Como a desigualdade social afeta a saúde da população negra

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Quando se fala em saúde da população negra, muitas pessoas podem pensar: qual é a diferença? De fato, discrepâncias não deveriam ser observadas. Afinal, todos nós — independentemente da cor da pele, gênero, orientação sexual, religião e outros fatores que nos tornam únicos — estamos sob os direitos da mesma Constituição.

Mas na prática, infelizmente, as coisas são diferentes. O racismo e a saúde da população negra são fatores que estão diretamente ligados, fazendo com que esse grupo tenha prejuízos no acesso aos cuidados básicos com o bem-estar.

Gostaria de saber mais sobre o assunto? Continue a leitura, confira alguns dados e saiba como você, profissional da saúde, pode ajudar a mudar essa realidade!

Qual é o panorama da saúde da população negra no Brasil?

A saúde da população negra no Brasil é marcada por uma série de desafios e desigualdades que refletem um cenário preocupante.

E o pior é que são problemas evitáveis, como infecções sexualmente transmissíveis, mortes maternas, hanseníase, tuberculose e Doença de Chagas. Eles são significativamente mais frequentes entre a população negra em comparação com a população branca e com as médias nacionais.

Essa disparidade é evidenciada por estatísticas oficiais e revelam um quadro de saúde pública que exige atenção e ação urgente, conforme mostrado por dados divulgados pela UNODC (United Nations Office on Drugs and Crime).

Alguns dos indicadores problemáticos são:

  • casos de AIDS em 2016: 55% dos casos em pessoas negras, 43,9% em brancas;
  • óbitos por AIDS: 58,7% em negros, 40,9% em brancos;
  • sífilis adquirida em 2016: 42,4% em negros, 38,5% em brancos;
  • sífilis congênita: 65,1% das mães negras, 25% das mães brancas;
  • hanseníase em 2014: 21.554 dos 31.064 casos em negros;
  • tuberculose em 2014: 57,5% dos casos em negros.

Desigualdades na saúde da população negra no Brasil em dados

O acesso aos serviços de saúde é outro aspecto crucial que afeta a saúde da população negra. Segundo o Ministério da Saúde, 80% da população que depende exclusivamente do Sistema Único de Saúde (SUS) é negra.

No entanto, o acesso aos serviços não é suficiente para garantir a equidade em saúde. A Pesquisa Nacional de Saúde de 2015 revelou que 13,6% das pessoas que já se sentiram discriminadas nos serviços de saúde identificaram o viés racial como a causa dessa discriminação.

E não para por aí! A discriminação racial nos serviços de saúde não é restrita ao SUS. Estudos indicam que o racismo também está presente na rede privada, afetando negativamente o tratamento e os resultados de saúde da população negra. Ou seja: é um problema generalizado.

Por que essa é a realidade dos negros no Brasil?

O panorama da saúde da população negra no Brasil evidencia profundas desigualdades que resultam em piores indicadores de saúde para esse grupo. As causas dessas disparidades são múltiplas e incluem:

  • fatores sociais;
  • questões econômicas;
  • racismo estrutural presente tanto no sistema público quanto no privado.

Por isso, esse é um problema difícil de ser abordado. As questões estão enraizadas em nossa sociedade e é necessário um trabalho de base com a população para que o processo flua nas próximas gerações.

Hoje, medidas emergenciais são necessárias, assim como um trabalho de conscientização com as equipes profissionais que atuam no momento. A implementação de políticas públicas visa diminuir essa defasagem, mas o trabalho da mídia também é fundamental para ajudar no processo.

Como os profissionais da saúde podem trabalhar para mudar essa realidade?

Sabemos que mudanças são difíceis e é normal que nos sintamos como um grão de areia em meio a uma praia com infinitas possibilidades que, muitas vezes, trabalham ao contrário do que aquilo que almejamos fazer.

Mas você já parou para pensar que você pode fazer a diferença na vida de algumas pessoas?

Alguns pacientes são marcantes, mas, muitas vezes, os profissionais acabam esquecendo dos rostos com o passar dos anos. No entanto, muitos se lembram de cada médico que os atendeu.

Por que não fazer com que você fique marcado de forma positiva? Confira, então, algumas dicas para caprichar no atendimento da população preta e veja como mudar, pouco a pouco, a realidade cruel do acesso desse grupo à saúde:

  • reconhecer e respeitar as diferenças culturais e raciais dos pacientes;
  • estar consciente dos estereótipos e preconceitos que possam influenciar o atendimento;
  • usar uma linguagem clara e acessível, evitando jargões técnicos que possam confundir a pessoa com quem você está falando;
  • estabelecer uma comunicação empática e receptiva, demonstrando interesse genuíno pelo bem-estar do paciente;
  • considerar não apenas os aspectos físicos, mas também as questões sociais e emocionais que interferem na saúde daquela pessoa;
  • incluir perguntas sobre o ambiente familiar, condições de vida e outras influências sociais que possam afetar a saúde;
  • adaptar o plano de tratamento às necessidades específicas do indivíduo, levando em conta seu estilo de vida e particularidades;
  • incorporar as preferências do paciente na tomada de decisões sobre o tratamento, sempre que possível, focando no acolhimento;
  • oferecer informações claras e educativas sobre doenças, tratamentos e prevenção;
  • utilizar materiais educativos, quando possível, para otimizar a compreensão do interlocutor;
  • incentivar práticas de vida saudável, considerando as particularidades da vida do paciente.

Engajamento em atividades além do atendimento clínico

Além disso, é importante que os profissionais da saúde se engajem em atividades que não estejam associadas ao atendimento em si. Por exemplo, é importante participar de iniciativas comunitárias e redes de apoio que lutam contra o racismo estrutural e suas consequências na saúde.

Quanto mais pessoas que fazem parte do universo da saúde se engajarem nesse meio, mais rápido as mudanças poderão acontecer.

Uma ideia é integrar o tema da equidade racial nos programas de educação médica continuada e no desenvolvimento profissional. Essa é uma boa alternativa, por exemplo, para quem atua como docente no segmento.

Para os líderes e pessoas em posições de chefia, é interessante criar um ambiente de trabalho que valorize a diversidade e promova a inclusão de profissionais negros. Além disso, é fundamental implementar políticas antidiscriminatórias e mecanismos para lidar com queixas de discriminação no local de trabalho.

Ou seja: todos podemos participar da mudança. Basta começar!

A realidade da saúde da população negra no Brasil é dura, triste e indignante. No entanto, cada um de nós pode fazer um pouco para mudar esse cenário. Comece a fazer sua parte o quanto antes e compartilhe essas ideias com os seus colegas!

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