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Qual o papel do endocrinologista no tratamento da obesidade clínica?

Qual o papel do endocrinologista no tratamento da obesidade clínica?

A obesidade é um problema de saúde e não só de estética. Além de pressões sociais sobre a imagem corporal, quem sofre desse mal tende a lidar com doenças crônicas causadas pelo sobrepeso. Sendo assim, há a necessidade de tratamento multidisciplinar envolvendo profissionais como psicólogo, nutricionista e endocrinologista. Segundo relatório baseado em dados da OMS, mais da metade dos brasileiros estão acima do peso, enquanto 20% da população é de obesos. Esses dados são alarmantes porque mostram o caráter epidemiológico dessa doença.

Além disso, a obesidade e suas comorbidades associadas apresentam consideráveis implicações socioeconômicas, pois acarretam imensos gastos para os sistemas de saúde. Por se tratar de uma doença com causas múltiplas, é fundamental um tratamento em várias frentes. Neste artigo, vamos destacar o papel do endocrinologista nessa equipe e qual a sua importância e sua contribuição no tratamento dos pacientes com obesidade clínica.

A Obesidade

Muito além da definição de obesidade, como acúmulo de tecido adiposo subcutâneo, é preciso ter em conta outros fatores na avaliação clínica para o seu diagnóstico. O surgimento das comorbidades está ligado à composição corporal, isto é, a porcentagem de gordura e sua distribuição que são fundamentais nessa avaliação. O parâmetro antropométrico mais usado é o IMC, que permite uma associação com a obesidade e outras doenças. Esse índice é baseado em estudos epidemiológicos e possui faixas de classificação que podem variar entre os gêneros e a idade.

Com base em um consenso estipulado pela OMS, são considerados pacientes com sobrepeso aqueles que apresentam IMC entre 25 kg/m² e 29,9 kg/m² e obesos aqueles cujo IMC é maior ou igual a 30 kg/m².No entanto, essa medição apresenta dois pontos fracos: o IMC não permite ao médico estimar a composição corporal e a distribuição de gordura. Além disso, a relação da gordura corporal com o IMC pode diferir entre os grupos étnicos. Essas duas características limitam a sua efetividade no diagnóstico da obesidade em diferentes populações. Já a bioimpedância é um indicador que mensura a composição corporal, avaliando as porcentagens de gordura e massa muscular do indivíduo.

Pode complementar o IMC, porém ainda não permite saber a distribuição desse tecido adiposo no paciente. Mais importantes nesse quesito são as dobras cutâneas e as medidas como circunferência abdominal e a relação cintura/quadril. Essas medidas tornaram-se parâmetros interessantes para predizer o risco de doenças crônicas (diabetes e cardiovasculares), além de alterações metabólicas. Devido à sua confiabilidade, esses parâmetros são amplamente utilizados. No entanto, há outros métodos de maior precisão, mais dispendiosos e menos disponíveis, como a tomografia computadorizada, a absorção de raios-X de dupla energia (DEXA) e a pesagem hidrostática. Por conta do seu alto custo, são reservados a casos clínicos específicos ou à população mais favorecida.

As comorbidades associadas à obesidade

Como mencionado anteriormente, um dos principais motivos para a busca do tratamento da obesidade são as comorbidades. O próprio excesso de peso é um fator de mortalidade. Contudo, ela também acarreta uma série de outras doenças crônicas cujas complicações podem também levar à morte. Dessas patologias associadas ao excesso de peso, algumas das mais importantes são o diabetes, as doenças coronarianas, a hipertensão arterial e a hiperlipidemia.

Esse conjunto compõe o núcleo da chamada Síndrome Metabólica, um mal cada vez mais comum em nossa sociedade. Outras enfermidades relacionadas à obesidade são depressão, infertilidade, artrite degenerativa, apneia do sono e mais 13 doenças apontadas pelo Conselho Federal de Medicina que justificariam o tratamento cirúrgico. Em termos populacionais, tais doenças diminuem a expectativa de vida da população e comprometem a qualidade das atividades do dia a dia dos pacientes. Além disso, há o fator econômico relativo aos gastos elevadíssimos dos sistemas de saúde com o tratamento dessas morbidades e suas complicações (como AVC e IAM), pois esses pacientes eventualmente podem receber rendimentos menores em função da sua capacidade de produção comprometida.

Os tratamentos da obesidade

Por se tratar de uma doença com origens multifatoriais, a obesidade requer tratamento que contemple todas essas causas. Fatores ambientais, comportamentais e genéticos são elencadas como prováveis causas. Além disso, é importante considerar que a real importância da genética no desenvolvimento da obesidade ainda não foi totalmente esclarecida.

Assim, uma avaliação criteriosa de uma equipe multidisciplinar pode determinar qual a melhor estratégia a ser adotada. Isso envolve o levantamento de parâmetros bioquímicos, doenças atuais, intolerâncias e transtornos alimentares, medicações em uso, trânsito intestinal, nível de atividade física e tentativas anteriores de emagrecimento.

Em geral, a abordagem clínica é a primeira a ser realizada. Assim, a equipe multidisciplinar acompanha esse paciente orientando-o na mudança ou na adoção de novos hábitos. São prescritos redução na ingestão de calorias, reeducação alimentar, rotina de exercícios físicos e acompanhamento psicológico. O IMC acima de 30 kg/m² ou a existência de comorbidades e IMC acima de 25 kg/m² são pontos de corte para a indicação de medicamentos. Atualmente, alguns desses medicamentos estão restritos pela ANVISA.

O tratamento é considerado bem-sucedido quando o paciente consegue uma perda de peso (e sua manutenção) que gere efeitos benéficos significativos no controle das comorbidades. Essa faixa costuma ser de 5% a 10% de perda de peso total, mas varia, logicamente, com o nível de obesidade do indivíduo. As muitas comorbidades ou a obesidade mórbida demandam uma resposta diferente. Nesses casos, a abordagem cirúrgica é a mais indicada. Principalmente, para aqueles pacientes que, após dois anos de tratamento clínico, não obtiveram sucesso ou têm alto comprometimento de saúde, como indicado pelo CFM.

O Endocrinologista e seu papel no tratamento da obesidade

Entre os vários profissionais da equipe multidisciplinar, um dos mais importantes (senão o principal) é o endocrinologista. Esse profissional trata de quadros que se originam de disfunções hormonais, podendo assistir a pacientes diferenciados, desde obesos até esportistas, de diversas maneiras.

Destacam-se entre essas alterações hormonais:

  • problemas com a tireoide;
  • distúrbios na puberdade;
  • menopausa ou andropausa;
  • problemas na síntese de GH (hormônio do crescimento);
  • doenças da hipófise;
  • ovário policístico, entre outros.

No tratamento da obesidade, o papel do endocrinologista é crucial. Entre muitas coisas, é ele quem avaliará se o ganho de peso é potencialmente prejudicial à saúde e qual a possível causa desse aumento. Por meio do estudo dos parâmetros antropométricos e outros exames, esse profissional pode predizer a possibilidade do aparecimento das comorbidades — ou dizer qual o prognóstico das já presentes nesse paciente.

Sua expertise o torna responsável por alertar o paciente sobre a necessidade de adesão ao programa de tratamento. Ao longo desse período, o endocrinologista acompanhará os resultados obtidos ponderando pelo uso ou não de medicamentos. Baseado no quadro de saúde completo do indivíduo, o médico pode argumentar com real embasamento quanto à importância do papel do paciente no seu próprio tratamento. Caberá também a esse profissional a eventual indicação de cirurgia como estratégia de tratamento da obesidade naquele paciente.

Em resumo, a obesidade clínica é uma questão de saúde pública com proporções epidêmicas e consequências socioeconômicas, que precisa ser urgentemente controlada. O endocrinologista é o profissional chave nesse controle e há uma demanda crescente por esse médico no mercado. Se você se interessou pelo trabalho que o endocrinologista pode desenvolver no atendimento a pacientes com obesidade, considere aprimorar seus conhecimentos nessa área. Baixe nosso e-book e conheça mais sobre o caminho profissional da Pós-Graduação Lato Sensu!