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20.1.2023
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Equipe Afya Educação Médica
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O autismo, atualmente denominado como um Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um distúrbio do neurodesenvolvimento que engloba diversas condições relacionadas a interação social, alterações nos níveis cognitivos e comportamentos agressivos e estereotipados.
Felizmente, com o avançar dos estudos científicos psicológicos e comportamentais, o TEA é analisado em uma perspectiva multidisciplinar com a participação de psiquiatras, psicólogos, psicopedagogos, assistentes sociais, entre outros.
Além disso, o estigma em relação à doença é menor devido à conscientização de pais, alunos, professores e amigos, ainda que em alguns momentos se evidencie o preconceito por ignorância e falta de conhecimento.
As bases neurológicas do TEA ainda são desconhecidas, apesar da evolução nos estudos de neuroimagem e da análise comportamental, por isso as alternativas terapêuticas são limitadas e direcionadas fundamentalmente ao tratamento sintomático.
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Conforme a 5ª edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), o Transtorno do Espectro Autista (TEA) engloba os termos “autismo infantil, autismo de alto funcionamento, transtorno de Asperger” entre outros.
O novo Código Internacional de Doenças (CID-11) também conceitua o autismo seguindo o padrão do DSM-5 e com subcategorias para caracterizar a deficiência intelectual e o nível de comprometimento da linguagem funcional.
No Brasil, conforme Censo Escolar da Educação Básica (2019) do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) foi estimada uma prevalência de 2 milhões de crianças com diferentes classificações desse transtorno.
No mundo, acredita-se que uma em cada 160 crianças apresentem o TEA, uma incidência bem maior, possivelmente pelo aumento de diagnóstico assertivo em relação aos demais transtornos de neurodesenvolvimento.
Em adultos, a prevalência ainda é subestimada visto que muitos indivíduos sofrem com diversos diagnósticos paralelos até a confirmação do TEA ou negam a doença para médicos e amigos.
Alguns estudos já apontaram uma prevalência global de 0,42%, sem relação com etnia, região e nível social, o que demonstra a dificuldade para se caracterizar os fatores de risco para o desenvolvimento do distúrbio.
Diversos estudos científicos inclusive em modelos animais tentam desvendar as causas do TEA. Contudo, os resultados são ínfimos devido à característica diversificada dos sintomas e à semelhança com outras doenças neuropsiquiátricas.
O que se sabe até o momento é que disfunções nos circuitos neurais do cerebelo e modificações estruturais nas células de Purkinje estão associadas ao desequilíbrio do neurodesenvolvimento relacionado ao autismo.
Também são descritas alterações neurais na região Defautl Mode Network (DMN), que traduzido para o português significa “rede de modo padrão”. Essa região está ativa em crianças que não focam no mundo exterior, sendo um dos sintomas do TEA.
No entanto, pesquisas científicas já associaram o parto prematuro à probabilidade de desenvolver autismo, devido à chance precoce de interrupção do desenvolvimento da região do cerebelo.
O que mais se relaciona ao desenvolvimento do autismo é ter uma característica do cérebro “supermasculino” por isso, a incidência da doença é proporcionalmente maior em homens do que em mulheres com padrão de 5:1.
Ressalta-se que existe muita disseminação de pesquisas ou resultados controversos, como no caso emblemático em que se atribuía a causa do autismo à administração da vacina tríplice que previne contra sarampo, rubéola e caxumba. Depois de longas pesquisas, essa relação foi completamente refutada.
Inicialmente, os sintomas do autismo eram caracterizados por meio de uma tríade: comunicação, interação social e padrões repetitivos e restritos de comportamento, porém houve uma ampliação dessas manifestações ao longo dos anos.
Em geral, os sintomas relacionados ao déficit no neurodesenvolvimento se manifestam antes da idade escolar, que levam a problemas de desenvolvimento da linguagem, interação social e comportamento.
Por ser atualmente denominada como espectro, é possível que o paciente apresente os sintomas principais e secundários, tais como: deficiência intelectual, autolesão, agressividade, distúrbios do sono e alimentares com possibilidade de convulsões.
Além disso, os sintomas podem se modificar ao longo da vida, passando de hiperatividade na infância para hipoatividade na adolescência e fase adulta, com alterações na cognição e nas questões psiquiátricas.
Pacientes com irritabilidade frequente, agressividade, comportamentos estereotipados (bater a cabeça na parede, ranger os dentes, grunhir, etc.) e com o nível de interação muito baixo apresentam diminuição da qualidade de vida, sendo um grande desafio para a família.
Nas crianças é possível detectar a ecolalia (repetir frases ouvidas), responder de forma exacerbada a estímulos visuais e sonoros, não desenvolver contato visual ou o fazer de forma bem limitada, desinteresse em jogos de faz de conta ou para fazer amigos, etc.
Conforme a 5ª edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) e a Classificação Internacional de Doenças (CID -11), são descritos quatro critérios: prejuízos na comunicação e interação social (critério A), padrões restritos e repetitivos (critério B) e que causam prejuízo na rotina diária (critérios C e D).
Devido à complexidade de avaliar os sintomas e da sobreposição com outros transtornos psiquiátricos é fundamental o diagnóstico e acompanhamento realizado pela equipe multidisciplinar com experiência nessa abordagem.
Nesse sentido, é plausível a ocorrência simultânea com esquizofrenia, transtorno de ansiedade social, deficiência intelectual, Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), epilepsia, TDAH, entre outras possibilidades.
Os primeiros sintomas podem ser percebidos até o primeiro ano de vida, por isso, o acompanhamento do pediatra é fundamental para encaminhar o paciente com hipótese diagnóstica de TEA.
Os professores e educadores, quando suspeitam de alguma manifestação de interação ou aprendizado diferente do esperado para a faixa etária, devem comunicar aos pais a sua percepção para que a criança seja avaliada por um especialista.
Após o diagnóstico, sugere-se uma contextualização para a família e a comunidade escolar para que todos saibam conduzir o acompanhamento de forma tranquila e sem desgastes desnecessários.
Analisando as principais manifestações clínicas do TEA é possível classificar o paciente em alguns tipos, a saber:
Descrita pelo pediatra austríaco Hans Asperger em 1944, essa condição clínica foi classificada em 2013 como um transtorno autista em que o paciente possui alta capacidade cognitiva e pequena interação social.
Esse paciente possui grande habilidade de aprendizado, porém dificuldades de conteúdos poéticos, com ironia ou sarcasmo, o que reflete em sua capacidade em lidar com subjetividade no cotidiano.
Nessa condição, o paciente não apresenta dificuldades para realizar atividades diárias e sua inserção é possível em meios acadêmicos e profissionais, desde que sejam adaptados ao longo do tempo.
Também denominada de síndrome de Heller ou autismo tardio é uma condição em que ocorre regressão inexplicada do desenvolvimento da criança entre 2 e 4 anos, de forma abrupta ou lenta.
Nesse sentido, a criança perde a habilidade de comunicação e interação, apresenta dificuldades para desenvolver competências de origem motora que antes fazia, além de incapacidade de brincar com imaginação e faz de conta.
Não se sabe como ou porquê isso acontece, porém o acompanhamento deve ser iniciado o quanto antes para evitar complicações como agressividade, distúrbios do sono e sintomas de ansiedade.
O tratamento não farmacológico do paciente com autismo inclui prioritariamente uma intervenção psicossocial, levantando todas as questões relacionadas à convivência e aos gatilhos emocionais.
Nesse sentido, recomenda-se a modificação dos fatores ambientais com redução da luminosidade e som, organização da rotina alimentar, definição de metas para controlar fatores de ansiedade etc.
A intervenção psicossocial, quando bem executada, ajudará o paciente a manter uma rotina normal, porém é essencial que se estabeleça uma relação baseada na confiança com a equipe clínica.
É importante observar as intervenções que foram bem aceitas, aquelas que geraram mais estresse e outras que não surtiram efeito algum. Caso seja necessário, recomenda-se fazer um diário das intervenções para facilitar a abordagem dos outros profissionais.
Algumas adaptações podem ser feitas, desde que sejam plenamente aceitáveis para o indivíduo e pequenas conquistas devem ser comemoradas, principalmente nos fatores cognitivos e sociais.
Como existem manifestações diversas é interessante, sempre que possível, interagir com o paciente, mesmo que o retorno de fala seja pequeno ou inexistente. Às vezes, um gesto do paciente pode significar uma aceitação ou negação do que foi proposto.
Como as pesquisas científicas até o momento não descobriram a causa neuropatológica do TEA, é impossível considerar uma cura e em algumas situações o controle dos sintomas é bastante complexo.
Portanto, os esforços terapêuticos serão focados no tratamento das manifestações clínicas mais significativas para auxiliar nas atividades cotidianas e escolares ou na minimização dos comportamentos agressivos.
Nesse sentido, é considerado pelos especialistas o uso de indutores do sono, ansiolíticos para casos de agressividade frequente, estabilizadores de humor, entre outras possibilidades terapêuticas.
Contudo, é fundamental uma análise completa dos sintomas pelo médico prescritor, considerando o relato dos familiares e o uso de outros medicamentos para doenças já diagnosticadas.
Como esses medicamentos são em sua maioria de controle especial, é recomendável um acompanhamento periódico inicial para ajuste de dosagem, evitando, assim, toxicidade ou tolerância ao medicamento.
Também é importante monitorar as possíveis reações adversas que podem impedir a continuidade do tratamento, uma vez que prejudicará outras funções fisiológicas do organismo do paciente.
Alguns medicamentos podem ser obtidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), ou pela aquisição em farmácias conveniadas. Para os pacientes que necessitam de medicamentos lançados recentemente no mercado farmacêutico, o caminho é mais desafiador.
Destaca-se que apesar de inúmeras pesquisas medicamentosas, não existe até o momento, tratamento para os sintomas nucleares do TEA, e muitas opções também foram abandonadas pela falta de evidência. Esse aspecto é importante para evitar tratamentos com promessas milagrosas e esquecimento das informações com base sólida.
Nesse contexto, tratamento a base de homeopatia, aripiprazol e canabinóides não demonstraram resultados significativos nos pacientes com TEA, conforme descrito no Protocolo Clínico divulgado pelo Ministério da Saúde.
A risperidona tem sido indicada e com aprovação em bula no Brasil para o comportamento agressivo relacionado ao TEA. No entanto, o uso deve ser acompanhado pelo psiquiatra e psicólogo.
O uso da risperidona deve ser feito de forma gradual tanto em adultos quanto crianças, analisando o resultado ao longo do tempo. O esquema de administração deve ser avaliado entre 6 a 12 meses para análise das reações adversas e interrupção do tratamento.
A risperidona é um antipsicótico atípico, necessita de receituário de controle especial do tipo B e retenção da prescrição médica nas drogarias. É disponibilizado como solução oral ou comprimidos para melhor adesão de crianças e adultos.
A abordagem do paciente com TEA deve ser feita por uma equipe multidisciplinar com apoio de familiares e amigos. É importante estimular o convívio do paciente com TEA na sociedade, na comunidade escolar e nas atividades cotidianas.
Inicialmente é preciso diagnosticar com efetividade, para contextualizar com os envolvidos sobre as principais intervenções a serem realizadas. Também é fundamental conscientizar familiares e amigos para evitar os preconceitos.
As políticas públicas de inclusão de pessoas com autismo devem ser respeitadas e qualquer direito violado deve ser comunicado às autoridades escolares e policiais para que medidas corretivas e preventivas sejam tomadas.
No ambiente escolar e acadêmico é importante valorizar a pessoa com autismo, elaborando tarefas diferenciadas que diminuam os gatilhos emocionais, de forma a integrá-la gradativamente no meio.
O acolhimento e humanização é fundamental para proporcionar um convívio harmônico para o paciente e tranquilidade para familiares que devem estimular a independência tanto quanto possível.
Isso significa que os profissionais envolvidos na abordagem do paciente com autismo devem estar preparados para lidar com diversas questões emocionais, medicamentosas, comportamentais e de nível socioeconômico.
Em resumo:
O autismo, denominado atualmente com TEA, é um distúrbio do neurodesenvolvimento que afeta uma em cada 160 crianças no mundo, em espectros diferenciados. As causas neuropatológicas são desconhecidas e, por isso, o tratamento dos sintomas nucleares ainda não existe. Para o tratamento sintomático, principalmente relacionado a agressividade, recomenda-se a risperidona. O acolhimento humanizado e a contextualização do problema são essenciais para diminuir o estigma e ajudar o paciente a se integrar no meio escolar e cotidiano.
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