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5.4.2024
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Equipe Afya Educação Médica
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A intoxicação por lítio não costuma resultar em quadros graves. Contudo, é uma condição que pode ser bastante danosa quando persiste por longos períodos. Isso é possível mesmo em casos mais leves ou quando as concentrações séricas desta substância ficam repentinamente excessivas e altas no organismo.
Por isso, é fundamental ter muito cuidado na administração de fármacos à base de lítio. Além disso, é muito importante que os médicos saibam o que pode provocar o acúmulo no organismo, efeitos e sintomas, a fim de identificar essa condição em seus pacientes e saber como proceder nesses casos.
A seguir, entenda melhor o que é o lítio, em quais situações essa substância pode ser utilizada, e como ocorre a intoxicação. Saiba também quais são os sintomas que o paciente pode apresentar e os cuidados a serem observados na prescrição. Boa leitura!
O lítio (Li) é um metal alcalino de número atômico (Z) 3. Essa substância é encontrada em diversos minerais e permite várias aplicações industriais e químicas, especialmente no segmento farmacêutico sob a formulação de carbonato de lítio/citrato de lítio.
Normalmente, ele é prescrito para pacientes com transtornos psiquiátricos. Contudo, como ocorre com qualquer outro tipo de composto, o excesso dessa substância no organismo pode provocar muitos efeitos danosos.
Por apresentar um efeito estabilizador de humor, o lítio (Li) é um dos medicamentos mais eficazes para o tratamento da bipolaridade, conhecida como transtorno bipolar. Ele é especialmente útil para o tratar episódios maníacos agudos, reduzindo as taxas de suicídio associadas a transtornos afetivos.
Sua ação eficiente como estabilizador de humor, o torna uma boa opção, também, para tratar condições como a ciclotimia e demais transtornos de humor ou personalidade. Nesse sentido, as utilizações do lítio incluem a ação de medicamentos antidepressivos, já que envolvem oscilações de humor. Também englobam as medicações para o tratamento de agressão e do distúrbio de estresse pós-traumático.
Em geral, a intoxicação por lítio ocorre por superdosagem intencional ou acidental, aumento da dose ou redução da depuração renal dessa substância. Os casos mais comuns são por envenenamento crônico devido à utilização prolongada. Quando isso ocorre há um comprometimento da função renal.
O processo de intoxicação também pode acontecer com a interação medicamentosa entre medicações com lítio e os antipsicóticos de segunda geração (ASG), como Risperidona, Quetiapina ou Clozapina. Essas combinações são comuns em tratamentos de esquizofrenia e transtorno bipolar.
Além disso, essas interações podem acontecer com os seguintes medicamentos:
Os graus de intoxicação por lítio podem ser leves, moderados ou graves, sendo o sistema nervoso central (SNC), o mais afetado.
O lítio pode desencadear diversos efeitos no organismo, conforme comentamos a seguir.
Os pacientes que apresentam intoxicação aguda têm sintomas gastrintestinais como náuseas, diarreia e vômitos, que podem evoluir para depleção volumétrica e comprometimento da função renal. Esse comprometimento dos rins agrava o quadro de intoxicação.
Já os sintomas neurológicos são tardios e, quando surgem, a pessoa já está melhor dos sintomas gastrintestinais. O paciente apresenta:
A toxicidade do lítio pode provocar uma disfunção distal dos túbulos renais, com diminuição da resposta à arginina vasopressina. Nesses casos, os pacientes podem desenvolver poliúria significativa compensada por polidipsia. Esse desequilíbrio pode causar distúrbios eletrolíticos, como depleção de volume e hipernatremia.
As anormalidades cardíacas são as mais comuns na intoxicação aguda e podem provocar a hipotensão, a bradicardia e as disritmias ventriculares, apresentando-se como síncope. Nesse sentido, uma toxicidade crônica do Li pode estar relacionada a casos raros de taquicardia ventricular.
Embora possa provocar muitos efeitos danosos por intoxicação, o lítio é considerado uma medicação segura. Mas para garantir essa segurança é preciso observar alguns cuidados, conforme mostramos a seguir.
A dosagem adequada para cada paciente deve ser feita com base na resposta clínica e medições de concentração de lítio no sangue, visando obter o máximo efeito sem provocar toxicidade. Para isso, é recomendado um exame de sangue para medir a quantidade de lítio na corrente sanguínea.
Esse exame deve ser realizado uma semana após o início do tratamento e repetido a cada 3 meses. Para os pacientes considerados estáveis, os exames de sangue podem ser feitos a cada 6 meses, dependendo de fatores como a idade, a condição de saúde e a resposta ao tratamento.
Os exames precisam ser realizados cerca de 12 horas após a última dose tomada. Quando houver alterações na dose, é preciso esperar entre 5 e 7 dias antes de realizar um novo exame para que a distribuição do medicamento fique estabilizada. As concentrações consideradas adequadas de lítio no sangue durante o tratamento ficam entre 0.50 -1.00 mEq/L.
Esses níveis podem ser diferentes para cada tipo de paciente — para os mais jovens, que apresentam sinais severos de mania e psicose, podem precisar de doses mais altas, enquanto os idosos podem ser tolerantes apenas a doses mais baixas.
É importante observar que as pessoas que não usam carbonato de lítio não devem fazer esse exame, já que não há parâmetros considerados normais para essa substância no sangue. Dessa forma, os profissionais de saúde não devem solicitar esse tipo de exame antes de iniciar a prescrição.
O lítio deve ser ministrado conforme a prescrição psiquiátrica. Em geral, é prescrita uma dose única após o jantar. Contudo, é mais seguro prescrever doses divididas em duas ou mais vezes por dia, especialmente, em casos de pessoas idosas, enfermas ou que utilizam altas doses.
Já para os pacientes jovens e relativamente saudáveis, é indicado o uso de lítio em comprimidos com liberação retardada. É essencial orientar o paciente de que ele não deve tomar duas doses de uma vez em casos de esquecimento, já que isso não é seguro.
A dose deve ser diminuída pela metade em casos de febre acima de 38 °C, diarreia ou desidratação.
É fundamental tomar cuidado ao prescrever simultaneamente medicamentos que podem reduzir a excreção renal da substância ou aumentar os potenciais efeitos tóxicos do composto. Isso também é válido para pessoas que precisam de dietas pobres em sódio por motivos médicos.
Para os pacientes em tratamento com eletroconvulsoterapia, o uso de lítio deve ser interrompido, visando a prevenção de sintomas neurológicos.
Em casos de cirurgias que necessitem de anestesia geral e mesmo enquanto o paciente não puder comer ou beber, o tratamento com lítio deve ser suspenso entre 48 e 72 horas antes. Para as cirurgias com anestesia local, não é necessário interromper o tratamento.
O uso do lítio pode ser continuado quando o paciente estiver bem hidratado.
Caso haja alguma mudança no laboratório responsável pelo medicamento ou no sal de lítio usado, é importante que essa alteração seja realizada de maneira gradual, descontinuando o primeiro medicamento gradualmente e introduzindo lentamente o segundo.
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Como vimos, a intoxicação por lítio pode provocar diversos efeitos danosos ao organismo. Contudo, é possível evitar essa condição tomando alguns cuidados importantes na prescrição, como os que comentamos neste artigo.
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