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29.11.2024
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Equipe Afya Educação Médica
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Você já parou para se perguntar como surgiram os primeiros medicamentos? O fato é que eles sempre existiram para que as pessoas alcançassem a cura ou conseguissem um alívio para as suas enfermidades. Na antiguidade, as primeiras civilizações já utilizavam recursos minerais, vegetais e substâncias de origem animal para tratar as doenças.
Entretanto, isso era feito com base em um conhecimento empírico e na observação dos efeitos das substâncias no organismo. Assim, as estruturas químicas dos remédios utilizados eram desconhecidas. Foi na Grécia antiga que o famoso Hipócrates, considerado o "pai da medicina", conseguiu sistematizar os conceitos e as práticas médicas, enaltecendo a utilização de recursos naturais nas terapias.
A seguir, entenda melhor o surgimento dos medicamentos, suas trajetórias e as previsões de sua evolução. Confira!
Na história dos medicamentos, não há muitos documentos escritos que nos deem a certeza de como surgiram, especialmente em relação aos povos primitivos.
No entanto, há indícios de que, assim que os humanos atingiram o estágio de raciocínio, conseguiram descobrir, pelo processo de tentativa e erro, quais eram as plantas que poderiam ser utilizadas como alimentos, quais eram venenosas e quais tinham algum valor medicinal.
Dessa forma, a Medicina popular ou medicina doméstica consistia principalmente no uso de produtos vegetais, ou de ervas, conhecidas dessa forma, e muitas são utilizadas até hoje em chás, unguentos, entre outras formas.
As doenças comuns, como a constipação e o resfriado, eram aceitas como parte da existência e tratadas com remédios herbais disponíveis. Já as doenças graves e incapacitantes eram consideradas de origem sobrenatural.
Ou seja, as pessoas acreditavam que as enfermidades poderiam ser o resultado de um feitiço lançado sobre a vítima por algum inimigo, por visita de um demônio ou por trabalho de um ofendido de Deus. Esse poderia ter jogado algum objeto, como um dardo, uma pedra ou um verme — no corpo da vítima ou teria abstraído algo, normalmente, a alma do paciente.
Nesses casos, o tratamento era atrair a alma errante de volta ao corpo ou retirar o intruso maligno, por meio de encantamentos, contrafeitiços, sucção, poções ou outros meios. Um método estranho e curioso de fornecer à doença meios de escapar do corpo era fazer um furo, de 2,5 a 5 cm de diâmetro, no crânio da vítima, prática conhecida como trepanação.
Os crânios trepanados, que datam da pré-história, foram encontrados na França, Grã-Bretanha e outras partes do Peru e da Europa. Muitos deles mostram evidências de cura e, presumivelmente, da sobrevivência do paciente. A prática ainda existe entre alguns povos tribais em partes da Argélia, na Melanésia e talvez em outros lugares, embora esteja se extinguindo rapidamente.
Dessa forma, a magia e a religião desempenharam um grande papel na medicina da sociedade pré-histórica ou humana primitiva.
O uso de uma droga vegetal ou medicamento tomado pela boca era acompanhado de encantamentos, danças, caretas e todos os truques de um mago. Portanto, os primeiros médicos, ou “curandeiros”, eram feiticeiros. No entanto, o uso de amuletos e talismãs ainda prevalece nos tempos modernos.
Além do tratamento de feridas e ossos quebrados, o folclore que envolve a Medicina é provavelmente o aspecto mais antigo da arte da cura, já que os médicos primitivos demonstravam sua sabedoria tratando a pessoa inteira, corpo e alma.
Os tratamentos e os medicamentos, mesmo não produzindo efeitos físicos no corpo, conseguiam fazer com que um paciente se sentisse melhor, quando o curador e o enfermo acreditavam em sua eficácia. Esse chamado efeito placebo é aplicado até mesmo na medicina clínica moderna.
Hoje já estão disponíveis no mercado tanto os compostos orgânicos naturais como os sintéticos, a despeito de alguns anos atrás, como no século XIX, quando só se dispunha de plantas naturais para fabricar medicamentos. Essa prática ainda perdura e foi dessa forma que muitos medicamentos modernos foram criados por meio da imitação de substâncias extraídas de plantas medicinais.
No entanto, sem a formulação sintética, tais remédios não poderiam ser produzidos em larga escala pela indústria farmacêutica. Essa evolução tecnológica só se tornou realidade após longos anos de pesquisa, tomando como base o binômio de síntese/análise.
A medicina se transformou ao longo dos séculos, com a descoberta dos micróbios, dos vírus e das vacinas, assim como do funcionamento celular, do DNA e de muitos outros aspectos que ajudaram a curar as pessoas. Mesmo assim, muitas das antigas práticas se perpetuam em novos remédios e em novas pandemias.
Em geral, os remédios são fundamentais para a manutenção da nossa qualidade de vida. Mas, alguns deles se destacaram na trajetória de sua evolução. A seguir, conheça os remédios mais revolucionários da história, por ordem cronológica.
A varíola já foi considerada uma doença tão mortal quanto o câncer ou as alterações cardíacas, e um dos maiores desafios enfrentados pela humanidade. Após o desenvolvimento da vacina, em 1798, no entanto, ela se tornou uma das primeiras doenças a serem erradicadas do planeta, sendo uma das maiores conquistas do ser humano.
O farmacêutico alemão Friedrich Serturner descobriu a morfina no começo dos anos 1800, e ela foi difundida comercialmente pela Merck em 1827. Mas o seu uso chegou ao ápice, em 1852, quando começou a ser aplicada via seringa hipodérmica. Embora seja viciante, a Medicina considera os benefícios de sedação superiores às desvantagens que podem apresentar.
A utilização dessa substância melhorou a qualidade de vida de milhões de pessoas com condições médicas mais sérias e ferimentos graves, desde sua descoberta. A sua importância para a Medicina pode ser observada, ainda, por ser a precursora de novas gerações de remédios contra a dor. Hoje, esses remédios podem ser comprados até mesmo sem receita em farmácias ao redor do mundo.
O éter já era conhecido 300 anos antes de começar a ser utilizado em 1846. No entanto, seu grande potencial como anestésico ainda não havia sido descoberto. Antes, as cirurgias simples e até as mais complexas, que envolviam amputações, eram realizadas segurando o paciente à força.
A partir do éter, foi possível suprimir a atividade cerebral dos pacientes a ponto de realizar operações complexas sem dor. Somente nas últimas décadas a Medicina conseguiu desenvolver anestésicos mais eficientes e modernos.
A Aspirina surgiu, surgiu como ácido acetilsalicílico, em 1899, quando um farmacêutico da Bayer usou a substância para tratar o reumatismo do pai. Nessa época, acreditava-se que a aspirina aliviava a dor agindo no sistema nervoso central. No entanto, hoje sabemos que essa droga também serve para afinar o sangue, ajudando a prevenir doenças cardíacas e acidentes vasculares cerebrais.
As pessoas com diabetes avançada não conseguem produzir insulina, hormônio que participa na conversão de açúcar em energia, em quantidades suficientes para conseguir sobreviver se alimentando normalmente.
Antes de 1922, quando ela começou a ser administrada como remédio, os pacientes necessitavam de uma dieta tão rigorosa, que quase levava à inanição. Além de ajudar os diabéticos a viver uma vida normal, a insulina também solidificou o caminho para as atuais terapias de reposição hormonal.
Apesar de ser descoberta em 1928, a penicilina só foi utilizada a partir de1942, sendo considerada o primeiro antibiótico oficialmente a ser utilizado pelo ser humano. Esse foi um verdadeiro marco histórico, que levou ao tratamento de inúmeras doenças bacterianas, salvando entre 80 milhões e 200 milhões de vidas desde então.
A propósito, calcula-se que 75% das pessoas que se encontram vivas atualmente não existiriam sem a penicilina. Isso porque seus ancestrais teriam falecido em decorrência de inúmeras infecções. Ela trata desde os casos de pneumonia até escarlatina, além das infecções no ouvido, na pele e na garganta.
Só em 2010, mais 7,3 bilhões de unidades do medicamento foram administradas em todo o mundo. No entanto, seu uso indiscriminado criou uma resistência geral a antibióticos, provocando a evolução e o surgimento de superbactérias em resposta aos efeitos do medicamento.
Utilizado inicialmente como arma durante a Primeira Guerra Mundial, o gás mostarda foi um dos primeiros agentes químicos usados para o tratamento do câncer, durante os anos 1940. Apesar do seu potencial em matar as células cancerosas, ele também danificava muito as células saudáveis, diminuindo os índices de sobrevivência.
Após esse medicamento, a primeira droga que comprovou sua utilidade contra o câncer foi o metotrexato, que curou um coriocarcinoma em 1956. Nas décadas seguintes, os avanços na quimioterapia apresentaram diversas melhorias tanto nos medicamentos utilizados quanto nos métodos de tratamento.
Dessa forma, houve um aumento considerável nas taxas de sobrevivência dos pacientes. Atualmente, a quantidade de produtos quimioterápicos, assim como programas de detecção da doença em estágios iniciais, contribuem de maneira significativa para a qualidade de vida das pessoas com câncer no mundo todo.
A clorpromazina, conhecida no Brasil, com a denominação comercial “amplictil”, foi descoberta em 1951, sendo a primeira droga antipsicótica do mundo. Isso mudou a psiquiatria foi, de modo geral, e pouco mais de 10 anos depois, 50 milhões de pessoas ao redor do mundo já o utilizavam em tratamentos contra a esquizofrenia. Esse medicamento também serviu como base sólida para tratamentos contra a ansiedade e a depressão.
Os mecanismos pelos quais a droga atua contribuíram para os pesquisadores entenderem seus efeitos em neurotransmissores cerebrais e a transmissão dos impulsos pelos neurônios. Dessa forma, trouxe luz à compreensão sobre o funcionamento das doenças mentais.
Embora as vacinas, não sejam consideradas tecnicamente drogas, elas são parte importante da Medicina Preventiva. Nesse sentido, a poliomielite, provocada por um vírus que vive no trato intestinal e na garganta, já foi uma das principais causadoras de problemas motores no mundo.
Graças à introdução da vacina, em 1955, a doença foi erradicada em quase todos os lugares do mundo. No entanto, como o vírus ainda existe, as crianças continuam a precisar tomar esse imunizante.
As infecções provocadas pelo vírus do HIV foram registradas no mundo a partir de 1981. Após quatro anos, os pesquisadores conseguiram identificá-lo como o agente causador da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA, ou, na sigla em inglês, AIDS). Nos anos 1990, foi descoberta uma categoria de remédio muito importante para tratar a doença: os inibidores de protease.
Embora eles não tenham sido os primeiros medicamentos contra o vírus, com o auxílio de outras drogas, eles conseguiram ajudar os médicos a reduzir os níveis da doença. Com isso, foi possível evitar que os pacientes desenvolvessem a AIDS, mesmo hospedando o patógeno causador.
Atualmente, das 23 medicações distribuídas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) contra a doença, nove são inibidores de protease.
O uso de dados na indústria farmacêutica já é uma realidade, e tem potencial para evoluir ainda mais, contribuindo para combater novas patologias, tratar doenças crônicas e encontrar eventuais correlações entre estruturas moleculares e funções químicas de ativos, conforme comentamos a seguir.
A computação cognitiva de empresas de biotecnologia contribuiu para o desenvolvimento das vacinas em tempo recorde na pandemia da covid-19. Nesse mesmo sentido, há uma previsão de que soluções como IA e Machine Learning contribuam ainda mais para o desenvolvimento de novas medicações e vacinas, com base nos dados de grupos de pesquisa.
Dessa forma, a tendência é que se anteveja se subgrupos de pacientes ou pessoas que apresentam condições de saúde preexistentes responderiam melhor a uma combinação diferente de ativos ou a doses diferentes de um medicamento.
Os algoritmos específicos conseguirão encontrar correlações entre a estrutura molecular e a função química de um ativo ou proteína. Além disso, serão capazes de verificar a existência de mutações em patologias como o câncer.
Para os próximos anos, a tendência é evoluir ainda mais nesse tipo de análise, oferecendo mais inovação à P&D (Pesquisa e Desenvolvimento) da indústria farmacêutica.
Há uma expectativa de encontrar os genes que têm controle sobre o envelhecimento. Além disso, espera-se que até 2040 a Medicina de Precisão consiga detectar patologias antes mesmo de os sintomas aparecerem.
Uma previsão nesse sentido é a aprovação, em breve, de medicamentos de precisão baseados na genética para combater a diabetes e a hipertensão. Para isso, a indústria de medicamentos contará com a Inteligência artificial, Big Data e biotecnologia, que, ao serem combinadas, podem ser eficazes no desenvolvimento de medicamentos de precisão.
Isso é possível com a utilização de dados sobre as características genéticas de um paciente, além de informações sobre fatores ambientais e sociais, bem como padrões de comportamento.
A jornada de um paciente na adesão a um tratamento pode ser impactada por efeitos colaterais e reações adversas. A modelagem preditiva pode ser utilizada para prever a toxicidade de ativos no organismo dos pacientes, assim como as interações medicamentosas.
Como vimos, saber como surgiram os primeiros medicamentos, é interessante para entender a trajetória das descobertas de soluções para inúmeras doenças. Assim, esperamos que as informações que trouxemos tenham contribuído para a ampliação de seus conhecimentos.
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