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4.11.2022
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Equipe Afya Educação Médica
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Ao longo da história, a Medicina passou por uma série de fases e descobertas. Assim como surgiram medicamentos que revolucionaram positivamente o cuidado, outros já foram acompanhados de polêmicas, como é o caso da gestrinona.
Nos últimos anos, esse nome tem sido cada vez mais popularizado. Se você desconhece o termo, talvez já tenha ouvido algo como “chip da beleza”. Pois bem, são esses tubinhos de silicone que carregam o medicamento e várias controvérsias.
Por esse motivo, a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabolismo (SBEM) e a ANVISA se posicionaram frente ao assunto: contraindicação e proibição. Mas, afinal, o que essa substância provoca e por que é tão contestada?
Antes de partir para a regulamentação brasileira acerca do uso da gestrinona, precisamos passar por alguns conceitos importantes que elucidam sobre o tema.
Sabe-se que, naturalmente, uma série de hormônios circulam no organismo. Existe um grupo específico deles mais associado aos aspectos sexuais. Os efeitos deles atuam diretamente no eixo hipotálamo-hipófise-gônada, além de influenciarem nos caracteres da pessoa.
A gestrinona é um esteróide anabolizante que se deriva da nandrolona. De modo geral, se assemelha a um grupo de andrógenos encontrado naturalmente no corpo. Porém, trata-se de um progestágeno sintético.
De modo geral, a gestrinona vai resultar em dois efeitos bastante conhecidos:
Como apresenta efeitos androgênicos, vai diminuir a massa gorda do organismo e, em contrapartida, aumentar consideravelmente a massa magra. Por esse motivo, encontra-se na lista de substâncias proibidas na prática esportiva.
Contudo, o perigo maior encontra-se no uso inadvertido e cada vez mais crescente. Diante da ação do hormônio, a população busca a substância não só para melhorar performance e desempenho, mas também para fins estéticos.
Viu só como o perigo vai muito além do aspecto de doping?
Mas, afinal, considerando todos esses problemas associados à gestrinona, qual seria a real indicação para o uso do hormônio? Para responder isso, precisamos voltar um pouco na história.
No final da década de 70, a gestrinona começou a ser estudada para o tratamento da endometriose. Já no ano de 1996, foi realizado um registro na ANVISA que determinava o uso oral da substância para o tratamento da condição.
Porém, perceba que o registro determinou a via oral, mas nada associado à eficácia parenteral. Em outras palavras, não existem estudos que determinem a segurança ou a eficácia do princípio ativo por meio de implantes ou “chips”.
Complementando, não é só a via de administração que gera polêmica. A indicação para uso também requer cuidados, uma vez que os derivados androgênicos são indicados, de fato, em poucas situações.
Uma das poucas indicações é para o tratamento do transtorno do desejo sexual hipoativo. Porém, ainda que a pessoa apresente a condição, a gestrinona só pode ser administrada nas mulheres pós-menopausa.
Mas e nos casos de endometriose? Bem, a FEBRASGO reforça que o uso de implantes nunca apresentou estudos suficientes para embasar a prática. Reforça, ainda, que não deve ser comparado com a via oral, seja pela eficácia, seja pelos efeitos adversos promovidos.
Como dito, um dos principais aspectos que contraindicam o uso do hormônio são seus efeitos adversos. Como não existem estudos que comprovem a segurança, não é possível determinar com exatidão a dimensão desses efeitos.
Na própria bula não é possível encontrar informações básicas, como indicações ou aprovação de uma agência reguladora. Além disso, não é possível determinar a posologia e as interações medicamentosas. De fato, faltam estudos sobre o tema.
Contudo, alguns riscos já são muito bem estabelecidos. Dentre eles, existem as alterações do perfil lipoprotéico e, consequentemente, problemas cardiovasculares. Considerando que a gestrinona é um hormônio androgênico, ela mantém níveis supra fisiológicos de testosterona e estradiol.
Por esse motivo, é contra indicada por uma série de órgãos competentes, como Sociedade de Endocrinologia Americana e Sociedade Americana de Menopausa. No Brasil, o cenário é bem semelhante, mas antes de entendermos esse aspecto, vale a pena conferir outros efeitos.
Acne, aumento da oleosidade da pele e aumento de pelos: tudo isso a gestrinona pode provocar. Considerando que é uma espécie de testosterona no organismo, também pode resultar no aumento do timbre e clitoromegalia.
Complementando, como atua no eixo hipotálamo-hipófise-gonadal, existem alterações importantes no ciclo menstrual. A mulher pode entrar em amenorreia, passar por ondas de calor, apresentar ressecamento vaginal e, ainda, viver com constante irritabilidade.
Por fim, vamos entender melhor como é a regulação da gestrinona no Brasil. Para início de conversa, não podemos esquecer que ela é um anabolizante. Geralmente, os anabolizantes exigem uma receita de controle especial para retirada em farmácias.
Neste tipo de receita, é necessário o CPF do prescritor e o CID da doença do paciente. Curiosamente, a gestrinona não está contida na lista de fármacos anabolizantes, o que aumenta o risco do uso inadvertido da substância.
A SBEM não reconhece a substância como opção de tratamento para a endometriose. Além disso, admite que a substância é utilizada inadvertidamente para fins estéticos e aumento de desempenho. Por isso, reforça a necessidade de maior fiscalização frente ao uso.
Uma das frentes mais defendidas pela SBEM, é a inclusão pela ANVISA da gestrinona na lista de anabolizantes. A ANVISA, por sua vez, informa que não há medicamentos registrados com essa substância, nem aguardando análise ou avaliação.
Complementando, também combate veementemente o uso, uma vez que não há trabalhos que comprovem eficácia e segurança. Frente a isso, considera a gestrinona um risco à saúde pública e proíbe a propaganda de produtos que contêm o hormônio.
Ajude a divulgar os riscos
Diante de tudo isso, podemos concluir que a gestrinona é um produto consumido inadvertidamente e que oferece grandes riscos para a população. Além de apresentar indicações restritas, os efeitos colaterais e adversos provocados pela substância podem ser muito prejudiciais para os indivíduos. Seja na forma isolada, seja associada a outros produtos, ela deve ser melhor estudada e fiscalizada pelos órgãos responsáveis.
Já viu alguém comentando sobre o famoso chip da beleza? Então, compartilhe nosso texto e ajude a informar mais pessoas sobre os perigos do método!