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5.8.2024
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Equipe Afya Educação Médica
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O albinismo é uma condição que afeta a produção de melanina, o principal pigmento responsável pela coloração da pele, cabelo e olhos. A melanina é sintetizada a partir do aminoácido tirosina por meio de uma série de reações enzimáticas, envolvendo principalmente a tirosinase.
No entanto, no albinismo, ocorre uma deficiência ou ausência dessas enzimas, resultando na incapacidade de produzir melanina de forma eficaz. Essa falta de pigmentação leva a pessoa albina a uma aparência física característica, com pele muito clara, cabelo loiro ou branco e olhos geralmente claros.
Contudo, o distúrbio não é apenas uma questão estética, pois afeta também a saúde. Estima-se que uma em cada 17 mil pessoas em todo o mundo nasça com alguma forma de albinismo, que pode ocorrer em qualquer raça, etnia e sexo.
Que tal ler mais sobre o tema para aprimorar sua prática médica no cuidado da pessoa albina? Continue a leitura deste guia que preparamos sobre o assunto!
O albinismo é uma condição genética causada por mutações em genes que desempenham um papel fundamental na síntese e na regulação da melanina. Ele pode ser transmitido de forma hereditária, de pais para filhos, mas também pode ocorrer devido a mutações espontâneas durante o desenvolvimento embrionário.
Segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), atualmente existem 7 genes conhecidos envolvidos no albinismo:
O albinismo apresenta uma diversidade de manifestações clínicas que podem variar em cada indivíduo. Como as mutações determinam a quantidade de melanina produzida — podendo oscilar desde uma completa ausência até uma produção parcial do pigmento — a coloração da pele pode apresentar uma ampla gama de tons, desde o branco pálido até nuances levemente amarronzadas.
Os cabelos também exibem uma variedade de cores, que vão desde o branco total até tons amarelados, avermelhados ou acastanhados. Quanto aos olhos, apresentam desde uma pigmentação avermelhada, devido à ausência completa de pigmento, até tons de azul ou acastanhados.
Essa diversidade de manifestações clínicas reflete a complexidade genética do albinismo e sua variabilidade fenotípica entre os indivíduos afetados. Portanto, é essencial que os médicos estejam cientes desses desafios e possam oferecer o suporte necessário aos pacientes albinos.
Sim, o albinismo é uma condição heterogênea, apresentando diversos tipos, cada um com características clínicas distintas. Conheça os tipos mais conhecidos.
O albinismo oculocutâneo (AOC) envolve um grupo de doenças hereditárias raras caracterizadas por uma produção diminuída ou ausente de melanina, mesmo com a presença de um número normal de melanócitos. Essa condição pode afetar pessoas de todas as etnias, em todo o mundo. Geralmente, apresenta manifestações cutâneas e oculares.
É causado pela ausência ou redução da atividade da enzima tirosinase, fundamental na síntese da melanina. Existem duas formas de AOC1: AOC1A, em que ocorre completa ausência de tirosinase, e AOC1B, caracterizada por uma redução na atividade dessa enzima.
É o tipo mais comum de albinismo oculocutâneo, sendo causado por mutações no gene P, também conhecido como gene "olho rosa". Embora a função exata dessa proteína ainda não seja completamente compreendida, acredita-se que ela esteja envolvida na regulação do pH intracelular e no transporte de glutationa vacuolar. Indivíduos com AOC2 geralmente apresentam atividade normal da tirosinase.
Esse tipo é exclusivo de pessoas com pele negra (Fitzpatrick tipos III a V), sendo causado por mutações no gene da proteína 1 relacionada com a tirosinase (tyrosinase-related protein 1). Essa proteína desempenha um papel importante na síntese da eumelanina, um dos tipos de melanina predominantes na pele, cabelos e olhos.
Essa forma extremamente rara de albinismo é causada por mutações no gene SLC45A2, que codifica uma proteína transportadora de membrana essencial para o funcionamento da tirosinase e o transporte de proteínas para os melanossomos. Curiosamente, essa é a forma mais comum de albinismo oculocutâneo em pessoas do Leste Asiático.
Essa é uma forma rara de albinismo causada por mutações em genes localizados no cromossomo X. Ela afeta principalmente os homens, já que eles têm apenas um cromossomo X, enquanto as mulheres têm dois, o que pode compensar a mutação em um dos genes.
Caracterizada por achados semelhantes ao albinismo oculocutâneo com anormalidades plaquetárias e doença de depósito da lipofuscina-ceroide lisossômica, pode levar à fibrose pulmonar e à colite granulomatosa.
Essa síndrome envolve resultados cutâneos e oculares semelhantes ao albinismo oculocutâneo, com cabelos cinza-prateados e diátese hemorrágica devido à diminuição dos grânulos densos das plaquetas. Os pacientes apresentam imunossupressão grave e degeneração neurológica progressiva.
Pessoas com albinismo enfrentam uma série de riscos e complicações devido à falta de melanina. Esses riscos podem ser categorizados principalmente em problemas de pele e problemas oculares, como:
É importante ressaltar que, atualmente, não há cura para o albinismo. Também não há nenhum tratamento específico capaz de restaurar a produção normal de melanina. A condição é crônica e requer cuidados ao longo da vida.
O acompanhamento médico regular com especialistas, como dermatologistas e oftalmologistas, é fundamental para monitorar e gerenciar as manifestações do distúrbio. Os dermatologistas podem oferecer orientações sobre cuidados com a pele e recomendações específicas para proteger a pele extremamente sensível dos pacientes albinos contra os danos causados pela exposição ao sol.
Já os oftalmologistas desempenham um papel crucial no monitoramento da saúde ocular da pessoa albina, uma vez que a falta de pigmentação na retina e no nervo óptico pode levar a uma série de problemas visuais, como visto anteriormente.
Desse modo, o principal "tratamento" disponível para os pacientes com albinismo é a prevenção, por meio de medidas que ajudam a minimizar os riscos de queimaduras solares e danos à pele, além de reduzirem o potencial de complicações oculares decorrentes da exposição solar excessiva.
É preciso utilizar estratégias de proteção solar adequadas e medidas de cuidados específicos para manter a saúde e a integridade da pele da pessoa albina. Conheça algumas práticas fundamentais para cuidar da pele com albinismo e mitigar os riscos associados à exposição solar.
Para minimizar os riscos de queimaduras solares e danos à pele durante a exposição ao sol, é indispensável usar protetor solar com um FPS alto, de preferência 30 ou mais, antes de qualquer exposição.
O protetor solar deve ser aplicado generosamente em todas as regiões expostas da pele, incluindo rosto, orelhas, pescoço, mãos e quaisquer outras partes descobertas. Além disso, o produto deve ser reaplicado a cada 2 horas ou com mais frequência, se a pessoa estiver suando excessivamente ou nadando, pois a água e o suor podem remover o protetor solar, reduzindo sua eficácia.
É aconselhável permanecer em lugares com sombra durante os períodos de maior incidência solar, o que acontece normalmente entre 10h e 16h, quando os raios UV são mais fortes e podem causar queimaduras graves em um curto espaço de tempo. Além de buscar sombra, o uso de roupas protetoras, chapéus de abas largas e óculos de sol com proteção UV complementa as medidas de proteção contra os efeitos nocivos do sol.
Manter a pele bem hidratada pode ajudar a reduzir a irritação e a descamação causadas pelo ressecamento, mais frequente em pessoas albinas. Além disso, uma pele bem hidratada é mais resistente a danos e menos suscetível a infecções. Nesse sentido, recomenda-se o uso de cremes e loções hidratantes várias vezes ao dia, especialmente após o banho.
O albinismo não afeta apenas a saúde física dos indivíduos, mas também tem profundas implicações sociais e emocionais. Pessoas albinas frequentemente enfrentam desafios significativos que podem impactar sua qualidade de vida e bem-estar psicológico.
Indivíduos albinos muitas vezes enfrentam preconceitos e estigmatização devido à sua aparência diferente. Isso costuma resultar em isolamento social, bullying e discriminação tanto em ambientes educacionais quanto profissionais.
A constante exposição a comentários negativos e atitudes discriminatórias pode levar a problemas de autoestima e autoimagem. Com isso, os indivíduos albinos podem experimentar sentimentos de insegurança ou inadequação devido à sua aparência.
A necessidade de adaptações especiais em ambientes escolares e de trabalho pode ser um desafio para pessoas com albinismo. A falta de recursos adequados — como materiais de leitura ampliados e tecnologia assistiva para questões visuais — e a incompreensão por parte de colegas e superiores podem dificultar a adaptação e o sucesso desses indivíduos.
Além disso, preservar a pele contra os danos causados pelo sol é fundamental, tornando importante o acesso a roupas de proteção, áreas de sombra e protetores solares. Esses desafios podem comprometer o desempenho acadêmico e profissional; daí a importância de medidas de apoio e sensibilização nos ambientes educacionais e de trabalho.
O estresse contínuo de lidar com os problemas de visão, os cuidados constantes com a pele e a necessidade de proteção contra o sol podem colaborar com a ansiedade, a depressão e outros problemas de saúde mental.
Os médicos, especialmente aqueles que trabalham como generalistas, têm um papel fundamental na mitigação dos impactos sociais e emocionais do albinismo na vida dos afetados. Veja como você pode auxiliar nessa questão.
Recomendar serviços de apoio psicológico ou terapia é fundamental para ajudar os pacientes a lidar com os desafios emocionais e psicológicos do albinismo. Desse modo, encaminhe-os para psicólogos ou psiquiatras, quando necessário, e proporcione o suporte adicional de que eles precisam.
Educar os pacientes e suas famílias sobre o albinismo ajuda a desmistificar a condição e a reduzir o estigma envolvido. Nesse contexto, procure fornecer informações claras e precisas sobre a condição, suas causas, sintomas e manejo. Isso contribui para o empoderamento dos pacientes e suas famílias.
Os médicos também podem colaborar com escolas e empregadores para garantir que os pacientes com albinismo recebam as adaptações necessárias. Isso pode incluir a criação de ambientes de aprendizagem e de trabalho inclusivos e acessíveis, além do fornecimento de cartas de recomendação ou relatórios médicos que expliquem as necessidades específicas do paciente.
É essencial que os médicos monitorem eventuais alterações na pele e nos olhos dos pacientes com albinismo, evitando que elas evoluam para problemas maiores, como tumores.
Além dos cuidados físicos, o acompanhamento regular deve incluir discussões sobre o bem-estar emocional e social do paciente. Esteja atento a sinais de estresse, depressão ou ansiedade para intervir precocemente e fornecer o suporte necessário.
Esperamos ter contribuído com o seu conhecimento para dar suporte à saúde da pessoa albina
O albinismo é uma condição genética complexa que afeta a produção de melanina e pode ter várias implicações na saúde e no bem-estar dos indivíduos afetados. Embora não haja cura para o distúrbio, o acompanhamento médico contribui para o gerenciamento dos sintomas e melhora a qualidade de vida dos afetados.
É importante que os profissionais de saúde estejam cientes dessa condição para oferecer orientação e cuidados adequados à pessoa albina.
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