Médico: saiba como interpretar um artigo científico

23/10/2025
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equipe afya educacao médica
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Aprenda a interpretar artigos científicos com precisão e fortaleça sua prática na medicina baseada em evidências.

Nos últimos anos, a Medicina baseada em evidências ganhou espaço central na prática clínica. E que bom, não é mesmo? Nas redes sociais, por exemplo, há um grande movimento de divulgação científica com forte base acontecendo. E, em meio às fakes news, essa é uma ótima notícia.

Além disso, há outro ponto que levanta a importância de um médico saber como interpretar um artigo científico: a necessidade de estar sempre atualizado com as novidades. Há cada dia mais descobertas e estar por dentro é importantíssimo para garantir o melhor atendimento possível para os seus pacientes.

Pensando nisso, vamos explorar os benefícios dessas publicações e apresentar um passo a passo prático de como interpretar um artigo científico, destacando cuidados essenciais, validação das informações e erros comuns a serem evitados. Vamos lá?

Por que utilizar artigos científicos na prática médica?

Os artigos científicos, como você bem sabe, apresentam resultados de pesquisas, ensaios clínicos, revisões sistemáticas e metanálises que orientam condutas médicas. E é neles que toda a novidade é divulgada! Afinal, não é como se existisse um "portal de fofocas" da Medicina para deixar tudo mastigado.

É claro que, sim, as informações chegam às palestras, aos livros e a outros canais em algum momento. Mas o mais interessante é encontrá-la o quanto antes, a fim de alterar condutas ultrapassadas e oferecer o melhor para quem está sob os seus cuidados.

Entre os principais benefícios de usar artigos científicos estão:

  • tomada de decisão precisa, pois os médicos podem escolher terapias e condutas com base em dados confiáveis;
  • atualização constante, já que novos tratamentos e descobertas são incorporados mais rapidamente ao dia a dia;
  • aprimoramento da prática profissional porque, ao comparar diferentes estudos, é possível ajustar protocolos e melhorar a qualidade do atendimento.

Qual é o passo a passo para interpretar um artigo científico?

No entanto, é importante ter em mente que nem todo artigo científico é válido. Alguns têm amostragens muito pequenas, metodologias que não funcionam na prática ou simplesmente não se adequam à sua realidade (por exemplo, estudam um grupo muito específico de um país muito distante).

Sendo assim, é fundamental saber filtrar o que realmente importa e, claro, entender exatamente o que o artigo está tentando dizer.

Continue e confira as nossas dicas!

Leia o resumo com olhar crítico

O resumo (ou abstract) é o começo do estudo. Nele, o autor apresenta a pergunta da pesquisa, a metodologia usada, os resultados principais e a conclusão. Leia com atenção!

Avalie o contexto e o objetivo do estudo

Verifique se o artigo está alinhado à sua prática clínica. Pergunte-se:

  • qual problema ou hipótese ele busca responder?
  • o tema é relevante para a especialidade em que atuo?

Conectar o objetivo do estudo ao seu dia a dia é essencial para transformar informação em ação. Afinal, como dissemos, pode ser que ele não tenha muito a ver com a sua rotina, apesar do tema interessante.

Analise a metodologia

Aqui está o pulo do gato! Infelizmente, muitas vezes, a metodologia dos estudos não é boa. Por conta disso, avalie o tipo de estudo (clínico, observacional, revisão sistemática), o tamanho da amostra, os critérios de inclusão e exclusão e se houve grupo controle. Assim, você consegue ver se realmente vale a pena continuar lendo o artigo.

Verifique os resultados com atenção

Observe como os dados foram coletados e apresentados. Gráficos e tabelas devem ser claros e bem descritos. Questione:

  • os resultados são estatisticamente significativos?
  • há risco de viés ou interferência externa?

Lembre-se de que números expressivos, por si só, não bastam; é preciso entender a relevância clínica. Preste bastante atenção.

Compare com outras evidências

Nenhum estudo é absoluto. O ideal é cruzar as informações com outros artigos, revisões ou metanálises. Assim, você consegue identificar se aquilo realmente faz sentido e se pode ou não ser colocado em prática na sua rotina.

Quais são os cuidados que devemos ter ao validar informações científicas?

Mesmo em periódicos de renome, é preciso atenção. Veja algumas recomendações para garantir a confiabilidade da leitura:

  • dê preferência a publicações revisadas por pares;
  • foque nas publicações feitas em portais, revistas ou periódicos que tenham credibilidade;
  • analise conflitos de interesse, pois os financiamentos e parcerias podem influenciar resultados;
  • veja a data do estudo, porque as publicações mais antigas podem não fazer tanto sentido em alguns momentos.

Quais são os erros comuns que devem ser evitados?

Agora, continue a leitura para conferir alguns erros comuns nesse contexto… e como evitá-los!

Focar apenas no resumo

O resumo é útil para ter uma visão geral, mas não conta toda a história. Muitas vezes, detalhes bem importantes aparecem apenas nas seções de métodos e resultados.

Pular essas partes é arriscado, pois são elas que mostram como o estudo foi conduzido, quais foram as variáveis analisadas e se o caminho escolhido pelos pesquisadores sustenta as conclusões apresentadas.

Sim, ler tudo dá um trabalhão. Mas pular partes importantes pode fazer com que você precise ter o retrabalho de ler tudo novamente.

Ignorar o tamanho da amostra

Outro deslize comum é não verificar o número de participantes ou a quantidade de dados coletados. Estudos com amostras muito pequenas podem não representar a realidade de forma confiável.

Por exemplo: será que o teste de um novo medicamento feito apenas com 20 pessoas realmente é uma amostra interessante? É algo a se pensar.

Isso significa que, mesmo que os resultados pareçam impressionantes, eles podem ser fruto do acaso e não se repetir em um grupo maior.

Desconsiderar o viés de publicação

O chamado viés de publicação também merece atenção. Em geral, resultados positivos ou surpreendentes têm mais chances de serem publicados do que estudos que não encontram efeitos ou que apresentam conclusões consideradas “negativas”.

Além disso, é bem importante ver quem está por trás daquele estudo. Sabemos que há muitas regrinhas de como interpretar um artigo científico, mas essa é de extrema importância!

Confundir correlação com causalidade

Talvez o erro mais comum seja confundir correlação com causalidade. Quando dois dados aparecem juntos, isso não significa que um cause o outro.

Por exemplo, um estudo pode mostrar que pessoas que dormem pouco consomem mais café, mas isso não quer dizer que tomar café seja a causa da insônia. Nesse caso, outros fatores, como estresse ou hábitos de vida, podem estar por trás da relação.

É por isso que interpretar as análises estatísticas com cuidado é essencial. E, novamente, isso mostra porque amostras maiores são sempre mais interessantes em boa parte dos estudos.

Agora você já sabe como interpretar um artigo científico! Essa é uma competência essencial para a prática médica, já que estar sempre atualizado faz bem para o profissional e, sem dúvidas, para os pacientes que podem contar com protocolos sempre atualizados.

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