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13.5.2020
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Equipe Afya Educação Médica
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A população brasileira envelheceu. Enquanto nos anos de 1980 o grupo de pessoas acima de 60 anos era composto por pouco mais de 7 milhões de indivíduos, em 2010 esse número saltou para mais de 20 mi. As estimativas são de que em 2040 essa cifra mais que dobre. A mudança populacional traz desafios cada vez maiores para médicos envolvidos no cuidado com a saúde física e mental dos idosos, como é o caso dos psiquiatras e neurologistas que tratam as demências, ou mesmo geriatras que dão suporte ao cuidado com essas pessoas. Entre as principais demências relacionadas às pessoas de idade avançada está a Doença de Alzheimer (DA).
A DA é um distúrbio neurodegenerativo que afeta majoritariamente a população idosa. A doença é uma das demências mais comuns entre idosos, representando de 60% e 80% dos quadros. A maior parte dos casos ocorre na chamada fase tardia, após os 60 anos, porém, de 3% a 4% dos casos pode ter início antes disso.
O sintoma mais marcante e primeira manifestação clínica da Doença de Alzheimer é o distúrbio de memória, principalmente da memória chamada declarativa, associada a uma região conhecida como temporal mesial e das estruturas neocorticais. É nessa memória que o paciente armazena informações sobre onde guardou um objeto ou o que comeu pela manhã, por exemplo. Na fase inicial há também alteração de alguns domínios cognitivos, como a diminuição da capacidade de falar e habilidades visuoespaciais.
Nos estágios mais tardios da doença os sistemas subcorticais, responsáveis pelas memórias processuais e pelo aprendizado, são mais afetados, evoluindo para perda de funções executivas e alterações comportamentais. Neste estágio surgem também sinais neurológicos como alterações de personalidade, apatia, isolamento social ou desinibição. Os pacientes podem ter, ainda, agitação psicomotora, agressividade, alucinações e delírios. Podem acontecer ainda sintomas piramidais e extrapiramidais. Mioclonias e crises epilépticas também podem aparecer em estágios mais graves e tardios.
Logo que os primeiros sintomas da Doença de Alzheimer surgem é bastante comum que nem mesmo a família do paciente reconheça que há um problema de saúde a ser observado. Mesmo o médico no momento do exame não vê alterações significativas nos exames neurológicos preliminares. Por isso é importante que ele busque exames alternativos dos processos cognitivos, análise sanguínea, além de exames diagnósticos que vão funcionar por exclusão, como o exame de neuroimagem.
Ao fazer isso o profissional visa, principalmente, descartar a existência de outros tipos de demência e ainda avaliar o grau de atrofia hipocampal do paciente. No campo da pesquisa médica novos estudos são realizados para aumentar o leque de diagnósticos da Doença de Alzheimer mesmo antes da manifestação dos primeiros sintomas. Uma pesquisa realizada na Universidade Federal de Minas Gerais, por exemplo, desenvolve um novo método que analisa a retina do paciente em busca da proteína beta-amilóide, que, acumulada em placas nos neurônios, lesa a célula e prejudica as sinapses, o que pode indicar o aparecimento da doença.
A família do paciente com Alzheimer tem papel fundamental no cuidado de saúde e acompanhamento da evolução da doença. Para que isso aconteça de forma efetiva, desde o momento dos primeiros atendimentos o médico deve ter uma abordagem pedagógica com os familiares sobre a condição do paciente e sobre a nova realidade que enfrentarão a partir do diagnóstico da doença. É importante lembrá-los, por exemplo, de que se trata de uma doença progressiva, sem cura, em que a pessoa com demência perde gradualmente a autonomia e independência, passando a depender do suporte de um familiar ou cuidador para acompanhá-lo nas atividades diárias.
É importante também estabelecer um diálogo aberto com a família pois muitas vezes maridos, esposas, filhos, irmãos e netos dos pacientes passam por um processo de muita dor na aceitação da condição de saúde do familiar, principalmente diante da perda de memória. É muito comum que membros da família relatem medo, desconforto, cabendo ao médico instruí-los sobre os caminhos e possibilidades para enfrentar a doença.
Esta é uma decisão que cabe única e exclusivamente à família. O médico e demais profissionais de saúde em torno do paciente têm papel de auxiliar e guiar os familiares nessa tarefa. As famílias que optam por não revelar o diagnóstico ao ente querido o fazem por diversos motivos, mas principalmente para evitar que o paciente seja confrontado com uma situação crítica de saúde mental. Pessoas com Doença de Alzheimer que ainda possuem capacidade crítica e de análise podem enfrentar quadros de depressão e ansiedade diante do difícil prognóstico.
Já os familiares que preferem contar devem ser instruídos a ter a conversa com o paciente já no estágio inicial da doença, de forma simples e de fácil entendimento. Devem ainda repetir a conversa quantas vezes forem necessárias até que o paciente se reconheça com a nova condição de saúde mental. É possível, contudo, que em alguns casos o paciente tenha muita dificuldade de entender seu problema de saúde ou até mesmo nunca absorva a informação.
As causas exatas da Doença de Alzheimer ainda são desconhecidas, embora diversas pesquisas apontem novos caminhos para uma descoberta definitiva. A idade avançada é o fator de risco proeminente. Analisando os casos entre a população é possível ver que as mulheres sofrem mais desse tipo de demência. Pessoas com baixa escolaridade, histórico familiar da doença, doenças do coração, antecedente de traumatismo craniano grave, alta concentração de homocisteína no sangue, dietas ricas em gordura e polimorfismo específico no gene da apolipoproteína E.
Estudos coordenados em diversos centros de pesquisa apontam alguns caminhos para a prevenção da doença. Um fator que comumente preocupa pacientes e familiares é a questão do risco relacionado ao fator genético. Esses casos representam menos de 5% da ocorrência de DA e surgem bem mais cedo, em pessoas com menos de 65 anos. Esses pacientes apresentam problemas como dificuldade na linguagem antes dos doentes sem fator genético associado. As formas precoces da doença estão associadas ao gene da proteína precursora amiloide (APP), o gene da presenilina 1 (PS1) e o gene da presenilina 2 (PS2).
Como não existe cura, o que a comunidade médica têm recorrido são a cuidados que garantam sobrevida, o retardo do avanço da doença e dêem qualidade de vida ao paciente. Para isso são utilizados compostos farmacológicos que reduzam a degradação da acetilcolina, muito reduzida em pacientes com Doença de Alzheimer. Hoje os medicamentos mais comuns no Brasil que atuam sobre a acetilcolina são a rivastigmina, a donepezila e a galantamina, inibidores da acetilcolinesterase - ou anticolinesterásicos. Junto aos familiares o médico deve avaliar qual o melhor medicamento e acompanhar a evolução do quadro. Cada medicamento apresenta vantagens e desvantagens e têm como objetivo estabilizar o paciente, de modo que a doença evolui mais lentamente. A resposta a esses fármacos é bastante variada.
Outra opção é a via não-medicamentosa, com terapias e atividades de estimulação cognitiva acompanhada de perto pelo médico responsável. Nessa categoria há diversas opções, como exercícios de estimulação cognitiva, estimulação social, física, espacial. É importante que o médico converse com os familiares que optam por esse caminho sobre as possibilidades e limitações de cada processo. Muitas famílias acabam sobrecarregando os pacientes com diversas atividades estimulantes e prejudicam o tratamento.
Para você qual o papel da família no cuidado com o paciente com Doença de Alzheimer?