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11.10.2023
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Equipe Afya Educação Médica
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No campo da saúde mental, o Transtorno de Personalidade Limítrofe (TPL), também conhecido como Transtorno de Borderline, é uma condição complexa que merece atenção especial, sobretudo dos profissionais de saúde. Estima-se que cerca de 2 milhões de pessoas apresentam esse tipo de transtorno de personalidade no Brasil, segundo a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), o que faz com que seja uma condição muito comum, embora pouco falada e compreendida.
Além dos altos e baixos emocionais e da dificuldade em controlar os impulsos, a pessoa com borderline costuma enxergar ele mesmo e os outros na base do "tudo ou nada", o que torna as relações familiares, amorosas, de amizade e, até mesmo, com os médicos ou terapeutas, extremamente desgastantes.
Neste artigo, explicaremos as principais informações sobre o transtorno borderline, destacando como ele se manifesta, seus principais sintomas, possíveis causas e tratamento. Acompanhe a leitura e confira!
Trata-se de uma doença psicológica e psiquiátrica que afeta a forma como uma pessoa pensa, sente e se relaciona com os outros. Caracteriza-se por uma instabilidade emocional pronunciada, relacionamentos interpessoais tumultuados, impulsividade e uma imagem de si mesma instável, ou seja, por uma série de padrões comportamentais, emocionais e interpessoais que resultam em disfunções significativas na vida do indivíduo.
Resumidamente, o transtorno pode ser descrito como um jeito de ser, de sentir, se perceber e se relacionar com os outros que foge do padrão considerado "normal" ou saudável. Desse modo, o indivíduo pode ir de uma grande euforia a um sentimento intenso de raiva, depressão ou ansiedade, que pode durar horas ou dias, dificultando o diagnóstico.
Segundo o Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), os transtornos de personalidades são divididos em três grupos (A, B, e C), com base em características semelhantes, sendo o Borderline incluído no grupo B, que são os transtornos de personalidades de caráter emocional, dramático e errático.
O Borderline é uma verdadeira montanha-russa de emoções, fazendo com que o transtorno seja um dos mais lesivos, porque os pacientes apresentam dificuldade de controlar a raiva e podem se tornar violentos. As estatísticas da ABP mostram que aproximadamente 10% dos indivíduos com esse tipo de transtorno acabam tirando a própria vida.
Em geral, o diagnóstico é mais frequente entre as mulheres, porém os estudos mostram que a incidência é igual em ambos os sexos. Isso ocorre porque elas tendem a buscar mais ajuda, enquanto os homens são mais propensos a mascarar os sintomas, causar brigas ou até morrer precocemente por causa de comportamentos arriscados.
As crises de TPL se manifestam quando os pacientes passam por conflitos emocionais complicados ao longo da vida, como brigas, mortes, separações e abuso sexual, especialmente quando crianças. Por esse motivo, o ápice das complicações é na adolescência e na juventude, com propensão a diminuir durante a fase adulta.
Por mais que a doença tenha sintomas bastante variáveis e imprevisíveis, algumas características são comuns entre os indivíduos, tais como:
Além dos sintomas destacados, os pacientes com borderline geralmente apresentam medo de que as emoções fujam do seu controle. Por isso, demonstram bastante dificuldade para lidar com situações de estresse, pressão e ansiedade, criando uma grande dependência de outras pessoas nestes momentos.
É comum que alguns pacientes também apresentem outros transtornos mentais, como distúrbios do humor, transtornos de ansiedade e distúrbios alimentares, além de abuso de substâncias e comportamentos suicidas.
Isso faz com que eles alternem momentos em que estão estáveis ou com surtos psicóticos, manifestando comportamentos descontrolados. Por isso, é preciso analisar com cautela um indivíduo que apresente traços de instabilidade para decidir quando encaminhar a um especialista.
É importante destacar que não existem exames físicos, clínicos ou de imagem que possibilitem o diagnóstico. O paciente deve ser avaliado por um profissional de saúde mental qualificado, que analisará o histórico médico, tanto da pessoa quanto de sua família, e os sintomas para diferenciar o borderline de outras condições parecidas, como o transtorno bipolar.
No caso de pacientes mais jovens, por exemplo, o recomendado é que o diagnóstico seja fechado somente após um ano com sintomas estáveis.
O transtorno de personalidade borderline e o transtorno bipolar são duas condições distintas na área de saúde mental, apesar de compartilharem algumas características em comum e serem comumente confundidas.
Como dissemos, o borderline é um transtorno de personalidade, que afeta a maneira como uma pessoa pensa, sente e se comporta ao longo do tempo. É caracterizado por padrões de comportamento, emoções e relacionamentos interpessoais instáveis, assim como oscilações de humor, frequentemente desencadeados por eventos pessoais.
Por outro lado, a bipolaridade é um transtorno do humor, caracterizado por mudanças extremas no temperamento, incluindo episódios maníacos (euforia extrema) e depressivos, que geralmente duram semanas ou meses, não ocorrendo com a mesma frequência que no borderline.
A identidade pessoal tende a ser mais consistente no transtorno bipolar. Portanto, embora ambos envolvam oscilações de humor, são transtornos diferentes em termos de natureza, duração dos episódios, impacto nos relacionamentos e tratamento.
Determinar precisamente cada um dos transtornos é algo imprescindível para os profissionais de saúde, principalmente por causa da segurança dos tratamentos estabelecidos. Isso porque o uso de medicamentos antidepressivos direcionados ao alívio de sintomas da doença pode gerar episódios preocupantes nos bipolares, acompanhados de grandes riscos comportamentais.
As causas do transtorno de personalidade ainda não são totalmente compreendidas, mas diversos fatores podem estar associados à doença, como os citados adiante.
Não existe um gene responsável pelo transtorno, mas a predisposição genética é uma das possíveis causas. Isso porque algumas pessoas podem apresentar tendência genética de ter respostas patológicas ao estresse do ambiente externo e o borderline parece nitidamente ter um componente hereditário.
Familiares de primeiro grau de pacientes com o transtorno são 5 vezes mais propensos a ter a doença que a população em geral.
Estresses durante a primeira infância podem contribuir significativamente para o desenvolvimento do transtorno de personalidade. Traumas na infância de abuso físico e sexual, negligência, abuso emocional, separação dos cuidadores ou perda de pais é comum entre pacientes com a condição.
Inclusive, alguns profissionais destacam que grande parte das pessoas que apresenta esse transtorno receberam uma educação caótica e afetos desarmônicos em um misto de permanente carência afetiva, contribuindo ainda mais para o desenvolvimento da condição.
Alterações no funcionamento do cérebro e distúrbios nas funções reguladoras dos sistemas cerebrais e de neuropeptídeos também podem contribuir, pois podem afetar a parte do cérebro responsável por regular as emoções e o autocontrole. Porém, nem sempre estão presentes em todos os pacientes com borderline.
Vale destacar que, apesar de esses fatores aumentarem o risco de um indivíduo apresentar algum tipo de transtorno, isso não significa que ele desenvolverá a doença. Da mesma forma, pode haver pessoas sem esses fatores de risco que desenvolverão o transtorno de personalidade ao longo da vida.
Antes de mais nada, é importante destacar que o transtorno de personalidade borderline não tem cura. Embora o tratamento faça a diferença, não dá para garantir que ele desaparecerá da vida do paciente como um tipo de infecção que é controlada com a medicação adequada.
O tratamento da síndrome é, em sua maioria, baseado em orientações psicológicas e terapia com abordagens multidisciplinares. No entanto, algumas medicações podem ser recomendadas por um psiquiatra, de acordo com a necessidade do paciente, para combater os sintomas.
Nesse sentido, os remédios mais usados são os antidepressivos (fluoxetina, escitalopram, venlafaxina, entre outros), estabilizadores de humor (lítio, lamotrigina, ácido valpróico etc.) e antipsicóticos (olanzapina, risperidona, quetiapina, entre outros) e, em casos específicos, sedativos ou remédios para dormir.
Enquanto os antidepressivos tratam o sentimento de vazio característico nos pacientes, os estabilizadores conseguem diminuir as oscilações de humor. Por sua vez, os antipsicóticos combatem os comportamentos compulsivos e autodestrutivos, assim como previnem eventuais sintomas dissociativos.
Além disso, as terapias são essenciais para ajudar no tratamento de pessoas com o transtorno de borderline. Veja abaixo.
Tem como foco identificar determinados comportamentos e padrões de pensamento, para que a própria pessoa tente compreendê-los e modificá-los em prol de si e dos outros. Nesta abordagem, o profissional da psicologia orienta aplicações de práticas para conter a ansiedade e evitar comportamentos disfuncionais relacionados à impulsividade e instabilidade.
Atua para que o paciente tenha plena consciência sobre si e sua condição. Ou seja, a abordagem é focada na regulação emocional e nas habilidades interpessoais, fazendo com que ele tenha relações mais saudáveis e funcionais. Dessa forma, esta modalidade ensina a ter mais autocontrole, lidar consigo mesmo, compreender as emoções e combater o excesso de estresse.
Nesta modalidade de tratamento, o paciente trabalhará seus relacionamentos, que podem estar muito abalados. Basicamente, ela permite que os familiares entendam e lidem melhor com a situação, além de aprenderem técnicas para evitar conflitos e para melhorar a comunicação.
Um dos principais sintomas do borderline é a dificuldade de construir relações sólidas e duradouras devido à alta instabilidade, por isso realizar terapia matrimonial é um passo extremamente importante. Com a orientação de um terapeuta, a relação se torna mais agradável, uma vez que o profissional guia o casal a cuidar do companheiro.
A participação em grupos de apoio também pode oferecer o suporte emocional do paciente com borderline. A terapia em grupo costuma envolver mais de três pacientes, os quais, muitas vezes, nem se conhecem.
Os pacientes alcançam habilidades para gerenciar suas emoções, questionar suas expectativas e cuidar de si mesmos. Além disso, aprendem a definir metas, evitar substâncias ilícitas e aprimorar seus hábitos alimentares, de sono e de atividades físicas. Assim, eles podem construir uma rede de apoio de amigos, familiares e profissionais de saúde que estejam dispostos a ajudar em situações de crise.
Lembrando que, além do tratamento psicoterápico e farmacológico, eles devem buscar alívio dos sintomas por meio de hábitos de vida saudável, como boa alimentação, prática de exercícios físicos e atividades que não são terapias, mas são terapêuticas.
Lidar com uma pessoa com transtorno de borderline não é uma tarefa fácil e exige paciência e determinação. Sobretudo devido à aflição que ela gera, as mudanças comportamentais impostas, os sentimentos negativos, a autossabotagem que incentiva e as dificuldades de relacionamentos.
Tudo isso acarreta dificuldades de convívio, sofrimento e instabilidade social, seja para o paciente ou para as pessoas ao seu redor. Por isso, é importante ter consciência de que, na convivência com essas pessoas, podemos ser alvo de raiva, culpa e devemos nos conter para não agir com a mesma intensidade.
Como mencionamos, a síndrome não tem cura. Entretanto, com tratamento adequado, os sintomas podem ser controlados e, apesar de alguns permanecerem por toda a vida, com o tempo as pessoas conseguem se relacionar melhor. Então, o ideal é incentivá-la a buscar ajuda especializada para saber administrar os conflitos e obter melhor eficácia do tratamento.
Por mais que você ame a pessoa que sofre dessa doença e queira ajudá-la, isso não pode prejudicar a sua vida, então aprenda a impor limites. Utilize a empatia e fale de maneira clara e objetiva, seja respeitoso e amoroso, evitando termos ou exemplos que possam desencadear emoções intensas nela.
E aí, gostou do nosso conteúdo sobre os transtornos de personalidade borderline?
Como você pode ver, trata-se de uma condição desafiadora, mas, com diagnóstico precoce e tratamento adequado, muitos pacientes podem levar vidas mais estáveis e satisfatórias. Vale lembrar que os profissionais de saúde desempenham um papel crucial no reconhecimento e no suporte aos indivíduos.
Por isso, compreender todas essas informações possibilita o oferecimento do melhor cuidado possível a esses pacientes e permite que eles encontrem uma maior qualidade de vida e bem-estar emocional.
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