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19.1.2018
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Equipe Afya Educação Médica
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Para se tornar um bom profissional, um médico passa por um longo trajeto. Depois de muitos anos de dedicação na faculdade, chega a hora de focar em uma área, por meio da residência. No entanto, o que de fato significa fazer uma prova de residência médica? Por que é tão difícil ser aprovado nessa prova? Essas e outras dúvidas cercam a vida do médico, uma vez que existem muitos caminhos a serem seguidos depois de formado.
A residência é o mais tradicional desses caminhos, com certeza a primeira opção da maioria dos recém-graduados em medicina. Se você pretende fazer a prova de residência médica e está se preparando para ela, não pode deixar de ler este post. Nele, apresentamos um guia completo sobre o exame e como fazer uma boa preparação. Boa leitura!
Quem entra na faculdade de medicina sabe que vai ter que se entregar aos estudos. Afinal, são no mínimo seis anos de curso: os dois primeiros de ciclo básico, os intermediários de ciclo clínico e os dois últimos de internato. Ou seja, é uma rotina de aulas intensa, que demanda tempo integral e apresenta avaliações muito rígidas. Ao ser aprovado em todas as disciplinas, o estudante pode se formar, obter o registro de médico no Conselho Regional de Medicina (CRM) de sua região e começar a trabalhar como clínico geral.
No entanto, a residência médica é realmente a preferência de muitos, pois dá acesso à titulação de especialista. Portanto, não é de se estranhar que a concorrência para a prova de residência médica seja tão acirrada. Afinal, todos os anos se formam dezenas de milhares de médicos que disputarão as poucas vagas nos programas de uma das 53 especialidades médicas reconhecidas no Brasil atualmente.
Só para se ter uma ideia, com a abertura recente de novas faculdades de medicina no país, acredita-se que se formem pouco mais de 32 mil médicos. Enquanto isso, foram criadas apenas 6.545 vagas de residência em 2015. Ou seja, de todos os recém-formados, poucos poderão ingressar nas residências. Inclusive, mesmo que seja reconhecida a dificuldade de se entrar numa faculdade de medicina, muitos estudantes consideram ser ainda mais complicado entrar em um bom programa de residência.
Afinal, a concorrência altíssima ainda tem que ser conciliada com uma rotina de trabalho e outras tarefas. Ou seja, se preparar bem para a prova de residência médica é essencial. Mais adiante daremos algumas dicas de como se preparar. De qualquer forma, é inegável a grande importância de se fazer uma residência. Ela é hoje a principal forma de se ter o título de especialista reconhecido, mesmo não sendo a única.
Depois de aprovado no exame, o estudante ficará de 2 a 5 anos fazendo a residência. Nesse período, ele recebe uma bolsa-auxílio de R$ 3330,43 para custear todas as despesas com alimentação, transporte e moradia. É submetido a uma carga horária intensa, mas, infelizmente, nem sempre com uma boa estrutura hospitalar.
Realmente, não é nada fácil entrar num programa de residência. Além da dificuldade da prova em si, existem outros fatores que complicam bastante a vida dos recém-formados. A seguir, falaremos sobre alguns pontos que devem ser observados.
A primeira dificuldade é realmente a concorrência. Já falamos sobre o déficit enorme entre a quantidade de médicos recém-formados e as vagas nos programas de residência. No processo seletivo da Universidade Federal de Campinas (UNICAMP) em 2015, as 296 vagas foram disputadas por 2948 candidatos. Uma relação de cerca de 10 concorrentes para cada oportunidade, com um crescimento de mais de 50% em relação ao ano anterior. Parece até pouco, mas esses números são gerais. Quando consideramos apenas as especialidades mais concorridas, a competição fica ainda mais acirrada.
Por exemplo, no processo de seleção da Universidade de São Paulo (USP), em 2017, foram abertas 800 oportunidades. Dessas, 12 foram para dermatologia, que teve uma concorrência de 55,7 candidatos por vaga. Outras bem disputadas foram otorrinolaringologia (47,8 candidatos/vaga), oftalmologia (45 candidatos/vaga) e radiologia (44,1 candidatos/vaga).
Se for considerado que a maioria dos candidatos estão acabando de sair da faculdade, o custo da inscrição para a prova pode ser bem alto. Esse valor pode variar bastante conforme a instituição, mas fica em torno dos R$ 500 reais, podendo passar de R$ 1000 em alguns casos.
Além disso, é preciso atentar para o fato de que existem poucos programas de residência e, portanto, quase nunca será possível o candidato realizar a prova no mesmo local em que mora ou trabalha. Ou seja, será necessário também desembolsar um valor para transporte, hospedagem, alimentação etc.
Quem quer passar na prova de residência médica precisa conseguir conciliar a rotina de estudos com outras atividades, como o trabalho, a família e outras responsabilidades. Muitos candidatos ainda nem terminaram as provas da própria faculdade e já estão estudando para entrar na residência. Isso sem contar que boa parte trabalha em mais de um emprego, até em diferentes cidades. Atualmente, muitos profissionais simplesmente não têm tempo para se dedicar a esse exame.
A prova, propriamente dita, não é nada fácil. Depois de meses de preparação, o candidato precisa passar por uma bateria de exames teóricos e práticos, além de uma entrevista profissional. Tudo isso com os desafios já mencionados até aqui. Porém, é possível ser aprovado na prova de residência, o que representa um grande passo para a carreira médica. Por isso, mostraremos a você algumas dicas de como se preparar, superando todas essas dificuldades.
Não adianta fazer a prova de residência sem estar preparado o suficiente. E isso não significa apenas estudar bastante. A preparação começa na escolha da especialidade em que deseja atuar. Afinal, essa é uma decisão que vai impactar a sua carreira por longos anos.
O fato é que mesmo depois de anos de faculdade, ela não prepara o estudante para esse tipo de escolha. Decidir sobre uma entre as diversas especialidades médicas é algo extremamente pessoal, para a qual deve-se considerar diferentes fatores, como a satisfação profissional, a qualidade de vida e o lado financeiro.
É claro que a primeira coisa a ser considerada para a escolha de uma especialidade são as suas próprias vontades. É fundamental gostar do que se faz e ter habilidades para uma determinada área.
Caso esteja em dúvida, faça algumas perguntas a si mesmo, como: em qual área me destaquei mais durante a faculdade? Sobre qual assunto médico gosto de conversar mais com meus colegas? Gostaria de trabalhar mais em um hospital ou em um consultório?
Encontrar essas respostas pode ser determinante para a sua escolha, uma vez que estão diretamente ligadas à rotina de trabalho de cada especialidade. Basta comparar a rotina de um cirurgião com a de um psiquiatra, por exemplo.
Muitos médicos acabam esquecendo desse detalhe, principalmente quando o foco ainda está concentrado na carreira profissional. Mas a verdade é que ter qualidade de vida é algo essencial a todas as pessoas. E é preciso saber o quanto se está disponível a abrir mão dela em favor da profissão. De modo geral, a rotina de um médico, sobretudo em início de carreira, é bem agitada. Já é bem difícil conciliar aulas, consultas e plantões.
Imagina equilibrar tudo isso com família, casa, lazer e outras atividades? Isso pode ser bem mais complicado quando se faz uma especialidade médica como a neurocirurgia, que além de mais anos de estudo, requer muitas horas em um mesmo procedimento.
Esse é um fator muitas vezes esquecido pela maioria dos estudantes que estão saindo da faculdade. Mas a demanda de profissionais em determinada região pode ser um grande influenciador na escolha da especialidade. Obviamente, basta pensar que por mais que se goste de uma área, você precisará de uma oportunidade de exercer a sua profissão.
Assim, pesquise bem a realidade da sua região, quais médicos estão mais em falta nas redes pública e privada e quais as vagas existentes. Por exemplo, talvez não seja interessante se especializar em cirurgia plástica, caso viva em uma cidade pequena e sem um centro cirúrgico desenvolvido. No entanto, se essa for sua escolha, pode pensar também na possibilidade de mudança do local onde vive.
Além disso, muitos cursos de residência acontecem em cidades distantes daquela do profissional. Alguns hospitais se tornam referência em determinada especialidade e atraem muitos residentes da mesma área. Então, é preciso considerar esse momento de transição e avaliar como seria sua adaptação em outra cidade depois de terminar a residência.
Esse pode não ser um fator determinante para a sua escolha, mas é importante considerá-lo, pois serão anos de dedicação aos estudos e nem sempre a recompensa financeira é proporcional. É importante ter um equilíbrio entre satisfação profissional e segurança financeira. Dessa forma, depois de avaliar o mercado, veja se a remuneração para a especialidade escolhida condiz com suas expectativas. Confira a disponibilidade de vagas de trabalho e a demanda por profissionais na região e fique atento a todas as oportunidades.
A prova de residência médica envolve um processo seletivo bem complexo e que é dividido em várias etapas. No geral, elas contêm uma prova teórica e uma prática, além de uma entrevista. A nota final será o resultado da junção entre elas. Abordaremos cada uma separadamente.
Geralmente, é a fase do teste que tem maior peso sobre a nota final. O conteúdo e a dificuldade em si variam muito, de acordo com cada especialidade e de um programa para outro. Porém, independentemente da opção escolhida, é quase unânime entre os especialistas que a rotina de estudos começa já no início da faculdade.
Vai se destacar quem conseguir se dedicar mais a uma área desde cedo, com estágios e programas de iniciação científica, pois já é possível fazer uma imersão na área. Quando chegar o momento de o estudante fazer a prova, certamente ele estará mais bem preparado, pois já convive com a especialidade há mais tempo. Além disso, quem fez uma boa faculdade também conseguirá sair na frente, é claro, pois teve uma melhor formação.
Agora, se você já se formou, está no mercado há algum tempo ou estava indeciso durante a faculdade, também não precisa desanimar. Basta se dedicar bastante e separar um momento para estudar todos os dias. Por sinal, saber equilibrar a rotina de estudos com o trabalho e com outras atividades é primordial.
Nem todo programa de residência conta com uma prova prática. Mas alguns dos mais concorridos geralmente têm essa fase, que pode ser decisiva para todo o processo. Até porque o lado prático é uma das grandes deficiências de muitos cursos de medicina. E para a prova prática não tem jeito: a melhor forma de se preparar é mesmo colocando a mão na massa. Se você ainda está na faculdade, uma boa opção é entrar para um programa de estágio, dentro e fora da instituição.
Muitos hospitais e clínicas oferecem oportunidades específicas em diversas áreas, onde é possível aprender bastante sobre a rotina de determinada especialidade. Tais programas são, inclusive, muito úteis para o graduado se decidir pela especialidade de sua preferência.
Agora, se você já se formou, além de buscar uma oportunidade como assistente de um especialista, você pode considerar a realização de um curso preparatório específico. Nesse sentido, as pós-graduações também podem ser uma boa opção, uma vez que grande parte dos programas é composto de aulas práticas.
Essa é a etapa mais subjetiva da prova, pois não dependerá do programa e nem da especialidade, mas sim dos entrevistadores e de você mesmo. Porém, é bom ter em mente que as perguntas não serão apenas voltadas para os conhecimentos técnicos, uma vez que eles já foram testados, tanto na prova teórica quanto na prática. Aqui, o que valerá mais é a sua identificação com a área, suas experiências e expectativas.
Elas precisam estar de acordo com o que será apresentado na residência e com os valores de cada instituição. Inclusive, um erro comum dos candidatos é se preparar para a entrevista pensando em tudo que diz respeito à especialidade e se esquecer de questões institucionais e culturais. Os entrevistadores querem saber se você se identificará com a rotina do lugar e se vai se adaptar a ela.
Por isso, estude a história da cidade, bem como do hospital ou faculdade, que abriga o programa de residência pleiteado. Converse com os profissionais e os residentes atuais. Pesquise sobre todos os aspectos culturais, econômicos, sociais e qualquer outro detalhe que possa fazer a diferença na entrevista e durante a residência.
Um fator que é negligenciado por muitos candidatos é o currículo médico enviado na inscrição ou depois da prova teórica. Cada programa possui modelos próprios, de acordo com as especificações do edital. Por isso, leia-o com atenção e siga todas as recomendações à risca. Entretanto, muitas vezes, é pedido também um modelo próprio de currículo, que deve ser enviado junto com outros documentos, como o histórico e o diploma.
A seguir, veja algumas dicas de como fazer um currículo adequado:
Com a pressão imposta a si mesmo, é compreensível que o seu lado emocional e psicológico fiquem abalados antes e durante a prova de residência médica. Mas isso pode comprometer os seus resultados, prejudicando o objetivo de ser aprovado. Por sinal, esse é um dos pontos mais desafiadores para os candidatos. Quem consegue superar o desafio do fator emocional pode chegar na frente.
Mas o que fazer para controlar as emoções num momento tão delicado? A primeira coisa a se fazer é ter metas bem claras. Muitos estudantes e médicos resolvem participar dos processos sem ter certeza se aquela especialidade é a que realmente querem. Isso pode não só atrapalhar na consecução dos objetivos, como gerar mais frustrações. Também é importante se concentrar e focar em um único processo seletivo.
Cada um deles tem suas especificidades e pode ser bem mais simples e eficaz se preparar para apenas um de cada vez. No entanto, é sempre bom ter um plano B, como um emprego ou a realização de um curso de Pós-Graduação Lato Sensu, que pode ser uma alternativa para continuar os estudos, atualizar-se e adquirir ainda mais prática. Além disso, não se deixe abater! Muitos candidatos à residência se isolam, ficam deprimidos e estressados. Por isso, cerque-se da família e dos amigos, reserve momentos para relaxar e se divertir e não tenha medo de começar de novo, se necessário for. Esse também é apenas um dos caminhos possíveis para a sua carreira profissional.
A residência médica possui regulamentos específicos e que geram muita confusão entre os candidatos. A residência médica é um programa criado em 1977 e controlado pelo Ministério da Educação (MEC), por meio da Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM).Os programas são assumidos por instituições reconhecidas pelo MEC e devem funcionar de acordo com as diretrizes da CNRM.
No entanto, cada instituição pode definir seu processo seletivo e suas regras próprias para admissão. Depois de aprovado, o médico formado passa a ser um residente, habilitado a executar algumas atividades específicas da área, desde que esteja de acordo com o seu aprendizado e que seja supervisionado por um médico especialista. Alguns programas requerem que o médico passe por uma residência anterior. É o caso da cirurgia geral, que é requisito para outras especialidades cirúrgicas, como vascular e neurológica. Assim, a duração pode variar de 2 até 5 anos, dependendo da escolha do residente e de cada programa.
A carga horária gira em torno de 60 horas por semana. Essa carga horária pode ser dividida em aulas teóricas, práticas e plantões. Estes não podem ultrapassar 24 horas seguidas, segundo a lei. Como já dissemos, o residente recebe uma bolsa no valor de R$ 3330,43. Apesar de não ter um vínculo empregatício com o programa, ele pode se filiar ao regime de seguridade social. Algumas associações podem cobrar uma taxa de manutenção, mas é ilegal descontar impostos, vale refeição e outros benefícios.
Os residentes também têm direito a férias remuneradas de 30 dias por ano. Em algumas ocasiões especiais, é possível que o médico se afaste da residência por um tempo. É o caso do serviço militar obrigatório (até um ano), de doença (mais de 15 dias) e de licença-maternidade. Nesses períodos, o residente não recebe a bolsa, podendo receber o benefício (caso seja filiado) do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), nos casos de licença-maternidade e de doença.
Como você pode ver, fazer uma residência requer muito esforço e dedicação. Os programas são intensos e têm uma carga horária pesada. Por isso, é fundamental que se tenha certeza sobre a escolha da especialidade. A prova de residência médica é difícil, exigindo muito estudo, preparação emocional e psicológica. Portanto, é necessário se preparar adequadamente, desde a graduação na faculdade. E quem já é formado pode contar uma boa pós-graduação na especialidade de preferência, como uma ótima alternativa para se manter atualizado, adquirir conhecimentos e aprimorar sua prática profissional – aspectos muito importantes na construção de uma carreira sólida.
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