Escrito por
Publicado em
13.9.2023
Escrito por
minutos
O estágio terminal de qualquer doença é o momento quando se esgotam os recursos terapêuticos de cura ou de controle da enfermidade levando à morte próxima e inevitável.
Por isso, o suicídio é a fase terminal da depressão porque os indivíduos que sofrem dessa morbidade mental acreditam erroneamente que todos os recursos terapêuticos já se extinguiram ou, pior, que não existe tratamento, culminando em desespero, até morte por suicídio.
A depressão é um transtorno mental grave que afeta mais de 300 milhões de pessoas em todo o mundo. É caracterizada por um sentimento de tristeza persistente e anedonia nas atividades cotidianas, sendo um dos principais fatores de risco para o suicídio, que chega a ser 25 a 30 vezes maior nas pessoas deprimidas do que na população em geral.
As taxas de suicídio aumentaram 30% entre 2000 e 2018, apesar de terem diminuído em 2019 e 2020. Entre 700 e 800 mil pessoas morreram por suicídio em 2019, o que equivale a uma morte por suicídio em cada 100 mortes. Atualmente, as pessoas falecem mais por suicídio do que HIV, malária ou câncer de mama ou, até mesmo, em guerras ou homicídios. Nos Estados Unidos, foram registradas 45.979 mortes por suicídio em 2020, o que significa, aproximadamente, uma morte a cada 11 minutos. No Brasil, os casos aumentaram 43% em uma década, passando de 9.454, em 2010, para 13.523, em 2019.
Esses números alarmantes despertam a atenção da Organização Mundial de Saúde (OMS) sobre a necessidade de criar estratégias de combate contra o suicídio. um terrível desfecho, porém passível de prevenção. Logo, os profissionais de saúde devem reconhecer os fatores de predisponentes e precipitantes para o suicídio como forma de intervir nesse evento autodestrutivo.
O primeiro passo é identificar um transtorno mental. Nos estudos de autópsias psicológicas, cerca de 90% das pessoas que morreram por suicídio sofriam de transtornos mentais. No Brasil, 96,8% dos casos de suicídio estavam relacionados a transtornos mentais, destacando se em primeiro lugar a depressão, seguida do transtorno bipolar e do abuso de substâncias. A depressão é a principal doença psiquiátrica relacionada, tanto à ideação quanto à tentativa de suicídio.
Em torno de 50% das pessoas, que sofriam de depressão em estudo australiano no meio rural, relataram ideação suicida ao longo da vida e 16% relataram uma tentativa de suicídio. Os maiores preditores de suicídio na depressão foram a história familiar de transtornos psiquiátricos, sexo masculino, tentativas de suicídio, depressão mais grave, desesperança e o uso de substâncias, principalmente o álcool.
Nossos jovens e idosos estão morrendo por suicídio em uma epidemia silenciosa. No Brasil, o suicídio é a quarta causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos. Nos casos em menores de 14 anos, houve um aumento de 113% de 2010 a 2013. Todavia, a faixa etária com as maiores taxas de suicídio é a idosa. Segundo o Ministério da Saúde, em 2018, a taxa média de suicídio dos idosos acima de 70 anos foi de 8,9 mortes por 100 mil nos últimos seis anos, sendo a taxa média nacional de 5,5 por 100 mil no período.
No estudo de Costa et.al., entre 1996 e 2016, enquanto as taxas de mortalidade para as principais causas de morte em idosos tiveram redução ou certa estabilidade; a taxa de mortalidade por suicídio em pessoas acima de 60 anos aumentou 42,6% em homens e 14,1% em mulheres. E, nos idosos octogenários, a taxa de suicídio triplicou, alcançando 39 suicídios para cada 100 mil pessoas.
E, finalmente, um ponto importante na discussão sobre o risco de suicídio é a relação com a saúde do trabalhador. Algumas categoriais profissionais apresentam maior risco de morte por suicídio do que a população em geral por serem mais frequentemente submetidas a uma maior pressão por atingimento de metas, pela sobrecarga com horas excessivas de trabalho, por passarem por eventos traumáticos, terem fácil acesso a meios letais e, também, pela intimidação e diversas formas de assédio que são submetidos.
Durante a pandemia da Covid 19, entre 14,7% e 22% dos trabalhadores da área de saúde entrevistados em 2020 apresentaram sintomas depressivos, enquanto entre 5% e 15% pensaram em cometer suicídio. Médicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde têm um risco duas vezes maior de suicídio do que a população em geral.
Em conclusão, o suicídio é um agravo de saúde pública que todo o profissional de saúde, principalmente, o médico deve estar preparado para reconhecer e conduzir ao tratamento adequado. Tanto no Brasil quanto no mundo, o suicídio é uma questão complexa, exigindo uma conscientização pública para a redução do estigma em relação aos transtornos psiquiátricos e facilitar o acesso aos serviços de saúde mental.
E medidas direcionadas aos grupos de riscos como pessoas com síndrome depressiva, jovens, idosos e profissionais de alta carga de estresse são fundamentais para reduzir esse grave problema de saúde pública. O rastreamento ativo dos pacientes com risco de suicídio pelos profissionais de saúde é primordial para oferecer cuidados profissionais, acolhimento e esperança.
Coordenadores do curso de Psiquiatria da Afya Educação Médica
- Suicide Risk and Mental Disorders
- Estudo alerta para altos níveis de depressão e pensamentos suicidas em trabalhadores de saúde na América Latina durante a pandemia.