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26.7.2022
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Equipe Afya Educação Médica
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Não é apenas a Covid que pode se tornar uma pandemia mundial nos próximos anos. Segundo projeções do “Atlas Mundial de Obesidade de 2022”, divulgado recentemente, a obesidade é outro fator preocupante no mundo todo. A pesquisa traz dados alarmantes: em 2030, o Brasil deverá ter cerca de 30% de adultos obesos. Também em 2030, a projeção é de que o número de pessoas obesas no mundo chegue a 1 bilhão.
A obesidade é fator de risco para doenças cardiovasculares, que são a principal causa de morte no Brasil e no mundo - a exemplo de infarto e AVC -, e doenças como hipertensão (pressão alta), diabetes, problemas musculoesqueléticos, depressão e ansiedade. Os dados preocupam também em relação aos jovens brasileiros: em 2030, a prevalência de obesidade deverá ser de 22,75% entre crianças de 5 a 9 anos e de 15,71% entre crianças e jovens de 10 a 19 anos.
Um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e publicado no Journal of the Academy of Nutrition and Dietetics, por exemplo, indicou que o alto consumo de ultraprocessados - como bolachas recheadas, salgadinhos, embutidos, refrigerantes - pode aumentar em 45% o risco de obesidade em adolescentes.
Vale destacar que o acúmulo de gordura abdominal alerta para o risco de entupimentos em artérias, dificultando o desempenho adequado do coração e de outros órgãos. Estas células de gordura podem formar placas nas artérias e são essas placas que podem obstruir a passagem do sangue e ocasionar infarto, AVC e outras doenças.
A questão do ‘sobrepeso’ (caracterizado pelo excesso de peso, mas numa faixa anterior à que se classifica como obesidade) já têm risco de ter taxas de glicemia, triglicérides, entre outras, alteradas - o que aumenta o risco de doenças. Mudar esse futuro que se desenha exige ações imediatas. E isso significa não apenas incentivar, mas ampliar campanhas sobre alimentação saudável e a importância de praticar atividades físicas. Também é preciso compreender que a condição tem múltiplos fatores envolvidos. Por isso, abordagens sociais e psicológicas também são importantes.
A obesidade é considerada hoje como um problema de saúde pública, que está associado ao desenvolvimento de muitas outras doenças, como vimos acima. Ela também é responsável por mortes prematuras, reduzindo a expectativa de vida das pessoas afetadas. Espera-se que, mesmo com a ausência de políticas públicas ou privadas efetivas, a taxa de obesidade no País continue a crescer 5% ao ano (foi entre 2003 e 2019), e a prevalência poderá atingir a marca de 46%, em 2030, segundo o Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS).
Por conta dessa taxa de prevalência altíssima, o IESS também encomendou estudos específicos para mostrar seu impacto na evolução dos custos. Intitulado “Cenários para o futuro: como o aumento da prevalência da obesidade entre beneficiários pode impactar a sustentabilidade da saúde suplementar”, o levantamento mostra um cenário base para 2030, tanto do crescimento do PIB per capita, quanto das despesas com saúde dos beneficiários de planos de saúde.
Como cenário alternativo, consideram-se intervenções bem-sucedidas, visando a prevalência da obesidade à metade em 2030, para 13,4% em vez de 46%. Nessa situação, a taxa de prevalência da obesidade se reduziria a 3,7% ao ano nesse período.
Com o objetivo de mostrar a tendência de aumento da prevalência da obesidade, o Fórum de Davos resolveu equipará-la a uma pandemia mundial. Se comparados com o PIB, podemos notar que os impactos são expressivos: o PIB per capita deverá crescer menos aceleradamente nesse período - com taxas mais altas, os custos assistenciais per capita devem passar de R$ 2,2 mil, em 2020, para R$ 3,1 mil, em 2030. Isso mostra um crescimento de 42%, em contraste com aumento de apenas 7,7% do PIB no período.
Mesmo que contenham certa imprecisão, esses números são bastante significativos para recomendar ações e políticas que visem a contenção e redução dessa escalada da obesidade.
O estudo adota como parâmetro que o percentual de custos atribuíveis à obesidade representa 9,3% dos gastos registrados com saúde suplementar, o que deriva do fato do número de procedimentos de cirurgias bariátricas realizados na saúde suplementar serem cinco vezes maiores que os realizados pelo SUS.
Outro estudo encomendado pelo IESS, realizado pela Orizon, apresenta dados e informações de custos diretos e atribuíveis à obesidade grave e mórbida no sistema de saúde suplementar do Brasil. Revelam que o custo por beneficiário representa R$ 33 mil por ano e que 22% dos sinistros, entre 2015 e 2021, (R$ 4,8 bilhões), estão relacionados a consequências diretas com a doença.
A base do estudo contempla dados de faturamento de nove milhões de beneficiários (cerca de 19% do total de vínculos da saúde suplementar). Das 80 mil pessoas estudadas com obesidade grave ou mórbida, observou-se que 60% dos gastos das operadoras são com o público feminino e 32% masculino. Constatou-se, ainda, que o diabetes tipo 2 é a doença que mais custa para o sistema entre as comorbidades que podem ser prevenidas com a obesidade.
No tratamento da obesidade, o papel do endocrinologista é crucial. Entre muitas coisas, é ele quem avaliará se o ganho de peso é potencialmente prejudicial à saúde e qual a possível causa desse aumento. Baseado no quadro de saúde completo do indivíduo, o médico pode argumentar com real embasamento quanto à importância do papel do paciente no seu próprio tratamento. Caberá também a esse profissional a eventual indicação de cirurgia como estratégia de tratamento da obesidade naquele paciente.
Como vimos neste texto, a obesidade clínica é uma questão de saúde pública com proporções epidêmicas e consequências socioeconômicas, que precisa ser urgentemente controlada.
O papel do endocrinologista é essencial nesse controle e há uma demanda crescente por esse profissional no mercado. Se você se interessou pelo trabalho que o endocrinologista pode desenvolver no atendimento a pacientes com obesidade, considere aprimorar seus conhecimentos nessa área.
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