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28.1.2018
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No ano passado, seis alunos do 4º ano de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) tentaram se suicidar. Na Faculdade de Minas (Faminas-BH), num período de 40 dias, foram cinco tentativas de suicídio, sendo que duas dessas levaram ao falecimento das vítimas. O motivo possível: a sobrecarga dos alunos durante o curso de Medicina. Essa sobrecarga pode se manter após a formatura.
No I Encontro Nacional dos Conselhos de Medicina, em 2017, uma pesquisa da Câmara Técnica de Psiquiatria revelou que 48,5% dos médicos descrevem já ter experimentado a sensação de esgotamento — um sintoma compatível com a Síndrome de Burnout — em algum momento durante a carreira. Nos outros países, a situação não é muito diferente. Publicações recentes do New England Journal of Medicine (NEJM), relatam que cerca de 400 médicos morrem por suicídio todos os anos nos Estados Unidos e, em 2014, 54% dos médicos do país reportavam algum sintoma da Síndrome de Burnout.
Há ainda um risco maior de incidência desse distúrbio em especialidades responsáveis pelo atendimento inicial do paciente, tais como: clínica médica, medicina da família, neurologia e emergência. Mas afinal, o que é a Síndrome de Burnout? Por que os médicos são tão afetados? Como garantir uma carreira de sucesso sem sofrer desse problema? Confira a resposta para essas e outras perguntas aqui neste post.
Descrita pela primeira vez em 1974, em estudo do psicólogo alemão (radicado nos EUA) Herbert J. Freundenberger, a Síndrome de Burnout (ou síndrome do esgotamento profissional) se caracteriza por um excesso crônico de estresse ocupacional que leva a exaustão emocional e física, além da redução da capacidade pessoal.
Esse transtorno não consta no DSM-V (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), mas no CID-10 (Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde) ele recebe a classificação Z730 — Esgotamento, presente dentro da categoria de Problemas relacionados com a organização do modo de vida (Z73).
O Burnout pode provocar inúmeros sintomas mentais e físicos. Entre os principais, destacam-se:
Ainda não existem limites claros entre a Síndrome de Burnout e a depressão. Alguns autores defendem a ideia que o Burnout seria apenas uma das possíveis manifestações de um transtorno depressivo maior, enquanto para outros autores, a Síndrome de Burnout apresenta uma característica importante que a distingue da depressão: ela está diretamente associada ao trabalho e à execução de tarefas relacionadas à profissão.
Qualquer profissional está susceptível a desenvolver a Síndrome de Burnout, mas áreas que demandam um envolvimento interpessoal mais intenso são consideradas de maior risco. Os casos de Burnout são ainda mais comuns em mulheres jovens que enfrentam a jornada dupla de trabalho fora e dentro de casa e em pessoas que costumam realizar atividades laborais fora do horário de trabalho, que valorizam excessivamente as conquistas profissionais em detrimento de outros aspectos da vida e que tem descaso com as necessidades pessoais (alimentação, sono, descanso, lazer, etc).
A carga horária de trabalho dos médicos é extensa. A sobrecarga tem início ainda nos primeiros anos de faculdade e se mantém ao longo de toda a carreira. Nos primeiros anos após a formatura, o esgotamento costuma ser ainda maior. O médico recém-formado tem que continuar os estudos, passar em uma prova de residência ou buscar uma pós-graduação, para obter maior reconhecimento no mercado, ao mesmo tempo que se sobrecarrega para aumentar a remuneração mensal, compensar todos os anos de estudo e pagar dívidas acumuladas durante a faculdade. Além disso, outras características da profissão contribuem para o Burnout, como:
Além de reduzir a qualidade do atendimento aos pacientes e prejudicar o funcionamento dos sistemas de saúde públicos e privados, o Burnout de médicos pode levar à incapacitação e/ou à perda de profissionais da área após anos de investimento acadêmico, o que gera um déficit para toda a sociedade.
O diagnóstico de Burnout deve ser feito por profissionais especializados e qualificados no tema, levando em consideração todo o contexto laboral do indivíduo e o resultado de avaliações psicológicas. O mais importante é estabelecer a relação entre os sintomas e o trabalho. Durante uma crise aguda, a solução é fazer uma mudança brusca na rotina para dar ao corpo e à mente um momento de descanso. Assim, é essencial que a pessoa tire férias, faça uma viagem com a família ou com os amigos e invista em momentos de relaxamento.
Durante o descanso, fica mais fácil estabelecer novos hábitos de vida e incluir atividades prazerosas na rotina diária. Outra medida importante é a realização de sessões de psicoterapia. Para o tratamento da Síndrome de Burnout, os tipos mais recomendados são a terapia cognitiva comportamental, o coaching e o mentoring com foco na relação do indivíduo com a profissão, na mudança do ambiente de trabalho e no controle dos sintomas. Em alguns casos, também pode ser necessário fazer uso de medicamentos antidepressivos para maior controle dos sintomas e aceleração da recuperação mental.
As mudanças na rotina são a principal forma de prevenir a Síndrome de Burnout. É importante manter um equilíbrio saudável entre a vida pessoal e profissional, priorizando um tempo para o lazer com a família e os amigos, por exemplo. Para isso, é válido seguir as seguintes orientações:
Como você sabe, informação é o melhor caminho para a prevenção. Agora que você sabe mais sobre a Síndrome de Burnout nos médicos, compartilhe esse conhecimento com seus colegas nas redes sociais e os ajude a evitar esse problema.