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4.12.2024
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Equipe Afya Educação Médica
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Quando vamos ao médico — ou, ainda, quando somos os médicos —, é comum nos depararmos com os exames de imagem de forma natural. No entanto, nem sempre eles estiveram à disposição dos profissionais e dos pacientes. Você já parou para pensar nisso?
O diagnóstico por imagem é uma realidade relativamente recente na história da Medicina, que trouxe avanços e um impacto sem precedentes. Com esses exames, é possível identificar doenças e planejar tratamentos de forma mais precisa, rápida e personalizada.
Que tal embarcarmos em uma aventura nessa história e na importância dos testes de imagem? Continue a leitura para saber mais!
De modo geral, o diagnóstico por imagem é um campo essencial da Medicina, que utiliza tecnologias avançadas para visualizar o interior do corpo humano de forma não invasiva.
Ou seja: com essas ferramentas, que permitem aos médicos avaliar estruturas anatômicas, identificar anormalidades e monitorar tratamentos, não é mais preciso submeter os pacientes a tantas cirurgias exploratórias. A precisão e a riqueza de detalhes fornecidas por esses exames transformaram o cuidado com o paciente, promovendo identificações mais rápidas e precisas.
O diagnóstico por imagem engloba várias modalidades, como:
Nos próximos minutos, você entenderá mais sobre cada um desses tipos de exames e as aplicações deles. No entanto, antes, vamos falar um pouco sobre a história do diagnóstico por imagem!
Chegou a hora! Vamos conferir alguns detalhes sobre a história do diagnóstico por imagem e entender como ela é fascinante, marcada por avanços científicos que moldaram a Medicina moderna. Conheça os detalhes a seguir!
Em 1895, Wilhelm Conrad Roentgen descobriu os raios-X acidentalmente ao estudar emissões de raios catódicos. O primeiro raio-X feito foi da mão de sua esposa, mostrando claramente os ossos e seu anel. Essa descoberta rendeu a ele o Prêmio Nobel de Física em 1901 e abriu caminho para a radiologia.
E é claro que não parou por aí! Nas décadas de 40 e 50, a ultrassonografia surgiu com base no uso de ondas sonoras para fins médicos. Inicialmente utilizada em obstetrícia, logo se expandiu para outras áreas.
Pouco depois, por volta dos anos 70, a tomografia computadorizada foi introduzida por Sir Godfrey Hounsfield, que também recebeu o Prêmio Nobel. Esse método revolucionou a visualização de órgãos e tecidos, sendo amplamente utilizado até hoje.
O próximo passo foi, naturalmente, o desenvolvimento da ressonância magnética, que ocorreu cerca de uma década depois. Em seguida, veio a medicina nuclear, uma área em plena expansão (e que é uma ótima opção de residência, anote aí!).
Antes do diagnóstico por imagem, os médicos dependiam de observação clínica, exames físicos e relatos dos pacientes. Métodos invasivos, como a laparotomia exploratória, eram frequentemente usados para identificar problemas internos, colocando pacientes em risco elevado.
Nesse contexto, existiam problemas como os altos índices de mortalidade por diagnósticos tardios. Os tratamentos, por sua vez, eram muitas vezes pautados em tentativas e erros.
Sendo assim, a chegada dos exames de imagem salvou muitas vidas. Mas isso não é tudo, já que eles também aprimoraram a compreensão sobre o funcionamento do corpo humano, marcando o início da Medicina moderna.
Os exames de imagem são ferramentas diagnósticas extremamente versáteis, que nos permitem identificar uma ampla gama de condições. Vamos conhecer algumas delas? Veja a seguir!
O diagnóstico precoce de câncer é um dos maiores benefícios proporcionados pelos exames de imagem. Diversos tipos de câncer podem ser detectados antes mesmo de apresentarem sintomas clínicos, possibilitando um tratamento mais eficaz e o aumento das chances de cura.
Um deles é o câncer de mama, uma das neoplasias mais comuns entre as mulheres. Ele pode se apresentar inicialmente como nódulos pequenos e indolores, muitas vezes imperceptíveis ao toque. A mamografia, nesse contexto, é um exame crucial, pois permite identificar alterações nas mamas, como microcalcificações e nódulos que podem ser malignos, antes que o tumor atinja dimensões maiores.
Já o câncer de pulmão, frequentemente associado ao tabagismo, pode ser diagnosticado em estágios iniciais por meio da tomografia computadorizada. A doença, que muitas vezes é assintomática até atingir estágios avançados, pode ser identificada por nódulos pulmonares ou alterações nas estruturas bronquiais.
Outro tipo de neoplasia comum é o câncer colorretal, comumente identificado em pessoas acima dos 50 anos. A tomografia computadorizada e a ressonância magnética são usadas para avaliar a extensão do tumor e detectar metástases no fígado e em outros órgãos.
Por fim, a tomografia computadorizada e a ressonância magnética também são úteis para identificar linfadenopatias (aumento dos gânglios linfáticos) e outros sinais de envolvimento sistêmico, como o aumento do fígado e baço.
As doenças cardiovasculares, que incluem uma ampla gama de condições, afetando o coração e os vasos sanguíneos, são algumas das principais causas de morbidade e mortalidade em todo o mundo. Os exames de imagem são cruciais para o diagnóstico precoce e o monitoramento dessas condições, ajudando a evitar complicações graves, como infartos do miocárdio e insuficiência cardíaca.
Como você sabe, infartos ocorrem quando há uma interrupção no fluxo de sangue para um determinado órgão. No caso, a região afetada é o coração, já que o músculo cardíaco deixa de ser devidamente irrigado e sofre danos devido à supressão de oxigênio. Assim, os exames de imagem, como a angiografia coronariana, são usados para avaliar a gravidade da obstrução e planejar a intervenção, que pode variar da colocação de stents à realização de cirurgias.
Além disso, o ecocardiograma também pode ser utilizado para avaliar a função cardíaca e a extensão do dano muscular. Por isso, é um exame muito importante para identificar a insuficiência cardíaca, ajudando a determinar a fração de ejeção do ventrículo esquerdo, e para descobrir problemas nas válvulas ou no músculo cardíaco.
No que diz respeito aos acidentes vasculares cerebrais, a tomografia computadorizada é a principal ferramenta para diferenciar os tipos e avaliar a extensão do dano cerebral. Além disso, a angiotomografia pode ser usada para identificar possíveis causas do AVC, como a presença de aneurismas ou malformações vasculares.
O conceito de doenças neurológicas abrange muitas condições que afetam o sistema nervoso, seja ele o central ou o periférico. Muitas dessas doenças podem ser diagnosticadas com exames de imagem, o que permite intervenções precoces e tratamentos direcionados.
Os tumores cerebrais, por exemplo, podem ser primários ou metastáticos, e sua localização e tipo influenciam diretamente o tratamento. A ressonância magnética com contraste é o exame de escolha para o diagnóstico de tumores no cérebro, permitindo identificar lesões com alta precisão, diferenciar entre tipos benignos e malignos e guiar a cirurgia ou a radioterapia.
A esclerose múltipla, por sua vez, é uma doença autoimune que afeta a mielina, a camada protetora dos nervos. Ela pode causar sintomas variados, como perda de coordenação, visão turva e fraqueza muscular. Nesse caso, a ressonância magnética também é a principal ferramenta para a identificação, já que permite visualizar as lesões no sistema nervoso central, que são características dessa doença.
Por fim, a doença de Alzheimer, uma das principais causas de demência, é caracterizada por degeneração cerebral progressiva, levando à perda de memória e função cognitiva. A ressonância magnética pode mostrar a atrofia do cérebro, especialmente em áreas específicas, como o hipocampo, que são afetadas precocemente pela enfermidade.
Sendo assim, embora não exista um exame específico para o diagnóstico definitivo de Alzheimer, a RM pode ajudar a excluir outras causas de demência e auxiliar na avaliação da progressão da doença.
Os exames de imagem podem ser classificados de acordo com suas características técnicas e finalidades diagnósticas. Abaixo, veja um panorama dos principais exames.
A radiografia, também conhecida como raio-X, é uma das técnicas mais antigas e amplamente utilizadas no diagnóstico por imagem. Ela utiliza radiação ionizante para criar imagens das estruturas internas do corpo. Os raios atravessam os diversos tecidos corporais, sendo absorvidos de forma distinta conforme a densidade de cada estrutura.
Os ossos, por exemplo, absorvem mais radiação, aparecendo mais claros na imagem, enquanto tecidos moles, como músculos e órgãos, absorvem menos e aparecem mais escuros.
O raio-X é extremamente útil para a avaliação de fraturas ósseas e lesões no tórax, como pneumonia e enfisema, além de auxiliar no diagnóstico de doenças articulares e na identificação de tumores. No entanto, a radiografia tem limitações, como a dificuldade em visualizar tecidos moles com alta precisão. Por isso, é preciso saber como e quando indicá-la.
A tomografia computadorizada utiliza radiação para criar imagens transversais detalhadas do corpo, permitindo a visualização em múltiplos ângulos. Ao contrário da radiografia tradicional, que gera uma imagem bidimensional, ela oferece imagens em fatias finas, que são então reconstruídas por um computador para criar uma visão tridimensional das estruturas internas. Isso possibilita uma análise mais detalhada e precisa.
Essa ferramenta é indicada principalmente para o diagnóstico de doenças em órgãos internos, como câncer, infartos e doenças pulmonares e cerebrais, além de ser eficaz na avaliação de traumas, como fraturas complexas e hemorragias internas.
Uma de suas principais vantagens é a alta resolução das imagens, o que permite detectar alterações muito pequenas. No entanto, o uso de radiação é uma preocupação, sendo necessário realizar o exame com cautela e apenas quando realmente indicado.
A ressonância magnética, por sua vez, é uma técnica que utiliza um campo magnético forte e ondas de rádio para gerar imagens detalhadas das estruturas internas do corpo, sem a necessidade de radiação ionizante.
Ela tem uma grande capacidade de produzir imagens de alta resolução dos tecidos moles, como cérebro, medula espinhal, músculos, ligamentos e órgãos internos. Por isso, é muito útil para o diagnóstico de doenças neurológicas, como tumores cerebrais, esclerose múltipla e acidente vascular cerebral (AVC), bem como para a avaliação de lesões musculoesqueléticas, como rupturas de ligamentos e tendões.
No entanto, fique de olho: embora não envolva radiação, o exame pode ser desconfortável para algumas pessoas devido ao tempo necessário para sua realização e ao ambiente fechado do aparelho. Por isso, converse bastante com os seus pacientes e explique como o procedimento é feito.
Agora, vamos falar sobre ela: a ultrassonografia. Também chamada de ultrassom, essa é uma técnica de imagem que utiliza ondas sonoras de alta frequência para criar imagens do interior do corpo. Um transdutor emite essas ondas sonoras, que são refletidas pelos diferentes tecidos. O retorno dessas ondas é captado pelo aparelho, formando a imagem.
Um dos principais benefícios do ultrassom é que ele não envolve radiação, tornando-se uma opção segura especialmente para grávidas e crianças. Por conta disso, ela é amplamente utilizada na obstetrícia para monitoramento da gestação, como a avaliação do desenvolvimento fetal.
Mas isso não é tudo! O exame também é crucial no diagnóstico de doenças do fígado, vesícula biliar, pâncreas e rins, além de ser frequentemente utilizado para guiar biópsias e drenagens. Apesar disso, tem limitações em pacientes obesos e em tecidos muito profundos, onde a penetração das ondas sonoras é reduzida.
A cintilografia é um exame de medicina nuclear que utiliza substâncias radioativas chamadas radiofármacos. Elas são introduzidas no corpo e emitem radiação detectada por câmeras especiais. Esses radiofármacos são desenvolvidos para se concentrar em áreas específicas do corpo, como órgãos, ossos ou tecidos, possibilitando a avaliação de suas funções.
Diferentemente de outros exames de imagem, que mostram principalmente a anatomia do corpo, a cintilografia oferece uma visão funcional, o que a torna extremamente útil para detectar distúrbios antes que alterações estruturais apareçam.
Assim, é amplamente utilizada para detectar metástases ósseas, infecções ou doenças inflamatórias, por exemplo. Já a cintilografia miocárdica é usada para avaliar a função do coração e a perfusão sanguínea no caso de doenças cardíacas.
A angiografia é um exame especializado que permite visualizar os vasos sanguíneos do corpo. Utilizando um contraste radiopaco e uma técnica de imagem como o raio-X ou a ressonância magnética, ela proporciona uma visão detalhada das artérias, veias e capilares.
Por conta disso, esse exame é fundamental para a detecção de obstruções, estreitamentos ou anomalias nos vasos sanguíneos, como no caso de arteriosclerose, aneurismas e malformações vasculares.
A angiografia coronária, por exemplo, é usada para examinar as artérias do coração e identificar áreas de bloqueio que podem levar a infartos. Esse exame pode ser realizado com a inserção de um cateter ou de forma menos invasiva, dependendo da técnica utilizada.
Não poderíamos deixar de falar da mamografia! Ela se trata de uma técnica de imagem utilizada para examinar as mamas, sendo a principal ferramenta de triagem para o câncer nessa região.
Por isso, utilizando raios-X em baixa dose, a mamografia pode detectar tumores ou alterações nas mamas que não são palpáveis no exame físico, permitindo o diagnóstico precoce. O exame pode identificar nódulos, calcificações ou outras anomalias nas mamas, benignas ou indicativas de malignidade.
De modo geral, a mamografia é recomendada especialmente para mulheres a partir dos 40 anos, ou antes, caso haja histórico familiar de câncer de mama. A detecção precoce aumentou significativamente a taxa de descoberta dessa doença. Contudo, o exame tem suas limitações e deve ser atrelado a outros tipos de testes para um diagnóstico preciso.
Por fim, temos a densitometria óssea. Esse é um exame que avalia a densidade mineral óssea, ou seja, a quantidade de minerais, principalmente cálcio, presente nos ossos. Ele é, portanto, fundamental para diagnosticar a osteoporose e monitorar a saúde óssea, especialmente em pessoas com risco de fraturas.
O exame mais comum é a densitometria óssea por absorciometria de raios-X de dupla energia (DEXA), que é simples, rápido e tem uma baixa exposição à radiação.
Por conta de suas particularidades, é um teste que é especialmente indicado para mulheres pós-menopáusicas, pessoas com histórico de fraturas, pacientes em uso de medicamentos que afetam os ossos e indivíduos com enfermidades que comprometem a saúde óssea, como artrite reumatoide e doenças endócrinas.
Tem interesse em seguir nessa área? A especialização em diagnóstico por imagem exige uma formação rigorosa e um profundo compromisso com a atualização constante. Afinal, como você viu, trata-se de uma especialidade recente e que ainda pode crescer muito nos próximos anos.
O primeiro passo é concluir os 6 anos do curso médico, que fornece uma base sólida em anatomia, fisiologia e patologia, essenciais para o entendimento da imagem diagnóstica.
Após a graduação, o médico deve ingressar em uma residência específica em radiologia e diagnóstico por imagem. A duração do programa varia entre 3 e 4 anos, dependendo do país, e abrange diversas modalidades, incluindo radiografia, ultrassonografia, tomografia, ressonância magnética e medicina nuclear.
Após a residência, muitos médicos optam por se subespecializar em áreas específicas, como:
Embora os exames de imagem sejam ferramentas valiosas, seu uso deve ser criterioso, a fim de evitar diagnósticos excessivos, custos desnecessários e riscos ao paciente.
Continue para tirar algumas dúvidas!
Antes de solicitar um exame de imagem, o médico deve avaliar o quadro clínico do paciente e garantir que o exame seja realmente necessário. A solicitação deve ser baseada em uma análise detalhada dos sintomas, histórico daquele paciente e exame físico, reduzindo riscos ao paciente.
Cada exame de imagem tem suas limitações e indicações específicas. É essencial que o médico compreenda essas limitações para escolher o exame mais adequado, evitando diagnósticos imprecisos e otimizando o cuidado do paciente. O conhecimento das capacidades e restrições de cada tecnologia é crucial para uma prática médica eficiente.
Os exames de imagem devem ser usados para complementar a avaliação clínica, nunca substituindo o diagnóstico baseado em história médica e exame físico. A interpretação dos resultados deve sempre considerar o contexto clínico completo, para garantir decisões mais assertivas e precisas no cuidado do paciente.
Exames de imagem repetidos devem ser evitados, a menos que haja uma razão clínica significativa. Solicitar exames desnecessários pode expor o paciente a riscos de radiação, aumentar custos e gerar ansiedade. A frequência de exames deve ser baseada em alterações clínicas ou na progressão do quadro do paciente.
A interpretação crítica das imagens de diagnóstico é essencial para detectar anomalias e garantir precisão na descoberta das doenças. Médicos devem estar atentos aos detalhes e, quando necessário, buscar uma segunda opinião de radiologistas ou especialistas, especialmente em casos complexos, para assegurar um diagnóstico adequado e decisões de tratamento corretas.
A personalização dos exames de imagem deve considerar os fatores de risco individuais do paciente, como idade, histórico familiar e condições preexistentes. Esses fatores podem influenciar a escolha do exame mais apropriado e determinar a frequência de monitoramento, ajudando a evitar exames dispensáveis e maximizando os benefícios do diagnóstico.
Para finalizar, não se esqueça: comunicação é tudo. Por isso, é muito importante que o paciente compreenda a necessidade, o processo e os possíveis resultados dos exames de imagem. Uma boa comunicação ajuda a reduzir a ansiedade, a aumentar a confiança e a garantir que o paciente tome decisões informadas sobre sua saúde, além de colaborar com o planejamento do tratamento adequado.
Como você pôde ver, o diagnóstico por imagem é uma área importantíssima da Medicina. O seu desenvolvimento ainda está em curso, mas os recursos existentes já salvaram milhões de vidas e contribuem para a execução de diagnósticos mais rápidos e precisos em diversos campos da saúde.
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