A doença celíaca não tem cura, mas é possível conviver com essa condição tomando alguns cuidados. Saiba como orientar seus pacientes celíacos nesse sentido!
Segundo a FENALCEBRA (Federação Nacional das Associações de Celíacos no Brasil), a prevalência mundial da doença celíaca é de 1% da população. No Brasil, ainda não contamos com estudos multicêntricos para essa determinação, somente alguns realizados em municípios nas últimas duas décadas, que podem proporcionar uma visão parcial dessa prevalência.
O Dia Mundial do Celíaco é celebrado em 16 maio e a Campanha da FENALCEBRA “Maio Celíaco/2025 de Conscientização sobre a Doença Celíaca” tem como objetivo chamar a atenção da sociedade para as baixas taxas de diagnóstico da doença no país. De acordo com dados da Federação, a estimativa é de que no Brasil existam aproximadamente 2 milhões de celíacos, sendo a maioria não diagnosticada (80%).
Neste artigo, apresentamos as principais informações que você precisa saber sobre a doença celíaca e como diagnosticá-la com precisão. Confira!
O que é a doença celíaca?
Doença celíaca é uma condição autoimune provocada pela intolerância ao glúten, proteína que faz parte da composição do trigo, da aveia, da cevada, do centeio e de seus derivados. Isso inclui massas, pizzas, bolos, pães, biscoitos e cerveja, que dificultam o organismo na absorção dos nutrientes dos alimentos, vitaminas, sais minerais e água.
Isso ocorre devido à inflamação crônica da mucosa do intestino delgado, que pode levar à atrofia das vilosidades intestinais.
Quais são suas principais causas?
Em geral, a doença celíaca ocorre em pessoas com tendência genética, surgindo na infância, em crianças com idade entre 1 e 3 anos. No entanto, ela pode aparecer em qualquer idade, inclusive em pessoas adultas e idosas.
Embora o fator genético seja a principal causa, também é importante considerar uma combinação dele com aspectos ambientais e imunológicos.
Como a doença celíaca se manifesta?
A doença celíaca pode se manifestar por meio de sintomas gastrointestinais e alterações na pele. A dermatite herpetiforme, por exemplo, provoca erupções cutâneas em locais específicos como joelhos, cotovelos, costas e nádegas. Também é comum o surgimento de urticárias e eczema.
Como os sintomas estão relacionados à má absorção de nutrientes, o paciente celíaco pode apresentar diversos sinais, como:
- anemia;
- cansaço;
- coceiras ou bolhas na pele;
- deficiência de vitamina D e cálcio;
- desconfortos abdominais, como sensação de estufamento (barriga inchada);
- diarreia ou prisão de ventre;
- dificuldade de crescimento em crianças;
- diminuição do apetite;
- dores de cabeça;
- dores de estômago;
- dores musculares.
- excesso de gases;
- falta de ar;
- fraqueza;
- irritabilidade;
- lesões na pele;
- osteomalácia;
- osteopenia;
- osteoporose;
- perda de massa muscular;
- perda ou dificuldade para ganhar peso;
- queda de cabelo;
- tontura.
É importante observar que alguns pacientes podem apresentar poucos ou nenhum desses sintomas. No entanto, a falta de tratamento da doença pode levar ao surgimento de tumores no intestino ou linfoma.


Como diagnosticar a doença celíaca?
Após o paciente relatar os sintomas, caso haja alguma suspeita, é interessante checar se há algum caso na família. Em seguida, solicite alguns exames para confirmar o diagnóstico.
Por meio de exames de sangue, é possível verificar a presença de anticorpos específicos relacionados à doença. Mas é importante observar que, para realizá-los, o paciente precisa ter ingerido glúten diariamente nos últimos dois meses.
Para diagnosticar a doença celíaca, a FENALCEBRA recomenda solicitar alguns exames de sangue, endoscópicos e de pele, conforme detalhamos a seguir.
Exames de sangue
- dosagem da imuglobina IgA;
- anticorpo antitransglutaminose IgA e IgC.
Você também pode solicitar os seguintes anticorpos:
- anticorpo antiendomísio IgA e IgC;
- anticorpo antigliadina IgA e IgC;
- anticorpo antigliadina deaminada IgA e IgC.
Endoscopias
A Endoscopia Digestiva Alta com biópsia do intestino delgado é muito útil para o diagnóstico da doença.
No entanto, para um diagnóstico correto, é preciso obter o mínimo de 6 amostras do bulbo e porções mais distais do duodeno. Além disso, o laudo deve conter a classificação na Escala de Marsh, a relação vilosidade/cripta e a contagem dos linfócitos intraepiteliais.
O exame de biópsia do intestino delgado precisa ser repetido após 3 a 6 meses de uma dieta livre de glúten. Nos casos em que a anormalidade persiste, outras causas de atrofia vilosa (p. ex., linfoma) precisam ser consideradas. A redução dos sintomas e a melhoria da morfologia do intestino delgado são acompanhadas por uma redução nos títulos de anticorpos antiendomísio (AEM) e antiglutaminase antitecidual (AAG).
Exames de pele
Em casos de suspeita de dermatite herpetiforme, solicitar biópsia de pele (lesão), com imunofluorescência direta de pele.
Nos casos em que não há confirmação da doença por exames e biópsia, existe uma grande probabilidade de que o paciente apresente somente uma hipersensibilidade não celíaca ao glúten. Portanto, esse resultado é um indicativo de que ele não tem a doença celíaca, mas pode ter alguns sintomas após o consumo de alimentos com a proteína.
Quais são os tipos de tratamentos existentes?
O tratamento é feito somente por meio de uma dieta restritiva, com a total suspensão do glúten por toda a vida da pessoa. Assim, os pacientes celíacos não poderão consumir alimentos que contenham trigo, centeio e cevada para o resto de suas vidas. Em geral, os resultados da dieta sem glúten são rápidos e os sintomas desaparecem em 1 a 2 semanas. No entanto, mesmo o consumo de pequenas quantidades de glúten pode prejudicar a remissão ou induzir à recaída.
Isso inclui os seus derivados, como farinha de trigo, pão, farinha de rosca, macarrão, bolachas, biscoitos, bolos e outros, além de aveia contaminada por glúten. Aqui, é preciso observar que o glúten também é amplamente utilizado em alimentos industrializados, molhos, sorvetes e cachorros-quentes. Portanto, o paciente precisa ter uma lista detalhada dos alimentos a serem evitados.
Além da dieta restritiva, é interessante indicar a suplementação de vitaminas, minerais e hematínicos que estejam em baixa, conforme demonstrado em exames de sangue. Para adultos, a reposição pode ser realizada com:
- sulfato ferroso 300 mg por via oral, uma vez ao dia em dias alternados, a 3 vezes ao dia;
- ácido fólico 5 a 10 mg por via oral uma vez ao dia;
- suplementos de cálcio e qualquer polivitamínico.
Outra recomendação é encaminhar o paciente para um nutricionista e indicar o seu cadastramento em um grupo de apoio ao paciente celíaco, como a FENALCEBRA , a ACELBRA, a Celiac Disease Foundation ou a Beyond Celiac.
Caso o paciente responda mal à retirada do glúten, é sinal de que o diagnóstico está incorreto ou a doença se tornou refratária. Nesse último caso, a administração de corticoides pode controlar os sintomas.
É possível o paciente conviver com a doença?
Sim, é possível. Mas é importante informar ao seu paciente o que ele pode comer e alguns cuidados que ele precisa ter para evitar recaídas e conseguir conviver com a doença, sem o risco de desencadear as possíveis complicações.
Alimentos permitidos para quem tem a doença celíaca
- carnes e ovos — aves, suínos, bovinos, caprinos, miúdos, peixes, frutos-do-mar;
- cereais — arroz, milho;
- farinhas — mandioca, arroz, milho, fubá, féculas;
- frutas — qualquer uma, de preferência na forma sólida, por ser mais saudável que sucos devido à frutose;
- gorduras — manteiga, óleos vegetais e animais;
- hortaliças, raízes e leguminosas;
- laticínios — leite, manteiga, queijos e derivados;
- sementes e oleaginosas.
Cuidados que o paciente deve observar ao comprar e preparar alimentos
É muito importante esclarecer ao paciente celíaco que, mesmo consumindo o mínimo de glúten, isso pode desencadear sintomas.
Para ajudá-lo a ficar atento, explique que os celíacos só podem ingerir alimentos fabricados em cozinhas descontaminadas. A propósito, conforme a Lei n.º 10.674, de 16/05/2003, é obrigatório que todos os alimentos industrializados informem em suas embalagens a presença ou não de glúten para resguardar o direito à saúde dos portadores de doença celíaca.
Nesse sentido, é válido explicar os cuidados que ele deve observar, tais como:
- ler com atenção todos os rótulos ou embalagens de produtos industrializados e, em caso de dúvida, consultar o fabricante;
- não engrossar pudins, cremes ou molhos com farinha de trigo;
- não reutilizar óleos que foram usados para fritar empanados com farinha de trigo ou farinha de rosca (feita de pão torrado);
- não utilizar as farinhas proibidas para polvilhar formas ou assadeiras;
- ter cuidado com temperos e amaciantes de carnes industrializados, já que muitos deles contém glúten.
Como você pôde verificar, para um correto diagnóstico da doença celíaca é importante solicitar os exames de sangue, endoscopia digestiva alta com biópsia do intestino delgado e exame de pele, conforme indicamos neste artigo. Caso seja constatada a condição, é fundamental orientar o seu paciente para adotar uma dieta sem glúten e indicar suplementação de vitaminas e minerais, caso seja necessária.
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