Novo estudo sugere que Alzheimer pode não ser uma doença cerebral mas, sim autoimune

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Um artigo publicado em setembro de 2022 pelo professor de química Donald Weaver, diretor do laboratório Krembil Research Institute, no Canadá, sugere que o Alzheimer seja uma doença autoimune que afeta o cérebro. A condição é a forma mais comum de demência entre idosos e, embora seja amplamente estudada, suas causas ainda são desconhecidas. 

Em junho de 2021, a Food and Drug Administration, nos EUA, havia aprovado o Aducanumab como tratamento para a doença de Alzheimer, embora os dados que apoiavam seu uso fossem incompletos e contraditórios. Alguns médicos acreditam que o medicamento nunca deveria ter sido aprovado, enquanto outros afirmam que merecia uma chance.

Um ano depois, em julho de 2022, a revista Science informou que um importante artigo de pesquisa de 2006, publicado na prestigiosa revista Nature, identificou um subtipo de proteína cerebral chamada beta-amiloide como a causa da doença de Alzheimer, e pode ter sido baseado em dados fabricados.

30 anos de pesquisas sobre Alzheimer

Com base nos últimos 30 anos de pesquisas, os especialistas não pensam mais no Alzheimer como uma doença do cérebro propriamente dito. Em vez disso, acredita-se que é um distúrbio do sistema imunológico dentro do cérebro, escreveu Weaver, em artigo publicado no portal Science Alert.

Alguns medicamentos que estão sendo desenvolvidos para a doença concentram esforços no bloqueio da formação de blocos da proteína cerebral beta-amilóide, acreditando que ela seria a causa dela. Existe a teoria de que a substância não seja produzida em escala exagerada nos pacientes com Alzheimer, mas sim de forma normal, fazendo parte do sistema imunológico do cérebro. A chave pode estar em como o corpo reage.

Rotina beta-amilóide

Quando ocorre um trauma cerebral ou bactérias estão presentes no cérebro, a beta-amilóide é um dos principais contribuintes para a resposta imune abrangente do cérebro. E é ali que começa o problema.

Durante anos, os cientistas se concentram em tentar criar novos tratamentos para a doença de Alzheimer, impedindo a formação de aglomerados prejudiciais ao cérebro dessa misteriosa proteína chamada beta-amilóide.

Lamentavelmente, essa dedicação ao estudo dos aglomerados anormais de proteínas não se traduziu em uma droga ou terapia útil. A necessidade de uma nova maneira de pensar sobre a doença de Alzheimer está emergindo como uma prioridade na ciência do cérebro.

Portanto, as semelhanças entre as moléculas de gordura presentes nas membranas das bactérias e as membranas das células cerebrais faria com que a proteína atacasse por engano as células cerebrais que deveriam ser protegidas, causando um processo autoimune. A consequência seria a perda crônica e progressiva da função dessas células, ocasionando na demência.

A artrite reumatoide é um exemplo de doença autoimune, e é tratada com terapias baseadas em esteróides. Embora o caminho para desenvolver novos medicamentos para o Alzheimer pareça óbvio com suas descobertas, o cérebro é um órgão muito complexo e a abordagem não deve ser eficiente — porém, mais estudos devem ser feitos com o novo direcionamento.

Alzheimer como doença autoimune

Por causa das semelhanças impressionantes entre as moléculas de gordura que compõem as membranas das bactérias e as membranas das células cerebrais, a beta-amilóide não consegue distinguir a diferença entre as bactérias invasoras e as células cerebrais hospedeiras e ataca erroneamente as próprias células cerebrais que deveria estar protegendo.

Isso leva a uma perda crônica e progressiva da função das células cerebrais, que culmina em demência. Acredita-se, portanto, que o beta-amilóide não é uma proteína produzida de forma anormal, mas sim uma molécula de ocorrência normal que faz parte do sistema imunológico do cérebro.

Quando ocorre um trauma cerebral ou quando as bactérias estão presentes no cérebro, o beta-amilóide é um dos principais contribuintes para a resposta imune abrangente do cérebro. É aqui que começa o problema. Quando considerada como um ataque mal direcionado do sistema imunológico do cérebro ao próprio órgão que deveria estar defendendo, a doença de Alzheimer surge como autoimune.

Existem muitos tipos de doenças autoimunes, como a artrite reumatoide, nas quais os  altos anticorpos desempenham um papel crucial no desenvolvimento da doença. Sobre os casos onde as doenças tratadas com  terapias esteróides estão se mostrando eficazes, não quer dizer que elas  funcionarão contra a doença de Alzheimer.

No modelo de Alzheimer, o beta-amilóide ajuda a proteger e fortalecer o sistema imunológico, mas, infelizmente, também desempenha um papel central no processo autoimune, que pode levar ao desenvolvimento da doença de Alzheimer.

O cérebro é um órgão muito especial e distinto, reconhecido como a estrutura mais complexa do corpo humano. Embora as drogas convencionalmente usadas no tratamento de doenças autoimunes possam não funcionar contra a doença de Alzheimer, acredita-se fortemente que direcionar outras vias de regulação imunológica no cérebro os levará a novas e eficazes abordagens de tratamento para a doença.

Aproximadamente 1,2 milhão de pessoas vivem com alguma forma de demência no Brasil e, em todo o mundo, o número chega a 50 milhões de pessoas. A organização sem fins lucrativos Alzheimer’s Disease International estima que os diagnósticos globais chegarão a 74,7 milhões em 2030 e 131,5 milhões em 2050.

Os dados sobre a doença de Alzheimer em um futuro próximo faz com que os pesquisadores corram contra o tempo. E  pensar nela como uma doença autoimune abre portas para novos caminhos e abordagens diagnósticas, além de desenvolver novas terapias inovadoras. Embora as drogas convencionalmente usadas no tratamento de doenças autoimunes possam não funcionar contra a doença de Alzheimer, acredita-se que direcionar outras vias de regulação imunológica no cérebro poderá  levar a novas e eficazes abordagens de tratamento para a doença. 

Leia também: Doença de Alzheimer: cenário atual da doença e perspectivas  

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