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21.11.2023
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Equipe Afya Educação Médica
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A Medicina está em constante evolução e isso inclui o desenvolvimento de novos e mais empolgantes procedimentos, que visam melhorar técnicas, otimizar tratamentos e aumentar as chances de recuperação dos pacientes. Nesse contexto, o transplante de útero emerge como uma alternativa incrível para muitas pessoas!
O caso mais recente de um procedimento bem-sucedido do tipo aconteceu no início de 2023, no Reino Unido. A paciente foi uma mulher de 34 anos, e os resultados parecem bem promissores.
Mas, afinal, como funciona esse tipo de procedimento? Quais são as suas implicações éticas? Será que ele estará disponível para pacientes trans em breve? Todas essas respostas serão respondidas nos próximos minutos. Boa leitura!
Antes de partirmos para o transplante uterino, que tal viajarmos um pouco no tempo e entender como tudo começou? A história dos transplantes é bem interessante e relembrá-la pode ser importante para a compreensão do procedimento que envolve o útero.
Embora os transplantes modernos tenham começado a ganhar destaque no século XX, a ideia de transplantar tecidos ou órgãos de um corpo para outro tem raízes muito antigas.
Acredita-se que os antigos indianos já realizavam procedimentos de enxerto de pele há mais de 2.000 anos. No entanto, foi apenas no século XIX que os médicos começaram a explorar a possibilidade de transplantar órgãos internos.
O século XX foi uma era de descobertas científicas e inovações médicas. Em 1905, a primeira tentativa registrada de transplante de rim foi realizada por um cirurgião austríaco chamado Emerich Ullmann, que transplantou um rim de um doador para um paciente com insuficiência renal.
No entanto, essa tentativa inicial não teve sucesso devido à falta de compreensão sobre a compatibilidade entre doador e receptor.
A verdadeira revolução dos transplantes começou na década de 1950 com o desenvolvimento de drogas imunossupressoras, como a azatioprina e a ciclosporina.
Elas permitiram que os médicos superassem o maior desafio dos transplantes: o sistema imunológico do receptor atacando e rejeitando o órgão transplantado.
Com a capacidade de controlar a resposta imune do corpo, os transplantes tornaram-se procedimentos clinicamente viáveis.
Conheça, agora, alguns marcos importantes da realização de transplantes:
Com os avanços tecnológicos, vieram também desafios éticos e sociais. Questões sobre a distribuição justa de órgãos, a aceitação social de transplantes de órgãos de doadores falecidos e vivos, e a clonagem para fins de transplante levaram a debates intensos na comunidade médica e entre o público em geral. Mas, claro, isso é assunto para outra conversa!
À medida que avançamos no século XXI, a pesquisa em Medicina Regenerativa e impressão 3D de órgãos oferece novas perspectivas para o futuro dos transplantes.
A capacidade de cultivar órgãos em laboratório ou criar órgãos sob medida para os pacientes pode mudar radicalmente a realidade dos transplantes, tornando-os mais acessíveis e eliminando a necessidade de longas listas de espera por transplantes.
Em suma, a história dos transplantes na medicina é uma narrativa de coragem, inovação e esperança. O constante avanço da ciência continua a transformar o impossível em realidade, oferecendo a milhares de pessoas em todo o mundo uma segunda chance na vida.
O transplante de útero surgiu como uma possibilidade. Essa foi uma daquelas coisas que pensamos: “será que dá certo? Seria interessante!” e que, no fim das contas, acabou se tornando uma realidade.
Em 2016 (ou seja, não há muito tempo), os pesquisadores ainda se questionavam se esse transplante seria possível. Uma publicação daquele ano, denominada “Transplante uterino: estamos perto desta realidade?” levanta esse questionamento, mostrando que ainda havia um grande caminho para se alcançar esse objetivo.
Ela também nos mostra uma linha do tempo sobre o procedimento! Vamos saber mais sobre o assunto a seguir.
As primeiras pesquisas sobre o tema aconteceram nas décadas de 60 e 70, em animais. Algumas espécies utilizadas foram cães, ovelhas e primatas. Nesse caso, o objetivo era fazer o transplante simultâneo do útero e das trompas de falópio, resolvendo questões ligadas à infertilidade.
No entanto, os pesquisadores se depararam com desafios, como o fato de não saberem exatamente como restabelecer o suprimento sanguíneo a essas estruturas, além de dificuldades para evitar a rejeição do órgão.
A tentativa em humanos ficou em stand by por algumas décadas, graças ao desenvolvimento da terapia de fertilização in vitro, que possibilitou que muitas mulheres pudessem gestar sem complicações.
No entanto, as pacientes com MRKH (síndrome de Mayer-Rokitansky-Küster-Hauser) ainda continuavam sem perspectivas de realizar seus sonhos de passar por gestações, além de outros grupos que seguiam apresentando esse problema.
Assim, 2000 marcou a primeira tentativa de realização do transplante de útero no mundo. Na ocasião, uma paciente acabou perdendo o seu útero no momento em que deu à luz, mas recebeu a doação de uma mulher viva.
Apesar das tentativas, o caso não foi bem-sucedido e foi necessária a realização de uma histerectomia na receptora, o que gerou muita frustração e novamente adiou uma nova realização da cirurgia.
O segundo transplante aconteceu em 2011, na Turquia. Ele chegou a fazer com que duas gestações acontecessem, mas infelizmente ambas resultaram em abortos. Em 2014, uma nova conquista: mais uma gestação, desta vez com um nascimento.
A paciente era uma mulher de 35 anos, com síndrome de MRKH, que recebeu o útero de uma mulher de 61 que estava na menopausa.
Em seguida, outros três nascimentos foram descritos, o que mostra que esse transplante é, sim, uma possibilidade viável. No entanto, ainda há um longo caminho a percorrer em relação a isso.
No início de 2023, ocorreu uma nova tentativa de realização de transplante de útero. Esse tipo de situação é bem comum, já que um procedimento deve passar por diversas tentativas e erros, além de adaptações e melhorias, antes de ser considerado viável e liberado para o grande público.
No último caso, tudo correu bem! O procedimento aconteceu no Reino Unido e a paciente em questão tinha 34 anos. A doadora foi a própria irmã da mulher, que tinha 40 anos no momento do procedimento.
Segundo o profissional, a paciente começou a vivenciar ciclos menstruais e seguia bem, em recuperação. As chances de uma gestação acontecer são grandes, mas ela ainda precisa passar por um longo período de acompanhamento para evitar a rejeição do órgão e outras complicações.
Agora, entenderemos como o transplante uterino é feito! Confira algumas informações sobre o assunto a seguir.
Antes de qualquer procedimento, é essencial fazer uma avaliação rigorosa tanto da doadora quanto da receptora para garantir que são saudáveis o suficiente para o transplante. São realizadas avaliações físicas, psicológicas e exames de sangue para compatibilidade.
São analisados antecedentes familiares de doenças hereditárias e qualquer histórico médico pessoal relevante.
A receptora é avaliada quanto ao histórico ginecológico e obstétrico para entender a necessidade do transplante e garantir que seja apropriado para ela.
São realizados exames físicos minuciosos para avaliar a saúde geral da doadora, incluindo exames ginecológicos para garantir a saúde do útero.
Além disso, uma avaliação psicológica é feita para garantir que a doadora compreenda totalmente os riscos e implicações emocionais do procedimento. Isso também é válido para a receptora.
São feitos testes sanguíneos para verificar a compatibilidade sanguínea entre a doadora e a receptora. Além disso, amostras de tecido são testadas para verificar a presença de qualquer infecção ou condição médica que comprometa o sucesso do transplante.
A doadora deve entender completamente os riscos envolvidos no procedimento. Ela recebe informações detalhadas sobre o processo e dá seu consentimento informado de forma voluntária e compreensiva.
A doadora é submetida à histerectomia, uma cirurgia na qual o útero é removido. Durante esse procedimento, é essencial que o útero seja removido cuidadosamente para preservar a integridade dos vasos sanguíneos e outras estruturas adjacentes.
Após a remoção, o útero é preparado e preservado em uma solução especial que mantém o órgão viável para o transplante. A qualidade da preservação é crucial para o sucesso do procedimento.
A receptora também é preparada para o procedimento. Isso pode envolver a administração de medicamentos para suprimir o sistema imunológico, prevenindo a rejeição do órgão transplantado e outros tipos de complicações.
Além disso, há a preparação antes do procedimento cirúrgico, que também é válido para a doadora. As pacientes devem jejuar por um período específico antes da cirurgia. Já no hospital, elas recebem medicação pré-operatória para ajudar a relaxar e se sentir mais confortável antes da cirurgia.
Depois, é feita toda a preparação de praxe. Há a inserção do cateter urinário, seguida da higienização da pele e da marcação feita para as incisões posteriores. Em seguida, a equipe médica realiza uma revisão final do procedimento planejado, verificando todos os detalhes para garantir que nada tenha sido esquecido.
A paciente é avaliada pelo anestesista, que escolhe o tipo de anestesia mais apropriado com base na saúde geral da paciente. São revisados alguns pontos e a paciente é induzida para o procedimento poder começar.
Durante a cirurgia, o útero da doadora é conectado aos vasos sanguíneos e às estruturas de suporte da receptora.
Isso geralmente envolve sutura cuidadosa dos vasos sanguíneos e outras estruturas para garantir uma circulação sanguínea adequada no útero transplantado.
Em seguida, o canal cervical do útero transplantado é conectado ao da receptora. Isso é vital para permitir que a receptora tenha uma menstruação normal e, possivelmente, uma gravidez.
Após a cirurgia, tanto a doadora quanto a receptora são monitoradas de perto para detectar qualquer sinal de rejeição ou complicações pós-operatórias.
As pacientes são transferidas para uma unidade de cuidados intensivos ou uma unidade de recuperação pós-anestésica para monitoramento próximo dos sinais vitais, como frequência cardíaca, pressão arterial e saturação de oxigênio.
São administrados medicamentos para controlar a dor, prevenir infecções e gerenciar qualquer outra condição médica que as pacientes possam ter.
A equipe médica realiza curativos regulares e monitora o local da incisão para detectar sinais de infecção ou outras complicações. Além disso, as pacientes são gradualmente reintroduzidas à ingestão de líquidos e alimentos.
Antes da alta hospitalar, a paciente e seus cuidadores recebem instruções detalhadas sobre como cuidar da incisão, administrar medicamentos e observar sinais de complicações. O acompanhamento próximo das orientações médicas é fundamental.
Ela também é informada sobre quais atividades físicas e restrições deve seguir durante o período de recuperação, incluindo evitar levantar objetos pesados e praticar atividades físicas intensas.
A paciente tem consultas médicas regulares com a equipe de transplante para avaliar a funcionalidade do útero transplantado, monitorar a cicatrização da incisão e ajustar os medicamentos conforme necessário.
Exames variados também são conduzidos visando identificar se há qualquer sinal de rejeição ou complicação após a cirurgia, no caso das receptoras. A paciente também segue em supressão imunológica, a fim de evitar qualquer tipo de problema.
O suporte emocional contínuo também é crucial, especialmente se a paciente não alcançar a gravidez imediatamente após o transplante. Grupos de apoio e aconselhamento psicológico são valiosos nesse contexto.
A doação de órgãos, incluindo o útero, é um procedimento altamente regulamentado e seguro, destinado a ajudar pacientes que necessitam de transplantes para melhorar sua qualidade de vida ou, no caso do útero, realizar o sonho da maternidade.
No contexto específico do transplante de útero, a elegibilidade da doadora é cuidadosamente avaliada. Essa paciente deve atender aos seguintes critérios:
A compatibilidade do doador com o receptor é feita principalmente por tipo sanguíneo. No caso do útero, ele pode ser doado por uma doadora viva que tenha completado sua própria maternidade e que pode ser tanto não direcionada (desconhecida para a receptora) quanto direcionada (conhecida pela receptora).
Além disso, existe a opção de doação de útero por uma doadora falecida, uma mulher que expressou o desejo de doar seu útero após sua morte.
A elegibilidade da receptora para um transplante de útero é um processo igualmente cuidadoso e crítico.
Uma mulher que sofre de infertilidade devido à falta de útero (seja por nascimento sem o órgão ou pela perda dele em uma idade jovem, graças a uma condição benigna ou maligna) ou por conta da presença de uma estrutura não funcional pode ser considerada uma candidata potencial para o transplante.
As condições para a elegibilidade da receptora incluem:
É importante observar que o transplante de útero é uma opção altamente especializada e não é indicado para todas as mulheres.
Cada caso é avaliado individualmente, considerando não apenas os critérios físicos, mas também os fatores emocionais e psicológicos para garantir que a receptora esteja preparada para a complexidade do procedimento e as responsabilidades após o transplante.
Ainda não há respostas concretas. Alguns profissionais já demonstraram vontade de fazer esse tipo de procedimento, mas as pesquisas ainda são escassas e vem se discutindo as implicações éticas para a sua realização.
Alguns pesquisadores indicam que, em breve, começarão a realizar os testes de transplante em roedores, fazendo a implantação do útero de uma fêmea em um animal com cromossomos XY. Mas ainda não se sabe muito sobre isso.
A estimativa inicial é de que os transplantes de útero para mulheres transgênero levem entre 5 e 20 anos para se tornar uma realidade, ou seja, mais ou menos o mesmo tempo que se levou para realizá-lo com sucesso em mulheres cis.
Ele representaria uma grande oportunidade dessas mulheres também experimentarem a gestação completamente, vivenciando ainda mais a sua expressão feminina e fazendo algo que, até então, parecia impossível.
Aguardaremos as cenas dos próximos capítulos da ciência e ficar atentos às novidades que surgirão nos próximos anos!
A seguir, responderemos outras perguntas que são frequentemente associadas ao procedimento do transplante de útero!
É fundamental manter um estilo de vida saudável ao se preparar para o transplante e a gravidez. A paciente deve estar dentro do peso saudável, com um índice de massa corporal (IMC) de 30 ou menos para prosseguir com um transplante de útero.
Sim, existem opções de cirurgia robótica para transplantes de útero, embora ainda sejam restritas em algumas partes do mundo. Apesar das limitações atuais, elas representam uma ótima oportunidade para o futuro próximo, promovendo recuperações mais eficazes e procedimentos mais seguros.
O retorno do ciclo menstrual indica que o útero transplantado está funcionando adequadamente. A maioria das receptoras menstrua dentro de quatro a seis semanas após o transplante. Os períodos geralmente ocorrem mensalmente até o início da gravidez.
Não. Durante a cirurgia, o útero é transplantado com o colo do útero, mas não as trompas de falópio. É impossível engravidar naturalmente sem as trompas de falópio, pois elas servem como uma ponte entre os ovários e o útero. Sendo assim, a gravidez só é possível a partir de fertilização in vitro.
Não. O transplante de útero é temporário e permite uma ou duas gestações. Após o término da primeira ou segunda gestação, o órgão transplantado é removido. Após a remoção, a paciente deixará de tomar medicamentos imunossupressores.
O que achou do nosso conteúdo sobre transplante de útero?
Esperamos que tenha gostado! Como podemos ver, o transplante de útero é um procedimento muito interessante e válido, mas que ainda precisa passar por algumas adaptações, que prometem vir com as inovações tecnológicas e continuidade das pesquisas. Assim, continuaremos atentos para as novidades e nos atualizando, sempre!
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