Saiba como interpretar exames de sangue de maneira correta

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Saber como interpretar exames de sangue de maneira correta é fundamental para diagnósticos precisos e tratamentos adequados. Isso porque, muitas vezes, um simples marcador fora dos valores de referência, pode gerar inúmeras interpretações em contextos diferentes, induzindo a erros.

Neste artigo, vamos abordar a importância de interpretar corretamente os exames de sangue no atendimento médico, os principais marcadores e o que fazer para garantir uma boa interpretação, acertar no diagnóstico e proporcionar um bom tratamento ao seu paciente. Boa leitura!

Entenda a importância de interpretar corretamente os exames de sangue

Um dos principais aspectos para a adequada tomada de decisão se encontra na correta interpretação dos resultados de exames laboratoriais — por exemplo, saber como avaliar exames de sangue de maneira correta. A interpretação deve ser baseada no contexto clínico, com os devidos cuidados para não se enganar com achados laboratoriais que podem ocorrer por eventuais circunstâncias.

A incerteza é condição intrínseca no exercício da Medicina. Ela se apresenta em todas as interpretações e conclusões acerca dos resultados de exames laboratoriais, mesmo diante da exatidão numérica e valores de referência.

Nesse sentido, um resultado de exame anormal, ou seja, fora da faixa de referência, não deve ser relacionado automaticamente a um quadro de doença. Da mesma forma, um resultado normal, presente na faixa de referência, não deve dar a certeza de que o paciente esteja saudável.

Ter esse conhecimento é fundamental para lidar de maneira adequada com eventuais alterações inesperadas em um determinado exame e interpretá-las com base no contexto clínico. Também é importante para evitar a solicitação excessiva de exames, sem uma prévia fundamentação em um raciocínio clínico.

Isso porque pessoas consideradas saudáveis podem ter resultados anormais em exames laboratoriais. A probabilidade de que isso ocorra é proporcional ao número de exames laboratoriais solicitados.

Saiba quais são os principais marcadores de exames de sangue

Antes de entrarmos na questão dos principais marcadores que devem ser solicitados para avaliar os seus pacientes, vamos esclarecer as diferenças entre hemograma e exame de sangue.

Embora pareçam sinônimos, eles não são a mesma coisa. Isso porque o hemograma é um dos tipos de exame de sangue, ao passo que o exame de sangue pode avaliar outros indicadores, como a glicose, o colesterol e a ureia.

Os valores de referência para a maioria dos exames pode variar em cada laboratório, contudo, eles sempre podem ser verificados ao lado de cada resultado.

A seguir, veja quais são os exames indispensáveis para avaliar os seus pacientes e como interpretá-los adequadamente.

Hemograma

O hemograma completo é assim denominado para identificar o exame que contém resultados para três linhagens de células. Mas, na verdade, o termo “hemograma completo” é somente um preciosismo, já que não existe hemograma incompleto. A palavra hemograma já inclui a dosagem das hemácias, leucócitos e plaquetas. Dessa forma, quando você pedir um hemograma, estará implícito que você quer o resultado completo, com a avaliação dessas dosagens.

Caso precise de apenas um resultado da contagem de hemácias, deve solicitar um eritrograma. Se quiser apenas os resultados dos leucócitos, o exame a ser pedido é o leucograma. Para analisar somente as plaquetas, solicite um plaquetograma.

Veja, a seguir, o que cada um desses exames avalia de maneira isolada.

Você quais são os principais marcadores de exames de sangue?Eritrograma (Série Vermelha)

Avalia as células vermelhas (eritrócitos ou hemácias) responsáveis pelo transporte do oxigênio no organismo. Identifica o perfil hematológico dessas células por meio da contagem de eritrócitos, dosagem de hemoglobina, hematócrito e avaliações morfológicas.

Quando se apresentam em níveis baixos, os glóbulos vermelhos podem indicar doenças renais, anemia e deficiência de ferro, que podem necessitar de doação de sangue.

Leucograma (Série Branca)

Analisa as células ligadas à defesa imunológica (células brancas ou leucócitos, incluindo-se os monócitos, basófilos, neutrófilos, linfócitos e eosinófilos). Indica o perfil hematológico das células brancas por meio da contagem e análises morfológicas dos leucócitos.

Os glóbulos brancos são analisados em cinco diferentes tipos de células. Os níveis desregulados para cada um podem sugerir diferentes condições infecciosas.

Plaquetograma

Engloba a contagem e a avaliação da morfologia das plaquetas, elementos responsáveis pela coagulação do sangue.

Níveis muito altos de plaquetas podem indicar tendências para o desenvolvimento de coágulos, enquanto os níveis muito baixos podem indicar o risco de sangramentos/hemorragias.

Colesterol

Embora tenha fama de vilão, o colesterol é um tipo de gordura com importantes funções para o organismo, tais como a produção de hormônios, estruturação do sistema nervoso central e das paredes das células.

Cerca de 75% do colesterol é produzido pelo próprio organismo, especialmente pelo fígado. O restante é obtido por meio da alimentação. Para o colesterol conseguir circular no sangue, ele precisa do auxílio das lipoproteínas: o LDL, HDL e VLDL, sobre as quais detalhamos a seguir:

  • LDL (colesterol ruim) – faz o transporte do colesterol para os tecidos e favorece o acúmulo de gordura nas paredes internas das artérias. Assim, quanto mais baixo, melhor. Níveis acima do parâmetro podem obstruir os vasos e causar doenças como AVC e infarto, devendo ficar abaixo dos 130 mg/dL. Para as pessoas com algum quadro de risco, os níveis não deverão ultrapassar os 70 mg/dL.
  • HDL (colesterol bom) – extrai o colesterol LDL da circulação e o transporta das artérias para o fígado, que se incumbe de eliminá-lo. Os níveis adequados de colesterol devem ser superiores a 40 mg/dL de sangue, mas quanto mais alto estiver, menor será o risco para doenças cardiovasculares.
  • VLDL – lipoproteínas de baixíssima densidade, produzidas no fígado, que transportam os triglicerídeos pela corrente sanguínea. Os valores considerados normais precisam estar em torno de 200mg/dL. Estão ligeiramente altos, quando se apresentam entre 200 e 239 mg/dL e altos, acima de 240 mg/dL.

O exame de colesterol total ou perfil lipídico se refere à soma das frações LDL, HDL e VLDL, indicando os níveis de colesterol e triglicérides na corrente sanguínea. O valor de referência para o colesterol total é abaixo de 190 mg/dL.

Triglicerídeos

Os triglicerídeos se referem tanto às gorduras produzidas pelo corpo quanto às obtidas por meio da alimentação. Quando se encontram em níveis elevados podem indicar perigo de doenças cardíacas e inflamações, como no pâncreas.

Glicemia/glicose

O exame de glicemia mede os níveis de glicose (açúcar) no sangue, que podem indicar a presença de diabetes e outras alterações do metabolismo. Para confirmar a diabetes, o médico pode solicitar outros tipos de exame, como o de hemoglobina glicada e de tolerância à glicose.

TSH e T4 livre

Investiga o funcionamento da tireoide, órgão que regula e controla o metabolismo. As alterações mais comuns detectadas por esses indicadores são o hipotiroidismo e o hipertireoidismo.

TGO e TGP

A Transaminase Oxalacética (TGO) e a Transaminase pirúvica (TGP) se referem a duas das principais enzimas com a função de metabolizar proteínas. As alterações nesses exames são normalmente indicativos de lesões no fígado. Isso pode ocorrer em casos de cirrose, hepatite ou presença de gordura no fígado.

VHS

O exame de velocidade de hemossedimentação, também chamado VHS, deve ser solicitado visando avaliar a presença de inflamação ou infecção. Aqui, é importante observar que a determinação da VHS não visa diagnosticar – vários problemas de saúde podem causar um aumento no resultado.

Por isso é indicado solicitar o exame de VHS juntamente do hemograma e da dosagem da proteína C reativa (PCR), da qual falaremos a seguir.

Proteína C-reativa (PCR)

Essa proteína indica quadros inflamatórios no organismo. O exame não aponta precisamente o tipo de inflamação ou infecção que o paciente apresenta, porém, um aumento em seus valores informa que o corpo está lutando contra algum agente agressor.

O exame de Proteína C-reativa (PCR) também pode ser usado para avaliar o risco de o paciente desenvolver doenças cardiovasculares. Quanto mais alta, maior a probabilidade.

PSA

O exame de PSA mede a elevação da proteína responsável por infecções e câncer na próstata. Assim, o valor medido aponta infecções e o aumento da próstata. Dependendo desse resultado, ainda pode haver necessidade de solicitar uma biópsia para melhor apuração.

Urocultura

A urocultura é o exame que detecta infecções urinárias na bexiga, nos rins ou na uretra. Esse exame é fundamental para identificar o tipo de bactéria que está causando uma infecção. Com isso é possível saber exatamente o tipo de antibiótico adequado para combater uma bactéria específica.

Ureia e creatinina

Os indicadores de ureia e a creatinina mostram a função e problemas nos rins. Com base em seus resultados é possível identificar o volume de sangue filtrado nos rins por minuto. O resultado também é importante para identificar e prevenir diversas condições como diabetes, hipertensão, cálculos renais e infecção urinária.

CPK

CPK é a sigla para a creatinofosfoquinase. Trata-se de uma enzima presente nos músculos e em outros lugares do corpo, tais como cérebro, pulmão ou coração.

Quando o nível desta enzima está elevado, pode ser um marcador de hipertermia, infarto do miocárdio, miocardite ou distrofia muscular.

Ácido Úrico

O ácido úrico é uma substância fabricada pelo organismo após a digestão das proteínas. Em geral, não causa nenhum problema, sendo eliminado pelos rins. Mas quando o corpo o produz em excesso, eles podem ficar acumulados nas articulações e nos rins, provocando doenças como cálculos renais, gota e até insuficiência renal.

O ácido úrico elevado é normalmente associado à hipertensão arterial e problemas cardiovasculares.

Entenda os impactos de uma análise errada

Infelizmente, as análises erradas ou pouco aprofundadas de hemogramas são muito comuns no sistema de saúde. As causas são bastante variadas, podendo acontecer em função dos seguintes aspectos e situações:

  • necessidade de otimizar o tempo em função do excesso de pacientes;
  • desatenção;
  • inabilidade técnica;
  • falta de conhecimento;
  • esquecimento de detalhes em avaliações;
  • falta de orientação ao paciente antes da coleta de materiais;
  • erros por parte do pessoal da coleta;
  • erro do laboratório, entre outros.

A questão é que uma análise errada pode gerar sérios prejuízos para a saúde do paciente, pois o médico pode estar deixando de detectar um quadro agudo potencialmente severo ou uma patologia grave. Mas aqui, é importante deixar clara as diferenças entre erro médico e erro de diagnóstico.

O erro médico, segundo o CFM é aquele que causa algum dano ao paciente, devido a uma ação ou omissão, decorrente de imprudência, imperícia ou negligência na atuação da profissão. Já o erro de diagnóstico, conforme definição do Instituto de Medicina (IOM) é a falha em estabelecer uma explicação precisa e oportuna do problema de saúde ou comunicar essa explicação ao paciente. Isso envolve qualquer diagnóstico errado, indevidamente atrasado ou perdido, ou seja, não realizado.

Contudo, é preciso enfatizar que um erro de diagnóstico não estabelece, necessariamente, que tenha havido alguma imprudência, imperícia, ou negligência por parte do médico. Até mesmo os profissionais de competência reconhecida, muito bem-intencionados e cuidadosos, podem errar!

Saiba o que deve ser observado para interpretar corretamente os exames

Até aqui, vimos o que são os exames de sangue e os impactos que uma análise equivocada pode gerar na vida de um paciente. Mas tenha em mente que saber como interpretar exames de sangue corretamente começa bem antes de ter os resultados em mãos. Veja uma lista de atitudes e ações importantes para uma correta solicitação e interpretação dos resultados.

Faça o pedido corretamente

Por mais esdrúxulo que possa parecer, muitas vezes o erro na interpretação de um hemograma começa no próprio pedido do médico. Isso porque além dos parâmetros básicos que esse tipo de exame mostra, existem outros opcionais que não serão aferidos se não forem solicitados explicitamente.

Com isso, o profissional pode deixar de ter informações valiosas. Dessa forma, é importante considerar que o básico é a série vermelha e a série branca, além da contagem de plaquetas, reticulócitos e alguns itens hematológicos. Além desses, também é possível solicitar:

  • algumas drogas;
  • anticorpos;
  • bactérias ou vírus em casos de infecção;
  • eletrólitos (sódio, cálcio, potássio, magnésio etc.);
  • glicemia;
  • hepatograma;
  • lipidograma;
  • proteínas.

Para isso, é necessário fazer essa prescrição por escrito na solicitação, até mesmo para facilitar na coleta de maior quantidade de sangue quando necessária.

Oriente seu paciente antes dos exames

Os resultados fora dos parâmetros podem ser causados por falta de orientação ao paciente antes da coleta dos materiais. A seguir, veja o que pode levar a alterações nas análises laboratoriais:

  • postura – mudanças rápidas de postura podem interferir em exames de colesterol, albumina, hematócrito, hemoglobina e triglicérides, além de drogas que se ligam a proteínas e leucócitos. Isso porque a alteração rápida de posição do corpo determina a variação do teor de alguns componentes séricos;
  • jejum – alguns exames exigem jejum, pois determinados alimentos podem alterar os resultados, como nos testes para diabetes, entre outros;
  • hábitos alimentares – a alimentação habitual do paciente pode interferir em alguns tipos de exame;
  • atividades físicas – os exercícios alteram alguns componentes sanguíneos devido à mobilização de água e outras substâncias no corpo. O esforço ainda pode aumentar a atividade sérica de enzimas de origem muscular;
  • medicamentos – os remédios devem ser protocolados para evitar interferências que podem induzir o erro médico. O uso de corticoides, por exemplo, pode alterar a hiperglicemia, assim como as estatinas podem elevar a atividade da CK total.

Além desses fatores, a ingestão de álcool e o tabagismo podem causar variações nos resultados devido aos seus efeitos in vivo e in vitro. Exemplo disso, é a concentração de gamaglutamiltransferase elevada, que pode ser observada em pacientes que ingerem álcool frequentemente.

Já os fumantes podem apresentar alterações na concentração de hemácias, hemoglobina, leucócitos e do volume corpuscular médio. Além disso, podem apresentar redução do HDL e elevar a aldosterona, a adrenalina, o cortisol e o antígeno carcinoembriogênico.

Em suma, a quantidade e qualidade das informações fornecidas, antes e após os exames, melhoram a experiência do paciente, contribuem para resultados fidedignos e tratamentos mais adequados com alta taxa de adesão e engajamento.

Conheça os valores de referência

Conhecer os valores de referência é fundamental para saber como ler resultados de exame de sangue e interpretar o hemograma da maneira correta. Atualmente, os laboratórios já entregam os resultados com as referências ao lado de cada tipo de exame, porém alguns podem não oferecer essas informações.

Também é importante considerar que cada laboratório tem seus próprios parâmetros e os equipamentos utilizados em exames podem causar pequenas diferenças nos resultados. Assim, é importante sempre ter à mão os parâmetros oficiais de todas as análises para homens e mulheres, por faixa etária. Eles podem ser consultados em tabela atualizada, publicada pela Revista Brasileira de Epidemiologia.

Os atuais valores de referência de hemograma foram inicialmente estabelecidos na década de 1960, com base na observação de diversos indivíduos sem doenças. Dessa forma, o considerado normal se refere aos valores que se apresentam em 95% da população sadia. Ou seja, 5% das pessoas sem alterações na saúde podem apresentar valores do hemograma fora da faixa de referência, considerando 2,5% um pouco abaixo e 2,5% um pouco acima.

Nesse sentido, pequenas variações para mais ou para menos não indicam, necessariamente, uma doença. Claro que quanto mais distante um resultado se encontrar do valor de referência, maior será a chance de representar, de fato, alguma patologia.

Fique atento ao eritrograma

O eritrograma se refere à primeira parte do hemograma, com informações sobre os glóbulos vermelhos (hemácias ou eritrócitos). Tais dados devem ser analisados em conjunto. Quando os parâmetros se apresentem reduzidos, indicam um quadro de anemia. Nessa situação, é fundamental pesquisar o tipo de anemia manifestada.

Já se eles se encontram elevados podem indicar policitemia, quando há excesso de eritrócitos circulantes. O hematócrito indica o percentual de sangue ocupado pelas hemácias. O restante de sua composição é formado por água e de outras substâncias diluídas. Um número baixo interfere no transporte de oxigênio, enquanto o excesso deixa o sangue denso, facilitando a formação de coágulos.

Analise muito bem o leucograma

Essa é a parte do hemograma que verifica os leucócitos, também chamados de série branca do sangue. Eles são essenciais para a defesa do organismo, sendo muito importantes para analisar os tipos de infecção e o tempo de duração dessas doenças. Há diversos tipos de leucócitos:

  • neutrófilos – são os mais comuns e especializados no combate às bactérias;
  • segmentados ou bastões – se referem a neutrófilos jovens, que quando se apresentam em grandes quantidades indicam uma infecção recente e/ou ativa;
  • linfócitos – principais linhas de defesa contra vírus e tumores, podendo detectar um processo viral em curso;
  • monócitos – mais inespecíficos, quando aumentados identificam infecções crônicas, Mieloma múltiplo, doenças autoimunes, entre outras. Em valores baixos indicam um sistema imune enfraquecido.

Observe atentamente a quantidade de plaquetas

As plaquetas são células envolvidas com o início do processo de coagulação. Quando qualquer tecido se encontra lesado, elas atuam como com uma espécie de tampão, estancando o sangramento.

O valor normal de referência é variável, ficando em torno de 150 mil e 450 mil por microlitro (uL). Resultados mais baixos podem indicar uma série de problemas. Podem estar relacionados, por exemplo, a algumas arboviroses endêmicas, como a Zika, a Dengue e a Chikungunya. Já as plaquetas abaixo de 10 mil indicam risco de morte.

Considere as probabilidades

Além dos prováveis erros pré-analíticos (maneira de coleta e transporte da amostra), analíticos (processamento da amostra no laboratório) e erros relacionados à identificação do exame, um indivíduo saudável pode ter resultados de exames laboratoriais anormais por uma simples questão estatística.

Considerando que cada uma das variáveis laboratoriais mensuradas apresentam uma distribuição normal, em um intervalo de confiança de 95%, o resultado de um único exame de um paciente saudável tem 95% de probabilidade de ser normal e 5% de ser anormal, fora do intervalo de referência.

Considerando, ainda, que cada tipo de exame é independente, é possível estimar a probabilidade de termos, pelo menos, um resultado alterado, simplesmente tendo em vista o acaso no conjunto de exames solicitados. Aplicando tal conceito à situação clínica citada, temos:

  • número de exames laboratoriais solicitados: 20;
  • probabilidade de todos estarem normais: 36% – (95%)*20;
  • probabilidade de pelo menos um exame estar alterado: 64%, considerando o cálculo de 1 – (95%)*20.

Dessa forma, na situação clínica comentada, entre os 20 exames solicitados, há uma probabilidade de 64%, em haver um alterado, mesmo em caso de paciente saudável.

Analise o histórico do paciente e repita exames alterados

Muitas vezes pode acontecer de algum resultado se apresentar alterado sugerindo uma determinada doença e ao solicitar a repetição do teste apresentar intervalos dentro da referência considerada normal.

Nesse sentido, após a solicitação de exames laboratoriais sem uma devida fundamentação clínica, a observação de um resultado fora do intervalo de referência deve ser motivo para buscar no histórico do paciente e no exame físico, dados que ajudem a distinguir uma alteração devida a um acaso ou uma alteração indicativa de processo patológico.

O médico também precisa avaliar o grau em que o resultado obtido se distancia do valor de referência, assim como a ocorrência de alteração concomitante em dosagens laboratoriais relacionadas.

Uma estratégia importante é repetir a dosagem laboratorial alterada, para avaliar se a alteração persiste ou se o novo resultado está situado no intervalo de referência. Essa decisão se fundamenta no fenômeno de regressão à média, muitas vezes negligenciado.

Regressão à média

Aqui, é importante abrir um parêntese para explicar a regressão à média. Trata-se de um fenômeno estatístico universal, que traz importantes implicações na área da saúde, tanto para estudos epidemiológicos quanto para a prática clínica.

Esse fenômeno consiste no fato de que a obtenção inicial de um resultado extremo na mensuração de um fenômeno, tem maior probabilidade de ser seguida por um resultado mais próximo da média em uma nova mensuração desse fenômeno, simplesmente devido ao acaso.

Por isso, a regressão à média é um dos motivos pelos quais é fundamental existir um grupo controle em um estudo de intervenção, visando avaliar a eficácia de uma nova terapia para uma determinada condição.

Essa nova terapia será válida somente se a melhora obtida no grupo de intervenção superar, estatisticamente, a melhora apresentada no grupo controle. Ou seja, se superar a melhora ocorrida no grupo controle, simplesmente pela regressão à média.

Na prática da Medicina, desconhecer esse fenômeno estatístico pode causar interpretações equivocadas em relação às variações nos resultados de exames laboratoriais. Ao observar uma redução no valor e após orientar determinada intervenção, o médico pode considerar equivocadamente que a diminuição observada se deveu ao resultado da intervenção proposta, quando, na verdade, a redução aconteceu pela regressão à média.


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Como vimos, saber como interpretar exames de sangue correta e adequadamente é fundamental para a tomada de decisão do tratamento a ser (ou não) administrado ao paciente. Para isso, é importante ter os conhecimentos médicos e habilidades necessárias, considerando as variáveis que comentamos.

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