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29.10.2021
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Equipe Afya Educação Médica
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Recentemente, foi realizada uma pesquisa com profissionais da área médica que são membros da Medscape sobre a remuneração e satisfação dos médicos brasileiros em 2020. Neste blog, a equipe IPEMED traz para você um estudo que busca ampliar a visão dessa realidade. Confira a seguir e boa leitura!
No primeiro ano de pandemia, os profissionais que atuaram na linha de frente sentiram os desafios, sofrimentos e, como não haveria de ser, muito trabalho diante da desigualdade social e da crise sanitária que assola o país, mas atingiu também quem não participou ativamente, já que foram acometidos pelo impacto da crise, com reduções na jornada de trabalho, congelamento de salários, entre outros. Em face disso, é importante compreender como está o nível de remuneração e satisfação desses profissionais.
O estudo reuniu 1.342 médicos, membros da Medscape – no período de novembro de 2020 a fevereiro deste ano – que pode servir de panorama para compreendermos o percentual de remuneração e satisfação da área médica. A pesquisa foi realizada por e-mail com profissionais de diversas áreas de especialidades de todo o país.
Os participantes responderam de acordo com a “Média de Horas de Trabalho por Semana ANTES vs. DURANTE a Pandemia” com aumento de cinco horas na média de horas trabalhadas por semana após o início da pandemia, cuja média subiu de 37 horas por semana em 2019 para 40,1 em 2020. Já, o tempo gasto com outras atividades durante o horário de trabalho também aumentou de 16 horas por semana em 2019 para 21,3 em 2020.
61% dos profissionais disseram que não realizam consultas via telemedicina, dentre estas parcelas de profissionais, 54% afirmaram que não têm planos de ofertar esta modalidade de atendimento. 39% informaram prestar esse tipo de atendimento.
Ao contrário do indicado pelos médicos portugueses que responderam ao mesmo questionário, a média da renda anual dos participantes brasileiros aumentou 16 mil reais em 2020. É importante ressaltar que não foi decretado isolamento mandatório restrito no Brasil, cuja média total de horas trabalhadas por semana em relação a 2019 aumentou de 48% para 55%. No geral, 63% dos participantes informaram que, em relação a 2019, seus rendimentos aumentaram ou permaneceram iguais em 2020. Entre os 37% que apontaram diminuição na renda, 86% atribuíram a queda à pandemia.
51% dos médicos generalistas e 43% dos especialistas informaram não receber nenhum benefício. O alto percentual de médicos nesta categoria (44% dos respondentes) pode ser explicado, em parte, pelo número de participantes que disse atuar como profissional liberal (prestando atendimento médico em consultório particular ou em clínicas ou hospitais). Entre os médicos que indicaram receber benefícios trabalhistas, afastamento remunerado, plano de aposentadoria e seguro saúde foram as opções mais assinaladas.
Por conta da pandemia, em 2020, muitos médicos tiveram suas jornadas de trabalho reduzidas (22%), e seus salários congelados (18%). Após alguns meses, a jornada de 52% dos participantes que responderam ter sido afetados foi reestabelecida e 25% voltaram a ganhar os mesmo de antes da pandemia. Por outro lado, 41% dos especialistas que fazem consultório ou atendem em clínicas particulares disseram que houve uma redução sustentada na quantidade de pacientes atendidos por semana, o que certamente impactou a remuneração desses profissionais. A maioria dos médicos que sofreram este impacto compartilhou um sentimento de otimismo: 49% acreditam que dentro de um ano já terão recuperado o nível de renda pré-covid 19.
Em uma das perguntas, os participantes foram solicitados a fazer uma estimativa rápida de seu patrimônio líquido atual. A média total foi de 488 mil reais. Nos recortes por sexo, atuação e faixa etária, a média dos valores informados mostrou diferenças consideráveis entre o patrimônio estimado dos médicos especialistas, homens e Baby Boomers (de 55 a 73 anos) em comparação com médicos generalistas, mulheres e Millennials/Geração X, respectivamente.
Quase 7 em cada 10 médicos que responderam à pesquisa têm uma meta do quanto gostaria de ter guardado quando chegar a uma certa idade. Quando o assunto é se preparar para o futuro, aliás, a maior parte parece estar no caminho certo: 53% disseram gastar menos do que ganham e 55% aplicam mais de dois mil reais mensalmente em um fundo de pensão ou fazem algum outro tipo de investimento.
Quando perguntados se haviam tido alguma perda financeira significativa em 2020, 63% dos participantes afirmaram que não. Entre os que perderam dinheiro, 13% o fizeram em maus investimentos ou no mercado de ações, e o mesmo percentual atribuiu a perda questões profissionais como problemas nos negócios, mudanças na política de reembolso, ou mudança no consultório, por exemplo.
Ao perguntar sobre o grau de satisfação com o próprio desempenho no trabalho, 8 em cada 10 respondentes afirmaram estar satisfeitos ou muito satisfeitos, o que pode ter influenciado as respostas à pergunta sobre quanto a mais deveriam ganhar por ano: 60% afirmaram que deveriam ganhar 11% a 50% a mais do ganham atualmente.
“Ganhar bem fazendo o que gosto” foi a opção mais escolhida (27%) na questão sobre os aspectos mais gratificantes da medicina. No recorte por faixa etária, “gratidão por parte dos pacientes” e “consciência de estar ajudando o próximo” foram as opções mais apontadas entre os participantes de 55 a 73 anos de idade (Baby Boomers).
O excesso de trabalho liderou o ranking dos aspectos mais difíceis da profissão. Em seguida, os itens apontados foram “dificuldade de obter um reembolso justo ou de negociar com as seguradoras e os planos de saúde” e “lidar com pacientes difíceis”. O “excesso de regras e regulamentos”, e “o medo de ser processado” também foram opções bastante indicadas como aspectos negativos da medicina como carreira.
Apesar dos desafios trazidos pela pandemia de covid-19, quase 8 em cada 10 respondentes disseram que não mudariam de profissão se pudessem voltar no tempo. Também foram maioria os que optariam pela mesma especialidade, bem como os que recomendariam a profissão aos próprios filhos. Entre os que afirmaram que não escolheriam novamente a medicina como profissão, os profissionais que atuam em hospital predominaram no recorte por local de trabalho (24%) e os Millennials (25 a 39 anos) lideraram no recorte por faixa etária (26%). Na sua opinião, como você lida com esta realidade?
Esta pesquisa pode ser acessada no artigo da Medscape com base no estudo comentado acima.