O ciclo do sono e os transtornos mais comuns

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Muitos pacientes procuram por assistência médica se queixando de indisposição, mau humor, perda de memória e estresse no dia a dia. Entre as inúmeras causas, um fator importante que frequentemente passa despercebido é a qualidade do sono prejudicada desses indivíduos.

O ciclo do sono tem diferentes estágios, cada um com suas funcionalidades, e o modo como esse ciclo se desenvolve reflete diretamente no bem-estar e qualidade de vida das pessoas. Assim, os transtornos do sono devem ser diagnosticados e tratados com a terapia mais adequada possível, a fim de buscar o equilíbrio fisiológico dos pacientes. Continue lendo este post para aprimorar seus conhecimentos sobre o funcionamento do ciclo do sono e seus transtornos mais comuns.

O ciclo do sono e seus estágios

Os estágios do sono são divididos em duas principais fases. A primeira representa o período NREM ou não-REM, termo do inglês “non-rapid eye movement”, que compreende os estágios de 1 a 4. Esses são responsáveis pelo aumento da atividade parassimpática, recuperação muscular e liberação da somatotrofina, o hormônio do crescimento.

A segunda fase é representada pelo período REM, quando as memórias e aprendizados são em grande parte consolidados e há aumento da atividade do sistema nervoso simpático. Os estágios se repetem de 4 a 6 vezes por noite, sendo que os ciclos recomeçam a cada 90/110 minutos. Abaixo, estão representadas as atividades fisiológicas e neurológicas distintas para cada estágio do sono:

Estágio 1

O primeiro estágio é caracterizado pela transição entre estar acordado e começar a dormir, quando há liberação do hormônio melatonina. Nesse período, que abrange cerca de 4% a 5% do ciclo, são comuns movimentos espasmódicos e sensações de queda.

Estágio 2

Nesse estágio, as frequências cardíaca e respiratória começam a diminuir, além da redução da temperatura corporal. Os tecidos musculares também relaxam nesse período, que é o mais longo do ciclo, ocupando de 45% a 55% da noite de sono.

Estágio 3

Considerado o início do sono mais profundo e regenerativo, no estágio 3 o corpo começa a descansar e se revigorar. Isso acontece devido às ondas cerebrais delta (lentas) que se combinam com ondas mais rápidas. Abrange de 4% a 6% do tempo.

Estágio 4

Esse segundo período de sono profundo também é fundamental para a revitalização do corpo. Ocupando cerca de 10% a 15% do ciclo, é o último estágio da fase NREM e há predominância das ondas cerebrais delta.

Sono REM

Ocupando cerca de 20% do tempo de sono, o período REM, do inglês “rapid eye movement”, é caracterizado pela presença de atonia muscular, atividade dessincronizada de ondas cerebrais e movimentos oculares rápidos. Essa fase aumenta a duração progressivamente ao longo da noite de sono e é quando a maioria dos sonhos acontecem. As frequências cardíaca e respiratória aumentam, assim como a pressão arterial.

Transtornos do sono

Cada estágio do ciclo do sono manifesta funções metabólicas diferentes, e, se esses intervalos são irregulares ou incompletos, todo o metabolismo é afetado. Dessa forma, se desenvolvem os transtornos do sono, sendo os principais descritos a seguir:

Insônia

A insônia é um transtorno muito comum e pode ser caracterizada como aguda ou crônica. Geralmente, pessoas com insônia aguda estão ansiosas ou estressadas com acontecimentos recentes e perdem noites de sono por um curto período de tempo. A insônia crônica, de acordo com a American Academy of Sleep Medicine, pode ser uma reação adversa provocada por comorbidades, uso crônico de medicamentos ou outros transtornos do sono.

A ingestão excessiva de cafeína, tabaco e álcool também pode contribuir para esse quadro clínico. Pacientes com insônia se queixam da dificuldade de cair no sono e, mesmo quando conseguem, dormem durante curtos períodos. Acordam indispostos, com a sensação de que não descansaram, sendo que muitos sentem sonolência e irritabilidade durante o dia.

O tratamento adequado inicia-se preferencialmente com intervenções não farmacológicas. Mudanças de hábito e higienização do sono, como deixar o quarto escuro e silencioso para dormir, estabelecer horários uniformes de descanso e controlar possíveis estímulos são fundamentais. Se o paciente não responder às medidas não farmacológicas, algumas classes de fármacos podem ser utilizadas.

Entre elas, benzodiazepínicos, antidepressivos e anti-histamínicos. O tratamento medicamentoso deve ser adequado ao tipo de insônia e, sobretudo, acompanhado, pois a descontinuação gradual é imprescindível para que o paciente não apresente sintomas de abstinência.

Síndrome da apneia obstrutiva do sono

Essa síndrome é caracterizada por indivíduos que apresentam obstrução completa ou parcial e recorrente das vias respiratórias superiores durante o sono. Os sintomas mais comuns são apneia, despertares recorrentes durante a noite e diminuição da oxigenação arterial. Obesidade, anormalidades craniofaciais e histórico familiar estão entre as principais causas desse transtorno.

O tratamento deve ser analisado primariamente pela necessidade da perda de peso e diminuição do uso de álcool e sedativos, que podem agravar esse transtorno do sono. Além disso, dormir em posição de decúbito lateral pode ser indicado quando a obstrução da via aérea é dependente da posição supina. Embora essas medidas possam auxiliar, alguns pacientes só respondem ao tratamento com o uso de CPAP (máscara nasal que previne a obstrução por pressão positiva contínua) ou outros dispositivos intraorais.

Essas ferramentas podem ser, inclusive, mais eficazes que intervenções cirúrgicas isoladas, mas é fundamental contar com uma avaliação e diagnóstico precisos.

Narcolepsia

A narcolepsia é um dos transtornos do sono e frequentemente subdiagnosticada devido à dificuldade de se reconhecer os sintomas. Esses são representados por sonolência excessiva durante o dia, cataplexia (perda súbita do tônus muscular), paralisia do sono (incapacidade temporária de se mover imediatamente após o despertar), alucinações e ciclo do sono interrompido por repetidos despertares.

O tratamento desses pacientes se inicia por medidas não farmacológicas, como higiene do sono, e farmacológicas, como a administração de estimulantes e doses baixas de antidepressivos. Entretanto, segundo a Associação Brasileira de Psiquiatria, o manejo adequado da narcolepsia é considerado um desafio na prática clínica. Dessa forma, psiquiatras devem estar atentos aos sintomas, a fim de evitar o agravamento do quadro e erros de diagnóstico.

Os transtornos do sono devem ser reconhecidos por meio de anamnese e investigação detalhadas, verificando se os pacientes apresentam um ciclo do sono adequado. Assim, é ideal considerar o tratamento por meio de medidas não farmacológicas e/ou farmacológicas, de forma a favorecer o comportamento social, ocupacional e a qualidade de vida desses pacientes.

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