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18.4.2018
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A obesidade é um problema de saúde e não só de estética. Além de pressões sociais sobre a imagem corporal, quem sofre desse mal tende a lidar com doenças crônicas causadas pelo sobrepeso. Sendo assim, há a necessidade de tratamento multidisciplinar envolvendo profissionais como psicólogo, nutricionista e endocrinologista. Segundo relatório baseado em dados da OMS, mais da metade dos brasileiros estão acima do peso, enquanto 20% da população é de obesos. Esses dados são alarmantes porque mostram o caráter epidemiológico dessa doença.
Além disso, a obesidade e suas comorbidades associadas apresentam consideráveis implicações socioeconômicas, pois acarretam imensos gastos para os sistemas de saúde. Por se tratar de uma doença com causas múltiplas, é fundamental um tratamento em várias frentes. Neste artigo, vamos destacar o papel do endocrinologista nessa equipe e qual a sua importância e sua contribuição no tratamento dos pacientes com obesidade clínica.
Muito além da definição de obesidade, como acúmulo de tecido adiposo subcutâneo, é preciso ter em conta outros fatores na avaliação clínica para o seu diagnóstico. O surgimento das comorbidades está ligado à composição corporal, isto é, a porcentagem de gordura e sua distribuição que são fundamentais nessa avaliação. O parâmetro antropométrico mais usado é o IMC, que permite uma associação com a obesidade e outras doenças. Esse índice é baseado em estudos epidemiológicos e possui faixas de classificação que podem variar entre os gêneros e a idade.
Com base em um consenso estipulado pela OMS, são considerados pacientes com sobrepeso aqueles que apresentam IMC entre 25 kg/m² e 29,9 kg/m² e obesos aqueles cujo IMC é maior ou igual a 30 kg/m².No entanto, essa medição apresenta dois pontos fracos: o IMC não permite ao médico estimar a composição corporal e a distribuição de gordura. Além disso, a relação da gordura corporal com o IMC pode diferir entre os grupos étnicos. Essas duas características limitam a sua efetividade no diagnóstico da obesidade em diferentes populações. Já a bioimpedância é um indicador que mensura a composição corporal, avaliando as porcentagens de gordura e massa muscular do indivíduo.
Pode complementar o IMC, porém ainda não permite saber a distribuição desse tecido adiposo no paciente. Mais importantes nesse quesito são as dobras cutâneas e as medidas como circunferência abdominal e a relação cintura/quadril. Essas medidas tornaram-se parâmetros interessantes para predizer o risco de doenças crônicas (diabetes e cardiovasculares), além de alterações metabólicas. Devido à sua confiabilidade, esses parâmetros são amplamente utilizados. No entanto, há outros métodos de maior precisão, mais dispendiosos e menos disponíveis, como a tomografia computadorizada, a absorção de raios-X de dupla energia (DEXA) e a pesagem hidrostática. Por conta do seu alto custo, são reservados a casos clínicos específicos ou à população mais favorecida.
Como mencionado anteriormente, um dos principais motivos para a busca do tratamento da obesidade são as comorbidades. O próprio excesso de peso é um fator de mortalidade. Contudo, ela também acarreta uma série de outras doenças crônicas cujas complicações podem também levar à morte. Dessas patologias associadas ao excesso de peso, algumas das mais importantes são o diabetes, as doenças coronarianas, a hipertensão arterial e a hiperlipidemia.
Esse conjunto compõe o núcleo da chamada Síndrome Metabólica, um mal cada vez mais comum em nossa sociedade. Outras enfermidades relacionadas à obesidade são depressão, infertilidade, artrite degenerativa, apneia do sono e mais 13 doenças apontadas pelo Conselho Federal de Medicina que justificariam o tratamento cirúrgico. Em termos populacionais, tais doenças diminuem a expectativa de vida da população e comprometem a qualidade das atividades do dia a dia dos pacientes. Além disso, há o fator econômico relativo aos gastos elevadíssimos dos sistemas de saúde com o tratamento dessas morbidades e suas complicações (como AVC e IAM), pois esses pacientes eventualmente podem receber rendimentos menores em função da sua capacidade de produção comprometida.
Por se tratar de uma doença com origens multifatoriais, a obesidade requer tratamento que contemple todas essas causas. Fatores ambientais, comportamentais e genéticos são elencadas como prováveis causas. Além disso, é importante considerar que a real importância da genética no desenvolvimento da obesidade ainda não foi totalmente esclarecida.
Assim, uma avaliação criteriosa de uma equipe multidisciplinar pode determinar qual a melhor estratégia a ser adotada. Isso envolve o levantamento de parâmetros bioquímicos, doenças atuais, intolerâncias e transtornos alimentares, medicações em uso, trânsito intestinal, nível de atividade física e tentativas anteriores de emagrecimento.
Em geral, a abordagem clínica é a primeira a ser realizada. Assim, a equipe multidisciplinar acompanha esse paciente orientando-o na mudança ou na adoção de novos hábitos. São prescritos redução na ingestão de calorias, reeducação alimentar, rotina de exercícios físicos e acompanhamento psicológico. O IMC acima de 30 kg/m² ou a existência de comorbidades e IMC acima de 25 kg/m² são pontos de corte para a indicação de medicamentos. Atualmente, alguns desses medicamentos estão restritos pela ANVISA.
O tratamento é considerado bem-sucedido quando o paciente consegue uma perda de peso (e sua manutenção) que gere efeitos benéficos significativos no controle das comorbidades. Essa faixa costuma ser de 5% a 10% de perda de peso total, mas varia, logicamente, com o nível de obesidade do indivíduo. As muitas comorbidades ou a obesidade mórbida demandam uma resposta diferente. Nesses casos, a abordagem cirúrgica é a mais indicada. Principalmente, para aqueles pacientes que, após dois anos de tratamento clínico, não obtiveram sucesso ou têm alto comprometimento de saúde, como indicado pelo CFM.
Entre os vários profissionais da equipe multidisciplinar, um dos mais importantes (senão o principal) é o endocrinologista. Esse profissional trata de quadros que se originam de disfunções hormonais, podendo assistir a pacientes diferenciados, desde obesos até esportistas, de diversas maneiras.
Destacam-se entre essas alterações hormonais:
No tratamento da obesidade, o papel do endocrinologista é crucial. Entre muitas coisas, é ele quem avaliará se o ganho de peso é potencialmente prejudicial à saúde e qual a possível causa desse aumento. Por meio do estudo dos parâmetros antropométricos e outros exames, esse profissional pode predizer a possibilidade do aparecimento das comorbidades — ou dizer qual o prognóstico das já presentes nesse paciente.
Sua expertise o torna responsável por alertar o paciente sobre a necessidade de adesão ao programa de tratamento. Ao longo desse período, o endocrinologista acompanhará os resultados obtidos ponderando pelo uso ou não de medicamentos. Baseado no quadro de saúde completo do indivíduo, o médico pode argumentar com real embasamento quanto à importância do papel do paciente no seu próprio tratamento. Caberá também a esse profissional a eventual indicação de cirurgia como estratégia de tratamento da obesidade naquele paciente.
Em resumo, a obesidade clínica é uma questão de saúde pública com proporções epidêmicas e consequências socioeconômicas, que precisa ser urgentemente controlada. O endocrinologista é o profissional chave nesse controle e há uma demanda crescente por esse médico no mercado. Se você se interessou pelo trabalho que o endocrinologista pode desenvolver no atendimento a pacientes com obesidade, considere aprimorar seus conhecimentos nessa área. Baixe nosso e-book e conheça mais sobre o caminho profissional da Pós-Graduação Lato Sensu!