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18.1.2023
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Equipe Afya Educação Médica
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Com a popularização da psicologia e existência de cada vez mais campanhas de conscientização sobre a saúde mental como o setembro amarelo, muitas pessoas conhecem o nome e os principais sintomas de inúmeros transtornos mais famosos.
Este é o caso do Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), que afeta um grande número de pessoas e pode causar dificuldades na vida cotidiana se não for administrado com terapia e medicação nos casos clínicos mais severos.
Entretanto, embora seja um transtorno conhecido e retratado em filmes e séries, nem todas as informações disponíveis são confiáveis ou ajudam a esclarecer como é a vida de quem apresenta este transtorno.
Neste post, você vai conhecer um pouco mais sobre o TOC, além de descobrir seus principais sintomas, subtipos, causas e também quais são as formas de tratamento mais utilizadas. Boa leitura!
Antes de ficar por dentro dos detalhes, é importante obter uma visão geral sobre o conceito por trás da palavra "transtorno". Para a maioria dos psicólogos e psiquiatras, o Manual Diagnóstico e Estatístico, editado pela APA, é a maior referência no assunto.
Segundo o Manual, é considerado um transtorno mental, uma alteração clinicamente significativa que atinge áreas cognitivas, emocionais ou comportamentais de um indivíduo. Este é exatamente o caso do TOC, sigla do Transtorno Obsessivo Compulsivo, e que apresenta alterações cognitivas, emocionais e comportamentais em seus portadores.
Neste transtorno, a pessoa apresenta pensamentos obsessivos que podem ter variados temas, como obsessão por limpeza ou organização. Em geral, estes pensamentos obsessivos acabam levando o indivíduo a comportamentos de compensação, que são chamados de compulsões.
Quando há a presença de pensamentos obsessivos e comportamentos compulsivos de compensação, o TOC pode ser diagnosticado. Além da psicoterapia, como você vai ler ao fim do post, também podem ser indicadas medicações como estabilizadores de humor, antidepressivos e outros tipos dependendo dos sintomas que acompanham o TOC em cada caso.
Vale lembrar que para isso, é preciso que a perturbação seja clinicamente significativa, ou seja, cause um real sofrimento para o portador. Por isso, ter algumas manias ou preferência por organização não quer dizer necessariamente que alguém possua o diagnóstico de TOC.
Como você deve ter percebido, este é um transtorno que leva no nome dois conceitos diferentes, mas que precisam estar juntos para que o transtorno seja diagnosticado. Você sabe qual a diferença entre a obsessão e a compulsão?
De maneira geral, a obsessão é um fenômeno cognitivo, ou seja, está relacionado ao pensamento. Os pensamentos obsessivos podem ser crenças fixas que a pessoa tem independentemente de seu controle, como acreditar que algo vai acontecer se ela não for estritamente organizada, ou pensamentos e imagens intrusivas que aparecem na mente, como comandos para realizar uma tarefa de maneira repetida.
Diferentemente da obsessão, que é cognitiva e acontece mentalmente, a compulsão é um fenômeno comportamental. Chamamos de compulsão comportamentos como lavar as mãos em uma frequência maior que o comum, apagar e acender luzes repetidamente, não pisar em linhas e rachaduras etc.
Em geral, a obsessão é a causa da compulsão, como um comportamento de compensação que o indivíduo faz para evitar a obsessão. Uma boa maneira de entender a relação entre os dois fenômenos é pensar que as compulsões, por serem comportamentos, são sempre visíveis, enquanto as obsessões costumam ser as motivações "invisíveis" dos comportamentos.
Um exemplo disso é um indivíduo que repete todas as últimas palavras das frases, comportamento semelhante à afasia, mas que neste contexto se trata de uma compulsão, e que faz isso porque pensa que algo de ruim pode acontecer com ele ou sua família se ele não repetir, caracterizando a obsessão.
Agora que você já conhece bem a diferença entre compulsão e obsessão, fica mais fácil conhecer os principais sintomas do TOC. Podemos dividir os sintomas do Transtorno Obsessivo Compulsivo em comportamentais, emocionais e cognitivos.
Os sintomas comportamentais são as variadas formas de compulsão, como comportamentos ritualísticos e difíceis de serem explicados sem levar em conta a obsessão que a pessoa possui. Além disso, são comuns comportamentos de agitação e hiperatividade, sobretudo quando o indivíduo não consegue realizar seus rituais e compulsões.
Além de alterar o comportamento, o TOC também tem efeitos emocionais. Por trazer sofrimento às pessoas com este diagnóstico, é comum ver pessoas com TOC que apresentam sintomas depressivos, tristeza e isolamento, assim como ansiedade social e generalizada.
Cognitivamente, além das obsessões que caracterizam o diagnóstico, é possível compreender melhor os sintomas através do que os especialistas da área chamam de insight, que significa o quanto o paciente com TOC compreende seu transtorno.
Embora muitas pessoas compreendam bem seu próprio transtorno e busquem ajuda profissional, o que demonstra um alto grau de insight, muitos outros são fiéis às obsessões e compulsões, acreditando fortemente que não obedecê-las trará más consequências, o que pode ser entendido como um baixo grau de insight.
Por se tratar de um transtorno que influencia diretamente o comportamento, o TOC se manifesta de formas diferentes em cada pessoa que é portadora deste transtorno. Por isso, é possível separar o Transtorno Obsessivo Compulsivo em alguns subtipos.
Embora não haja uma separação oficial por parte dos profissionais da saúde mental e das principais publicações sobre a área como o DSM e o CID-11, alguns subtipos já são bem conhecidos e podem ajudar na hora de classificar e compreender como o transtorno se manifesta na população. Continue a leitura para conhecer cada tipo e descobrir suas diferenças.
O primeiro item da nossa lista é um dos subtipos de TOC mais comuns e envolve a compulsão à checagem ou verificação dos mais variados tipos, geralmente motivada por uma obsessão de que algo de ruim pode acontecer se a checagem não for feita.
É o caso, por exemplo, de pessoas que precisam verificar se todas as luzes estão apagadas ou se todas as roupas estão dispostas em uma ordem específica antes de sair de casa.
Em geral, após uma verificação, pessoas sem este transtorno se dão por satisfeitas e não pensam mais nisso. Pelo contrário, pessoas com TOC têm dificuldades em se concentrar em outras tarefas se as checagens não forem feitas repetidamente ou por um número específico de vezes.
Também muito conhecido, o Transtorno Obsessivo Compulsivo de limpeza pode ser definido como a compulsão de deixar objetos o mais limpos possível e uma evitação muito forte de qualquer tipo de sujeira.
Sintomas comuns deste subtipo de TOC envolve lavagem constante das mãos, evitação do toque de superfícies não esterilizadas ou que a pessoa não tenha controle sobre a limpeza, e muitas vezes isolamento, já que o ambiente doméstico é o lugar mais confortável e limpo possível. Comportamentos deste tipo podem trazer muito sofrimento, reforçando ainda mais a necessidade de um atendimento humanizado.
Vale lembrar que a preocupação moderada com a limpeza e evitação de lugares extremamente sujos é comum, e não pode ser encarada como TOC. Como você ainda vai ler neste post, o diagnóstico deve ser sempre feito por um psicólogo ou psiquiatra, que usa testes e entrevistas para confirmar o transtorno.
Neste subtipo do transtorno, existe uma preocupação exagerada com a organização e categorização de objetos e utensílios e uma grande dificuldade em vê-los de maneira aleatória ou sem a organização estabelecida.
É comum que obsessões específicas tomem conta do comportamento da pessoa e envolvam técnicas de classificação bem próprias, como organizar roupas pela cor, objetos de decoração pelo tamanho ou fotos pela data e lugar em que foram tiradas.
Este é um subtipo do Transtorno Obsessivo Compulsivo que pode ser encontrado em crianças, já que elas estão quase sempre em contato com brinquedos, objetos que podem ser organizados de muitas maneiras. Este é um comportamento que pode indicar a necessidade de terapia infantil para prevenir o desdobramento do TOC.
Se existe uma resistência muito baixa à desorganização e ela é acompanhada de sentimentos ruins, é importante procurar um profissional especializado.
Embora seja parecido com o TOC de organização, o TOC de simetria possui diferenças na real motivação do comportamento. Enquanto a pessoa com TOC de organização busca a ordem, como separar objetos do maior para o menor dentre outras formas, a pessoa com TOC de simetria tem preferência por imagens e objetos equilibrados e harmônicos.
Assim, quadros ligeiramente tortos, casas com fachadas menos planejadas e outras situações do cotidiano podem trazer estresse, ansiedade e sentimentos negativos.
Este é um dos subtipos mais difíceis de se manejar, pois enquanto os TOC’s de organização e limpeza estejam razoavelmente no controle dos pacientes, a simetria é bem mais difícil de ser encontrada, principalmente fora de casa, o que dificulta ainda mais a vida destas pessoas e aumenta a necessidade de buscar ajuda.
Embora a romantização de transtornos mentais não seja benéfica, muitas pessoas acabam reforçando comportamentos compulsivos por se tratarem de características que são desejáveis quando moderadas, como limpeza e organização.
Este acaba não sendo o caso do TOC que envolve pensamentos intrusivos e tabus. Neste transtorno, a pessoa não pode evitar a visualização de imagens desagradáveis, que podem envolver sangue, crimes e situações que envolvem algum tipo de tabu sexual ou religioso.
Por isso, para evitar os pensamentos negativos, ocorrem comportamentos compulsivos de compensação, como é o caso dos rituais, prática comum deste transtorno.
Rituais podem incluir falar em voz alta alguma palavra ou frase para que as imagens intrusivas desapareçam, movimentos estereotipados e outras práticas que de outra maneira seriam pouco explicadas pelo contexto em que a pessoa se encontra.
Quando falamos de transtornos mentais e questões psíquicas, é bem difícil determinar as causas específicas que levaram um transtorno como o TOC a acontecer em uma pessoa.
De forma geral, é possível colocar como causa tanto fatores ambientais quanto genéticos, que ocorrem de maneira conjunta para que o transtorno se manifeste.
Dentre os fatores ambientais, estão as características do entorno da pessoa, como o estilo de criação dos pais, eventos na infância e estressores que servem de gatilho.
Assim, fatores ambientais que podem ter a ver com o TOC envolvem fortes estressores na infância, como abusos sexuais e psicológicos, formas de violência que podem ser consideradas grandes problemas de saúde pública no Brasil.
Já nos fatores genéticos, muitas pesquisas têm avançado na tentativa de determinar genes e outras características das pessoas com TOC. O que se sabe até agora é que filhos e parentes de primeiro grau de pessoas com TOC têm muito mais chance de desenvolver o transtorno, o que contribui para a hipótese de que há sim uma relação biológica.
Como você leu até aqui, detectar um transtorno e diferenciá-lo de outros transtornos ou comportamentos comuns nem sempre é fácil. Por essa razão, por exemplo, existem pontos de confusão entre depressão e ansiedade e dificuldades em diferenciar pequenas manias e o TOC propriamente dito. Portanto, como é possível diagnosticar?
Para fazer um diagnóstico correto, é preciso fazer uma entrevista inicial, testes, investigação da história da pessoa e de suas relações e comportamentos, além de poder começar um tratamento adequado.
Uma Pós-graduação médica em Psiquiatria pode trazer a prática necessária para que o diagnóstico seja feito de forma mais fácil.
Assim como o diagnóstico e a causa do transtorno não são tarefas simples em saúde mental, o tratamento mais adequado também deve ser bem pensado e adequado para cada caso para evitar pioras no quadro.
De maneira geral, especialistas da área recomendam a psicoterapia para casos mais leves e moderados. Além da psicoterapia individual, em que a pessoa se encontra periodicamente com um psicoterapeuta, também é possível a psicoterapia em grupo, que pode juntar diversas pessoas com o mesmo transtorno, para trocar experiências e falar sobre seus desafios e progressos.
Já em casos mais severos ou que envolvem emergências psiquiátricas, a medicação psiquiátrica costuma ser indicada. Como o TOC costuma estar presente junto com outros transtornos como a ansiedade e depressão, a maioria dos remédios funcionam com o mesmo princípio. Exemplos de medicação para o TOC incluem Fluoxetina, Paroxetina, Citalopran e Sertralina.
Contudo, vale lembrar que para os casos mais graves, a psicoterapia continua sendo indicada, afinal, no caso dos transtornos mentais, a medicação ajuda a diminuir sintomas, mas não resolve completamente o problema, sendo a combinação de medicação e terapia o mais indicado.
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Neste post, você leu um pouco sobre o TOC, que é o Transtorno Obsessivo Compulsivo, seus principais sintomas, subtipos e possíveis causas. Além disso, também viu a importância do diagnóstico feito por um profissional especialista e os tratamentos mais indicados para cada caso.
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