Setembro Amarelo: Prevenir é o melhor remédio

Autor(a)
Profa. Sandra Maria Melo Carvalhais

Mestra em Ciências da Saúde, pela Fiocruz. Especialista em Psicanálise e Psicoterapia Familiar pelo Núcleo de Psicoterapia e Terapia Familiar. Residência pela Casa de Saúde Santa Clara e HEAL/MG. Graduação em Medicina pela UFMG.

A campanha para a prevenção ao suicídio, Setembro Amarelo, representa uma poderosa ação para a sensibilização sobre este fenômeno reconhecido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como um dos mais importantes problemas de saúde pública em todo o mundo.

O tema interessa a todos que convivem direta ou indiretamente com este trágico desfecho e que pode afetar indivíduos de diversas faixas etárias (desde crianças até idosos) diferentes condições socioeconômicas, orientações sexuais identidades de gênero.

O suicídio é a consequência de um processo multifatorial, ou seja, pode ser determinado por diversos fatores, sejam eles biológicos (que podem ser genéticos) ou psicológicos culturais e socioambientais, que em uma complexa interação ao longo da história do sujeito, o predispõem ao comportamento suicida. Como um fenômeno processual, não pode ser considerado o resultado de uma ocorrência pontual na vida do sujeito, e indica que pode ser prevenido.

Como visto, este processo evolui por etapas e, quanto mais cedo forem reconhecidas, mais efetiva será a prevenção. Para a prevenção, a conscientização da extensão do problema e do como lidar com o problema é fundamental, não apenas para médicos e demais profissionais de saúde como também para todos que, eventualmente, possam entrar em contato com indivíduos que estejam potencialmente em risco.

O fato é que o comportamento suicida pode ser prevenido e evitado. Entretanto, este tema ainda é visto de forma preconceituosa, como um tabu, o que dificulta a sua abordagem.  

A prevenção de um evento relacionado com o fenômeno saúde/doença é a utilização de medidas que antecipem a ocorrência de um agravo à saúde. Para isso, é importante reconhecer os mitos e fatores de risco para o suicídio que podem favorecer a ativação de fatores precipitantes (gatilhos) para a ideação suicida (o suicídio é visto como uma saída para um sofrimento que, erroneamente, a pessoa considera intransponível), o planejamento, a tentativa e o suicídio consumado. Ou seja, é preciso reconhecer sinais de alerta, sinais indiretos de que a pessoa está em risco para suicídio.

O tabu associado com o suicídio coopera para a construção de uma série de mitos sociais que impactam de forma negativa a prevenção ao suicídio, negligenciada em muitas situações, mas que, na verdade, devem ser esclarecidos para que evitemos equívocos a respeito do tema:  

1. “As pessoas que falam sobre o suicídio não o farão, e conversar sobre o tema pode aumentar o risco”, quando na verdade, falar sobre a ideia de suicídio é uma forma de aliviar a angústia;  

2. “O suicídio é sempre impulsivo e acontece sem aviso”, o que é uma avaliação errônea, essa decisão pode ter sido considerada por algum tempo e muitos indivíduos suicidas comunicam algum tipo de mensagem verbal ou comportamental sobre as suas ideações;  

3. “Os indivíduos que tentam suicídio querem mesmo morrer ou estão decididos a matar-se”, mas não raramente observa-se uma ambivalência nessas pessoas, que não buscam a morte, mas um alívio para o sofrimento em que vivem;  

4. “O risco de suicídio está afastado quando uma pessoa sobrevive à tentativa ou tem uma melhora do humor”, mas é sabido que tentativa prévia é um fator de risco para nova tentativa;

5. “Os indivíduos que tentam ou cometem suicídio têm sempre alguma perturbação mental”, o que não é verdade. Embora a maior parte dos suicídios ocorra em pessoas portadoras de um transtorno mental, sobretudo a depressão, pessoas confrontadas com condições situacionais agudas podem cometer tentativas de suicídio. Estas situações incluem um rompimento recente de um relacionamento, uma grande decepção ou uma situação estressante.

Desconstruir estes mitos e considerar os fatores de risco representam importantes formas de prevenção ao suicídio. As taxas de suicídio são maiores entre pessoas com tentativas anteriores de suicídio, história de suicídio na família, doenças clínicas graves e doenças psiquiátricas (destacando se, em primeiro lugar, a depressão, seguida do transtorno bipolar e do abuso de substâncias). Cuidar da saúde mental da população e tratar as doenças já instaladas é uma das mais importantes medidas preventivas para o suicídio.  

Reconhecer sinais de alerta é o primeiro passo para a prevenção. Não existe um único sinal isolado que represente uma detecção segura de que uma pessoa tem tendência suicida, mas há alguns sinais que podem alertar pessoas próximas para avaliar se há um potencial risco, mostrando abertura para conversar sobre o tema, com acolhimento e sem críticas. Além disso, é fundamental o encaminhamento a um profissional habilitado a tratar aquele quadro.  

Deve-se observar se surgem ou há agravamento de problemas de conduta ou de manifestações verbais que não devem ser interpretadas como ameaças nem como chantagens emocionais, mas sim como avisos de alerta para um risco real; se o tema “morte” se torna mais frequente, mesmo quando fala que teme a própria morte; quando demonstra sentimentos de desesperança, culpa, baixa autoestima, visão negativa de sua vida e futuro; expressão de ideias ou de intenções suicidas muitas vezes expressas de modo metafórico comoVou deixar vocês em paz”, “Vou desaparecer”, “Queria dormir e não acordar mais”, expressões estas que devem ser ouvidas e discutidas com a pessoa sobre o seu significado; tendência ao isolamento, não querer contato mesmo por telefone, evitar compromissos sociais. Para prevenir o suicídio, é importante não recuar diante desses sinais.  

Editores Afya Educação Médica:  
- Dra. Sandra Carvalhais
Coordenadora do curso de Psiquiatria da Afya Educação Médica
Referências bibliográficas:
Setembro Amarelo e Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio
PREVENÇÃO DO COMPORTAMENTO SUICIDA
DOI Foundation
MOOD DISORDERS (Depression & Mania), Chapter 27 (pages 1076-108. In:  2024 CURRENT Medical Diagnosis & Treatment; 65ª EDITION; Maxine A. Papadakis et al (Orgs); Ed.McGraw Hill, San Francisco.

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