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30.5.2022
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Equipe Afya Educação Médica
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A depressão é uma das causas mais importantes de sofrimento evitável no mundo. No entanto, é sabido que tanto a sociedade quanto instituições de saúde ou de governo ainda não são capazes de distinguir essa doença de outros problemas que as pessoas enfrentam cotidianamente.
Estima-se que até 5% da população adulta mundial pode ser portadora da doença e que, destes, de 50% (em países desenvolvidos) a 90% (países em desenvolvimento) não são diagnosticados nem tratados. Sabe-se que a depressão pode levar a consequências graves, como o suicídio e ao agravamento de outras doenças.
O seu impacto social e econômico é muito grande e é preciso que governos, serviços e profissionais de saúde estejam preparados para seu enfrentamento.
A partir da estabelecida tese de que ainda não está sendo feito o suficiente, em termos de saúde pública, para a prevenção e o tratamento de pessoas com depressão, a revista científica The Lancet organizou a Lancet–World Psychiatric Association Commission.
Trata-se de uma comissão internacional, composta por editores, acadêmicos e especialistas, de diferentes áreas relacionadas, que acabou por produzir uma síntese das melhores evidências disponíveis com recomendações de um plano de ação para o enfrentamento da depressão no mundo.
O extenso trabalho aborda o tema desde a história da percepção social da doença, passando pelas diferentes definições de “depressão”, epidemiologia, causas e até aspectos clínicos, como diagnóstico e intervenções terapêuticas.
Mais de 600 trabalhos foram visitados e suas principais conclusões podem ser resumidas em dez pontos-chave, apontados pelos pesquisadores. A consideração e a aplicação desses tópicos pode ser determinante para que a abordagem da depressão se aproxime da melhor prática médica possível. São eles:
Apesar de a depressão poder causar sofrimento intenso, impactar no funcionamento social, na produtividade econômica do paciente e levar a morte prematura, essas consequências são pouco reconhecidas e são abordadas de maneira insuficiente. As dificuldades encontram-se tanto na implementação do conhecimento já estabelecido sobre o cuidado a pessoas com depressão, quanto na necessidade de novas pesquisas e descobertas a respeito.
Embora seja classificada atualmente de maneira “fechada” (leve, moderada e grave), a depressão apresenta-se clinicamente muito diversa em cada caso, possuindo variados níveis de severidade e diferentes cursos ao longo do tempo.
Dessa forma, encontra-se além dos limites de classificação atuais e comumente sobrepõe-se com outros problemas de saúde.
Sintomas de depressão são descritos em todas as eras da humanidade, sendo os mais comuns o humor deprimido, a perda de interesse e a fadiga. No entanto, há uma variabilidade significativa na apresentação entre os diferentes contextos culturais.
São necessárias ações nos âmbitos sociais e econômicos que visem diminuir as iniquidades no começo da vida e durante ela. A nível individual, também é importante atuar em fatores de risco e nos hábitos de vida.
O estudo indica que uma prevenção mais eficiente teria grandes impactos positivos no desenvolvimento social dos países e na saúde da população.
Fatores de origem genética, ambiental, social, de desenvolvimento e de resiliência pessoal interagem entre si para resultarem no quadro de depressão. A relação entre saúde física e depressão é frequente, porém complexa.
Como cada pessoa experiencia esses fatores de maneira diferente ao longo da vida, o caso de cada um será singular, bem como o serão os recursos necessários para o cuidado, tratamento e recuperação.
Diversos fatores podem dificultar o adequado tratamento de pessoas com depressão. O empoderamento de indivíduos, famílias e grupos que tenham tido a experiência com a doença visando o trabalho em conjunto com profissionais de saúde pode ajudar na implementação das ações preventivas e terapêuticas necessárias, aumentando o acesso e aprimorando o cuidado.
Os valores e preferências do paciente, bem como sua história de vida e circunstâncias individuais, devem ser levados em consideração, juntamente com os sintomas, função e duração do quadro, para a elaboração do plano terapêutico.
Essas características individuais devem ser abordadas para possibilitar o sucesso do cuidado e sua complexidade deve variar de acordo com cada contexto e disponibilidade de recursos.
A abordagem em estágios possibilita uma ferramenta “pragmática” para traduzir a natureza heterogênea da doença em condutas e para garantir que as intervenções sejam abrangentes, mas adequadas à severidade de cada quadro.
Essa abordagem permite uma intervenção precoce no curso da depressão, com aumento gradual na intensidade das medidas terapêuticas, guiadas pelas necessidades específicas do paciente em questão e pelo estágio da doença. O estudo descreve algumas abordagens em estágios, para prevenção, cuidado e tratamento.
O trabalho em equipe interdisciplinar oferece um cuidado baseado em evidências, com atuação de diversos profissionais, envolvendo o paciente e a família na construção do projeto terapêutico e aumentando a qualidade do acompanhamento.
Apesar de muito ainda não se saber sobre depressão – motivo pelo qual deve ser estimulada a pesquisa científica na área -, os atuais conhecimentos e estratégias já estabelecidos em teoria não são usados de maneira otimizada na prática.
É imperativo o investimento na “tradução” desse já rico conhecimento em práticas e políticas de saúde.
Herrman H, Patel V, Kieling C, et al. Time for united action on depression: a Lancet-World Psychiatric Association Commission. Lancet. 2022;S0140-6736(21)02141-3. doi:10.1016/S0140-6736(21)02141-3
Renato Bergallo
Graduação em Medicina pela Universidade Federal Fluminense (UFF) ⦁ Residência em Medicina de Família e Comunidade pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e em Administração em Saúde (UERJ) ⦁ Mestre em Saúde da Família (UFF) ⦁ Doutorando em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP/Fiocruz) ⦁ Professor da disciplina de Saúde da Família e gerente do Centro de Saúde Escola Lapa da Faculdade de Medicina da Universidade Estácio de Sá.
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