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É preciso debater o assédio sexual no meio médico

É preciso debater o assédio sexual no meio médico

Em meio a tantos debates sobre o assédio que mulheres (e homens) sofrem diariamente, uma questão muito importante tem sido discutida: o abuso sexual no meio médico.

Embora esse não seja um assunto novo, essas e outras questões estão sendo mais debatidas ultimamente em grupos de mulheres e coletivos feministas criados em escolas de medicina, assim como o movimento #metoo — campanha que visa evidenciar os casos de abuso, e, em inglês, faz referência à frase “eu também”.

Esses grupos têm o objetivo comum de combater a violência sexual e de gênero e, de certa forma, criar um espaço no qual seja mais descomplicado e seguro denunciar a violência.

Curiosamente, a medicina não é uma área em que as pessoas imaginam que esse comportamento aconteça. Mas, de onde vem esse assédio? Por que ele acontece?

Acreditamos que um tema tão relevante e ao mesmo tempo polêmico precisa ser abordado mais abertamente. Para tanto, elaboramos este artigo com essas e outras questões pertinentes ao assunto. Acompanhe!

Campanha #metoo

A campanha #metoo tem como principal objetivo evidenciar, em âmbito global, o assédio sexual contra mulheres.

O movimento online se iniciou a partir do momento em que atrizes anônimas de Hollywood começaram a revelar, por meio da #metoo, experiências de abusos, assédios e agressões que elas vivenciaram no passado.

Os resultados da campanha foram milhares de compartilhamentos que expressaram a magnitude do problema em escala global. Como consequência, a hashtag deixou de abranger somente os artistas de Hollywood e começou a atingir o meio médico.

Impacto na medicina

Sabemos que é preciso ter coragem para relatar e trazer essa discussão para a medicina. Além do temor de afrontar certos incidentes e figuras representativas do meio, as políticas contra abusos e discriminação de gênero raramente são discutidas ou empregadas com sua devida relevância.

Um estudo publicado nos Estados Unidos pela revista científica de medicina JAMA retratou que, de 14.405 estudantes graduandos em medicina, 33% alegaram terem vivenciado experiências de assédio durante o período de formação.

Os tipos de abuso são diversos, e abrangem desde comentários sexistas ou racistas, até insultos quanto a notas baixas ou a justificativa de conquistas acadêmicas devido à identidade de gênero ou orientação sexual.

Repercussão no Brasil

Casos de violência sexual no meio médico não são novidade, mas, certamente o ato de denunciar está mais acessível diante dos grupos e associações de mulheres que estão sendo criados. São exemplos:

  • MUDA: Coletivo de Mulheres Medicina Unicamp;
  • USP Mulheres;
  • Coletivo Feminista Geni - Faculdade de Medicina da USP;
  • Coletivo de Mulheres Medicina Estácio de Sá;
  • Coletivo Feminista Estrelas do Sul - Faculdade de Medicina de Catanduva.

Em um estudo realizado com 317 graduandos de medicina da USP, uma parcela desconcertante de 43% dos estudantes relatou algum tipo de assédio durante os anos de formação.

Um lado bom dessa e de outras pesquisas relacionadas ao assunto é o tanto que elas evidenciam que hoje as pessoas se encontram mais preparadas para denunciar os abusos e violência.

Inúmeros casos começaram a ser relatados em outras universidades brasileiras e engana-se quem pensa que comentários sexistas e assédios morais estão em um passado distante.

Especialmente nas áreas em que ainda há uma predominância masculina, como ortopedia, cirurgia e anestesia, situações inadmissíveis ainda ocorrem e não podem mais ser acobertadas por uma cultura desrespeitosa.

Legislação no Brasil

Lamentavelmente não existe, ainda, uma legislação brasileira que trate especificamente de assédio sexual. No entanto, existem penalidades, que vão de multa até detenção por dois anos.

O artigo 216-A do Código Penal considera que obter alguma vantagem por meio de favorecimento sexual, constrangendo outra pessoa, é crime.

Dessa maneira, observar e saber identificar os indícios e episódios de assédio são os primeiros passos para a denúncia.

Mas, você deve estar se perguntando, se isso acontecer, como denunciar ou registrar uma reclamação?

Como realizar a denúncia

Se o fato acontecer dentro de alguma instituição, o ideal é comunicar primeiramente o setor de recursos humanos e, em seguida, registrar o boletim de ocorrência.

Provas (como conversas em meios digitais, mensagens e ligações), além de testemunhos que comprovem o assédio também são importantes no momento de registro. Assim, um inquérito é estabelecido, podendo resultar em uma ação civil pública.


Por que é fundamental debater o assédio sexual no meio médico

Neste post, abordamos até então a ocorrência de abusos principalmente em universidades e postos de ensino. No entanto, é imprescindível problematizar as frentes de assédio que podem ocorrer em outros âmbitos da medicina, como nos hospitais e clínicas de saúde.

Nesse ambiente, podem acontecer casos de violência de gênero e sexual que, englobam, principalmente, diretores e profissionais em cargos de maior escalão assediando não somente os colegas da mesma profissão, mas também funcionários de enfermagem ou até mesmo pacientes.

Algumas denúncias são divulgadas na mídia, mas, devido ao medo de perder o emprego ou a repercussão que essas notícias têm o potencial de causar, muitas não são retratadas ou sequer realizadas. Desse modo, os administradores de hospitais podem ter a impressão de que esses fatos não existem ou têm uma incidência irrisória.

Porém, o que precisa ser enxergado é que denunciar o assediador ou algum representante mais respeitado é mais simples do que parece e, em muitos casos, pode ajudar outros colegas que estejam submetidos à mesma situação.

É necessário quebrar, portanto, os paradigmas de comportamento diante dessas condições e confrontar, com firmeza, ações ou insultos que lhe causem desconforto.

É fato que a abordagem do assédio sexual está passando por mudanças significativas e, cabe a toda sociedade médica, independentemente do gênero, encarar essas questões como inadmissíveis em qualquer esfera.

O Ministério Público, por sua vez, recomenda às universidades que mantenham em funcionamento esses grupos e associações que têm como objetivo resguardar os direitos humanos.

Além disso, as campanhas como a #metoo e notificações por meio dos coletivos de mulheres podem ser uma excelente ferramenta para retratar as estatísticas e magnitude de um problema tão grave.

E então, qual sua opinião sobre um assunto tão relevante e polêmico? Compartilhe este artigo em suas redes sociais e discuta com seus colegas sobre as experiências e considerações acerca do assédio sexual no meio médico!