Conheça o Transtorno de Personalidade Antissocial e saiba como ele se manifesta

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O Transtorno de Personalidade Antissocial (TPAS), também conhecido como sociopatia, é uma alteração comportamental que leva a pessoa a ignorar regras básicas de convívio e relações interpessoais.

Esse tipo de transtorno de personalidade é mais comum em pessoas do sexo masculino e, normalmente, está acompanhado de outras doenças. Nesse sentido, é importante conhecer as características desse tipo de transtorno e como ele se manifesta.

A seguir, entenda o conceito de Transtorno de Personalidade Antissocial, conheça seus sintomas e diferenças em relação à psicopatia. Saiba também como é feito o diagnóstico, tratamento e como auxiliar a pessoa que apresenta essa condição.

O que é o Transtorno de Personalidade Antissocial?

Segundo o Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM5), o Transtorno de Personalidade Antissocial é um dos 10 tipos de transtornos de personalidade. Trata-se de uma complexa condição psiquiátrica caracterizada por um padrão de desrespeito pelos direitos dos outros.

O transtorno de personalidade consiste em um padrão persistente de experiência interna, que surge no início da fase adulta. As pessoas que apresentam essa condição, também chamada de sociopatas, ignoram as normas de comportamento e convívio social, adotando comportamento e atitudes impulsivas e irresponsáveis.

Além disso, podem cometer atos ilegais devido à predisposição para se envolver com organizações criminosas. Devido à gravidade do transtorno, os pacientes necessitam de uma atenção médica especial para continuarem a viver em sociedade e não sofrer com fortes consequências devido às atitudes antissociais.

Estima-se que a prevalência do transtorno de personalidade antissocial seja em torno de 0,5 a 3% na população, subindo para 66% ao considerar as pessoas que estão em presídios. Diferente de outras condições, esse transtorno é mais comum entre os homens — a cada 7 pessoas com o transtorno de personalidade antissocial, 6 são do sexo masculino.

Como o TPAS se manifesta?

As pessoas com o Transtorno da Personalidade Antissocial são mentirosas, manipuladoras, impulsivas, irresponsáveis, podendo ser violentas. Elas desrespeitam e violam os direitos dos outros, sem apresentar sentimento de remorso.

Outra característica de manifestação do transtorno é a dificuldade para seguir normas e planos. Tais comportamentos se iniciam na adolescência, antes dos 15 anos. No entanto, devido à exigência de maioridade para o diagnóstico de antissocial, os episódios nessa fase são classificados como Transtornos de Conduta.

O adolescente que apresenta esse tipo de comportamento tem mais propensão para desenvolver o transtorno na vida adulta. Isso não significa, necessariamente, que ele desenvolverá a doença, mas é importante ficar atento.

Comportamentos ao longo da vida

Na adolescência, o marco típico do transtorno se refere a um comportamento sexual precoce e agressivo, consumo excessivo de álcool e drogas, alterações no ciclo do sono, timidez, entre outros aspectos. Já na idade adulta, esse transtorno se manifesta por:

  • baixo rendimento profissional;
  • dificuldade de assumir responsabilidades;
  • desrespeito às normas sociais.

As crianças que apresentam um comportamento antissocial tendem a permanecer antissociais na idade adulta. Da mesma forma, os adultos com TPAS tendem a ter filhos com esse mesmo comportamento. Isso porque os pais servem de modelo aos filhos, criando um ciclo de difícil interrupção.

Além disso, o transtorno interfere na capacidade de manter relações íntimas duradouras. Com isso, o paciente é incapaz de adiar a gratificação do prazer imediato de um impulso, ou seja, não consegue resistir a desejos e não tolera nenhuma frustração.

Comportamento em relação ao outro

As pessoas sociopatas cometem atos ilegais, exploradores, fraudulentos e imprudentes para obter um ganho pessoal ou prazer. Não sentem remorsos e podem ter as seguintes reações:

  • culpar a vítima por ser impotente ou tola;
  • justificar ou racionalizar seu comportamento, achando, por exemplo, que perdedores merecem perder, entre outras crenças;
  • ser indiferente aos efeitos prejudiciais de suas ações sobre os outros.

Quais são as diferenças entre o TPAS e a psicopatia patológica?

Tanto a psicopatia quanto a sociopatia são condições que definem uma personalidade antissocial. A diferença entre esses transtornos são os fatores genéticos, fisiológicos e biológicos versus os fatores ambientais, sociais e relacionais.

Tradicionalmente, a sociopatia é considerada uma forma mais branda de transtorno em relação aos danos às pessoas, e ligada a crimes de menor gravidade. No entanto, um aspecto importante, que mais define concretamente essas diferenças conceituais, se refere ao comportamento.

Isso porque o psicopata é teatral, apresentando como comportamento central a dissimulação. São frios, capazes de cometer crimes hediondos sem sentir emoções quanto à dor do outro e disfarçar intenções na relação pretendida.

Já os sociopatas são aqueles que criam conflitos sociais ligados ao crime. Por serem menos estáveis, apresentam um comportamento irregular, deixando mais pistas quando relacionados a algum crime devido à impulsividade.

Por sua vez, o psicopata, antes de realizar um crime, faz um planejamento para cada etapa envolvida, sendo muitas vezes um desafio para as autoridades identificar seus crimes.

A seguir, confira as principais diferenças entre psicopata e sociopata.

Características do psicopata:

  • articulado;
  • calmo;
  • carismático;
  • cauteloso;
  • charmoso;
  • finge sentimentos e emoções;
  • finge ser quem não é;
  • incapaz de criar laços;
  • incapaz de sentir remorso;
  • manipulador;
  • meticuloso;
  • organizado;
  • paciente.

Características do sociopata

  • agressivo;
  • aleatório;
  • aparenta perturbação;
  • desorganizado;
  • espontâneo;
  • explode emocionalmente;
  • incapaz de sentir remorso;
  • tem ataques de ira.

Quais são as causas e fatores de risco do TPAS?

Há maior probabilidade de um transtorno de conduta evoluir para um transtorno de personalidade antissocial em casos de crianças que sofreram abusos e negligência. Além disso, pais que educam de maneira inconsistente, alternando entre apoiador e afetuoso para crítico e insensível, também provocam esse transtorno.

Em geral, o descaso em relação à dor alheia na primeira infância tem relação direta com o comportamento antissocial no final da adolescência.

Fatores de risco

Segundo um estudo com base em revisão integrativa publicado no periódico Brazilian Journal of Implantology and Health Sciences (2023), para compreender o Transtorno de Personalidade Antissocial é preciso analisar cuidadosamente diversos fatores, inclusive os genéticos e ambientais, que têm um papel essencial no seu desenvolvimento e diagnóstico.

Conforme esse estudo, os fatores genéticos são determinantes no desenvolvimento desse tipo de transtorno. A revisão da literatura e das pesquisas envolvidas indicou que a predisposição genética é um dos componentes-chave para a compreensão desse complexo transtorno.

Os fatores ambientais são outros aspectos que exercem um papel de muita importância no desenvolvimento do transtorno. Eles se referem às influências externas que moldam a maneira como as pessoas afetadas pelo transtorno interagem com o ambiente que os cercam e influenciam na manifestação de seus comportamentos.

Quais os sintomas do Transtorno de Personalidade Antissocial?

O transtorno de personalidade antissocial apresenta uma grande variedade de sintomas. Contudo, os sinais mais marcantes podem ser notados pelos seguintes comportamentos e características de perfil:

  • capacidade persuasiva apurada;
  • difícil intimidação;
  • exploração de pessoas;
  • fraudes;
  • irritabilidade e agressividade física;
  • prejuízo a terceiros para satisfação de objetivos pessoais;
  • realização de atos ilegais;
  • tendência a contar mentiras.

Embora os atos ilícitos sejam um fator comum nesse tipo de transtorno, nem todos os indivíduos que apresentam essa condição são criminosos. Além disso, é importante observar que um paciente diagnosticado com esse tipo de transtorno, não necessariamente apresentará todos os sinais apontados. Contudo, o padrão de desrespeito ao outro e ao patrimônio é um indicativo importante.

Esse tipo de padrão pode se manifestar por diferentes comportamentos envolvendo agressividade, falsidade ou manipulação. Os sinais de comportamento podem variar de pessoa para pessoa. Assim, um indivíduo pode apresentar um padrão de comportamento mais violento ou hostil, enquanto outro pode ser falso sem ser agressivo.

Como é feito o diagnóstico para o TPAS?

O diagnóstico do Transtorno de Personalidade Antissocial é realizado por critérios clínicos. Nesse sentido, conforme os critérios do DSM-5, para diagnosticar o TPAS, os pacientes precisam ter desprezo persistente pelos direitos das outras pessoas.

Mas esse desprezo precisa caracterizado pela presença de no mínimo 3 dos seguintes fatores:

  • desprezar a lei — sinalizado por atos repetidamente cometidos que sejam motivos para a detenção;
  • ser enganador — indicado por repetidas mentiras, uso de pseudônimos ou mesmo ludibriar as pessoas por ganho pessoal, ou prazer;
  • agir impulsivamente — sem planejamento;
  • facilmente irritado ou agressivo — isso pode ser percebido por brigas e constantes agressões físicas;
  • desprezo pela própria segurança ou segurança dos outros;
  • agir consistentemente de maneira irresponsável — um indicativo é deixar um emprego sem ter preocupação em planejar para conseguir outro ou não pagar contas;
  • não sentir remorso — sinalizado pela indiferença ou racionalização da agressão, ou maus-tratos de outros.

Além disso, os pacientes precisam demonstrar evidências de transtorno de conduta antes dos 15 anos, já que ele é diagnosticado apenas em pessoas maiores de 8 anos.

Diagnóstico diferencial

Considerando que o Transtorno de Personalidade Antissocial apresenta algumas características parecidas com outros tipos de transtorno, é importante realizar um diagnóstico diferencial, levando em conta outros problemas relacionados, como:

  • Transtorno de personalidade borderline — se refere a pessoas manipuladoras, que apresentam esse comportamento com a intenção de serem cuidadas e não para conseguir o que desejam, como ocorre no TPAS;
  • Transtorno de personalidade narcisista — são indivíduos sem empatia, mas que não costumam apresentar agressividade ou desonestidade como ocorre no TPAS;
  • Transtorno por abuso de drogas — é preciso entender se a impulsividade e a irresponsabilidade são sintomas resultantes do uso de drogas ou alcoolismo ou do transtorno em si. Isso é possível por meio da análise do histórico do paciente.

Qual é o tratamento para o Transtorno de Personalidade Antissocial?

O tratamento do transtorno de personalidade antissocial é complexo e depende da gravidade da condição. Em geral, é mantido com algum tipo de terapia e quando necessário é introduzida uma medicação.

Em determinados casos, o indivíduo não deseja mudanças para se tornar alguém melhor e não voltar a cometer crimes. Mesmo assim, algumas abordagens terapêuticas podem ser eficazes, conforme comentaremos a seguir.

Terapia cognitiva comportamental (TCC)

Esse tipo de terapia é muito útil para bloquear estímulos que geram comportamentos ruins e criminosos. Ela é usada com frequência para o tratamento de outros transtornos de personalidade, como o paranoide. Isso porque ela ajuda o paciente a voltar para a realidade e ter uma vida com mais sentido.

Terapia baseada na mentalização

Essa terapia ajuda o paciente a compreender a relação dos seus pensamentos com seus atos. Isso é muito importante para a pessoa concluir que maus pensamentos podem gerar repercussões ruins. Dessa forma, as intercorrências relacionadas ao transtorno de personalidade antissocial podem reduzir.

Medicação

Quando há necessidade, o psiquiatra prescreve um medicamento. Embora não proporcionem um tratamento mais efetivo, como o obtido por meio de uma terapia consistente no longo prazo, medicações como antipsicóticos ou antidepressivos auxiliam no tratamento de alguns sintomas, como:

  • agressividade;
  • desequilíbrios orgânicos que possa provocar malefícios para o paciente e pessoas de seu convívio;
  • impulsividade;
  • transtornos mentais associados (ansiedade e depressão).

Os medicamentos mais utilizados se referem a substâncias da classe dos inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRS). Além disso, antipsicóticos atípicos podem ajudar, porém, há menos evidências sobre o seu uso.

O que pode ser feito para ajudar um paciente que apresenta TPAS?

Como não há cura para o Transtorno da Personalidade Antissocial, a Terapia Comportamental Cognitiva, assim como grupos de apoio e terapia familiar são muito importantes nesses casos. Dessa forma, é possível auxiliar o paciente a conviver com os sintomas.

Mas não é só paciente que precisa ser tratado, oferecer apoio psicológico e terapias para os parentes, é essencial. Isso porque as pessoas próximas aos antissociais também necessitam de acompanhamento psicoterapêutico.

Quanto mais informada estiver a família sobre esse transtorno, melhor. Muitas vezes elas são as primeiras pessoas a detectar que há algo estranho com quem está enfrentando esse problema.

Com esse tipo de apoio e informações esclarecedoras elas conseguem desenvolver habilidades para lidar com o parente querido. Além disso, as terapias ajudam a motivar e dar mais esperança e resiliência à vida dessas pessoas.

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Como visto, o Transtorno da Personalidade Antissocial apresenta características que podem ser confundidas com outros tipos de transtornos de personalidade. Por isso, é importante fazer um bom diagnóstico e oferecer terapias envolvendo a família do paciente.

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