Perspectivas futuras de tratamento no TEA

Autor(a)
Dra. Alessandra Freitas Russo

Neurologista da Infância e Adolescência, Mestre e doutora (USP), Docente da Afya Educação Médica, Pós-graduação em Psiquiatria, Pós-graduação em análise do comportamento e Especialista em Epilepsia.

Na nossa cultura, o manejo clássico das condições médicas gira em grande parte em torno do tratamento farmacológico. No entanto, apesar de décadas de investigação, as evidências atuais estabelecem que os tratamentos comportamentais (não farmacológicos) são a base do tratamento para abordar os sintomas principais do Transtorno do Espectro do Autismo (TEA).

O foco científico atual das pesquisas na área tem sido principalmente no desenvolvimento de ferramentas mais precisas para identificação, rastreio e diagnóstico precoce.

Embora as intervenções comportamentais continuem a ser a base do tratamento do TEA, vários tratamentos potenciais direcionados seguem em estudo nos últimos anos. Estes são promissores pelo potencial de, no futuro, se tornarem parte importante do tratamento dos principais sintomas do TEA.

Importante salientar que até o momento o que tratamos são os sintomas-alvo comportamentais do transtorno que causam impacto adaptativo na vida do paciente. Atualmente, não existem medicamentos aprovados para o tratamento dos principais sintomas do TEA, incluindo déficits de comunicação social ou comportamentos repetitivos. Os sintomas-alvo comuns para os quais existe um tratamento medicamentoso eficaz e baseado em evidências incluem

  • hiperatividade;
  • desatenção;
  • impulsividade;
  • irritabilidade;
  • agressão;
  • comportamento autolesivo; e
  • distúrbios do sono.

Para o futuro, os mecanismos genéticos associados ao TEA provavelmente serão os primeiros alvos dos tratamentos e até mesmo da terapia genética no futuro.

Do ponto de vista medicamentoso, o tratamento psicofarmacológico atual no TEA trata sintomas-alvo e comorbidades. Esses medicamentos, incluindo agentes antipsicóticos e medicamentos estimulantes, são importantes no manejo clínico de pacientes com TEA. No entanto, o surgimento de tratamentos direcionados para subgrupos de TEA onde os genes responsáveis pelo TEA são conhecidos e potenciais tratamentos direcionados foram estudados para reverter as anormalidades neurobiológicas, pelo menos nos modelos animais, levou a alguns avanços recentes.

A promessa da terapia genética está se tornando realidade para muitas doenças, como a Distrofia Muscular de Duchenne e a Amiotrofia Espinhal Progressiva, portanto, nos próximos anos, muitas formas adicionais de TEA serão tratadas com terapia genética.

Ainda é necessário um trabalho considerável para compreender como e quando os tratamentos comportamentais e médicos podem ser eficazes e para que crianças, incluindo aquelas com comorbidades graves.

As descobertas genéticas e epigenéticas das causas subjacentes, bem como os fatores que afetam o tratamento, como a variabilidade farmacogenética, têm o potencial de melhorar a saúde geral dos indivíduos com TEA nos próximos anos.

Referências

American Psychiatric Association (APA). Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5- TR. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2023.

Genovese, A., & Butler, M. G. (2020). Clinical Assessment, Genetics, and Treatment Approaches in Autism Spectrum Disorder (ASD). International journal of molecular sciences, 21(13), 4726. https://doi.org/10.3390/ijms21134726.

Aishworiya, R., Valica, T., Hagerman, R., & Restrepo, B. (2022). An Update on Psychopharmacological Treatment of Autism Spectrum Disorder. Neurotherapeutics : the journal of the American Society for Experimental NeuroTherapeutics, 19(1), 248–262. https://doi.org/10.1007/s13311-022-01183-1.

Lord, C., Elsabbagh, M., Baird, G., & Veenstra-Vanderweele, J. (2018). Autism spectrum disorder. Lancet (London, England), 392(10146), 508–520. https://doi.org/10.1016/S0140-6736(18)31129-2

 

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Dra. Alessandra Freitas Russo

Médica Editora da Afya Educação Médica 

 

Neurologista da Infância e Adolescência. Mestre e doutora (USP), Docente da Afya educação médica, Pós-graduada em Psiquiatria e Análise do Comportamento. Especialista em Epilepsia. É sócia fundadora da clínica Vivere.

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