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17.4.2020
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A atual realidade social e tecnológica coloca muitos desafios à relação médico-paciente, principalmente em relação ao engajamento e a adesão do paciente ao tratamento proposto. Hoje o médico lida com um novo perfil de paciente, uma pessoa que tem mais acesso a canais de informação, está mais atento a temas relacionados à saúde e tem voz ativa na consulta com seu médico. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que menos de 60% dos pacientes com diabetes aderem ao tratamento ou seguem a risca a prescrição médica.
Entre os hipertensos essa taxa não chega a 40%. E esse é apenas um exemplo da dificuldade dos médicos em engajar os pacientes. Fatores como idade, classe social, escolaridade e acesso à informação são determinantes para entender a adesão aos tratamentos.
Neste cenário o médico têm o papel vital em desenvolver uma relação humanizada de engajamento com seus pacientes durante as consultas de modo que a adesão ao tratamento seja a maior possível.
A OMS aponta que existem pelo menos 5 dimensões diferentes no problema de adesão do paciente a um tratamento. Isso demonstra claramente que esse não é um problema unicamente do paciente, mas de todos os atores envolvidos na atenção de saúde.
Algumas estratégias têm sido trabalhadas por médicos em todo mundo como forma de engajar e empoderar o paciente nesse novo momento da medicina e aumentar a adesão ao tratamento. Não existem regras nem protocolos específicos, mas alguns caminhos que cada médico pode testar e acompanhar a evolução na relação com o paciente.
Diferentemente do atendimento realizado no passado, hoje o paciente médio já chega ao consultório com algum conhecimento prévio. Nessa relação, o paciente deixou de ser um indivíduo passivo que tem o médico como única fonte de informação. Muitas pessoas recorrem inclusive a canais de informação mal intencionados e sem nenhum embasamento técnico, que pode chegar até mesmo a automedicação, o que coloca sua vida em risco.
O paciente pode ter algumas informações em mão, mas não tem todas as respostas, muito menos o acúmulo de conhecimento técnico-científico de um profissional, por isso o médico deve aproveitar positivamente desse novo comportamento ativo dos indivíduos e guiá-lo pedagogicamente sobre cuidados com a sua saúde
Indicando fontes de informação confiáveis, filtrando informações trazidas pelo paciente, apresentando novos pontos de vista para seu problema de saúde. Também busque demonstrar empatia, se colocando no lugar do paciente, expressando o quanto se importa com a sua saúde e entende suas dificuldades. Isso também cria uma relação de confiança muito importante. Sempre que puder, estabeleça conversas sobre a importância de determinados hábitos de saúde, sobre como proceder diante de situações, quais unidades de saúde procurar.
Lembre seus pacientes sobre horários de tomar medicamento, indique ferramentas digitais como alarmes e calendários nos celulares alertando sobre horários. Deixe claro quais são os principais comportamentos a serem evitados, a relação de ação e consequência de fazer ou deixar de fazer alguma indicação médica, comunique as variáveis envolvidas na adesão ao tratamento.
Logo nos primeiros contatos com o seu paciente, tente estabelecer um diálogo horizontal, evitando a postura de detentor do conhecimento. De início ouça mais e fale menos. Não trate o paciente como desinformado ou ignorante. Tente entender as informações que ele já tem sobre o problema de saúde e os cuidados que tem com o próprio corpo no cotidiano. Também tome cuidado com o uso de termos muito técnicos que não são devidamente compreendidos pelos pacientes. Isso é o que chamamos de falha de comunicação. Muitas vezes é possível ser mais simples, valendo-se de palavras mais comuns e ainda assim comunicar a mesma mensagem.
Outra medida importante é permitir que o paciente participe das decisões sobre seu próprio tratamento. Isso aumenta o engajamento do indivíduo ao processo, de modo que ele se sinta mais empoderado em cuidar da própria saúde, com certo domínio sobre seu processo de cura. Além disso, as pessoas se responsabilizam pelo tratamento e têm mais vontade de segui-lo. Peça que ele acompanhe os efeitos positivos e negativos e traga suas percepções a todo retorno ao consultório, de modo que médico e paciente façam os devidos ajustes.
Uma das formas mais eficazes de garantir a efetividade de um tratamento é o acompanhamento médico. Hoje temos a disposição uma infinidade de recursos tecnológicos que auxiliam o profissional nesse aspecto. Celular, aplicativos de mensagem, e-mail. A própria telemedicina, recentemente autorizada pelo Conselho Federal de Medicina em meio a crise do novo Coronavírus, pode ser um meio de observar a evolução de um tratamento.
É importante lembrar que muitos pacientes abandonam o tratamento após os primeiros sinais de melhora, o que deve ser encarado com muita atenção pela comunidade médica. Tratamentos anti-infecciosos, por exemplo, quando interrompidos podem gerar novos agentes infecciosos que adquiriram resistência, o que dificulta estabelecer um novo tratamento. Por isso é vital manter proximidade com o paciente ao longo de todo o processo.
Um paciente com adesão ao tratamento e empoderado de conhecimento e ferramentas que o auxiliam no processo tende a produzir uma série de benefícios a sua própria recuperação, mas também efeitos positivos que extrapolam resultado positivo pessoal. Um dos grandes resultados da aderência do paciente ao tratamento é a redução do custo para o sistema de saúde. Indivíduos que abandonam prescrições médicas tendem a voltar ao consultório e hospitais em decorrência da agravação de seu quadro clínico. Muitas vezes até mesmo doses mais altas de medicamentos devem ser ministradas, acarretando em custo financeiro para a instituições de saúde e custo humano para o corpo do paciente.
Qual sua técnica para engajar o paciente e garantir a adesão do paciente?