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10.10.2022
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A saúde no Brasil está sofrendo e esse cenário precisa mudar urgentemente. Apesar do panorama crítico com problemas frequentes, soluções efetivas vêm sendo implementadas de forma gradativa.
Considerando as formas de organização da saúde pública no Brasil, tem-se três níveis de atenção:
Os problemas de saúde ocorrem em todos estes níveis de atenção, geralmente em cascata, de modo que os problemas são consequências dos outros, acarretando em uma bola de neve. E o principal sofredor desse sistema é o paciente.
A saúde suplementar, ou privada, representada pelas operadoras dos planos de saúde, contribui de forma crítica nas atividades e serviços clínicos, e muitas vezes otimiza a assistência à saúde. Mas ainda assim, não é suficiente para suprir todas as faltas do sistema público.
Por isso, os usuários e demais interessados em um sistema eficiente e de menor custo devem apoiar soluções a curto, médio e longo prazo, idealizadas pelos gestores.
Por isso, listaremos a seguir os principais problemas de saúde pública e as reflexões a respeito. Fique por aqui e entenda!
Você, médico, já deve saber quase que de cor como é a organização dos serviços de saúde, mas não custa relembrar, para que os problemas e reflexões abordados adiante sejam melhor compreendidos.
Detalhando os três níveis de atenção mencionados anteriormente, tem-se a atenção básica/primária representada pelas Unidades Básicas de Saúde (UBS), que estão vinculadas às Redes de Atenção à Saúde (RAS).
Nesses estabelecimentos são ofertados os serviços relacionados a promoção e prevenção da saúde. Estão inseridos aqui a aplicação de vacinas, a identificação precoce de problemas de saúde, os grupos operativos para evitar complicações de doenças crônicas e outras atividades conforme o nível de organização municipal.
Teoricamente, a atenção básica/primária deveria ser a porta de entrada dos serviços para o paciente, em que o nível de complexidade é menor e as chances de se evitar eventuais complicações também.
As UBS são referência para os serviços primários em saúde como também para encaminhar para as demais atividades clínicas e são representadas pelas equipes de saúde da família, sendo médicos, enfermeiros e agentes comunitários em saúde.
O nível secundário/especializado em saúde é representado pelos ambulatórios, distribuição de medicamentos para doenças raras ou pacientes com refratariedade no tratamento, além do acompanhamento de distúrbios crônicos.
No nível secundário/ambulatorial são tratadas as coagulopatias, Doença de Alzheimer, Doença de Parkison, trombose venosa profunda, esclerose múltipla, entre outras. Para obter o medicamento pelo Sistema Único de Saúde SUS, o paciente deve se encaminhar à farmácia com o laudo de solicitação e estar de acordo com os Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas (PCDT).
O nível terciário/hospitalar em saúde é representando pelos serviços de alta complexidade que exigem internação, procedimentos clínicos com anestesia, entre outras particularidades do sistema.
Nesse contexto, se englobam as cirurgias cardiovasculares, ortopédicas, neurocirurgias, cirurgias gerais, entre tantas outras que necessitam de internação para monitoramento dos parâmetros fisiológicos.
O processo de criação do SUS foi idealizado para garantir mais investimentos à atenção básica, justamente para evitar dispender grandes recursos financeiros na atenção hospitalar, em que as chances de recuperação e retorno à qualidade de vida são menores.
Por exemplo, se o governo e as operadoras de planos de saúde investirem em campanhas de detecção precoce de câncer e outros agravos, promover a vacinação em toda a faixa etária necessária e incentivar a criação e permanência de grupos operativos, diversos problemas com a saúde podem ser amenizados.
Apesar de grandes iniciativas, o Brasil ainda é de uma cultura hospitalocêntrica em que o paciente se desloca primeiramente para o hospital, ainda que o seu problema não se configure como urgência/emergência.
É nesse ponto que o “caldo entorna” com hospitais superlotados, filas de espera gigantescas, pessoas morrendo nas recepções desses estabelecimentos e conteúdos jornalísticos sensacionalistas causando indignação.
É notório que a saúde pública precisa de ajustes, por isso listaremos a seguir os principais problemas a serem considerados.
Se a atenção básica/primária deve ser a porta de entrada dos pacientes, as melhorias nas Unidades Básicas de Saúde sempre serão a prioridade. Porém, o cenário ainda é pouco animador.
Existem proporcionalmente poucas unidades de saúde por habitantes e algumas estão com faltas estruturais significativas, e funcionam de forma precária ou são de difícil acesso para os moradores.
Além disso, devido a problemas de planejamento, aquisição e dispensação, os usuários não têm acesso aos medicamentos e insumos que necessitam, como os anti-hipertensivos e as canetas de insulina, por exemplo.
A solução é “simples”: deve-se fazer um diagnóstico local, elaborar planos de ação eficientes e solicitar mudanças emergenciais para as autoridades municipais, estaduais e federais dentro das competências de cada um.
A disposição de leitos no Brasil é um grande problema de saúde pública somada ao mal gerenciamento desse recurso. Isso significa que é possível ter leitos disponíveis em uma região enquanto em outras, os pacientes ficam alocados em macas situados nos corredores.
Esse processo foi minimizado pela criação das Unidades de Pronto Atendimento (UPA), porém ainda são escassos os leitos disponíveis, o que impacta significativamente na assistência e acolhimento ao paciente.
Outro fator agravante é a permanência do paciente nos leitos hospitalares, muito em virtude das complicações clínicas adquiridas, aumentando os custos e gerando pouca rotatividade no sistema.
Esse problema pode ser causado também pela dificuldade de manutenção preventiva e corretiva dos leitos, e falta de renovação daqueles que estão sem condições de uso, reduzindo significativamente os números de leitos disponíveis.
A assistência à saúde deve ser entendida de forma holística e integrada, sendo o paciente o participante ativo nas decisões acordadas com os profissionais de saúde. Além disso, o acolhimento e humanização são fundamentais.
A humanização é entendida como um processo contínuo de atenção ao paciente, prezando por uma escuta ativa e instituição de estratégias acordadas e que sejam aceitáveis para otimizar a adesão.
Acontece que, na correria das atividades assistenciais, muitos profissionais pecam nessa responsabilidade, se preocupam em identificar primeiramente o diagnóstico e em seguida avaliar a questão subjetiva do paciente.
Por isso, é fundamental que a equipe multidisciplinar seja capacitada para atendimento efetivo e humanizado visando a resolutividade das ações e serviços em saúde, promovendo também a redução de custos.
Um dos grandes problemas de saúde pública no Brasil é a alta rotatividade dos profissionais de saúde, principalmente daqueles que iniciam suas responsabilidades nas Unidades Básicas de Saúde.
As principais causas são a infraestrutura de trabalho precária, local de grande periculosidade social e poucos recursos para lidar com uma diversidade de demandas clínicas e administrativas.
E as consequências são drásticas para o sistema de saúde, devido à falta de assistência ao paciente, o que implica possivelmente em complicações clínicas e medicamentosas em longo prazo.
Uma das formas de solucionar esse problema, além de oferecer melhores condições de trabalho, é proporcionar estabilidade laboral por meio de concursos púbicos ou contratos mais vantajosos para os profissionais de saúde.
O sucateamento tecnológico é outro grande problema de saúde pública, além da quantidade reduzida ou ausência de recursos para diagnóstico precoce, monitoramento dos dados vitais dos pacientes e acompanhamento do tratamento.
Devido a regionalização da saúde, muitas cidades são referência para outras de pequeno porte que necessitam de agendamento prévio para utilizarem o mamógrafo, tomógrafo e aparelhos de radiografia.
Acontece que, muitas vezes, esses equipamentos não estão em condições mínimas de funcionamento ou estão fora de utilização até aguardarem reparos ou manutenção preventiva periódica.
Para resolver tal problema, seria preciso fazer um histórico da situação, levando em consideração o número de pacientes que estão sendo prejudicados e pressionar as autoridades públicas, almejando melhorias.
Existe a máxima que a saúde não tem preço, mas tem custo. Isso significa que se utilizam todas as estratégias para conseguir aumentar a qualidade de vida do paciente ou minimizar sua dor são válidas, porém é preciso compatibilizar os recursos financeiros.
A gestão ineficiente do sistema de saúde acontece quando os recursos financeiros disponíveis são alocados de forma desorganizada, o que gera impactos significativos para o paciente, família e comunidade.
O resultado desse problema é desperdício de recursos financeiros para uma atividade e falta para outros serviços, gerando um desequilíbrio, inequidade e instabilidade dos três níveis de atenção.
A primeira solução a ser tomada é a capacitação dos gestores com foco na saúde, pois alguns, apesar das boas iniciativas, não têm experiência ou conhecimento para administrar recursos dessa magnitude.
Existem projetos assistenciais idealizados no âmbito local que podem ser referências para outas esferas governamentais, porém depende da continuidade das ações quando ocorre a troca de governo.
Esse cenário é vivenciado constantemente, gerando uma frustração e decepção dos idealizadores dos projetos, que, muitas vezes, não estão vinculados como servidores públicos da região.
Os projetos assistenciais no âmbito local devem ser estimulados, uma vez que adaptam as intervenções conforme a realidade clínica e epidemiológica daquela sociedade, sendo significativamente mais efetiva.
Considerando os bons resultados dos projetos em andamento ou da expectativa positiva para implantação de novas atividades, sugere-se que seja pleiteada a continuidade das atividades para benefício da população demandada.
Para ter acesso a medicamentos pelo SUS, o paciente deve buscar informações inicialmente nas Unidades Básicas de Saúde. Porém, cada medicamento tem uma rotina diferenciada conforme determinações das normativas municipais.
Isso porque, os medicamentos que estão elencados no Componente Básico de Assistência Farmacêutica (CBAF) são dispensados mediante o Cartão Nacional de Saúde (CNS), também chamado de cartão do SUS e uma prescrição válida.
Se o paciente necessitar de medicamentos do Componente Especializado de Assistência Farmacêutica (CEAF) é necessário comparecer às unidades de alta complexidade com outros documentos além do CNS.
Para obter medicamentos do Componente Estratégico de Assistência Farmacêutica (CESAF) também é possível se encaminhar à unidade básica de saúde, com o formulário da notificação compulsória.
Então, cabe ao profissional de saúde entender todos os fluxos de dispensação de medicamentos pelo SUS. Além disso, em situações em que o medicamento for adquirido nas farmácias privadas, é preciso esclarecer ao paciente essa situação.
Diante das diversas situações e da operacionalização diferenciada no âmbito estadual e municipal é fundamental estabelecer as rotinas daquela unidade básica de saúde a fim de esclarecer para todos os interessados.
Infelizmente, a falta de qualificação ainda é um problema constante na área de saúde. Muitos profissionais apresentam a formação básica, porém alguns conhecimentos específicos são demandados conforme o tipo de serviço.
Exemplo disso são as enfermeiras que devem ter especialização em obstetrícia, médicos que precisam de pós-graduação, residência em neurologia, pediatria, dermatologia, entre outros, para atuarem de forma efetiva.
Para resolver essa situação, muitos entes governamentais estão investindo nos servidores e funcionários por meio de capacitação em cursos de média e longa duração para que as atividades fossem aplicadas na unidade de saúde vinculada.
Contudo, recomenda-se sempre que os profissionais se mantenham atualizados com as novas tecnologias em saúde, procedimentos clínicos mais seguros, além de estudos farmacoeconômicos.
Considerando a organização dos serviços de saúde no SUS e na saúde suplementar, observa-se uma lentidão e burocracia para os atendimentos clínicos. Isso significa que o período entre a entrega da documentação e a aprovação do procedimento é bem demorado.
Nesse sentido, a menos que seja de urgência/emergência, o processo leva no mínimo 30 dias, podendo ser prorrogado por mais tempo a depender da complexidade do serviço, da disponibilidade do profissional e do custo.
Esse problema pode gerar outra grande situação, como no caso da judicialização de medicamentos e procedimentos, mesmo daqueles que já estão nos componentes da assistência farmacêutica.
A resolução desse problema de saúde é complexa e envolve diversos atores, desde profissionais de saúde, gestores, participação dos usuários até membros do legislativo e judiciário.
Identificar os maiores problemas de saúde pública e suplementar no Brasil é um dos pontos nevrálgicos do processo de melhoria da saúde. Dentro desse panorama, estão desde problemas estruturais nos estabelecimentos de saúde até de processos gerenciais, apesar de iniciativas bem-sucedidas em algumas atividades.
O mais importante para resolver as questões é fazer um diagnóstico diante das situações apresentadas, propor soluções em curto, médio e longo prazo e avaliar por meio de indicadores efetivos e seguros na gestão pública e privada.
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