Sinais de alerta para transtornos do neurodesenvolvimento

Autor(a)
Dra. Alessandra Freitas Russo

Neurologista da Infância e Adolescência, Mestre e doutora (USP), Docente da Afya Educação Médica, Pós-graduação em Psiquiatria, Pós-graduação em análise do comportamento e Especialista em Epilepsia.

Antes de falarmos sobre os sinais de alerta para os transtornos do neurodesenvolvimento, vamos primeiro entender o que é neurodesenvolvimento.

Neurodesenvolvimento ou desenvolvimento neuropsicomotor (DNPM) é o desenvolvimento do sistema nervoso e inclui todos os seus aspectos, entre eles, a motricidade, as competências sensoriais, a comunicação e a linguagem, o comportamento, a cognição e as emoções.  

Embora didaticamente se separem as diversas esferas do neurodesenvolvimento, esse é um processo contínuo e interligado, que depende tanto da base genética quanto do ambiente que aquele bebê está inserido.

O neurodesenvolvimento é um processo longo que se inicia ainda no período gestacional e vai até o final da adolescência, entretanto, sua maior velocidade acontece nos primeiros anos de vida.

Do ponto de vista estrutural, o DNPM se faz através de criação de novas sinapses e mielinização, ou seja, deposição de mielina ao redor dos axônios, ou seja, é um processo bastante complexo e dependente de vários fatores.

Conforme mencionado, vários fatores podem interferir no DNPM nos primeiros anos de vida, levando a risco de atrasos. Nutrição materna, infecção materna e uso de álcool e drogas durante a gestação são alguns dos fatores que podem levar a prejuízos no desenvolvimento da criança.

Fatores perinatais como prematuridade, asfixia perinatal, ou outras intercorrências neonatais graves também são considerados fatores de risco para transtornos do neurodesenvolvimento. Portanto, uma história prévia de alguns destes fatores acima mencionados são considerados sinais de alerta para atraso no DNPM.

Outros fatores ambientais que interferem no neurodesenvolvimento são a qualidade do sono e aspectos nutricionais e as diversas experiências vivenciadas pelo bebê/criança.  

Embora cada criança apresente sua curva própria de desenvolvimento, existem idades esperadas para aquisição de habilidades, chamados marcos do DNPM. Esses devem ser seguidos pelo pediatra durante os primeiros anos de vida e frente a qualquer sinal de atraso essa criança deve ser investigada e encaminhada para terapia especializada.

O atraso no DNPM se refere a uma defasagem entre a idade cronológica da criança e a idade correspondente às aquisições adquiridas., ou seja, a criança não alcança a habilidade esperada para a idade. Neste contexto, conhecer os marcos do DNPM é fundamental para a detecção precoce dos atrasos, que são os principais sinais de alerta para os transtornos do neurodesenvolvimento.  

O Centers of Disease Control and Prevention (CDC) na forma de um programa para identificação precoce de atraso do Neurodesenvolvimento conhecido como Act Early elaborou um material que é distribuído gratuitamente a partir de uma parceria com a Sociedade Brasileira de Neurologia Infantil (SBNI), onde através do programa “Aprenda os sinais, aja cedo”, indica os principais marcos do neurodesenvolvimento de acordo com a idade e o que fazer em cada fase da vida.

A detecção precoce de sinais de transtornos do neurodesenvolvimento, tais como, atrasos na fala e na aquisição da linguagem, dificuldades sociais especialmente em relação aos pares de idade, dificuldades comportamentais ou sensoriais, são fundamentais para a adequada abordagem e estimulação dos casos suspeitos e melhor desfecho funcional.

Entendendo os níveis de suporte no Transtorno do Espectro Autista

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um transtorno do neurodesenvolvimento, cujo diagnóstico é clínico e baseado em critérios definidos para reconhecimento de sintomas e prejuízos.

As características essenciais para o diagnóstico do TEA são os prejuízos persistentes na comunicação recíproca e interação social (critério A) e os padrões repetitivos de comportamento, interesses ou atividades (critério B). Esses critérios são estabelecidos pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais da American Psychiatric Association (DSM - 5).

A partir do DSM-5 (2013), o TEA passou a ser classificado quando à sua gravidade em diferentes níveis de suporte - níveis 1, 2 e 3. Essa classificação leva em consideração o nível de apoio que o paciente necessita quando comparado aos seus pares de idade, sendo que o nível 1 é aquele que exige apoio, o nível 2 exige apoio substancial e o nível 3 exige apoio muito substancial.

É importante salientar que esses especificadores de gravidade são usados para descrever a sintomatologia atual e podem se modificar com o tempo, o contexto e como resposta a intervenção implementada.  

Cabe ainda, observar que o nível de suporte deve ser especificado tanto para o critério A quanto para o critério B.  

O quadro abaixo explica os níveis de suporte de acordo com o DSM-5-TR (2023):

O DSM-5-TR traz ainda exemplos para os níveis de gravidade, como no nível 3 critério A, “por exemplo uma pessoa com fala inteligível que raramente inicia interação social.”

Instrumentos padronizados de diagnóstico do comportamento, incluindo entrevistas com cuidadores, questionários e medidas de observação clínica, estão disponíveis e podem aumentar a confiabilidade do diagnóstico ao longo do tempo e auxiliar na classificação de gravidade.

Finalmente, todo esse esforço para um diagnóstico e classificação mais acurados servem para embasar o tratamento mais específico e individualizado para que esses indivíduos tenham uma vida o mais independente e funcional possível.  

Referências:  

Os médicos que leram esse post, também leram:

Todos os Posts