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13.7.2018
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O uso de drogas e de outras substâncias é um problema recorrente em todo o planeta. No Brasil, o cenário não é tão diferente — de acordo com o estudo Rising trends of Prescription Opioid Sales in Contemporary Brazil, publicado em abril de 2018, o uso de opiáceos cresceu cerca de 465% no país nos últimos anos.
Por conta disso, fica fácil perceber que o abuso de tais substâncias no meio médico também é um problema sério. A constante pressão, a carga emocional, as longas jornadas de trabalho e o fácil acesso aos compostos opiáceos são fatores cruciais que levam os profissionais a abusarem de drogas.
Infelizmente, o receio de perder a licença e a credibilidade faz com que os profissionais que sofrem com o vício não busquem ajuda, agravando o problema. Por conta disso, é indispensável discutirmos o abuso de substâncias entre médicos e estudantes de medicina.
Pensando nisso, preparamos um artigo a fim de conscientizar profissionais da área sobre os problemas enfrentados por indivíduos que lidam com a dependência química em seu dia a dia. Boa leitura!
Assim como acontece com a população geral, médicos podem recorrer ao uso de substâncias (como analgésicos potentes e antidepressivos) por uma série de razões emocionais e físicas. O principal ponto de divergência está no acesso mais simples a esses componentes, que acaba facilitando o abuso desses compostos.
Essa facilidade de encontrar os medicamentos é, inclusive, relevante, já que o livre acesso é um dos principais problemas para pessoas que lidam com um vício. Além disso, outros fatores podem contribuir largamente para o abuso de substâncias por profissionais da área médica.
Algumas das principais ocorrências são a pressão e as longas jornadas de trabalho que boa parte dos médicos vivencia. Por conta disso, muitos profissionais fazem uso de sedativos e outros medicamentos para lidar com o estresse, a dificuldade para dormir ou o cansaço excessivo.
A automedicação também é porta de entrada para outros problemas. Diariamente, médicos e estudantes podem usar medicações consideradas “inofensivas” para tratar seus problemas cotidianos, que podem ir desde alergias a dores musculares. Pouco a pouco, o uso de tais medicamentos pode se tornar indevido, evoluindo para o vício.
Identificar os sintomas de vício em um colega pode ser extremamente difícil, tendo em vista que os profissionais da área sabem como omitir os sinais de forma bastante eficaz.
No entanto, ficar atento a esses sinais e identificá-los é o primeiro passo para ajudar um colega a combater o vício. A seguir, vamos listar alguns dos principais indicadores de que algo pode estar errado. Confira:
Além disso, queixas ou comentários frequentes vindo de pacientes ou seus familiares também agem como um bom indicativo de alteração comportamental.
Um estudo divulgado na publicação Medical Student Research Journal, no ano de 2014, mostra que médicos e estudantes de medicina têm uma alta taxa de abuso de substâncias. Infelizmente, a dificuldade que muitos colegas têm em reportar tais abusos e a falta de conscientização dificultam o tratamento e a abordagem do problema no meio médico.
Algumas das principais causas que levam funcionários a se calarem diante de um colega que sofre com algum vício são:
De fato, não é nada fácil reportar um colega para os superiores. O medo de prejudicar a vida e a carreira de outro médico é um dos principais motivos para que os profissionais da área fiquem calados. Além disso, a falta de informação e de debate sobre o assunto gera uma grande insegurança em todos os envolvidos.
Tendo em vista todas as informações discutidas até então, torna-se indispensável uma maior conscientização para que todos — funcionários, clínicas e hospitais — possam superar esse problema da melhor forma possível. Afinal, o vício é uma doença e merece ser tratada como tal, sem estigmas ou tabus.
A seguir, mencionaremos algumas práticas que podem facilitar a luta dos médicos contra seus vícios e abusos de substâncias. Confira:
O objetivo da existência de regras claras e objetivas em um hospital não deve ser amedrontar os funcionários e fazer com que o “pacto de silêncio” se fortifique. A intenção, nesses casos, é justamente direcionar melhor todos os envolvidos para que esses casos sejam reportados.
Com a existência de regras e normas, fica muito mais fácil saber quando, por que e com quem falar em casos como esses. Por isso, é essencial a existência de uma legislação interna consistente e que seja consenso dentro do ambiente de trabalho.
Outra maneira de informar as pessoas de forma generalizada e consistente é a organização de palestras sobre o assunto. É uma estratégia muito eficaz, já que consegue alcançar muitas pessoas de uma só vez e passar a informação de forma mais indireta e impessoal mesmo para quem já possui um amplo conhecimento, como os médicos.
Além disso, as palestras constroem um senso de comunidade no hospital, fazendo com que todos se sintam mais integrados e confortáveis com o assunto. É necessário falar sobre algo para que isso deixe de ser um tema proibido.
Por fim, uma dica importante diz respeito à construção de um ambiente acolhedor para o médico que lida com o vício. Portanto, a demonstração de apoio de toda a equipe é fundamental para o tratamento. Tratar o problema como uma doença que tem cura e demonstrar que todos estão disponíveis para ajudar é essencial.
Dessa forma, o receio tende a diminuir e o abuso de drogas no meio médico passa a ser visto como uma situação real, que precisa ser abordada da forma correta, assim como fazemos com pacientes todos os dias.
Como podemos ver, o uso de drogas entre médicos e estudantes de medicina é um tema sério que precisa ser discutido. O tabu acerca do assunto faz com que o problema se intensifique e que profissionais se afundem cada vez mais no vício por medo de não encontrarem apoio. Por conta disso, o debate e a conscientização são essenciais.
Para fazer com que mais pessoas fiquem cientes do problema e saibam como lidar com ele, compartilhe este artigo em suas redes sociais. Dessa forma, você ajudará outras pessoas também!