais áreas oferecem melhores oportunidades. Em uma cidade com uma grande concentração de empresas, por exemplo, apostar na pós em Medicina do Trabalho pode ser bastante atraente.
Por esse motivo, também existem diversos casos de médicos que acabam dando novos rumos para suas carreiras. Cardiologistas que começam uma pós em Psiquiatria e se apaixonam pelo tema, residentes em Pediatria que depois se dedicam à Endocrinologia e definem uma nova especialidade.
Isto é, não há regras e o conhecimento é sempre bem-vindo, sobretudo quando conseguimos aliar um interesse verdadeiro a um bom espaço no mercado de trabalho local.
Por outro lado, fazer essa pesquisa de campo ajudará a diagnosticar quais áreas estão saturadas e quais não oferecem boas perspectivas. Imagine que o sonho de um estudante é trabalhar com genética avançada — parece claro que ele precisará de uma infraestrutura adequada para isso, certo? Ou seja, é preciso ter consciência de que provavelmente ele não encontrará isso nos interiores.
Ainda que existam municípios interioranos com bons índices de renda per capita, ao menos no começo da carreira é difícil garantir estabilidade sem ter um nome tão reconhecido. Isso se constrói com o tempo e, sendo assim, apostar nos atendimentos de baixo custo pode ser mais interessante nesse momento.
Embora seja uma estratégia que não proporcione grandes retornos financeiros a curto prazo, aos poucos é possível adquirir experiência e se tornar mais conhecido na região. Depois, outros caminhos mais independentes começam a surgir, como investir em um consultório próprio.
Mas, de forma geral, as clínicas populares são capazes de oferecer uma boa oportunidade de aprendizado — e de emprego mesmo, visto que há muitos médicos sem uma ocupação no mercado de trabalho.
Como o Sistema Público nem sempre consegue atender à demanda da população, quem não tem um plano de saúde ou não pode pagar muito acaba recorrendo aos serviços de baixo custo. Tanto é que esse é um tipo de negócio em expansão e com grande potencial de crescimento em muitas regiões.
Outra tática que pode ser considerada pelo médico que está iniciando sua carreira no interior é focar nos concursos para hospitais de pequenas cidades. Nesse caso, existem duas boas notícias: a concorrência não costuma ser tão grande e os salários podem ser bem altos.
Tendo em vista que o custo de vida é mais baixo que nas grandes capitais, esse benefício se torna ainda maior. Há concursos em prefeituras do interior que oferecem valores maiores ao teto de grandes cidades ou até mesmo acima dos salários de seus prefeitos.
É como uma caça aos profissionais do ramo, em que existe até uma disputa entre cidades vizinhas para atrair um bom médico. Tal situação coloca este profissional em uma posição privilegiada, mas se complica pela falta de candidatos — já que a grande maioria dos recém-formados prefere procurar vagas nos grandes centros.
Contudo, há de se considerar que essa pode ser a chance de conseguir pagar o financiamento da faculdade — o que é uma realidade bastante comum para os alunos brasileiros.
Aliás, para quem não sabe, desde 2010 os estudantes de Medicina que estudaram com o suporte do FIES (Fundo de Financiamento Estudantil) podem abater 1% de suas dívidas por mês trabalhando na rede pública de saúde.
Só que esse benefício é concedido apenas para os municípios escolhidos pelo Ministério da Saúde, que definiu áreas prioritárias (normalmente em regiões do interior que são mais carentes). Isso reforça a intenção do Governo Federal de distribuir melhor esses profissionais para atender toda a população.
De toda forma, essa fase pode funcionar como um período de experiência e, se a pessoa não se adaptar completamente à vida no interior, poderá sair de lá com uma boa bagagem de conhecimento e uma reserva financeira para realizar outros investimentos no futuro.
Para ter sucesso como médico não desconsidere as suas habilidades comportamentais. Claro que o conhecimento técnico é essencial, mas a forma como você se comporta e pratica a sua profissão também é capaz de fazer toda a diferença.
Quando falamos da vivência nas cidades do interior, podemos ter uma ideia de como as relações são mais próximas nesses locais. O espaço reduzido e até mesmo a pouca variedade de serviços fazem com que as pessoas normalmente interajam mais umas com as outras.
Na carreira médica, essa proximidade influencia no sentido de favorecer as oportunidades para aqueles que estão abertos para isso. Na prática, os profissionais que conseguem estabelecer esses vínculos são os que têm mais chance de se destacar e alcançar o sucesso, independentemente de terem um currículo de dar inveja.
Tudo isso reforça a necessidade de investir em um atendimento mais humanizado, que seja capaz de criar uma identificação com cada paciente. Isso significa priorizar o tratamento individualizado, considerando cada pessoa como única e não de maneira generalista.
Levar em conta fatores como maior atenção e empatia é um grande passo para desenvolver relacionamentos baseados em confiança e respeito. A questão é sempre olhar para o lado humano com sensibilidade, coisa que deveria ser um critério básico para qualquer profissão — ainda mais na área da saúde, que é tão delicada.
Enquanto para o profissional pode ser corriqueiro tratar de doenças e outros problemas, para o paciente não é bem assim. Portanto, ser uma pessoa empática e capaz de se colocar no lugar do outro garante que as pessoas fiquem mais à vontade, influenciando até mesmo nos resultados dos tratamentos.
Esse esforço do profissional com certeza resultará em um trabalho mais ético e cuidadoso, o que naturalmente vai gerar efeitos positivos na comunidade em forma de reconhecimento, valorização e fidelização dos pacientes.
Ainda que não seja um caminho tão natural ou tradicional, de uns tempos para cá, a possibilidade de empreender na área da saúde tornou-se mais frequente. As tecnologias contribuíram muito para isso, principalmente pela aproximação das pessoas que elas viabilizaram.
Além disso, diante das dificuldades da carreira, é preciso buscar maneiras de se reinventar, tanto que algumas tendências têm se firmado recentemente. Veja algumas delas abaixo:
Uma das vertentes que mais têm ganhado destaque nesse cenário é o empreendedorismo digital. A concorrência é um dos grandes motivos para que os profissionais apostem em melhorar o marketing pessoal, utilizando como principal ferramenta a internet.
Estar presente no mundo virtual e nas mídias sociais é uma forma de se comunicar diretamente com o público, ganhando maior visibilidade e adquirindo um diferencial frente aos colegas que não fazem o mesmo.
Esse contato mais próximo pode trazer muitos benefícios, mas é importante que ele seja feito com responsabilidade e dedicação. O conteúdo deve ser apropriado e muito bem preparado para que a estratégia seja realmente efetiva na atração e conquista de pacientes.
Aliás, essa é uma ótima tática para quem acabou de chegar para trabalhar em uma cidade do interior, que até então não conhecia. Com o aumento da acessibilidade propiciado pela internet, a presença digital é capaz de abrir muitas portas.
Outra possibilidade é investir em tecnologias para melhorar a experiência de atendimento dos pacientes e também para oferecer serviços diferenciados, como um exame ou um tipo de tratamento que requer um equipamento especial.
Investir em ações que geram satisfação para o cliente deve ser o objetivo de qualquer tipo de empresa, seja ela um supermercado ou um consultório. O que vale é estudar cada nicho e pensar em como atender a clientela da melhor maneira dentro das suas possibilidades.
Isso faz toda a diferença nos municípios do interior, onde as pessoas se conhecem mais e o boca a boca é relevante para a divulgação do trabalho do médico. É preciso se colocar no lugar do paciente para avaliar que tipos de propostas podem deixar o serviço ainda melhor, desde o momento de marcar a consulta até o seu retorno.
Softwares de gestão e relacionamento têm facilitado esse processo em muitas clínicas e consultórios, fazendo com que os pacientes se sintam mais bem atendidos. Outra tática que contribui para identificar os pontos críticos é fazer pesquisas de satisfação periodicamente.
Às vezes, existe o sentimento de que a vida no interior é monótona, sem aquela correria de realizar infinitos procedimentos durante um dia de trabalho, como é comum nos grandes centros. De fato, isso pode acontecer, até porque o público reduzido pode não gerar tanta demanda.
A boa notícia é que as pessoas têm se preocupado mais consigo mesmas. Uma tendência das novas gerações é estimular hábitos saudáveis, monitorar a saúde, alimentar-se melhor etc.
Em vez de focar os cuidados nas enfermidades, o ideal é preocupar-se com as doenças antes que elas sejam uma realidade — o que é chamado de medicina preventiva ou preditiva. Exames avançados já são capazes de antecipar certas predisposições genéticas para alertar os pacientes sobre possíveis complicações futuras.
Isso abre um bom espaço para atuar com questões como nutrição, estética, atividades físicas, cuidados com o sono, entre outras técnicas de prevenção. Dar enfoque a esses temas, montar programas locais de estímulo ao bem-estar, promover eventos e palestras são atitudes que podem integrar o médico à comunidade e fazer dele um empreendedor na área.
A ideia deve ser não ficar parado no tempo e nas limitações que surgirem. Para empreender é necessário ter paciência, pois, assim, será capaz de identificar as oportunidades e proporcionar algo novo para as pessoas, transformando a realidade local.
Enfim, considerar todos esses pontos já é um bom começo para quem não sabe como ter sucesso nessa carreira atuando em pequenas cidades. Apesar das limitações, é preciso enxergar que existem vários caminhos favoráveis nesses locais e esforçar-se para seguir um deles — mesmo que seja por um tempo determinado.
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