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Saúde trans em foco: como lidar com pacientes transgênero?

Saúde trans em foco: como lidar com pacientes transgênero?

Ano após ano, o número de pessoas transgênero vêm crescendo no Brasil. 

Em especial com novas pesquisas e levantamentos sobre o tema surgindo a cada dia, à medida em que governos e políticas públicas começam a se movimentar pela inclusão da população na sociedade. 

Na última Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde (PNDS) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), por exemplo, que teve início em outubro de 2022, foram incluídas perguntas tanto sobre orientação sexual quanto identidade de gênero, a pedido da própria sociedade civil. 

Apesar destes números oficiais terem previsão de divulgação apenas para o fim de 2024, em um levantamento realizado, em 2021, pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), já eram cerca de 3 milhões de pessoas no Brasil que se consideravam pessoas transgênero ou não-binárias.

Outro dado relevante, e que mostra o crescimento da população transgênero, diz respeito ao número de pessoas que vêm pedindo pela inclusão do seu nome social em documentos oficiais. 

No estado de São Paulo, em cinco anos, o número de mudanças de nome e sexo de pessoa trans em cartórios cresceu cerca de 43%, segundo informações da Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen-Brasil). 

Esse crescimento resultou em um total de 5.700 alterações que não tiveram a necessidade de procedimento judicial e tampouco comprovação de cirurgia de redesignação sexual, a transgenitalização. 

Considerando esse contexto expressivo, existem também os cuidados com a saúde com o grupo e como a Medicina deve se portar, afinal, ela desempenha um papel muito importante e humano na promoção da saúde de qualquer pessoa, inclusive as que não se reconhecem no gênero designado ao nascimento.

E afinal, como lidar com as pessoas transgêneras dentro do consultório? De que forma oferecer o melhor acolhimento e atendimento a elas? E ainda: como evitar cair em reforços de estereótipos e preconceitos enraizados da nossa sociedade?

É o que iremos descobrir no conteúdo de hoje!

Entendendo o conceito de transgênero 

As pessoas transgênero não se identificam com o sexo biológico que lhes foi atribuído ao nascer. 

Algumas delas, como sabemos, procuram ajuda médica para realizar intervenções que confirmem externamente o gênero com o qual se identificam. 

Essas intervenções podem variar desde tratamentos estéticos e hormonais, que veremos mais à frente, até cirurgias de adequação de gênero. 

É essencial, no entanto, destacar, que o termo "transgênero" engloba uma variedade de identidades, incluindo transexualidade e travestilidade, e que o diagnóstico clínico não está diretamente ligado aos procedimentos hormonais ou cirúrgicos realizados para se adequar ao gênero desejado. 

Esses recursos são utilizados para promover a saúde das pessoas transgênero que precisam de mudanças corporais para alcançar seu bem-estar e não para se definirem enquanto um gênero ou outro. 

Esta definição deve vir por elas próprias, ou seja, se uma pessoa que nasceu com o sexo biológico masculino se enxerga, se entende e se identifica com o feminino, só este fato basta para que o médico a trate pelos pronomes femininos como ela/dela. 

"No conceito de saúde estabelecido pela OMS, o bem-estar físico, mental e social tem que ser completo. Logo, uma pessoa trans em sofrimento com o próprio corpo, não pode ser considerada saudável até que suas necessidades física e mental sejam atendidas, lembrando que não necessariamente precisa implicar em hormonização ou cirurgia. Cada caso é um caso. A cirurgia ou tratamento hormonal não são necessários para que uma pessoa se identifique como transgênero; basta que ela afirme pertencer ao seu gênero desejado”, explica a Dra. Renata Maksoud Bussuan, endocrinologista, coordenadora da Pós-graduação em Endocrinologia e do Workshop em Atendimento Ambulatorial Transgênero da Afya Educação Médica.

Regras como essa valem também para o atendimento de qualquer paciente que seja LGBTQIAP+, com o respeito, a ética e o acolhimento devendo sempre prevalecer, bem como a vontade de cada uma dessas pessoas. 

Dentro do consultório 

Falando em regras, dentro do consultório, algumas são ideais de serem seguidas, como já te contamos por aqui:

1. Usar o nome e o pronome de acordo com o que o paciente se identifica;

2. Se inteirar sobre o vocabulário da comunidade;

3. Trazer um ambiente acolhedor;

4. Mostrar-se contra o preconceito;

5. Estudar o mundo LGBTQIAPN+.

"A sociedade precisa entender que as pessoas trans são cidadãs como todo mundo, e que merecem atendimento adequado durante o processo de transição. Isso é essencial para manter a saúde e o bem-estar, principalmente o psicológico. Acredito que quanto mais se fala sobre o assunto, mais se normaliza o debate e se torna natural a existência de pessoas trans na sociedade", comenta o primeiro homem trans militar das Forças Armadas, Marcos Salles.

Pensando nisso, algo também recomendado é fazer cursos complementares voltados para a área, como o Workshop de Atendimento Ambulatorial Transgênero da Afya Educação Médica, onde você irá conseguir, enquanto médico ou médica, dominar as competências sobre o acolhimento ao paciente transgênero por meio de uma anamnese completa e exame físico e hormonização. 

Saiba mais!

Leia também: Guia de atendimento a transgêneros para médicos

Acompanhamento clínico especializado é essencial

Ademais, é fundamental que as pessoas transgênero recebam acompanhamento clínico por meio de serviços especializados, independentemente de tratamento hormonal ou intervenção cirúrgica, mas ainda mais caso haja algum desses para que se garanta a segurança e a eficácia de ambos. 

A equipe multidisciplinar poderá ser composta por:

  • Endocrinologistas;
  • Urologistas;
  • Ginecologistas;
  • Psiquiatras;
  • Psicólogos;
  • Pediatras (no caso de menores de 16 anos). 

No caso dos tratamentos com terapia hormonal e que visam alinhar características físicas à identidade de gênero do ou da paciente, são utilizados hormônios sexuais exógenos e anti-andrógenos. 

Este tipo de terapia visa reduzir o nível hormonal endógeno e manter níveis hormonais compatíveis com aqueles do sexo oposto, de forma a promover o surgimento de características sexuais secundárias associadas ao gênero desejado e amenizar as características sexuais primárias do sexo biológico. 

Estas mudanças físicas visam proporcionar bem-estar físico, mental e emocional, como veremos abaixo.

Tratamento hormonal para mulheres trans

A terapia hormonal para mulheres trans tem como objetivo desenvolver características femininas nas pacientes por meio da estrogenioterapia, que visa alcançar:

  • Desenvolvimento mamário
  • Redistribuição da gordura corporal
  • Redução de pelos faciais e corporais
  • Suavização da textura da pele
  • Redução da massa muscular
  • Diminuição da libido e ereções espontâneas
  • Redução do volume testicular e atrofia prostática

Esses efeitos começam a ser notados após três meses de terapia hormonal e atingem seu ápice por volta dos 24 meses.

Tratamento hormonal para homens trans 

Já a terapia hormonal para homens trans tem como objetivo desenvolver características masculinas nos pacientes por meio da administração de testosterona, que visa alcançar:

  • Indução da virilização e clitoromegalia
  • Promoção do crescimento de pelos faciais e corporais
  • Interrupção dos ciclos menstruais
  • Aumento da massa muscular
  • Aumento da libido
  • Redistribuição da gordura do quadril para o abdome
  • Engrossamento da voz
  • Atrofia do tecido mamário
  • Transformação policística dos ovários
  • Proliferação ou atrofia endometrial 

É de extrema importância que ambas as terapias sejam complementadas com avaliações específicas para os indivíduos com outras morbidades, e que se monitore os efeitos colaterais e as possíveis complicações para uma abordagem segura e eficaz. 

“Nós, pessoas trans, ficamos tão ansiosas pelas mudanças físicas, mas não podemos esquecer que o acompanhamento com um profissional qualificado é o que vai possibilitar alcançarmos os nossos objetivos de forma mais segura e saudável. Por isso, a equipe médica faz toda a diferença”, pondera Marcos.

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