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29.2.2024
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Equipe Afya Educação Médica
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Quando a evitação de atividades sociais se torna constante, é um sinal de alerta para o fato de que algo pode estar afetando a saúde mental da pessoa. Esse é um dos principais sintomas do Transtorno de Personalidade Esquiva (TPE), que traz dificuldade para o estabelecimento e manutenção de relacionamentos interpessoais saudáveis.
Embora seja recorrente nos consultórios, esse distúrbio pode gerar algumas dúvidas para os médicos, uma vez que os seus sintomas se assemelham aos de outros transtornos. Entender como diferenciar essa condição é fundamental para assegurar o tratamento adequado ao seu paciente.
Quer saber mais sobre o assunto? Neste post, vamos abordar os principais pontos sobre o Transtorno de Personalidade Esquiva. Confira!
O Transtorno de Personalidade Esquiva ou Evitativa é definido pela Psiquiatria como uma patologia na qual a pessoa evita participar de situações de interações sociais devido ao medo de ser rejeitada ou humilhada. Ela costuma se sentir inadequada, além de acreditar que não se enquadra aos grupos sociais.
Geralmente, os indivíduos com TPE são extremamente sensíveis à frustração, o que faz com que optem por se isolar antes mesmo de se exporem a circunstâncias que possam frustrá-los ou causar sentimentos negativos.
Para eles é difícil construir laços, fator que contribui para que não tenham uma rede de apoio para prestar ajuda quando necessitam. Frequentemente creem que as demais pessoas estão julgando-os e não possuem a habilidade de lidar bem com críticas, mesmo quando são feitas de modo construtivo.
A condição também se caracteriza pela ansiedade acentuada, bem como pensamentos negativos constantes acompanhados de temor excessivo por repreensões e julgamentos.
Embora sejam parecidos, o TPE e a fobia social não são a mesma coisa. A primeira patologia é descrita como um padrão de esquiva e inibição social generalizada, que vai além do simples medo ou ansiedade social.
Nela, os pacientes evitam se expor a situações ou pessoas, pelo medo da rejeição, humilhação e crítica. Esse receio pode ser tão forte que acaba interferindo na sua vida diária e relações pessoais.
Já o segundo distúrbio envolve um medo intenso e persistente de situações sociais ou de desempenho, onde a pessoa teme ser avaliada negativamente pelos outros. Apesar de os sintomas se sobreporem em certos aspectos, como evitar atividades sociais, a fobia social se concentra em determinadas situações, como falar em público, enquanto o Transtorno de Personalidade Evitativa afeta uma ampla gama de interações sociais e relacionamentos.
A fobia social é considerada um transtorno de ansiedade específico. Por sua vez, o TPE é classificado como um transtorno de personalidade, refletindo diferenças na natureza e na persistência dos sintomas.
É importante ressaltar que existe a possibilidade de um indivíduo desenvolver as duas condições. Inclusive, o TPE, muitas vezes, surge acompanhado de outros transtornos, como obsessivo-compulsivo e depressão.
As causas exatas do Transtorno de Personalidade Evitativa ainda não são conhecidas. Contudo, acredita-se que o problema pode se originar a partir de experiências de rejeição ocorridas no período da infância e da ansiedade.
Algumas das situações que podem contribuir para o surgimento do TPE na vida adulta incluem:
Os sintomas do TPE afetam significativamente a capacidade do indivíduo de realizar interações interpessoais, o que prejudica a sua convivência no ambiente familiar, profissional e social. Acompanhe, a seguir, quais são as principais manifestações clínicas da doença.
As pessoas com esse distúrbio evitam, de maneira persistente, as atividades sociais e operacionais que exijam interação com outros indivíduos. Por isso, se recusam a participar de festas ou reuniões de trabalho por medo de serem julgadas, o que as leva ao isolamento social.
Há um medo constante de receber crítica, rejeição ou desaprovação por parte dos outros. Dessa maneira, o paciente prefere se precipitar e não comparecer a situações que possam acarretar críticas. Ele também tende a se sentir inadequado socialmente, o que desperta uma sensação de inferioridade em relação às outras pessoas.
A ansiedade social pode dificultar o estabelecimento de novas conexões, limitando as oportunidades de interação e desenvolvimento de relacionamentos pessoais.
Sendo assim, a pessoa com Transtorno de Personalidade Esquiva não inicia conversa com estranhos, o que afeta desde a sua capacidade de fazer novos amigos até o seu networking em eventos profissionais, por exemplo.
Para quem tem TPE, mesmo as observações neutras podem ser interpretadas como pessoais e negativas. Existe uma inclinação a interpretar as interações sociais de forma negativa, mesmo quando não há intenção hostil.
O fato de não conseguir participar de situações sociais e interagir com outras pessoas faz com que o paciente crie uma autoimagem negativa. Portanto, passa a se sentir indigno e incapaz de ser aceito pelos outros.
A evitação social pode interferir no desempenho no trabalho, nas relações profissionais e nas atividades sociais, resultando em dificuldades no funcionamento diário e no cumprimento de metas pessoais e profissionais.
Apesar de desejar criar conexões sociais, a ansiedade social e os padrões de evitação podem causar a uma sensação contínua de solidão e alienação, o que contribui para piorar o quadro da doença.
A exposição do indivíduo com TPE a determinadas situações pode agravar o problema. Entre os potenciais agravantes estão as experiências passadas de rejeição social, como bullying na infância ou relações interpessoais problemáticas.
Esses eventos podem reforçar os padrões de evitação social e colaborar para a perpetuação da baixa autoestima e da sensação de inadequação. Ademais, a falta de apoio social e a solidão podem intensificar os sintomas do transtorno, criando um ciclo de isolamento e dificultando ainda mais o desenvolvimento de habilidades sociais e relacionamentos saudáveis.
Outros fatores complicadores podem incluir a presença de transtornos mentais coexistentes, como depressão ou ansiedade generalizada. Essas desordens podem amplificar a ansiedade social e dificultar o tratamento do TPE.
Vivências traumáticas, como abuso emocional ou físico, também podem desencadear ou exacerbar as manifestações da patologia, tornando o processo de recuperação mais desafiador.
Para tratar essa condição, é crucial que os profissionais de Psiquiatria adotem uma abordagem terapêutica centrada no paciente, baseada em técnicas de psicoterapia cognitivo-comportamental.
A terapia visa desafiar e modificar padrões de pensamento distorcidos e comportamentos de evitação, promovendo a autoestima e habilidades sociais. É recomendado, ainda, considerar abordagens complementares, como programas de habilidades sociais e técnicas de relaxamento, para fortalecer a capacidade do paciente de enfrentar situações sociais desafiadoras.
Em alguns casos, pode ser considerada a prescrição de medicamentos para tratar sintomas específicos associados à doença, como depressão, ansiedade ou outros distúrbios coexistentes.
O Transtorno de Personalidade Esquiva impacta negativamente a qualidade de vida do paciente ao interferir na capacidade de estabelecer relações interpessoais saudáveis, comprometendo o funcionamento social e dificultando a busca por objetivos pessoais e profissionais, devido ao medo constante de críticas, rejeição e inadequação social.
Ao distinguir esse transtorno de outras desordens de personalidade, você pode oferecer um tratamento mais eficaz e personalizado, mitigar o isolamento social e auxiliar no desenvolvimento das competências necessárias para a integração social do paciente.
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