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22.11.2023
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Equipe Afya Educação Médica
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Mentiras ocasionais são comuns na vida de muitas pessoas, podendo surgir para proteger sentimentos alheios ou evitar conflitos desnecessários. No entanto, quando alguém passa a mentir de maneira sistemática, frequente e deliberada, inventando histórias fictícias elaboradas sem motivo aparente, isso pode ser um sinal de mitomania.
Quando a mentira ocasional deixa de ser uma estratégia de comunicação e se torna uma compulsão, pode prejudicar relacionamentos, minar a confiança e causar consequências negativas em várias áreas da vida da pessoa afetada. Quer ajudar os pacientes que sofrem dessa condição? Neste post, vamos abordar como identificar e tratar a mitomania. Confira!
A mitomania é definida como um transtorno psicológico que se caracteriza pela tendência compulsiva e patológica em contar mentiras frequentemente e de forma deliberada. Ela pode estar associada a outros quadros psiquiátricos, como transtornos de personalidade.
As histórias contadas costumam ser exageradas e não apresentam um motivo que as justifique. Os mitomaníacos criam narrativas fictícias e fantasiosas, muitas vezes, com a finalidade de chamar a atenção, evitar responsabilidades ou obter benefícios pessoais. Outra característica dessa condição é o fato de essas pessoas acreditarem em suas próprias mentiras, o que torna a patologia ainda mais complexa.
Ao não admitir as suas mentiras, o indivíduo pode ter dificuldades nos relacionamentos interpessoais, no ambiente de trabalho e em demais áreas da vida, pois é visto como alguém que não se pode confiar, nem acreditar nas informações transmitidas por ele.
O diagnóstico da compulsão por mentir é feito por um profissional da área da saúde, que pode ser um psiquiatra ou psicólogo. Para tanto, é necessário realizar uma avaliação clínica abrangente, divida em etapas diferentes. Veja, a seguir, quais são elas.
Durante a entrevista clínica, o objetivo do médico é compreender quais são os sintomas relatados, a frequência com a qual as mentiras são contadas, o impacto delas nas relações pessoais e na vida cotidiana da pessoa, bem como o contexto em que elas ocorrem.
É o momento em que o profissional coleta as informações sobre o histórico médico e psicológico do paciente, a história de seus transtornos mentais ou eventos traumáticos que possam estar relacionados à mentira patológica.
Nessa etapa, é avaliado o comportamento do paciente em relação à mentira, o que inclui observar quais são os padrões de mentiras recorrentes. Dessa maneira, é possível entender como a mitomania se estabelece e qual a sua gravidade, por exemplo.
Para evitar erros no diagnóstico, é preciso excluir outras condições médicas ou transtornos mentais que possam estar contribuindo para o comportamento de mentir compulsivamente, como narcisismo, transtornos de ansiedade ou transtorno bipolar.
Em alguns casos, pode ser necessário realizar avaliações adicionais, como exames de imagem cerebral, para descartar eventuais patologias subjacentes.
As mentiras contadas pelos mitomaníacos normalmente envolvem acontecimentos exacerbados, absurdos e improváveis, que facilmente geram desconfiança pela parte de quem as escuta.
Essas manifestações fantasiosas ocorrem de maneira crônica. Isso quer dizer que o paciente pode cometer repetições, além de apresentar padrões de fala que visam reforçar o que está sendo dito. Normalmente, ele assume o papel central em suas narrativas, descrevendo todos os eventos como se estivessem centrados em sua própria pessoa.
As histórias podem ser elaboradas com objetivo de obter vantagem em uma situação ou não. Por se tratar de um estado crônico, em uma conversa comum, sem se dar conta, o indivíduo pode exagerar em suas falas.
Como tem receio de que as suas mentiras sejam descobertas, a pessoa conta histórias cheias de detalhes, a fim de dar credibilidade a elas. Todavia, quando uma pessoa normal relata uma memória, ainda que seja algo preciso, não se atém tanto aos detalhes.
As causas exatas da mitomania não são completamente compreendidas, mas geralmente envolvem uma combinação complexa de fatores genéticos, psicológicos e ambientais. Entenda, abaixo, como cada um desses aspectos pode atuar.
Há pessoas que têm predisposição genética para transtornos de personalidade e comportamentos impulsivos, o que compreende a mitomania. Se há existem de transtornos mentais na família, o risco de desenvolver mentira patológica pode ser maior.
A presença de alguns traços de personalidade, como baixa autoimagem e pouca autoestima, a necessidade de chamar a atenção e obter aprovação, podem contribuir para o surgimento da doença. Quem tem esse perfil pode usar as mentiras como uma forma de escapar de problemas emocionais e criar uma imagem de si mesmo idealizada.
O histórico de trauma ou abuso também pode ter um papel importante na mitomania. Isso porque, a mentira pode ser vista pelo paciente como um mecanismo de defesa para enfrentar o desconforto causado pelas memórias de eventos traumatizantes.
Além disso, a condição pode estar associada a outros transtornos de personalidade, que vão desde borderline até histriônica.
A comunidade científica também acredita que o problema pode estar relacionado a disfunções em áreas do cérebro responsáveis pelo controle dos impulsos e ao processamento emocional.
Ambientes familiares ou sociais onde a mentira é tolerada ou até mesmo incentivada podem colaborar para o aparecimento da mitomania. Modelos de comportamento e a influência de outras pessoas também impactam nesse quadro.
Em situações de estresse intenso ou pressão social, algumas pessoas podem recorrer à mentira compulsiva como uma maneira de lidar com essas circunstâncias.
É importante considerar que a mitomania não se baseia apenas na compulsão por mentir. Um mitomaníaco pode apresentar outros comportamentos característicos, como a manipulação emocional, com mentiras que buscam gerar compaixão, simpatia ou apoio.
Essas pessoas frequentemente exibem impulsividade, que os leva a tomar decisões precipitadas e irracionais. Muitas delas não demonstram remorso pelas mentiras, mesmo quando causam prejuízo a terceiros.
A tendência constante à mentira também cria desconfiança nas relações interpessoais, minando a confiabilidade do mitomaníaco. Desse modo, têm dificuldade para manter relacionamentos estáveis e emprego, além de reagirem de maneira defensiva quando são confrontados sobre as suas histórias fantasiosas.
A principal diferença entre a mitomania e as mentiras ocasionais reside na frequência, intenção e compulsão envolvidas. Mentiras ocasionais podem ocorrer porque a pessoa não quer causar conflitos, quer manter a sua privacidade ou não quer magoar alguém, por exemplo.
Já a mentira patológica, é uma compulsão, na qual o indivíduo está frequentemente inventando histórias, sem que haja uma justificativa plausível para tal. Ele também acredita em suas próprias mentiras, o que dificulta o controle do seu comportamento.
Quando diagnosticada de forma isolada, a mitomania pode ser curada. Porém, quando este é um sintoma de outro transtorno mental, a sua cura pode não ser definitiva, já que ele pode ser controlado, mas pode retornar ao longo do tempo.
O tratamento comumente envolve Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), que visa ajudar o indivíduo a entender e controlar seus impulsos de mentir compulsivamente, a explorar os fatores subjacentes que contribuem para o comportamento.
A terapia pode ajudar o paciente a desenvolver estratégias para lidar com a compulsão de mentir, melhorar a autoestima e a imagem pessoal, e aprender a construir relacionamentos mais saudáveis. Contudo, é crucial que ele esteja disposto a mudar o modo como se comporta.
Familiares e amigos devem abordar o mitomaníaco com compaixão, estabelecer limites claros e encorajá-lo a buscar tratamento profissional para lidar com as mentiras compulsivas. Terapia familiar pode ser útil para promover uma convivência agradável e respeitosa.
A mitomania é uma condição que pode ter um impacto significativo na vida do paciente, prejudicando os seus relacionamentos e o bem-estar geral. Com o tratamento adequado, uma rede de apoio e, sobretudo, o comprometimento da própria pessoa, é possível alcançar uma melhora substancial na qualidade de vida e nas suas relações.
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