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Doação de sangue: da importância histórica à atualidade

Doação de sangue: da importância histórica à atualidade

O sangue é um tecido vivo, composto por quatro componentes fundamentais — plasma, hemácias, leucócitos e plaquetas — e responsável pelo transporte de nutrientes e oxigênio pelo corpo. Por se tratar de material que não pode ser reproduzido sinteticamente, em situações em que um indivíduo necessita de sangue para sobreviver, é preciso contar com a ação voluntária de doadores.

Daí a relevância da campanha Junho Vermelho, que tem como objetivo incentivar a doação de sangue, principalmente com a chegada do inverno, período em que as doações tendem a diminuir ainda mais.

Vale saber, contudo, que a doação de sangue foi um processo que passou por evolução histórica e que, por esse motivo, hoje é capaz de levar ao salvamento de até quatro vidas. Quer entender mais sobre o assunto? Continue a leitura!

Primeiros usos do sangue: o insucesso das transfusões heterólogas

A primeira vez que o sangue foi usado para tratamento de um paciente aconteceu na tentativa de melhorar a qualidade de vida de um jovem francês com problemas psíquicos, que andava nu pelas ruas de Paris. Assim sendo, o médico Jean Baptiste Denis injetou sangue de carneiro (transfusão heteróloga) no rapaz, a fim de que os distúrbios fossem controlados.

A ação, no entanto, resultou em óbito antes da terceira transfusão. Desse momento em diante, foram muitos os médicos e cientistas que se dedicaram a realizar transfusões heterólogas e fracassaram.

Até que, em 1778, os primeiros resultados positivos foram obtidos a partir da transfusão homóloga entre animais da mesma espécie. Esse foi o passo inicial para que, anos mais tarde, James Blundell obtivesse sucesso ao realizar uma transfusão homóloga direta entre sua paciente gestante com hemorragia pós-parto e o marido dela.

Descobertas dos tipos sanguíneos, fator Rh e anticoagulantes

Além dos experimentos com relação à eficiência do uso sanguíneo e as evoluções que permitiram a realização de doações indiretas — feitas hoje por meio de bolsas descartáveis e estéreis —, outros avanços, como a descoberta dos tipos sanguíneos A, B, AB e O, além do fator Rh, foram essenciais para a evolução dos estudos e o uso dos componentes como ocorre hoje.

O feito é atribuído ao médico austríaco Karl Landsteiner, o que conferiu a ele a oferta de um prêmio Nobel de Medicina.

Doação, separação e tratamento: o que acontece depois da coleta do sangue

Embora pouca gente saiba, o sangue quase nunca é utilizado da maneira como é coletado. O mais comum é que ele passe por tratamento e seja separado em bolsas de hemocomponentes. Esse processo só é possível graças aos avanços e descobertas feitos ao longo da história por especialistas em hematologia e terapias transfusionais.

Continue a leitura para descobrir o caminho que o sangue percorre da doação à chegada ao receptor!

Triagem

Ao chegar ao local de doação, o doador faz um cadastro com seus dados pessoais. Ali, podem ser realizados exames simples, como verificação de pressão arterial, temperatura, pulso e nível de hemoglobina.

Antes de realizar a doação de sangue em si, o doador passa por uma entrevista, responde a um questionário e tem uma amostra do sangue retirado, a fim de que o material possa ser encaminhado para análise de infecções sexualmente transmissíveis e outras doenças.

Além disso, é feita a tipagem sanguínea. Ela determina os fatores ABO e RH do paciente. Quando ele já é cadastrado no hemocentro, com tipagem certificada pela própria equipe, essa etapa é dispensada.

Momento da doação

Nesse momento, o doador é encaminhado para uma sala específica. A pele do braço é limpa com um antisséptico para evitar infecções. É utilizada uma agulha estéril, que é inserida na veia do braço. A coleta de sangue geralmente leva cerca de 10 a 20 minutos, durante os quais são coletados aproximadamente 450 ml de sangue.

Após a doação de sangue, o doador deve descansar por alguns minutos e consumir líquidos e alimentos leves para ajudar na recuperação. É recomendável evitar esforços físicos intensos nas próximas 24 horas. Essas orientações devem ser passadas pelos profissionais envolvidos no processo.

Processamento

Em seguida, vem a parte que poucas pessoas conhecem: a de processamento. Nela, o sangue coletado é centrifugado para separar os componentes principais: hemácias, plaquetas e plasma.

É também nesse momento que as amostras do sangue são testadas para detectar doenças infecciosas, como HIV, hepatites B e C, sífilis e outras. Esses testes garantem que o sangue transfundido seja seguro para o receptor e que a bolsa possa seguir sua jornada para a próxima etapa.

Armazenamento

Aqui, as hemácias são armazenadas em geladeiras específicas a uma temperatura entre 1°C e 6°C, podendo ser conservadas por até 42 dias. As plaquetas, por sua vez, são mantidas em agitadores a uma temperatura entre 20°C e 24°C e têm uma vida útil de até 5 dias.

O subproduto que tem maior durabilidade é o plasma, que pode ser congelado a -18°C ou menos, com a possibilidade de ser armazenado por até um ano. Todo esse processo é feito em ambientes com temperatura regulada, para evitar a inviabilidade das amostras.

Lembrando que, além desses casos, há também os processos de doação direta, em que uma pessoa doa sangue diretamente a um paciente específico, citando seu nome no ato da coleta. Nesse caso, o armazenamento não é necessário, mas todos os padrões de segurança são seguidos rigorosamente. Exames de sangue são realizados para garantir que a amostra é segura e que não colocará o paciente em risco, sendo feitos com urgência quando necessário.

Envio ao hospital

Quando um hospital necessita de sangue, ele envia uma solicitação ao banco de sangue. A partir daí, da mesma forma que acontece com medicamentos termolábeis, a amostra é transportada em condições controladas de temperatura, para garantir sua qualidade e segurança.

Em alguns casos, os hospitais já contam com seus hemocentros e espaço de armazenamento. Assim, a chegada do sangue é ainda mais rápida.

Realização da transfusão

Após a chegada ao hospital, o sangue é novamente verificado para garantir que está em condições ideais para uso. Nesse momento, pode ser feito um teste de compatibilidade entre o sangue doado e o sangue do receptor, conhecido como prova cruzada, a fim de evitar reações adversas.

Em seguida, o sangue é transfundido ao paciente, um procedimento utilizado para tratar diversas condições, como anemia falciforme ou outros distúrbios do sangue, além de cirurgias complexas, câncer, entre outras. Antes da transfusão, o paciente é preparado, incluindo o monitoramento de sinais vitais (pressão arterial, pulso, temperatura e respiração) e constantemente monitorado durante o processo, para garantir a segurança e a eficácia da transfusão.

Uma agulha ou cateter é inserido em uma veia do braço do paciente. O sangue ou componente sanguíneo é conectado ao cateter por meio de um conjunto de infusão. A transfusão começa lentamente e tende a manter um ritmo mais lento ao longo do processo, para minimizar o risco de reações adversas.

Reações como coceira e febre podem ocorrer, assim como a sobrecarga, o que mostra a importância do cálculo adequado do volume sanguíneo a ser transfundido para cada paciente.

Estoques esvaziados, uma triste realidade

Dados do Ministério da Saúde, de 2021, estimavam que, no Brasil, apenas 1,4% da população era doadora de sangue. Em 2023, as doações aumentaram significativamente, com mais de 100 mil bolsas a mais doadas em um período de nove meses, em relação ao mesmo intervalo em 2022. Esse aumento reflete os impactos da pandemia de COVID-19, que causou uma queda acentuada nos estoques de sangue em todo o país.

Durante a fase crítica da pandemia, as cirurgias eletivas foram suspensas, demandando remanejamento para um momento em que a crise de saúde estivesse mais controlada. No entanto, quando os hospitais reabriram suas agendas para esses procedimentos, as doações de sangue não acompanharam o aumento na demanda, dificultando a realização de algumas intervenções cirúrgicas.

De modo geral, embora o percentual de doadores esteja dentro dos parâmetros estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS), ele ainda está muito aquém do necessário. Apesar de as estimativas de crescimento serem positivas, é muito importante que as doações aumentem.

Por conta disso, os hemocentros, hospitais e órgãos de saúde estão sempre solicitando que as pessoas doem sangue. E o melhor: há alguns benefícios para quem se dispõe a fazer essas doações. Eles incluem:

  • direito à folga para funcionários públicos e trabalhadores do regime CLT;
  • atendimento preferencial em estabelecimentos como supermercados e outros, em alguns estados;
  • realização gratuita de hemogramas e outros exames (também em alguns estados).

Confira quais são as regras em seu estado ou município! Quem sabe não há benefícios esperando por você neste momento?

Destaca-se que também há um projeto de lei em curso com o objetivo de garantir isenção na inscrição de concursos públicos para quem é doador de sangue. Trata-se do Projeto de Lei 463/23. Vale a pena acompanhar a sua tramitação nos órgãos responsáveis.

Requisitos básicos para ser um doador

Agora, é provável que você esteja se perguntando: afinal, quais são os requisitos para a doação de sangue? Como posso doar?

Continue a leitura para tirar essas dúvidas!

Idade

Para doar sangue, é necessário ter, no mínimo, 16 anos. No caso de menores de idade, é obrigatório que os pais ou responsáveis os acompanhem até o hemocentro. Em algumas situações, uma autorização por escrito dos responsáveis será suficiente, permitindo que o menor faça a doação acompanhado de outro adulto.

A partir dos 18 anos, a doação é feita livremente. A idade máxima para doar sangue é de 69 anos (desde que o indivíduo tenha feito a primeira doação até os 60 anos).

Peso

O peso mínimo para uma doação segura é de 50 kg. Por isso, pessoas de até 49 kg não podem fazer o procedimento.

Saúde

É preciso que a saúde do doador esteja "ok" para fazer o procedimento. Assim, não é permitido estar com doente no momento de doar o sangue. Isso inclui anemia, hipertensão ou hipotensão arterial e aumento ou diminuição dos batimentos cardíacos e febre no momento da doação.

Além disso, apesar de não ser uma doença, mulheres grávidas ou que tiveram o parto há menos de 12 meses também não podem realizar a doação de sangue, pois isso poderia colocar em risco a saúde da mãe e do feto ou bebê.

Sono e dieta

Antes de doar, é imprescindível dormir bem e se alimentar o suficiente. É recomendado fazer uma dieta leve, porém completa, e evitar alimentos gordurosos até 4h antes da doação.

Ainda, é importante se hidratar bastante. Como muito sangue é retirado do corpo, é provável que o doador se sinta mal caso não tome os devidos cuidados.

Vacinas

Pessoas que receberam vacinas preparadas com vírus ou bactéria mortos, toxóide ou recombinantes podem doar sangue, mas devem respeitar um período específico após a aplicação da dose, conforme o tipo de imunizante. Para esclarecer dúvidas, é recomendável consultar o hemocentro mais próximo.

Casos em que a doação de sangue é proibida

Além das pessoas que podem fazer a doação, há aquelas que, infelizmente, não cumprem os requisitos para esse procedimento.

De modo geral, não pode doar sangue quem:

  • teve hepatite após os 11 anos de idade;
  • tem evidência clínica ou laboratorial de infecções sexualmente transmissíveis, hepatites A, B ou C, doenças associadas ao vírus HTLV ou doença de Chagas ou Parkinson;
  • faz uso de drogas injetáveis;
  • teve malária;
  • foi submetido a transplante de órgãos ou de medula.

A doação de sangue é um processo simples, mas fundamental para salvar vidas

Por isso, essa prática deve ser cada vez mais incentivada! E então? O que você está esperando para fazer a sua parte?

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