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7.7.2023
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Equipe Afya Educação Médica
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A cada vez mais, os profissionais que atuam em saúde mental são surpreendidos com novos desafios. Novas doenças se confluem com as já existentes ou surgem com novos emblemas que desafiam a Psiquiatria. Uma delas é o Transtorno Opositor Desafiador (TOD), distúrbio tipicamente comportamental, que costuma surgir na infância.
Em vista disso, vamos explicar o que é o TOD, quais são as suas características e como tratar esse transtorno. Entenda as razões que levam a essa condição e as melhores alternativas para reduzir os impactos desse distúrbio. Boa leitura!
Dados de um relatório divulgado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) alertam para as condições de saúde mental dos jovens da atual sociedade. Os números apontam para a urgente necessidade de intervenções mais eficazes a fim de minimizar os impactos negativos sobre a qualidade de vida desse grupo.
Nesse contexto, quem atua como médico generalista deve estar a par dessas informações, haja vista a crescente demanda por esse tipo de atendimento.
Veja os pontos de destaque quanto ao panorama da saúde, segundo a OMS:
Nessa etapa da vida, quanto mais expostos aos fatores de risco, mais chance de somar condições que potencializam as doenças mentais, como o transtorno de oposição desafiante. Tais impactos são muito mais perceptíveis em grupos mais vulneráveis, como os mais jovens.
Em geral, existe uma multiplicidade de fatores que influenciam — direta ou indiretamente — a estabilidade psíquica durante a infância. Entre as questões que mais contribuem destacam-se:
Antes de listar os distúrbios que mais surgem nessa fase, vale ressaltar que a puberdade varia entre meninos e meninas. Enquanto no primeiro grupo essa fase geralmente acontece entre 9 e 14 anos anos de idade, nas meninas, ela pode surgir mais cedo: entre 8 e 13 anos.
Logo, vamos adotar o termo puberdade, já que esse período — que abrange o desenvolvimento infantil e adolescente — é marcado por importantes transformações físicas, mentais e emocionais.
Considerando a Medicina baseada em evidências destacamos alguns transtornos que mais afetam esse grupo e que podem exacerbar os sintomas do TOD. Confira!
Resumidamente, as características principais de TDAH incluem sinais como hiperatividade e impulsividade. Esse quadro gera como consequência algumas limitações muito presentes durante o desenvolvimento infantil. Muitas crianças têm dificuldade para manter o foco ou a concentração exigida para suas atividades.
Com isso, há prejuízo na rotina, sobretudo nas atividades escolares. Entre as principais dificuldades destacam-se o baixo rendimento escolar, a socialização limitada e a baixa autoestima. Embora possa surgir em meninas, o TDAH é mais presente no gênero masculino.
Quase todas as crianças e adolescentes passam por um período de maior sensibilidade emocional, no qual se evidenciam os sinais de ansiedade. Mas até certo ponto, a ansiedade é uma condição fisiológica considerada normal.
Porém, quando essa condição se torna muito frequente e ultrapassa o limiar fisiológico, o ideal é olhar para esse quadro com mais atenção. Ou seja, se a ansiedade gera prejuízos à rotina e assume um caráter patológico, isso caracteriza um grave transtorno: a TAG.
Mais comuns em meninas do que em meninos, as fobias simples são caracterizadas por medos esmagadores de objetos ou animais específicos. Algumas pessoas desenvolvem, desde a infância, situações fobias, tais como o medo de ficar no escuro.
Mas se a situação se torna muito crítica, o ideal é que o médico ou psicólogo, que acompanha a criança, faça intervenções mais concretas. Se não tratada, a fobia pode evoluir para condições mais preocupantes e influenciar outros desequilíbrios emocionais.
Mesmo os profissionais da Medicina que atuam como generalistas podem acompanhar as crianças com fobias leves. Normalmente, à medida que a criança vai crescendo, ela consegue lidar melhor com o quadro. Contudo, em alguns casos, o uso de medicação aliado à terapia apresenta bons resultados.
Crianças que enfrentam conflitos familiares decorrentes de separação dos pais são mais propensas a desenvolverem o transtorno de oposição desafiante. Como o próprio nome revela, tais circunstâncias costumam gerar um quadro de ansiedade muito intenso que, às vezes, pode cursar com sinais de transtorno do pânico.
Na puberdade, tais quadros podem surgir quando a criança ou o adolescente são separados de um dos pais ou mesmo de algum outro ente querido. Essa condição pode surgir repentinamente, mesmo entre crianças que anteriormente não demonstraram tais sintomas.
Além do mais, esse tipo de ansiedade associada à separação pode resultar em manifestações que prejudicam a rotina da criança. Às vezes, há a recusa em sair de casa até mesmo para ir à escola. No trabalho médico, tais quadros exigem uma avaliação mais minuciosa, já que alguns desses sintomas podem ser bem semelhantes aos do TOD.
Em tese, o Transtorno Opositor Desafiante se caracteriza por um padrão persistente de comportamento negativo, ousado e desafiador contra figuras hierárquicas. Às vezes, o indivíduo que apresenta esse distúrbio pode se valer de atitudes hostis e se fazer de vítima com a situação.
Para identificar tal transtorno, os profissionais da Medicina e da Psicologia precisam estar atentos ao histórico clínico da criança ou do adolescente. Também é importante analisar relatos da rotina inerentes aos hábitos e comportamentos.
Mesmo que o TOD seja comparado a uma “versão leve” de alguns outros transtornos de conduta, é necessário avaliar os pontos que diferenciam o comportamento. Geralmente, a análise da motivação para adotar certas condutas podem ser essenciais para nortear o diagnóstico.
Estimativas apontam que as causas desse distúrbio sofrem influências multifatoriais. Nesse contexto, a puberdade é a fase mais afetada: estudos indicam que a prevalência em crianças e adolescentes pode chegar a 15%. Nesse grupo, o número de meninos com o transtorno é superior ao de meninas.
Ainda que os estudos científicos sobre os novos emblemas da Psiquiatria estejam em alta, etiologia do transtorno de oposição desafiante ainda não está bem esclarecida. Contudo, as hipóteses mais prováveis é que a doença seja mais comum em crianças, cujas famílias se envolvem em conflitos recorrentes.
Ambientes sujeitos a controvérsias e intrigas por qualquer motivo contribuem muito para aumentar os níveis de estresse e gerar instabilidade emocional. Crianças que crescem em ambientes assim tendem a se sentir ameaçadas ou coagidas. Por conseguinte, o medo faz despertar o instinto “natural” de defesa, o que pode torná-las irritadas e agressivas.
Em geral, os sinais e sintomas que podem indicar a necessidade de avaliação para o risco de TOD na infância são:
Como já descrito, os médicos que atendem a essa demanda devem estar atentos aos indícios sugestivos de TOD. Logo, existem alguns aspectos que não podem ser ignorados na anamnese médica. Veja quais são!
Quando o médico generalista atende crianças com sinais sugestivos de TOD, o ideal é conversar com os pais em separado. Crianças que se encontram na pré-adolescência também podem, com a permissão dos pais, ter alguns minutos reservados para ficar a sós com o médico — ou psicólogo — e expor as questões que mais a incomodam.
Durante esse contato, o profissional deve priorizar o diálogo transparente, ouvir os pais e a criança com atenção a fim de coletar informações que ajudem na confirmação do diagnóstico. Todavia, o diagnóstico de TOD requer várias consultas e uma avaliação mais criteriosa do estado mental do paciente.
Com muita habilidade, o médico pode investigar aspectos da rotina dos familiares com a finalidade de descobrir evidências que instigam o comportamento desafiador na criança. Quando o ambiente é desarmônico e hostil, os pequenos são influenciados negativamente e acabam desenvolvendo distúrbios psicoemocionais.
Muitas vezes, os pais, irmãos mais velhos ou responsáveis contribuem para a piora emocional que afeta o comportamento na infância. Logo, é preciso considerar outras questões relacionadas ao fator ambiente.
Muitas doenças mentais se apresentam como verdadeiros desafios para a carreira médica. Descobrir se os sintomas ou queixas estão relacionados ao TOD é um exemplo. Por parte dos pais ou professores, tais modificações são perceptíveis porque afetam as atividades escolares ou os hábitos do cotidiano. Mas para o médico, nem sempre é simples.
Por isso, quando a criança ou adolescente começa a apresentar mudanças na rotina pode ser um sinal de alerta. As mais comuns são negligenciar os horários da alimentação, não se importar com os cuidados pessoais e sofrer alterações bruscas no sono.
Igualmente relevante é estar atento aos sintomas que se parecem com outros transtornos. Uma das principais características das doenças mentais é a perda funcional e o prejuízo à qualidade de vida. Tais prejuízos podem surgir associados à irritabilidade, insônia ou a mudanças bruscas de apetite.
Por isso, se o indivíduo passa a apresentar tristeza profunda recorrente, dificuldade de concentração, desinteresse por atividades que antes eram prazerosas, isso pode ser sinal de depressão. Contudo, esses sintomas também podem surgir no TOD e agravar a agressividade, a impaciência e o prazer de desafiar os adultos.
Às vezes, mesmo que os pais ou responsáveis não adotem medidas associadas ao tratamento, boa parte das crianças com esse transtorno melhora com o passar do tempo. Quando os pais são mais presentes e oferecem carinho e atenção, a maioria dos conflitos se resolvem gradativamente.
Contudo, se a criança ou adolescente apresenta sintomas graves, o acompanhamento profissional é imprescindível. Nesses casos, o ideal é buscar ajuda o quanto antes.
Destacamos as alternativas que mais oferecem resultados que atendem à expectativa dos pais e dos profissionais. Confira!
Tão logo os pais ou professores descobrirem alterações bruscas no comportamento das crianças em fase escolar, o ideal é buscar por assistência terapêutica precoce. Mesmo que sejam sinais leves, é necessário procurar auxílio profissional e adotar as medidas mais indicadas.
Às vezes, uma conversa aberta entre pais e filhos pode ser importante para direcionar às soluções mais adequadas. Porém, quando a situação não favorece essa alternativa, o melhor caminho é a intervenção psicoterapêutica. Vale destacar que a orientação é que toda a família receba aconselhamento, não apenas a criança.
Dependendo da gravidade da situação, é necessário procurar apoio multidisciplinar. Mesmo que o tratamento seja baseado em psicoterapia focada no incentivo à mudança do comportamento, quando há envolvimento e suporte de uma equipe interdisciplinar, os resultados são mais rápidos e melhores.
Em casos mais graves, os sintomas do Transtorno Opositor Desafiante podem exigir o uso de medicamentos antidepressivos. Tais fármacos devem ser prescritos quando existem outras doenças concomitantes e que podem exacerbar os sintomas do TOD.
Sendo assim, o médico deve analisar as particularidades de cada caso e, desse modo, avaliar se esses medicamentos devem ser indicados. Em pacientes com outras condições associadas, os fármacos são uma ótima alternativa para complementar o tratamento psicológico, principalmente se houver depressão e ansiedade, por exemplo.
Muitas vezes, a mudança de rotina ou a inserção de atividades extras na agenda da criança pode trazer resultados benéficos para a saúde emocional. Logo, os pais devem avaliar a possibilidade de oferecer alternativas que possam ajudar o filho a desenvolver novas habilidades. Além disso, a infância e a adolescência são fases ideais para novas descobertas, o que pode minimizar conflitos e melhorar as relações familiares e sociais.
Portanto, mudanças no comportamento típicas de transtorno opositor desafiante exigem terapia ou remédios para evitar a evolução para quadros mais graves. Quando a calma e a paciência dão espaço à agressividade, irritabilidade ou até mesmo ao isolamento da criança, o médico deve orientar os pais sobre os riscos que esse quadro representa.
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