A telemedicina é eficaz no manejo de doenças cardiovasculares?

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Foi realizada uma revisão sistemática e meta-análise sobre a efetividade da telemedicina no manejo de condições cardiovasculares.

A telemedicina tem sido cada vez mais incorporada no acompanhamento e no manejo de pacientes com condições crônicas de saúde. Principalmente durante e após a pandemia de covid-19, esse recurso vem sendo utilizado tanto para monitoramento, quanto para consultas. Entre os tipos de doenças crônicas mais comuns, encontram-se as cardiovasculares – que representam a maior causa de mortalidade e morbidade do mundo.

Para ajudar a diminuir esse impacto tão importante, a telemedicina pode ser fundamental. Nesse sentido, é essencial aferir a capacidade desse recurso para manejar doenças cardiovasculares e prevenir seus desfechos.

Estudo

Em estudo publicado na Lancet Digital Health, em agosto de 2022, pesquisadores realizaram uma revisão sistemática e meta-análise sobre a efetividade da telemedicina no manejo de condições cardiovasculares.

Avaliando estudos das bases de dados Pubmed, Cochrane, e Scopus, publicados até janeiro de 2018, buscaram artigos que relacionassem os efeitos das intervenções por telemedicina em desfechos cardiovasculares, tanto para pessoas em risco (prevenção primária), quanto para pessoas já com doença estabelecida (prevenção secundária). O desfecho primário considerado foi mortalidade por causas relacionadas a doenças cardiovasculares.

Foram incluídos 127.869 participantes dos 72 estudos selecionados. Quando comparado ao cuidado presencial usual, a combinação das estratégias de telemonitoramento e teleconsultas para pacientes com insuficiência cardíaca foi associada a uma redução de risco de mortalidade por causas relacionadas a doenças cardiovasculares (RR 0,83; IC 95% 0,70 – 0,99; p = 0,036) e do risco de hospitalização por causas cardiovasculares (RR 0,71; IC 95% 0,58 – 0,87; p = 0,0002).

Esses achados estiveram presentes principalmente em estudos com prazos curtos de acompanhamento (menores que 12 meses). Não houve efeito de diminuição de mortalidade e hospitalização por todas as causas, nesses grupos.

Para pacientes em prevenção secundária, o uso do telemonitoramento em conjunto com teleconsultas mostrou-se capaz de reduzir a pressão arterial sistólica, com uma diferença média pequena, mas significativa, de -3,59% (IC 95% -5,35 – 1,83) p < 0,0001).

Destaca-se, também, que os resultados benéficos encontrados não se mantêm quando utilizada a teleconsulta isolada, sem combinação com o telemonitoramento.

   

Considerações

Os achados da pesquisa sugerem que há um importante lugar para a telemedicina no manejo da insuficiência cardíaca e, provavelmente, de outras condições cardiovasculares. Tanto para apoiar em cenários onde o atendimento presencial não é possível ou facilitado, quanto para complementar serviços locais, a combinação do telemonitoramento com a teleconsulta parece otimizar os tratamentos e as orientações específicas aos pacientes com esse tipo de condição de saúde.

O estudo demonstrou redução da mortalidade e da hospitalização por causas cardiovasculares associada a essas práticas de telemedicina, assim como pequenos ganhos no manejo de fatores de risco.    

Apesar de a certeza desses benefícios ser menor para pacientes com outras doenças cardiovasculares, além da insuficiência cardíaca, os resultados são promissores. Novos estudos, com prazos maiores, populações não-selecionadas e desenhos diferentes são esperados para consolidar cada vez melhor o papel da telemedicina no cuidado aos pacientes crônicos.

Autor

Renato Bergallo

Graduação em Medicina pela Universidade Federal Fluminense (UFF) ⦁ Residência em Medicina de Família e Comunidade pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e em Administração em Saúde (UERJ) ⦁ Mestre em Saúde da Família (UFF) ⦁ Doutorando em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP/Fiocruz) ⦁ Editor Médico Associado do Whitebook ⦁ Diretor Médico de APS In Company na empresa Conviver ⦁ Professor do Departamento de Medicina Integral, Familiar e Comunitária da UERJ.

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