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17.8.2018
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Equipe Afya Educação Médica
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O cuidado à saúde tem apresentado cada vez mais um caráter humanizado e centrado no ser humano, em vez do enfoque somente no desenvolvimento de doenças. Nesse sentido, a experiência proporcionada em cada atendimento influencia diretamente o contentamento dessas pessoas. Além disso, a aderência ao tratamento e os resultados clínicos são muito mais significativos quando elas estão confiantes em relação ao profissional e, sobretudo, satisfeitas com a conduta adotada.
Nesse contexto, o jaleco médico é uma vestimenta que tem a capacidade de afetar as percepções objetivas e subjetivas dos pacientes. Dois estudos sobre o tema foram desenvolvidos recentemente e os dados obtidos são bastante interessantes. Confira!
O jaleco médico começou a ser utilizado no final da Idade Média como forma de proteção contra a peste. Curiosamente, nessa época as cores escuras predominavam, pois se acreditava que quanto mais suja de sangue a vestimenta estivesse, mais pacientes o médico havia atendido e, consequentemente, mais respeitado ele era.
A cor branca surgiu então no final do século XIX, devido à necessidade de assepsia em procedimentos cirúrgicos e a descoberta da possibilidade de proliferação de doenças por meio dos tecidos de roupa contaminados. Hoje ele é considerado também como uma identificação e, desde 1978, o Ministério do Trabalho regulamentou o jaleco como EPI (Equipamento de Proteção Individual), considerando-o um produto destinado à proteção dos riscos ameaçadores à saúde do trabalhador.
O British Medical Journal e o Journal of the American Medical Association (JAMA Dermatology) publicaram dois estudos sobre o impacto do jaleco médico na relação com os pacientes e vamos abordá-los nos próximos tópicos. Acompanhe!
Essa pesquisa foi desenvolvida em 10 hospitais acadêmicos dos Estados Unidos e obteve uma amostra de 4.062 pacientes que foram recrutados entre os meses de junho a outubro no ano de 2016.O principal instrumento do estudo foi um questionário com 22 perguntas que incluiu fotos de uma mulher e um homem vestindo o jaleco médico de 7 maneiras diferentes. A preferência pelas fotos foi então calculada de acordo com a percepção de aspectos primários e secundários em diferentes situações clínicas. Veja a seguir as diferentes maneiras da vestimenta analisadas:
A percepção dos aspectos primários pelos pacientes se baseou na combinação de 5 atribuições que poderiam (ou não) serem transmitidas pelas fotografias: conhecimento, confiabilidade, cuidado, acessibilidade e conforto.
Já os aspectos secundários consideraram as variações de preferências de acordo com algumas circunstâncias, como o gênero do profissional, o contexto do cuidado à saúde em que o paciente estava inserido e a região geográfica.
Os resultados obtidos demonstraram que 53% dos pacientes consideraram o jaleco médico importante durante o atendimento e mais de um terço dessas pessoas disse que esse vestuário influenciou diretamente em seu nível de satisfação diante do serviço prestado. Entre os 7 tipos de combinação apresentados, a associação de roupas formais com o jaleco médico foi a preferida e em segundo lugar o traje “pijama cirúrgico + jaleco”. Como mencionamos, as preferências são influenciadas pelo contexto e outras características inerentes aos profissionais e pacientes.
A University of Miami Miller School of Medicine desenvolveu outro estudo relacionado ao uso do jaleco médico. Essa pesquisa analisou as percepções de 255 pacientes no contexto clínico dermatológico que responderam a um questionário de 19 perguntas referentes a 4 tipos de trajes. Simultaneamente, os entrevistados eram apresentados às seguintes combinações com o jaleco médico:
Diante das perguntas e análise das peças em cada situação, a grande maioria dos participantes (73%) optou pela vestimenta combinada de gravata e jaleco médico. É importante ressaltar, entretanto, que o traje cirúrgico foi preferido nas situações de emergência.
Diante do exposto, é possível concluir que a presença do jaleco médico a maneira como ele é utilizado influenciam diretamente a expectativa e satisfação dos pacientes em relação aos profissionais da medicina e a assistência à saúde. Como consequência, a experiência vivenciada tem impactos positivos e consideráveis nos resultados clínicos, uma vez que a confiança estabelecida e a aderência ao tratamento dependem dessa percepção.
Certamente, condições básicas como a higienização e o estado geral do jaleco médico são imprescindíveis para o uso no dia a dia, especialmente no que diz respeito à linguagem não verbal desenvolvida a partir do primeiro contato. De acordo com as pesquisas, a maioria dos indivíduos geralmente prefere um vestuário mais formal para as consultas ambulatoriais, enquanto que a aparência de cirurgiões e médicos que atendem no pronto-socorro e emergências não são tão relevantes.
É importante ressaltar, entretanto, que os estudos foram elaborados em outro país e poderiam apresentar diferenças se inseridos nas circunstâncias do contexto brasileiro devido às características culturais aqui existentes. A medicina é prestigiada como uma das profissões mais tradicionais, e o modo de vestir influencia também a interpretação que os pacientes têm, assim como a importância da autoridade médica.
O pensamento de “a primeira impressão é a que fica” contribui para o início da relação e se as orientações médicas serão aceitas e seguidas de modo a otimizar os resultados do tratamento, seja ele medicamentoso ou, por exemplo, relacionado às mudanças no estilo de vida. Podemos perceber que a presença, ou não, do jaleco médico pode ser um fator determinante na qualidade do atendimento clínico, dependendo da contextualização.
Se a importância da vestimenta impacta o sucesso do tratamento e auxilia a adoção dos recursos terapêuticos necessários, é essencial atentar para a relevância de um traje bem apresentado.
Qual é a sua opinião sobre o uso do jaleco médico e o impacto que ele causa na relação com os pacientes? Acha que ele é imprescindível na prestação dos serviços da saúde ou pensa que existem alternativas? Compartilhe este artigo nas suas redes sociais e discuta com seus colegas sobre o assunto!