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16.12.2020
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Equipe Afya Educação Médica
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No último mês de novembro, quando se celebra o mês da saúde masculina, Marcelo Gobbo, editor de Medicina de Família do Portal PEBMED entrevistou urologista Wesley Magnabosco para entender alguns pontos importantes sobre o rastreamento, tratamento e complicações do câncer de próstata. Abaixo, reunimos os principais pontos dessa conversa importante sobre saúde do homem.
O câncer de próstata é uma neoplasia indolente, de crescimento lento e de incidência bastante elevada no mundo, afetando 1 a cada 5 homens acima dos 70 anos. Apesar da alta incidência e de se tratar de um tumor, o desenvolvimento da doença não significa uma sentença de morte. Pesquisas recentes, conduzidas por pesquisadores da área médica e feitas por meio de autópsias, descobriram casos de câncer de próstata indolente em pacientes tidos como assintomáticos, que faleceram por outros motivos e não em decorrência do câncer.
Por esse motivo, a prevenção do câncer de próstata tem sido um ponto bastante polêmico entre a comunidade médica. Apesar da alta incidência entre homens mais velhos e idosos, muitos pacientes vivem bem com a doença e não desenvolvem qualquer sintoma ao longo da vida.
O tratamento precoce do câncer de próstata deve ser avaliado caso a caso, em uma conversa entre médico e paciente. Trata-se de um tratamento mórbido, com baixa incidência de efeitos adversos, como incontinência urinária, mas com taxa relativamente alta de impotência sexual - em torno de 40% dos pacientes em tratamento apresentam esse efeito colateral.
Com esses dados em mãos, a comunidade médica iniciou um questionamento sobre o impacto do tratamento na sobrevida e na qualidade de vida dos pacientes. Um trabalho recente conduzido nos EUA tentou analisar a validade do tratamento precoce para o câncer de próstata. Os pesquisadores chegaram à conclusão de que não havia impacto positivo relevante em iniciar o tratamento nos primeiros sinais da doença. Apesar dos resultados, o estudo foi cercado de polêmicas.
Estudiosos de outros países revisaram os dados e reconheceram erros metodológicos graves, colocando sob suspeita os resultados e motivações tendenciosas da pesquisa em razão alto custo do tratamento de câncer de próstata para o sistema de saúde dos EUA. A Sociedade de Urologia não aceitou o resultado do estudo americano, se baseando mais nos trabalhos europeus que mostraram que o impacto não é tão grande, mas que conseguiram diminuir a mortalidade de 3,5% para 1%.
Atualmente é recomendável ao médico comunicar o paciente o diagnóstico da doença e manter um canal de diálogo aberto sobre as possibilidades de tratamento. Não é interessante fazer o uso de tratamentos invasivos logo de início, principalmente se os níveis do exame PCA estiverem baixos e não houver alterações significativas no exame de toque e de ressonância magnética. Em casos da doença indolente - que não progride - é proposto uma vigilância ativa.
“Eu atendo um paciente que está em vigilância há 7 anos e continua com a doença indetectável, com boa qualidade de vida. Claro, há muita conversa para tirar a ansiedade desse paciente, sobre o fato de conviver com um câncer” - Wesley Magnabosco, urologista.
A vigilância ativa não significa que o profissional deixará de tratar o paciente, mas sim evitar o tratamento invasivo de pacientes que não vão desenvolver sintomas significativos ao longo da vida. O rastreamento da doença é recomendável para homens acima de 50 anos. Antes disso, por volta dos 45 anos, o rastreamento só deve ser feito se o paciente tiver fatores de risco: histórico familiar da doença em parente de primeiro ou segundo grau, pessoas de pele preta (a incidência de neoplasias mais agressivas é maior nas populações negras).
O rastreamento não é recomendável para pacientes com idades avançadas, com comorbidade, sem muita expectativa de vida. Homens acima de 85 anos podem não responder bem a tratamentos e mesmo a investigação inicial pode causar ansiedade e perda de qualidade de vida.
Se os principais indicadores e exames não apresentarem alterações significativas o acompanhamento ativo é a melhor solução. Contudo, se for necessário uma interferir clínica, há duas opções viáveis: cirurgia e radioterapia. As duas modalidades apresentam resultados e complicações semelhantes. A melhor opção para pacientes mais jovens é a cirurgia. Caso a doença insista e seja necessária uma radioterapia de resgate o processo é menos mórbido que uma cirurgia de resgate.
As cirurgias avançaram muito nos últimos anos, com técnicas cirúrgicas minimamente invasivas, preservadoras, cirurgia robótica, com resultados excelentes e pouquíssimas complicações. A radioterapia também se mostra hoje um método muito efetivo, com técnicas e equipamentos mais modernos, que conseguem atingir o tumor de forma mais direcionada e menos invasiva.
Um bom diálogo com o paciente é imprescindível desde o diagnóstico da doença até a fase do tratamento, quando necessária. A recomendação é sempre explicar para o indivíduo que o câncer de próstata é uma doença comum e muitas vezes indolente.
A recomendação aos médicos generalistas que atendem pacientes com diagnóstico de câncer de próstata é que não mistifiquem a doença. Muitos casos não são urgentes e não precisam ser referenciados, a não ser em casos muito graves, em que os exames apresentam alterações significativas.
Quando o tratamento com modalidades terapêuticas for necessário, é preciso explicar e discutir com o paciente cada ponto, como chances de cura, processo de tratamento e possíveis complicações. Mesmo os médicos precisam ficar avaliar algumas variáveis: se ele atende em uma localidade sem recursos para radioterapia, por exemplo, talvez esse não seja o melhor método de tratamento a ser empregado, visto que muitos pacientes de áreas remotas são idosos e com pouca capacidade de deslocamento. Se o profissional é um experiente cirurgião, talvez a cirurgia seja melhor. O oposto também é válido.