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6.4.2022
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Equipe Afya Educação Médica
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Um estudo, realizado por pesquisadores de universidades da França e da Holanda, revelou as áreas do cérebro relacionadas com a fisiopatologia da ansiedade em pacientes com doença de Parkinson (DP). Ao todo, 108 pacientes fizeram parte do estudo, que considerou dois grupos: um com ansiedade clinicamente relevante e outro sem.
Todos os pacientes foram submetidos ao exame hd-EEG – tecnologia não invasiva que reproduz imagens do cérebro obtidas por meio de sensores e reproduzidas em um computador com o objetivo de detectar atividades cerebrais atípicas com precisão – e, para chegar às conclusões, os resultados de ambos os grupos foram comparados.
Sendo assim, as imagens mostraram que, em pacientes com ansiedade, a potência relativa na banda de frequência alfa1 no córtex pré-frontal direito foi menor. Já a análise de conectividade funcional mostrou a existência de conectividade mais acentuada entre a ínsula esquerda e várias regiões do córtex pré-frontal direito em pacientes com ansiedade quando comparados àqueles sem os sintomas da doença. Os achados foram encontrados em 31% dos pacientes deste estudo.
Em termos práticos, os achados são considerados marcadores importantes que justificam, por exemplo, o comportamento de evitação entre os pacientes com ansiedade e Parkinson. Esta foi a primeira vez que pesquisadores utilizaram hd-EEG para explorar distúrbios relacionados à doença de Parkinson e isso pode abrir portas para novas descobertas e, consequentemente, melhora na compreensão e abordagem com pacientes.
O distúrbio de ansiedade é reconhecido como uma comorbidade da doença de Parkinson, mas, ainda assim, o manejo neurológico da doença não é tão simples e daí a relevância de estudos que indiquem o que ocorre no cérebro a fim de melhorar a qualidade de vida desses pacientes.
Segundo a organização global Parkinson’s Foundations, embora a DP seja conhecida em razão do desenvolvimento de limitações motoras nos pacientes, depressão e ansiedade desempenham um papel significativo na piora da qualidade de vida dessas pessoas.
Desse modo, a ansiedade é um sintoma não motor comum da doença de Parkinson e não ocorre apenas em razão da dificuldade da pessoa em lidar com o diagnóstico, mas em razão de transformações cerebrais que podem levar a diferentes manifestações do problema.
Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) – o paciente apresenta nervosismo, além de pensamentos recorrentes de preocupação e de medo. As manifestações podem ser acompanhadas de sintomas físicos como: sensação de “elevador” ou “borboletas” no estômago, náusea, dificuldade para engolir, dificuldade para respirar, taquicardia, sudorese e tremores.
Ataques de ansiedade – também conhecidos como ataques de pânico, costumam provocar um forte desgaste emocional. São caracterizados pela sensação de ataque cardíaco, dificuldade extrema para respirar, tremores, medo desproporcional, além de outros fatores.
Evitação social – é um dos sintomas mais frequentes em quem sofre com a doença de Parkinson, já que muitas vezes o paciente deixa de frequentar lugares ou estar na presença de outras pessoas em razão das limitações motoras impostas pela doença, como tremores e discinesia.
Transtorno obsessivo compulsivo (TOC) – pessoas com Parkinson tendem a desenvolver comportamentos ou pensamentos repetitivos e desenvolverem rituais como, por exemplo, lavar as mãos com frequência, a fim de aliviar os sintomas de ansiedade.
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O profissional de neurologia ou psiquiatria, ao conversar com o paciente e seu cuidador, deverá observar a relevância dos sintomas e sinais expostos e se eles não existiam antes da doença de Parkinson. Sendo assim, deverão ser observados:
Em caso de confirmação do quadro de ansiedade, o paciente poderá ser orientado a iniciar tratamento que poderá incluir tanto intervenção medicamentosa quanto psicoterapia. No caso de medicamentos, os inibidores seletivos de recaptação da serotonina (ISRS) costumam ser os mais utilizados.
Contudo, há casos em que pacientes podem responder mais rapidamente aos chamados benzodiazepínicos, que podem contribuir, inclusive, com o alívio de outros sintomas relacionados a DP, como tremores, cãibras e distúrbios de sono.
Vale ressaltar que, independente do tipo de medicamento adotado, o acompanhamento contínuo do paciente, sobretudo mais idosos, deverá ser mantido com o objetivo de observar benefícios ou prejuízos que podem ter sido provocados em razão do uso de medicamentos.
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