Entenda por que há tantos médicos com Síndrome de Burnout no Brasil. Estresse, pouco descanso e condições de trabalho levam médicos ao esgotamento.
Segundo pesquisa realizada pelo site Medscape, referência em informações sobre carreira médica, 1 a cada 3 médicos no Brasil sofre de Síndrome de Burnout. O estudo, realizado antes da pandemia do Coronavírus, pode não refletir a grave situação sobre o estado de saúde mental dos médicos no país, sobrecarregados de trabalho e sob imensa pressão física e psicológica em razão da crise sanitária que afeta o planeta.
O estudo identificou sensações e comportamentos muito preocupantes sobre a saúde mental destes profissionais:
- 33% se sentiam menos dispostos a ouvir e responder atentamente seus pacientes
- 29% apresentavam aspecto menos amigável no atendimento
- 20% ficavam irritados com mais facilidade com os pacientes
- 11% cometeram erros simples que poderiam ter sido evitados
- 4% cometeram erros graves que poderiam ter impactado gravemente os pacientes
Afinal, o que é a Síndrome de Burnout e como ela se manifesta e impacta a saúde mental dos médicos no país?
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O que é a Síndrome de Burnout?
Na literatura médica a Síndrome de Burnout é classificada como um fenômeno psicológico decorrente de forte tensão emocional crônica associada ao estresse ocupacional severo. O termo foi cunhado inicialmente por pesquisadores na década de 1970.
Desde então, a Síndrome de Burnout é considerada uma patologia psicológica clínica, reconhecida pela Classificação Internacional de Doenças em sua Décima Edição, sob o código Z73. Qualquer profissional está suscetível a desenvolver a Síndrome de Burnout, mas as áreas que demandam maior envolvimento pessoal, com profissionais expostos à pressão e a cargas de trabalho intensos são consideradas de maior risco, como é o caso da Medicina.
Quais são os principais sintomas da Síndrome de Burnout?
As três principais características da Síndrome de Burnout são:
- Exaustão emocional: relacionada ao excesso de carga de trabalho, à tensão e à sensação de incapacidade nas atividades diárias. Em alguns médicos a exaustão emocional pode levar a comportamentos de falta de empatia e de demonstrar compaixão. Em alguns casos, há o surgimento de dor inespecífica, dificuldade de enxergar sentido na profissão, apatia e diminuição da capacidade de atenção.
- Despersonalização ou cinismo: comportamento de indiferença, falta de empatia, de distanciamento do trabalho e da boa relação com o paciente, reduzindo as pessoas em tratamento a objetos.
- Diminuição da realização pessoal: sensação de incompetência, de ineficiência, de falta de sentido na atividade, de perda do controle sobre as situações comuns no trabalho, perda da satisfação com a profissão ou a sensação de ser incapaz para realizar o trabalho.
- Redução da eficiência no trabalho: o resultado dos principais sintomas da Síndrome de Burnout é a queda de performance no trabalho. Atividades que antes eram executadas com facilidade passam a se tornar difíceis e custosas para o médico. Há também aumento na frequência de faltas, reclamações constantes, clima ruim de trabalho entre a equipe e o médico.
Síndrome de Burnout e depressão
Como já mencionado, a Síndrome de Burnout é um fenômeno decorrente exclusivamente da exposição ao trabalho e não deve ser confundida com estresse ou mesmo com a depressão. Por isso é importante consultar um profissional de saúde mental e diagnosticar de forma adequada o problema.
Por que a Síndrome de Burnout entre médicos pode ser algo grave? Médicos no limite da saúde mental por conta do trabalho excessivo, pressão e estresse colocam em risco não apenas a própria saúde, mas de outras pessoas, além da confiança da população no atendimento em saúde das instituições a que eles estão vinculados.
Diagnóstico da Síndrome de Burnout
O diagnóstico de Burnout deve ser feito por profissionais especializados, como psicólogos e psiquiatras. Uma das principais ferramentas para identificar a Síndrome de Burnout é uma escala conhecida como Maslach ou MBI-GS.
Nela, o paciente responde a 22 afirmação fechadas relacionadas à frequência com vivência determinadas situações em seu ambiente de trabalho:
- Sinto-me emocionalmente esgotado (a) com o meu trabalho.
- Sinto-me esgotado no final de um dia de trabalho.
- Sinto-me cansado quando me levanto pela manhã e preciso encarar outro dia de trabalho.
- Posso entender com facilidade o que sentem as pessoas.
- Creio que trato algumas pessoas como se fossem objetos.
- Trabalhar com pessoas o dia todo me exige um grande esforço.
- Lido eficazmente com o problema das pessoas.
- Meu trabalho deixa-me exausto
- Sinto que através do meu trabalho influencio positivamente na vida dos outros.
- Tenho me tornado mais insensível com as pessoas.
- Preocupa-me o fato de que este trabalho esteja me endurecendo emocionalmente.
- Sinto-me com muita vitalidade.
- Sinto-me frustrado com meu trabalho.
- Creio que estou trabalhando em demasia.
- Não me preocupo realmente com o que ocorre às pessoas a que atendo.
- Trabalhar diretamente com as pessoas causa-me estresse.
- Posso criar facilmente uma atmosfera relaxada para as pessoas.
- Sinto-me estimulado depois de trabalhar em contato com as pessoas.
- Tenho conseguido muitas realizações em minha profissão.
- Sinto-me no limite de minhas possibilidades.
- Sinto que sei tratar de forma adequada os problemas emocionais no meu trabalho.
- Sinto que as pessoas culpam-me de algum modo pelos seus problemas.
Há ainda outros métodos disponíveis como questionários de qualidade de vida, como o SF-36.
Tratamento para Síndrome de Burnout
O tratamento da Síndrome de Burnout envolve tanto abordagens medicamentosas quanto intervenções psicoterapêuticas que podem auxiliar o profissional a reavaliar a rotina de trabalho e também realizar mudanças mais profundas na vida pessoal que impactam sua saúde mental.
Estratégias de prevenção e atenuação do Burnout também auxiliam no tratamento:
- Atividade física regular
- Boa alimentação
- Descanso entre turnos
- Atividades de lazer nos momentos fora do trabalho
- Exercícios de relaxamento também são recomendados para ajudar a controlar os sintomas.
Síndrome de burnout e ambiente de trabalho
É importante também que gestores de instituições de saúde pública e privada estejam atentos ao clima do ambiente de trabalho em que os médicos estão inseridos, bem como em relação ao excesso de trabalho e níveis de estresse dos profissionais. Dessa forma é possível lançar mão de estratégias internas que reduzam a fadiga dos médicos e melhorem sua qualidade de vida no trabalho.
Você já viveu alguma experiência relacionada à Sìndrome de Burnout ou presenciou colegas que sofreram com ela?





