Cardiopatias congênitas comuns: sintomas, causas, incidência e tratamentos

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A cardiopatia congênita é uma doença em que há má-formação na estrutura do coração ainda na fase embrionária, ou seja, no decorrer do desenvolvimento do embrião. Pode afetar tanto a estrutura quanto a função cardíaca, exigindo cuidados específicos desde cedo.

Em geral, as cardiopatias congênitas são diagnosticadas e tratadas ainda na infância ou, até mesmo, logo após o nascimento. Com a evolução das tecnologias, principalmente da Ultrassonografia, muitas são diagnosticadas ainda na fase intrauterina, possibilitando um melhor preparo da mãe e do bebê para o nascimento. Além de permitir também a programação de uma intervenção após o parto nas situações que podem levar a óbito precocemente.

Identificar a condição precocemente faz toda a diferença para o sucesso do tratamento e prevenção de sequelas. Pensando nisso, elaboramos este artigo com as principais informações sobre as cardiopatias congênitas comuns.

Acompanhe a leitura e saiba mais sobre o assunto!

Conceito de cardiopatias congênitas

As cardiopatias congênitas são condições do coração presentes no nascimento, surgindo devido a anormalidades na estrutura ou funcionamento do órgão. Elas acontecem por causa de alterações no desenvolvimento embrionário de uma estrutura cardíaca normal, provocando um comprometimento do fluxo sanguíneo na região.

Do lado direito, o coração recebe o sangue venoso que segue para o pulmão, onde receberá o oxigênio; do lado esquerdo, é feito o bombeamento do sangue oxigenado para circular no organismo. No caso dos indivíduos com cardiopatias congênitas, todo o processo é perturbado. Muitas vezes, as cavidades se comunicam quando não deveriam; em outras situações, a troca de informações não existe.

Isso tudo sem contar que pode haver estreitamentos ou obstruções que influenciam a chegada ou saída do sangue. Essas falhas podem afetar todo o desenvolvimento estrutural e funcional do restante do sistema circulatório do indivíduo.

Além disso, essas alterações podem envolver o interior do coração, as válvulas cardíacas ou os vasos sanguíneos próximos ao coração. Elas apresentam um amplo espectro e variam desde defeitos mínimos, que dificilmente causam sintomas ou são diagnosticadas apenas na idade adulta, até aqueles extremamente complexos que exigem intervenção nas primeiras horas de vida.

Geralmente, as causas exatas das cardiopatias congênitas não são conhecidas, mas fatores genéticos, ambientais ou hereditários podem desempenhar um papel importante na evolução da doença.

Incidência das cardiopatias congênitas comuns

Os médicos pediatras sabem que as cardiopatias congênitas comuns afetam cerca de 10 indivíduos para cada 1.000 nascidos vivos. A taxa de natimortos chega a 24 para cada 1.000 casos.

Todos os anos, cerca de 130 milhões de crianças nascem no mundo com algum tipo de cardiopatia congênita. Só no Brasil, são mais de 21 mil bebês que precisam de algum tipo de intervenção cirúrgica para sobreviver em decorrência de cardiopatias deste tipo.

A doença é responsável pela causa mais comum de má formação fetal e também é a 3ª causa mais frequente de mortalidade infantil, em torno de 10% dos casos. Na maioria dos registros, não há alterações cromossômicas em casos com ausência de outras malformações. De forma isolada, as cardiopatias congênitas são 6,5 vezes mais comuns que as anormalidades cromossômicas.

Tipos de malformações congênitas

As cardiopatias congênitas podem ser classificadas em cianóticas e acianóticas, dependendo do nível de oxigenação do sangue. A seguir, confira as principais informações sobre cada uma delas.

Cardiopatias congênitas cianóticas

Nesse caso, a característica mais evidente é a tonalidade azulada dos lábios e da pele, já que o sangue é desoxigenado. Trata-se de um sinal claro de que não há oxigênio suficiente no sangue, resultando em alterações cardíacas mais complexas, com mudanças importantes no fluxo sanguíneo e oxigenação do sangue, exigindo, às vezes, uma correção cirúrgica precoce.

No caso de problemas mais graves, eles podem necessitar de um transplante de coração para evitar complicações fatais. Veja os principais tipos de cardiopatias congênitas cianóticas:

  • Tetralogia de Fallot (TF): esta é uma das cardiopatias congênitas comuns, caracterizada por quatro defeitos cardíacos: estenose pulmonar, comunicação interventricular, aorta sobreposta e hipertrofia ventricular direita. O sangue desoxigenado é misturado com o oxigenado, causando cianose (coloração azulada da pele e mucosas);
  • Transposição das Grandes Artérias (TGA): neste caso, os vasos sanguíneos que saem do coração estão invertidos. A aorta sai do ventrículo direito e a artéria pulmonar do ventrículo esquerdo. Isso resulta em circulação sanguínea desoxigenada no corpo, levando à cianose;
  • Atresia Tricúspide: é caracterizada pela ausência ou obstrução da válvula tricúspide, o que resulta em sangue desoxigenado sendo bombeado para o corpo, levando à cianose.

Cardiopatias congênitas acianóticas

Aqui, há mistura de sangue oxigenado e desoxigenado, sem cianose. Consiste em uma cardiopatia mais simples, com menos impacto e gravidade, sendo a característica mais evidente o cansaço fácil e os episódios de pneumonia de repetição.

Muitas vezes, são diagnosticadas apenas com exame clínico e algumas delas precisam de acompanhamento médico, podendo se manter estáveis ou até desaparecer com o crescimento da criança. Conheça os principais tipos:

  • Comunicação Interventricular (CIV): é um defeito na parede que separa os ventrículos do coração, causando uma mistura entre o sangue oxigenado e desoxigenado. Isso pode resultar em sintomas de insuficiência cardíaca;
  • Comunicação Interatrial (CIA): similar à CIV, mas envolve um defeito no septo que separa os átrios. Isso permite a passagem de sangue entre os átrios, o que pode levar ao acúmulo de sangue nos pulmões;
  • Persistência do Canal Arterial (PCA): este é um vaso sanguíneo que não se fecha após o nascimento, permitindo o fluxo de sangue entre a aorta e a artéria pulmonar. Pode levar a sintomas semelhantes à insuficiência cardíaca.

Causas mais comuns

Como mencionamos, as causas incluem diversos fatores: herança genética, cardiopatias em gestações anteriores ou em parentesco de primeiro grau, uso de antidepressivos como o lítio, por exemplo, alguns tipos de anticonvulsivantes e uso de drogas ilícitas ou lícitas – como é o caso do tabagismo ou consumo de álcool durante a gestação.

Doenças maternas, a exemplo da diabetes gestacional, lúpus e infecções, como a rubéola, também podem impactar o momento da formação do coração fetal nas primeiras oito semanas de gravidez. Gravidez gemelar, idade materna avançada e fertilização in vitro também são considerados fatores de risco importantes.

Não há formas de prevenir a doença, porém algumas mudanças comportamentais podem auxiliar o bom desenvolvimento do bebê. Quando opta pela gravidez, o casal deve procurar um médico de confiança para verificar o estado de saúde da gestante e avaliar possíveis fatores de risco para que seja feito aconselhamento adequado.

É essencial educar os pacientes a buscar orientação médica para o diagnóstico e tratamento adequado das cardiopatias congênitas, permitindo um acompanhamento médico precoce e um plano de tratamento personalizado para garantir o bem-estar dos pacientes.

Sintomas e fatores de risco

Em geral, as cardiopatias congênitas são identificadas por sinais percebidos pelo médico pediatra na fase intrauterina, no nascimento ou mais tarde, quando os pais também podem perceber os sintomas – na infância, adolescência e até na vida adulta, dependendo do tipo da alteração no coração e dos seus reflexos.

Os sintomas mais comuns da cardiopatia congênita são:

  • dispnéia;
  • fadiga;
  • palidez;
  • cianose;
  • suor excessivo;
  • pele de coloração arroxeada;
  • dificuldade respiratória;
  • choro constante;
  • cansaço ao mamar ou entre as mamadas, no caso dos bebês.

Além disso, os adultos podem evoluir para insuficiência cardíaca, cianose progressiva, baqueteamento digital, hipertensão pulmonar, entre várias outras manifestações. Por isso, diante desses sintomas, o mais indicado é orientar o paciente a buscar acompanhamento com um profissional especializado.

Tratamento

O tratamento clínico da cardiopatia congênita é feito conforme o quadro e a gravidade do paciente, seja ele de cianose ou de insuficiência cardíaca. Alguns casos não necessitam de tratamento, pois a situação pode evoluir para cura espontânea, como é comum em quadros de canal arterial persistente no bebê prematuro, bem como em alguns casos de comunicações interatriais e interventriculares.

Já as cardiopatias que evoluem para uma forma mais grave, geralmente apresentam a opção de tratamento cirúrgico, algumas vezes ainda no período neonatal, mas também na fase lactente ou quando a criança já está maior.

Nesse sentido, a intervenção cirúrgica é necessária para corrigir o defeito. Isso pode envolver a reparação de válvulas cardíacas, fechamento de comunicações anormais ou até mesmo transplante cardíaco em casos graves.

O cateterismo cardíaco terapêutico é uma opção cirúrgica que pode ser utilizada para realizar procedimentos paliativos e até mesmo curativos, como é feito no canal arterial persistente, na comunicação interatrial, na estenose pulmonar, na estenose aórtica, e na estenose mitral.

Além da cirurgia, podem ser utilizados medicamentos para aliviar sintomas, controle de arritmias intrauterinas e cuidados contínuos com o cardiologista. Vale destacar que o acompanhamento médico contínuo para monitorar a condição é essencial, mesmo após a intervenção, para garantir um bom prognóstico e qualidade de vida para os pacientes com cardiopatias congênitas.

Detecção precoce reduz riscos e mortalidade

O rastreamento populacional dos casos é o único caminho para que o diagnóstico pré-natal das cardiopatias congênitas possa ser ampliado, de forma precoce. Ele é feito preferencialmente durante a ultrassonografia obstétrica de rotina pela observação sistemática do coração do feto.

O diagnóstico realizado ainda na gestação pode reduzir muito o índice de morbidade e mortalidade dos bebês. Neste cenário, os médicos devem aconselhar o ecocardiograma fetal nas consultas de rotina de gestantes no pré-natal, procedimento que deve ser divulgado e ampliado para maior e melhor detecção da doença.

O exame é realizado com um oxímetro para medir os níveis de oxigênio no sangue e os batimentos cardíacos do bebê. É um procedimento de baixo custo, rápido, não invasivo, indolor e obrigatório, fornecido inclusive pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Durante a gestação, alguns exames facilitam a detecção da doença, como os exames de ultrassom morfológico. Eles são realizados, em geral, no segundo trimestre gestacional e possibilitam a identificação de má formação no coração da criança. Quando há suspeita de alguma anormalidade, é realizado um ecocardiograma do coração do feto, o que permite avaliar e detectar detalhadamente anormalidades estruturais e da função cardíaca.

Após o diagnóstico clínico, determinados exames como eletrocardiograma, raio-x de tórax e ecocardiograma são necessários para confirmar o diagnóstico e determinar o tipo de cardiopatia congênita, o que permite uma intervenção mais eficaz.

Vale destacar a importância da detecção precoce para redução dos riscos e da mortalidade e melhorar as chances de sucesso no tratamento e prevenção de sequelas, uma vez que permite que o bebê possa receber cuidados adequados, medicações específicas e/ou cirurgia de urgência caso necessário.

Além disso, em alguns tipos de cardiopatias o tratamento adequado e precoce possibilita a completa reversão do quadro, assegurando ao paciente uma vida normal, inclusive para a prática esportiva. A demora no diagnóstico e tratamento, ao contrário, pode gerar sequelas irreversíveis.


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Esperamos que tenha esclarecido suas principais dúvidas sobre as cardiopatias congênitas comuns. Fazer o teste do coraçãozinho, estar atento aos sinais e sintomas que as crianças podem apresentar são indispensáveis para realizar um diagnóstico precoce e um tratamento adequado. Assim, é possível garantir bem-estar e qualidade de vida no desenvolvimento da criança ou demais pacientes.

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