Varíola dos macacos: Brasil tem mais de 300 casos registrados

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Até o momento, o Brasil já registrou 310 casos confirmados de varíola dos macacos. Entre os casos, 217 são procedentes do estado de São Paulo, 45 do Rio de Janeiro, 22 de Minas Gerais, seis do Paraná, quatro Goiás, quatro do Distrito Federal, três do Rio Grande do Sul, três do Ceará, três do Rio Grande do Norte, dois da Bahia e um de Pernambuco.

O Ministério da Saúde afirmou, em nota, que mantém articulação direta com os estados para monitoramento dos casos e rastreamento dos contatos dos pacientes. No dia  11, inclusive, a pasta descontinuou a sala de situação criada para monitorar o avanço da doença no Brasil. 

O Diretor-Geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom, afirmou, em entrevista coletiva no último dia 12, que o número de casos de varíola dos macacos no mundo já chega a 9.200 e a doença já se disseminou por um total de 63 países.

De acordo com a organização, o comitê de emergência para o combate à varíola dos macacos irá se reunir na próxima semana para avaliar estatísticas, locais onde ocorrem surtos e quão eficazes estão sendo as medidas para conter a disseminação da doença, assim como fazer recomendações para os países sobre como se proteger.

Como foi a confirmação do primeiro caso de varíola dos macacos no Brasil?

O primeiro brasileiro diagnosticado com varíola dos macacos recebeu alta do Instituto Emílio Ribas, em São Paulo, no dia 20 de junho. Ele ficou catorze dias internado, mas agora está se sentindo muito bem e ainda faz todos os acompanhamentos necessários. 

Seus primeiros sintomas ocorreram no fim de maio, depois de voltar ao Brasil de uma viagem a Portugal e Espanha. O diagnóstico foi confirmado em 9 de junho pelo Instituto Adolfo Lutz.

Os familiares mais próximos foram monitorados e não apresentaram sintomas e tudo indica que o isolamento feito adequadamente protegeu a todos que convivem com ele. O paciente afirmou que suas feridas já cicatrizaram. 

O que é o vírus Monkeypox?

A varíola dos macacos é transmitida pelo vírus monkeypox, que pertence ao gênero orthopoxvirus. É considerada uma zoonose viral (o vírus é transmitido aos seres humanos a partir de animais) com sintomas muito semelhantes aos observados em pacientes com varíola de humanos, embora seja clinicamente menos grave. 

O período de incubação da varíola dos macacos é geralmente de seis a 13 dias, mas pode variar de cinco a 21 dias, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). O vírus Orthopoxvirus é membro da família da varíola, doença já erradicada entre os seres humanos.

De onde surgiu a varíola dos macacos? 

A varíola dos macacos foi identificada pela primeira vez em 1958 entre macacos de laboratório. O primeiro caso em humanos foi notificado em 1970, na República Democrática do Congo, e desde então a doença tem sido detectada em países nas regiões central e ocidental da África, sendo considerada endêmica lá, ou seja, com incidência relativamente constante ao longo dos anos. 

Somente em 2003 a doença foi registrada fora daquele continente —naquele ano, ocorreu um surto nos Estados Unidos entre pessoas que tinham como animal de estimação cão-da-pradaria (um tipo de roedor) e que haviam tido contato próximo com um grupo de animais importados da África. Não se sabe se os macacos são a espécie onde este vírus surgiu precisamente.

Novos casos da varíola dos macacos: por que estão ressurgindo?

Existem algumas hipóteses, entre elas: uma mutação viral que promove uma transmissão entre pessoas mais eficiente; a diminuição na proteção gerada pela vacina contra varíola desde que os programas de vacinação foram suspensos há cerca de 40 anos; e um nicho populacional novo, propício para a disseminação. 

Mas uma investigação epidemiológica está em andamento para tentar explicar o motivo do surgimento dos surtos atuais.

Quais os principais sintomas da varíola dos macacos?

A OMS descreve quadros diferentes de sintomas para casos suspeitos, prováveis e confirmados. Veja a seguir:

  • Caso suspeito: qualquer pessoa, de qualquer idade que apresenta pústulas (bolhas) na pele de forma aguda e inexplicável e esteja em um país onde a varíola dos macacos não é endêmica. Se este quadro for acompanhado por dor de cabeça, início de febre acima de 38,5°C, linfonodos inchados, dores musculares e no corpo, dor nas costas e fraqueza profunda, é necessário fazer exame para confirmar ou descartar a doença.
  • Casos “prováveis”: incluem sintomas semelhantes aos dos casos suspeitos, como contato físico pela pele ou com lesões nela, contato sexual ou com materiais contaminados, 21 dias antes do início dos sintomas. Somando-se a isso, o histórico de viagens para um país endêmico ou ter tido contato próximo com possíveis infectados no mesmo período e/ou ter resultado positivo para um teste sorológico de orthopoxvirus, na ausência de vacinação contra varíola ou outra exposição conhecida ao vírus.
  • Casos confirmados: ocorrem quando há confirmação laboratorial para o vírus da varíola dos macacos por meio do exame PCR (Reação em Cadeia da Polimerase), em tempo real e/ou sequenciamento.

Varíola dos macacos X varíola humana 

As duas doenças têm sintomas semelhantes, porém a varíola dos macacos parece ser mais leve e menos contagiosa do que a versão humana. A varíola humana foi um flagelo de grandes proporções, com mortalidade em 30% dos casos de infecção —ela foi erradicada em 1980.

Tem vacina para a varíola dos macacos?

A vacinação contra a varíola tradicional é eficaz também para a varíola dos macacos, mas a OMS explicou que pessoas com 50 anos ou menos podem estar mais suscetíveis, já que as campanhas de vacinação contra a varíola foram interrompidas pelo mundo quando a doença foi erradicada em 1980.

A vacinação prévia contra varíola em humanos pode ser eficaz contra a varíola de macacos em até 85% — isso ocorre porque ambos os vírus pertencem à mesma família e, portanto, existe um grau de proteção cruzada devido à homologia genética entre eles. Entretanto, como a varíola humana foi erradicada há mais de 40 anos, atualmente não há vacinas disponíveis para o público em geral.

A agência trabalha na verificação dos estoques atuais de vacina da varíola para ver se precisam ser atualizados. 

Como é a transmissão da varíola dos macacos?

O nome Monkeypox se origina da descoberta inicial do vírus em macacos em um laboratório dinamarquês em 1958. O primeiro caso humano foi identificado em uma criança na República Democrática do Congo em 1970. Atualmente, segundo a OMS esclareceu, a maioria dos animais suscetíveis a este tipo de varíola são roedores, como ratos e cão-da-pradaria.

A transmissão ocorre por contato próximo com lesões, fluidos corporais, gotículas respiratórias e materiais contaminados, como roupas de cama. E, segundo o órgão de saúde, a transmissão de humano para humano está ocorrendo entre pessoas com contato físico próximo, em casos sintomáticos.

O contato próximo com pessoas infectadas ou materiais contaminados deve ser evitado. Luvas, roupas e equipamentos de proteção individual devem ser usados ​​ao cuidar dos doentes, seja em uma unidade de saúde ou em casa.

Qual o tempo de incubação do vírus?

 O tempo de incubação —intervalo entre o contato com uma pessoa infectada e o aparecimento do primeiro sintoma— é entre 5 e 21 dias. 

Como é feito o diagnóstico da varíola dos macacos? 

O diagnóstico definitivo requer teste de laboratório específico, o PCR, que detecta o vírus nas lesões de pele. Mas essa ferramenta não está disponível em laboratórios clínicos, somente em alguns laboratórios de referência fora do Brasil, e, ainda assim, em quantidade limitada.

O diagnóstico clínico, baseado em sinais, sintomas e história, pode ser facilmente confundido com outras condições, como catapora ou molusco contagioso.

Qual o tratamento para a varíola dos macacos?

Existem medicamentos antivirais, como o tecovirimat e o cidofovir, que podem ser usados em pessoas sob risco de complicações, mas que não são facilmente disponíveis comercialmente.

A varíola dos macacos tende a ser leve e, geralmente, os pacientes se recuperam em algumas semanas, sem tratamento específico, apenas com repouso, muita hidratação oral, medicações para diminuir o prurido e controle de sintomas como febre ou dor.

A varíola dos macacos tem cura?

Tem cura, no entanto, é essencial controlar e quebrar as cadeias de transmissão por meio da identificação de casos, com orientação de isolamento, a fim de se reduzir o número total de infectados.

Como no caso da maioria das viroses agudas, o próprio sistema imunológico é capaz de eliminar o vírus e o paciente ficar completamente curado, sem intervenção alguma. 

A prevenção é a solução!

O mais importante quando você tem um vírus novo é atacar em várias frentes, sendo a principal, atuar na detecção do vírus e no isolamento das pessoas doentes. Trabalhar na prevenção, com vacinas, é importante, mas se houver uma disseminação rápida, não haverá tempo de ter a vacina para todo mundo. O mais indicado é bloquear a transmissão e isso nós aprendemos com o próprio SARS-CoV-2.

A prevenção e o controle dependem também da conscientização das comunidades e da educação dos profissionais de saúde para prevenir a infecção e interromper a transmissão. Da parte da população, a prevenção necessita de cuidados básicos, que vão desde a higienização das mãos e equipamentos, proteção nas relações sexuais, até o não compartilhamento de pertences (objetos e utensílios) das outras pessoas.  

Mesmo com o aumento dos casos, a OMS avalia o cenário de risco global como moderado, e não vê necessidade de campanhas de vacinação em massa. Porém, os virologistas enfatizam, ainda, a importância do investimento na ciência e nas ciências médicas para garantir mais autonomia nas ações de saúde pública, em um mundo onde os vírus circulam com muita rapidez.

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