Transtorno do Espectro do Autismo (TEA): a importância da intervenção precoce e da abordagem multidisciplinar

Autor(a)
Dra. Alessandra Freitas Russo

Neurologista da Infância e Adolescência, Mestre e doutora (USP), Docente da Afya Educação Médica, Pós-graduação em Psiquiatria, Pós-graduação em análise do comportamento e Especialista em Epilepsia.

O transtorno do espectro do autismo (TEA) é uma condição crônica do neurodesenvolvimento, cujas manifestações comportamentais incluem déficits qualitativos na interação social e na comunicação, padrões repetitivos e estereotipados de comportamento e um repertório restrito de interesses e atividades. É um transtorno comportamental de base biológica com etiologias orgânicas definidas e distintas.

TEA é a expressão de um desenvolvimento cerebral atípico, que resulta em disfunções mais ou menos disseminadas (e não, necessariamente, com etiologia específica), complexas e amplamente distribuídas na rede neural.

Por ser um transtorno do neurodesenvolvimento, o TEA tende a ter sintomas precoces que causam prejuízos significativos no comportamento adaptativo e na vida de criança e sua família. Embora alguns casos possam ser diagnosticados mais tardiamente, ou até mesmo na vida adulta, os estudos mostram que uma intervenção precoce e intensiva leva a desfechos mais favoráveis.

A intervenção precoce é um sistema de serviços na área da reabilitação e da habilitação que atua em bebês e crianças pequenas com atrasos no neurodesenvolvimento ou deficiências e ou transtornos já diagnosticados. É importante salientar que a intervenção precoce é indicada mesmo na ausência de um diagnóstico final.

A plasticidade neuronal é muito maior na infância, levando a melhor evolução nos primeiros anos de vida e por isso a intervenção deve ser instituída o meais precocemente possível.

Os tratamentos atuais para o TEA visam reduzir os sintomas que interferem no funcionamento adaptativo e na qualidade de vida e se baseia em um vasto conjunto de intervenções estruturadas que abrangem intervenções educacionais precoces, orientadas de modo comportamental, associado à reabilitação multidisciplinar com terapia fonoaudiológica e terapia ocupacional, além de outras especialidades como a Psicopedagogia, a Musicoterapia e a Educação Física.

Dentro da terapia abrangente, temos a psicoterapia de base comportamental centrada na ciência ABA (do inglês Applied Behavior Analysis - ou análise do comportamento aplicada), como principal indicação. Neste contexto temos as terapias mais estruturadas como a DTT (Discrete Trial Training ou treinamento por tentativa discreta) e as mais naturalísticas como o modelo Denver e a terapia Pivotal.

Além disso, temos o tratamento para sintomas específicos, ou terapias focais, como terapia fonoaudiológica para atrasos de linguagem, implementação de comunicação alternativa ou aumentativa e a terapia ocupacional para treino de autocuidado e independência além de intervenção nos transtornos do processamento sensorial.

Embora a intervenção precoce seja extremamente importante, a intervenção em qualquer idade sempre será útil.

A intervenção terapêutica no TEA pode ser aplicada em ambientes de educação, saúde, comunidade ou domicílio, ou em uma combinação de ambientes. É importante que os terapeutas se comuniquem entre si, com a escola e com a família a fim de generalizar os ganhos obtidos na terapia e alinhar objetivos comuns em todas as áreas.

Os melhores fatores prognósticos estabelecidos para as evoluções individuais no TEA são presença ou ausência de outros transtornos do neurodesenvolvimento, como o transtorno do desenvolvimento intelectual, e outras comodidade como a epilepsia.

A evolução do paciente com TEA é variável e depende primordialmente do investimento familiar, escolar e da equipe de saúde. A maior parte dos indivíduos tem boas condições de se desenvolver, de aprender coisas novas e se tornar um adulto independente e produtivo.

Referências:

American Psychiatric Association (APA). Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5- TR. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2023.

https://www.parentcenterhub.org/ei-overview/

Subramanyam AA, Mukherjee A, Dave M, Chavda K. Clinical Practice Guidelines for Autism Spectrum Disorders. Indian J Psychiatry. 2019 Jan;61(Suppl 2):254-269. doi: 10.4103/psychiatry.IndianJPsychiatry_542_18. PMID: 30745701; PMCID: PMC6345133.

https://www.nichd.nih.gov/health/topics/autism/conditioninfo/treatments

Hyman SL, Levy SE, Myers SM. Identification, Evaluation, and Management of Children With Autism Spectrum Disorder. Pediatrics. 2020 Jan;145(1): e20193447. doi: 10.1542/peds.2019-3447. Epub 2019 Dec 16. PMID: 31843864.

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Alessandra Freitas Russo

Médica Editora da Afya Educação Médica

Neurologista da Infância e Adolescência. Mestre e doutora (USP), Docente da Afya educação médica, Pós-graduada em Psiquiatria e Análise do Comportamento

Especialista em Epilepsia. É sócia fundadora da clínica Vivere.

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