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8.5.2020
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Equipe Afya Educação Médica
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Você já leu sobre a enterocolite necrosante (ECN ou NEC)? Trata-se de uma inflamação que acontece em partes da superfície interna do intestino, o que pode causar infecção por bactérias e leva a necrose neste órgão dos recém-nascidos (RN) prematuros, os principais pacientes com essa doença. Dos casos conhecidos, 70% a 90% ocorreram em bebês nascidos prematuros.
Embora a causa não seja completamente entendida pela comunidade médica, a ECN está relacionada parcialmente a uma baixa saturação de oxigênio no sangue dos RN, bem como a uma redução do fluxo de sangue ao intestino do bebê prematuro que teve algum tipo problema de saúde anterior ou tem peso muito reduzido, abaixo de 1,5kg. É uma das emergências gastrointestinais adquiridas mais comuns entre aquelas que podem levar os RN à cirurgia, responsável por parte considerável das ocupações das Unidades de Terapia Intensiva neonatais nos hospitais.
A ECN pode ocorrer já nas primeira duas semanas de vida do recém-nascido. Logo após o início da alimentação enteral dos prematuros é possível ver um comprometimento sistêmico do paciente, com necrose em segmentos da alça intestinal.
Os principais sintomas incluem:
O diagnóstico é feito através da radiografia no abdômen do paciente e exame de sangue. A primeira pode demonstrar sinais de distensão, edema das alças intestinais e também a existência de gases na parede intestinal, condição conhecida como pneumatose intestinal.
A ocorrência da pneumatose sugere que existe perfuração da parede intestinal do RN, condição bastante grave que necessita de cirurgia e que pode até mesmo levar o bebê à óbito. O exame de sangue pode determinar a presença de bactérias ou demais anomalias na corrente sanguínea.
Radiografias mostram dilatação de alças e pneumatose intestinal na radiografia A. Na radiografia B ocorre a pneumatose intestina. Outro importante exame diagnóstico é o Teste de Apt, utilizado para identificar se o sangramento do trato intestinal do recém-nascido ocorre no órgão ou por causa da deglutição do sangue materno no momento da amamentação, o que ocorre com frequência quando há uma fissura na mama da lactante.
Nos anos 70, o médico e pesquisador Bell fez uma vasta avaliação de quadros da ENC que levava em conta os diagnósticos radiológicos e de exames de sangue em RN. Ele estabeleceu uma série de critérios de diagnóstico e tratamento em uma tabela conhecida como estadiamento de Bell.
A incidência da ECN é de 3 a 4 casos por 1.000 nascimentos. Os fatores de risco estão associados à própria característica de fragilidade de saúde do recém-nascido, que pode ter sido acarretado por restrição do crescimento intrauterino e asfixia perinatal, por exemplo.
Também a RN com doença cardíaca congênita, gastrosquise, policitemia, hipoglicemia, sepse, exsanguineotransfusão, que fazem uso de cateteres umbilicais, que possuem alergia ao leite, com rotura prematura de membranas e até mesmo devido ao uso materno de drogas como a cocaína.
A forma mais comum de tratar a doença é o estabelecimento imediato de jejum do recém-nascido, bem como a remoção de todo o conteúdo do seu estômago para a descompressão. O bebê passa então a se alimentar por meio de sonda. Deve ser feito um detalhado acompanhamento do débito urinário, balanço hídrico, manutenção de perfusão e débito cardíaco, fornecimento de suporte ventilatório, correção de anemia, plaquetopenia, distúrbio de coagulação.
Há ainda administração de antibióticos para tratar possíveis infecçõesEmbora a maioria dos recém-nascidos com enterocolite necrosante não precisem de cirurgia, ela pode ser realizada quando o médico identifica perfuração intestinal. A cirurgia também é indicada para casos em que o intestino está gravemente afetado.
O procedimento começa com a remoção da parte do intestino que sofre com a falta de irrigação sanguínea. Então as duas extremidades do intestino saudáveis são trazidas até a superfície da pele criando uma passagem que permite a drenagem do conteúdo do intestino, processo conhecido como ostomia.
Assim que o recém-nascido se recupera essas extremidades são religadas e o intestino é inserido novamente na cavidade abdominal. O profissional pode ainda inserir drenos para auxiliar na recuperação dos bebês que apresentam peso muito baixo ou que estão em condição de saúde muito grave. Esses drenos servem para que o profissional remova o material infectado, o que permite uma redução na gravidade dos sintomas e certa estabilização do paciente.
Assim que seu estado for estável, o médico pode realizar a cirurgia se avaliar a necessidade.
Médicos pesquisadores têm desenvolvido diversas estratégias para prevenir a ocorrência de enterocolite necrosante nos recém-nascidos, em especial os prematuros, os mais afetados pela doença. Algumas dessas técnicas passam pela prevenção da asfixia perinatal, que reduz a ocorrência da ENC.
Os médicos sugerem também a alimentação precoce desses recém-nascidos com leite materno, aumento as doses de forma gradual. Sugerem ainda o uso de probióticos que auxiliam na colonização do intestino com microbiotas benéficos ao sistema digestório fragilizados desses bebês. O uso de corticoides também têm produzido resultados animadores na proteção do trato gastrintestinal.
No caso de bebês que não podem se alimentar por via enteral, a colostroterapia é indicada para a colonização do trato gastrintestinal com a flora do leite humano até que o RN esteja pronto para a instalação da nutrição enteral.