Escrito por
Dra. Vanessa Tomaz de Castro Moraes
Publicado em
19.4.2024
Escrito por
Equipe Afya Educação Médica
Dra. Vanessa Tomaz de Castro Moraes
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Compreender e diagnosticar o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) pode ser uma jornada complexa, dada a variedade de manifestações clínicas que se apresentam de maneira única em cada indivíduo. Identificar comorbidades associadas a esse transtorno também representa um desafio significativo na prática clínica, devido a vários fatores, como distúrbios de comunicação, ambiguidade dos sintomas e mudanças ao longo do tempo. Além disso, a “crença generalizada” de que comportamentos e sintomas desviantes são apenas parte do TEA pode dificultar o diagnóstico.
Atualmente, cerca de 50% das pessoas com TEA apresentam condições associadas de saúde geral, como: obesidade, sobrepeso, distúrbios gastrointestinais, distúrbios do sono e alergias. No entanto, a prevalência aumenta consideravelmente quando se trata de transtornos psiquiátricos, atingindo 70% com uma comorbidade e 40% com duas ou mais comorbidades associadas. Influenciando significativamente na heterogeneidade de apresentação do quadro clínico, no tratamento, prognóstico e qualidade de vida dos pacientes e suas famílias.
Abordaremos abaixo as comorbidades mais frequentes nos pacientes com TEA:
A epilepsia afeta 10 a 30% das pessoas com TEA. Por outro lado, o TEA também é uma comorbidade presente em cerca de 8% das crianças com epilepsia, sugerindo mecanismos patogênicos compartilhados entre as duas condições. A hiperexcitabilidade cerebral durante o desenvolvimento pode prejudicar a plasticidade neural, levando a déficits cognitivos, sintomas do TEA e epileptogênese.
Identificar crises epilépticas em crianças com TEA pode ser desafiador, especialmente quando há déficits de aprendizado, problemas na comunicação, comportamentos autolesivos, agressividade e redução da capacidade de resposta. As crises epilépticas podem se manifestar de forma sutil e até mesmo sem alteração no nível de consciência. Portanto, é crucial investigar a possibilidade de epilepsia em crianças com TEA, especialmente na presença de deficiência intelectual e outras condições genéticas, como, por exemplo, esclerose tuberosa e síndrome de Angelman.
Os distúrbios de sono afetam cerca de 80% dos pacientes com TEA, sendo os dois principais: a insônia e o sonambulismo. A falta de sono reparador aumenta o risco de deterioração no comportamento, incluindo comportamentos auto e heteroagressivos, irritabilidade e desatenção. É crucial manter uma higiene do sono adequada para mitigar esses problemas. Isso inclui estabelecer rotinas consistentes de hora de dormir, criar um ambiente propício ao sono e identificar estratégias para lidar com problemas de sono específicos que podem surgir em crianças com TEA.
Afetam de 46% a 84% dos casos. Entre os mais frequentes estão a constipação crônica, diarreia crônica, doença do refluxo gastroesofágico, doença inflamatória intestinal, colite, intolerância alimentar e doença celíaca. Esses distúrbios estão relacionados à desregulação da microbiota intestinal e à disbiose. Essas condições podem causar desconforto e alterações comportamentais que podem ser associadas ao TEA, dificultando o diagnóstico e o tratamento adequado, especialmente em casos de crianças não verbais ou com dificuldades na descrição desses comportamentos.
O TDAH está presente em aproximadamente 50% dos indivíduos com TEA, ambos causam prejuízo psicosocial. A terapia multidisciplinar com equilíbrio de abordagens cognitivas e comportamentais é o pilar mais importante, inclui a psicoeducação, intervenções de apoio e capacitação aos pais/cuidadores/educadores, análises comportamentais para entender e tratar comportamentos desafiadores.
O tratamento medicamentoso deve ser usado pelo menor tempo possível, com objetivos claramente especificados e medidas de efetividade, não sendo substitutos pelas intervenções psicossociais, como ABA*, mas complementar ao tratamento.*(ABA, Applied Behavior Analysis – Análise do Comportamento Aplicada).
A incidência do Transtorno Ansioso é de 40% em crianças com TEA e até 84% em adultos com TEA, quando associadas aumentam significativamente as dificuldades nas respostas adaptativas, diminui a qualidade de vida e acentuam-se problemas como inquietação, passividade, isolamento social, agressividade, irritabilidade ou autoagressão. Intervenções psicológicas, educacionais e farmacológicas são indicadas para auxiliar na diminuição dos sintomas causados pelos transtornos, propiciando, dessa forma, que as pessoas e familiares possam ter mais qualidade de vida.
Já o Transtorno Depressivo afeta 12,3% dos pacientes com TEA, sendo que a depressão associada ao autismo apresenta baixa detecção e está associada a um aumento da ideação suicida, automutilação e suicídio. A investigação direta deve incluir todos os aspectos da suicidalidade (ideação ativa/passiva, planos, intenção, meios e história pessoal/familiar de suicídio), pelo alto risco associado nos quadros de depressão maior em jovens autistas.
O registro do CDC afirma que em crianças de 8 anos com TEA que tinham dados sobre capacidade cognitiva, 37,9% foram classificadas como tendo deficiência intelectual.
O diagnóstico e manejo dessas comorbidades devem ser parte integrante do cuidado multidisciplinar oferecido aos pacientes com TEA. Reconhecer e tratar precocemente essas condições pode ter um impacto substancial na saúde e bem-estar desses pacientes.
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Médica Editora da Afya Educação Médica