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11.6.2020
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Equipe Afya Educação Médica
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Desde que foi introduzida no Brasil, em 1995, a internet possibilitou o acesso fácil e abundante a todo tipo de informação de interesse dos usuários. Com o passar dos anos ela ficou mais rápida, barata e popular, presente hoje em pelo menos 70% dos domicílios brasileiros. Apesar de ser uma ferramenta poderosa de acesso à informação, nem tudo o que está na internet pode ser considerado confiável ou acurado o suficiente do ponto de vista científico e médico.
A pandemia do Coronavírus ilustra muito bem essa situação. Desde o início da circulação do vírus, na China, uma série de notícias falaciosas e estudos questionáveis têm sido publicados em sites, blogs e redes sociais por usuários sem compromisso com a apuração dos fatos ou até mesmo mal intencionados. Na busca rápida e pouco atenta por informações, até mesmo médicos experientes e qualificados podem ser pegos pela armadilha da infodemia, o universo de notícias e informações falsas existente na internet.
Qualquer pessoa pode criar e publicar conteúdo sobre qualquer tema na internet. Isso significa que os usuários têm acesso a conteúdos produzidos por profissionais altamente qualificados para escrever sobre aquele tema, comprometidos com a verdade, com fatos e dados científicos, mas também a conteúdos criados por leigos e/ou pessoas com pouco conhecimento e nenhuma experiência sobre o tema, sem comprometimento com apuração e divulgação de fatos e dados científicos. A pandemia do Coronavírus tornou visível a quantidade imensa de conteúdos questionáveis circulando na internet, alguns criados com base na realidade, mas distorcidos, outros de caráter completamente absurdo.
Alguns exemplos: “Novo Coronavírus foi fabricado em laboratório na China”
Nem só de fake news grosseiras e claramente forjadas é feita a infodemia. Muitos estudos científicos verdadeiros, mas em estágio inicial ou inconclusivos, são divulgados e lidos como consensos científicos estabelecidos. Isso acontece, em geral, porque o vírus é bastante novo, o que naturalmente explica a ausência de pesquisas sólidas sobre o tema. Pela mesma razão, ainda não houve tempo suficiente para que outros estudos fossem iniciados, produzidos, publicados e confirmados. Tudo é muito novo.
O caso da eficácia dos medicamentos hidroxicloroquina, azitromicina e cloroquina é um bom exemplo desse problema. Um estudo preliminar conduzido por um cientista francês e publicado em março deste ano apontava resultados promissores sobre a eficácia dos medicamentos em pacientes com o Coronavírus. Assim que foi divulgado, o estudo passou a ser defendido por governos de alguns países como possível solução de saúde pública para o enfrentamento da doença.
Contudo, até mesmo o pesquisador responsável pela pesquisa apontou que eram necessários novos estudos que confirmassem ou refutassem seus resultados, o que acabou acontecendo semanas depois. Embora existam diversos estudos produzidos com a cloroquina, a hidroxicloroquina e a azitromicina ainda não há ainda nenhum consenso na comunidade científica sobre os efeitos positivos dessas e demais drogas para o tratamento contra a COVID-19.
Um outro estudo francês divulgado em abril apontava que indivíduos tabagistas tinham menos chances de se infectar pelo Coronavírus, o que geraria um tipo de salvo-conduto aos fumantes durante a pandemia. Embora a pesquisa tenha de fato sido conduzida por uma equipe de cientistas em uma universidade na França, o estudo divulgado era uma versão preliminar e não havia sido revisado por outros pares.
Contudo, já em suas primeiras leituras, diversos especialistas criticaram a metodologia utilizada, alegando que os pesquisadores não levavam em conta diversos fatores importantes para garantir qualidade do estudo, o que tornaria os dados mais acurados. Além disso, a imprensa francesa expôs o passado de um dos cientistas envolvidos, financiado por empresas ligadas à indústria do tabaco.
Outro exemplo é o estudo chinês sobre a transmissão do Coronavírus para animais domésticos. Publicado no início de abril, a pesquisa chinesa do Instituto Harbin de Pesquisa Veterinária mostrou que o novo vírus pode infectar gatos domésticos e ser transmitido para outros felinos. A carga viral encontrada nos animais aponta que eles dificilmente poderiam infectar um ser humano. Contudo, assim como diversos outros estudos relacionados ao Coronavírus, o resultado é preliminar.
Além disso, a pesquisa foi feita com um número muito pequeno de animais, apenas cinco, que foram expostos a altas doses do vírus. Isso significa que ainda não é possível afirmar que animais domésticos podem se contaminar com o vírus e muito menos que os pets podem espalhar o vírus para seres humanos. Novos estudos precisam ser feitos e os resultados precisam ser comparados até que se possa ter um consenso sobre o tema.
A COVID-19 é o nome dado a uma doença infecciosa causada por um novo tipo de coronavírus descoberto inicialmente na cidade de Wuhan, na China. A doença surgiu naturalmente, provavelmente do contato humano com animais silvestres mantidos em cativeiro junto de animais de abate comuns, em um tradicional mercado de rua da cidade chinesa.
O vírus se dissemina por meio da saliva de pessoas contaminadas que, ao tossir, espirrar e falar, espalham as gotículas. Elas podem ficar em suspensão no ar próximas das pessoa contaminada e também presentes nas superfícies. Essas gotículas contaminadas, quando em contato com boca, nariz, olhos e demais áreas do corpo com mucosa, podem infectar novos indivíduos.
A melhor forma de combater a disseminação da doença é por meio do distanciamento físico entre indivíduos, lavar as mãos constantemente, evitar contato das mãos com superfícies potencialmente contaminadas e também o contato das mãos com o rosto.
Não há vacina nem medicamento(s) comprovadamente eficiente(s) contra o Coronavírus em julho de 2020 (data da publicação deste texto).
Quando estiver usando a internet e se deparar com alguma informação nova tente sempre checar a fonte e os dados utilizados no texto. Busque na internet onde aquela informação foi publicada originalmente, como foi produzida e por quem. Muitas notícias falsas ou imprecisas não contém nomes de pesquisadores ou universidades, nem mesmo links para o estudo original. Em alguns casos, elas podem conter ainda nomes de instituições e pesquisadores falsos que podem ser facilmente verificados na internet.
Mantenha ainda o hábito de se informar em fontes confiáveis de informação, como jornais, portais e canais de TV reconhecidos. Embora não sejam imunes a erros, grandes veículos de imprensa e jornalistas profissionais têm obrigação ética, prevista no Código de Ética dos Jornalistas, de publicar apenas informações verdadeiras, checar e rechecar os dados antes de publicar.
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