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19.3.2024
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Equipe Afya Educação Médica
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O tratamento de pacientes com alcoolismo pode ser bastante desafiador para os médicos, uma vez que é comum que essas pessoas não se reconheçam como doentes e resistam às abordagens terapêuticas propostas, o que pode prolongar o processo de recuperação e aumentar o risco de recaídas.
Diante disso, é fundamental adotar estratégias que transmitam empatia e contribuam para o acolhimento do paciente, fator imprescindível para que este entenda a gravidade e consequências atreladas a essa condição, que causa danos físicos e psicológicos, aceite se tratar e colabore para a sua melhora.
Quer saber como agir na prática? Neste post, vamos abordar como ajudar alcoolistas. Confira!
De acordo com dados da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), o uso nocivo de álcool é responsável por aproximadamente 3 milhões de mortes a cada ano em todo o mundo. Estima-se que 5,1% da taxa mundial de lesões e doenças são resultantes do alcoolismo.
O consumo exagerado de álcool pode causar morte e incapacidade precoce nos indivíduos. Cerca de 13,5% dos óbitos entre pessoas de 20 a 39 anos são causados pelo álcool.
No Brasil, segundo um levantamento do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA), 17% dos brasileiros consomem álcool de forma abusiva, mas desse total 75% se identificam como consumidores moderados.
O estudo também aborda as consequências do alcoolismo, revelando que 36,7% das mortes de homens no trânsito são atribuídas à doença, enquanto para as mulheres essa taxa é de 23%. A enfermidade ainda é responsável por causar 26% dos casos de câncer de cavidade oral e lábios, 69,5% dos diagnósticos de cirrose hepática entre público masculino e 42,6% entre a população feminina.
O alcoolismo é definido como uma doença caracterizada pelo consumo excessivo e compulsivo do álcool, que desencadeia dependência física e psicológica. O descontrole no uso dessa substância acarreta impactos negativos na saúde, vida pessoal, social e profissional do paciente.
Essa enfermidade ocorre de maneira progressiva, o que significa que piora com o decorrer do tempo. Ela se manifesta a partir da ingestão excessiva e regular de álcool, dificuldade para controlar a quantidade de bebida consumida, persistência no seu uso mesmo diante de consequências negativas, necessidade de beber cada vez mais.
Outra manifestação típica da patologia são os sintomas de abstinência, como ansiedade, tremores e a priorização do álcool em relação a outras atividades familiares, profissionais e sociais.
As causas do alcoolismo são diversificadas e podem variar de pessoa para pessoa. Atualmente, sabe-se que os indivíduos predispostos geneticamente estão mais vulneráveis ao desenvolvimento da doença.
O contexto familiar e social na qual o paciente está inserido pode influenciá-lo a beber de modo desregrado, como a exposição precoce à bebida alcoólica, trauma emocional, estresse crônico e pressão dos colegas.
Aspectos psicológicos, como baixa autoestima, transtornos de humor e ansiedade, também podem favorecer o alcoolismo, tendo em vista que o álcool pode ser usado como uma válvula de escape para lidar com problemas emocionais.
Ademais, as questões culturais e sociais, como a disponibilidade e aceitação generalizada do álcool na sociedade, e modelos de comportamento observados na família contribuem igualmente para o surgimento da condição.
Nos estágios iniciais, o alcoolismo pode ser percebido por mudanças sutis no comportamento, como um aumento gradual no consumo de álcool, maior frequência de ocasiões para beber e sinais emocionais, como irritabilidade. Sintomas físicos, como tremores matinais e dificuldade de concentração, também podem surgir. Esses sinais podem passar despercebidos ou serem justificados, mas indicam um possível problema com a substância.
Além disso, a tendência é que a pessoa prefira beber em vez de fazer outras atividades que antes eram importantes, como ter tempo de qualidade com a família. Acontecem, também, alterações no sono e apetite, e a necessidade crescente de beber para sentir os mesmos efeitos.
O consumo excessivo de álcool pode ter uma variedade de malefícios para a saúde física e mental. No curto prazo, pode causar a descoordenação motora, diminuição dos reflexos, dificuldade de fala, vômitos e ressacas. Já a longo prazo, a substância pode provocar danos graves aos órgãos internos, incluindo fígado, cérebro, coração e sistema digestivo.
As doenças hepáticas como a cirrose são comuns em alcoólatras crônicos, assim como distúrbios neurológicos como demência alcoólica. O alcoolismo também está associado a um maior risco de desenvolvimento de transtornos mentais, como depressão e ansiedade, bem como problemas sociais, como violência doméstica, acidentes de trânsito e problemas legais.
Tratar pacientes que abusam do álcool pode ser desafiador porque muitos deles se recusam a reconhecer o problema. Sendo assim, cabe aos médicos adotar abordagens terapêuticas que ajudem desde na aceitação da doença até no tratamento dos gatilhos e sintomas da doença. Veja, abaixo, como tratar o alcoolismo.
Acolher o paciente alcoolista de forma empática é crucial, pois demonstra compreensão e apoio, essenciais para estabelecer uma relação terapêutica sólida. Isso pode ser feito ouvindo atentamente suas preocupações, se solidarizando com suas lutas e validando suas experiências.
Procure oferecer um ambiente seguro e não julgador para que ele se sinta à vontade para compartilhar seus desafios, promovendo a abertura e a colaboração no processo de tratamento.
Se a pessoa ainda tem dificuldades para aceitar e tratar a doença, a abordagem médica deve começar pelo fornecimento de informações claras e objetivas sobre o uso excessivo de álcool na saúde física, mental, nos relacionamentos e nas responsabilidades do dia a dia.
Informe o paciente a respeito dos impactos do álcool na vida dele e o ajude a identificar padrões de consumo, como beber em resposta ao estresse, emoções negativas ou em determinadas situações sociais. Assim, você colabora para que ele perceba a gravidade do problema e quais são as suas possíveis causas.
Em casos de dependência severa, pode ser necessária uma desintoxicação supervisionada para gerenciar sintomas de abstinência potencialmente perigosos.
Esse processo é feito por meio da internação do indivíduo em clínica ou hospital, na qual ele é monitorado para garantir sua segurança, recebe medicação adequada para controle dos sintomas, suporte nutricional e psicológico.
O uso de medicamentos é uma ferramenta adicional para reduzir os desejos pelo álcool ou para administrar as manifestações da abstinência e evitar recaídas, contribuindo assim para uma recuperação mais segura e eficaz do alcoolismo.
Alguns tipos de medicamentos comumente usados no tratamento do alcoolismo incluem a naltrexona, que reduz os desejos pelo álcool, o acamprosato, que ajuda a prevenir recaídas, e o dissulfiram, que causa reações desagradáveis ao álcool.
É importante tratar quaisquer condições subjacentes, como transtornos de ansiedade ou depressão, que levem o paciente a beber de maneira desregrada. Por isso, investigue se há presença dessas patologias e, se necessário, encaminhe o paciente para avaliação e tratamento psicológico especializado.
A recomendação de terapias comportamentais, como Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), Terapia Motivacional e Terapia Familiar, o auxilia a entender e lidar com os gatilhos para o consumo de álcool, desenvolver habilidades de enfrentamento saudáveis e fortalecer o apoio social.
A troca de experiência com outras pessoas que estão na mesma situação é uma parte relevante do tratamento do alcoolismo, pois permite a criação de um ambiente de suporte, a identificação com histórias similares e a obtenção de ideias úteis de recuperação.
O alcoolismo afeta negativamente a vida do paciente, comprometendo não apenas sua saúde física, mas também sua saúde mental, relacionamentos e qualidade de vida. É uma condição complexa que requer uma abordagem empática e compreensiva no tratamento.
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Com um acolhimento baseado na empatia e adoção de um tratamento multidisciplinar, é possível auxiliar a pessoa a reconhecer que é adicta e a controlar os sintomas físicos e psicológicos da dependência do álcool, restabelecendo o seu bem-estar, sua sobriedade e possibilidade de reconstruir relacionamentos saudáveis.
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